Não Foi Um Mero Acidente!



Ele abriu um pouquinho as cortinas, de um modo que ficasse escondido aos olhos das pessoas, mas conseguindo visualizar as janelas do prédio da frente. Era um prédio um pouco mais simples que o seu, que era azul-claro, mais novo e bem-cuidado. O prédio da frente era branco, com um aspecto triste e antigo e já tinha algumas pichações até onde os vandalozinhos alcançavam com suas mãos ágeis em apertar o spray.

Mas para ele, o prédio da frente era o mais belo e alegre prédio que já havia visto em sua vida. Simplesmente pela pessoa que habitava o trigésimo quarto apartamento. Essa pessoa era a causa das horas intermináveis que ele passava espiando pela janela, era, na opinião dele, a mulher mais bela que já encontrara, passava por cima de todas as outras que ele já vira.

Ela tinha cabelos ruivos como o fogo, ousado, chamativo. Eles brilhavam como a chama que subia espiralada de uma fogueira. Ela tinha pele alva como a neve, que caía sob o chão das ruas britânicas. Seus olhos eram de um castanho tão intenso que parecia perfurar qualquer coisa que ficasse sob o olhar dela. Seu corpo era belo, cheio de curvas que ficavam modeladas sob qualquer roupa que colocasse. As pernas torneadas, grossas. E esse furacão em forma de mulher, tinha o nome de Ginevra Weasley.

E ele, Draco Malfoy, ficava espiando-a pela janela, usando um pequeno binóculo preto, que lhe dava a perfeita visão da garota, que no momento deitava-se na cama. Ela colocou um óculos que suavizava a expressão decidida que estampava seu rosto, pegou um livro grosso de capa marrom que estava em cima do criado-mudo, abriu-o e começou a ler, compenetrada. Draco suspirou frustrado. Será que nunca iria conseguir ver mais que aquilo?

Mas era realmente. Nunca conseguia ver mais que aquilo, era como se ela soubesse que ele a observava. "Droga...", murmurou vencido. Guardou o binóculo e foi se deitar. Não era exatamente um amor platônico o que sentia pela garota com quem nunca havia falado na vida. Era uma paquera forte demais, era isso.

Logo depois que ele deitou-se, a ruiva olhou pela fresta da janela se ele ainda estava olhando-a. Que rapaz mais estranho, pensou ela. Afinal, por que diabos ficava a olhando pela janela? Queria o quê?

Ginevra Weasley tinha vinte anos e alguns meses, estudava em uma faculdade local, trabalhava de designer e colunista quinzenal em uma revista bastante lida em Londres, mas atuava como detetive nas horas vagas. Já havia resolvido alguns casos de importância para a Scotland Yard, embora esta última não acreditasse muito no talento da garota, mas ela não ligava para isso. Resolvia casos simplesmente por um hábito e uma diversão. Ginevra era o tipo de mulher que não dependia de ninguém. Morava sozinha num apartamento pequeno e tinha pouquíssimo contato com a famíla, por uma briga que teve na adolescência. Foi então que pegou sua parte da herança e foi morar sozinha.

O único irmão que ela mantinha contato era Ronald, e sua mulher Hermione. Eles foram os únicos que haviam ficado do lado dela durante a "crise familiar". E ainda sim não falava muito com ele, pois ele e Hermione moravam na França.

Ginevra tinha várias amigas, embora só confiasse em uma: Nadine Schwartz. Uma moça correta, seríssima, e levava muito a sério o trabalho. Ela era companheira de Ginevra, designer e colunista quinzenal também. E então elas intercalavam; uma semana Ginevra escrevia, na outra quem escrevia era Nadine, e assim ia. As duas dividiam a mesma sala no trabalho e sempre iam tomar café e discutir a vida pessoal, homens, e inclusive os mistérios que cercavam Londres e outras cidades próximas. Afinal, Nadine também tinha uma queda para resolver mistérios.

Ginevra era muito aventureira, rebelde, gostava de viver a vida ao máximo. E ela não tinha tempo nenhum para tentar descobrir porque o loiro do prédio azul ficava olhando-a.

Então, depois de constatar que o cara chato parara de olhá-la, ela voltou a dormir, tranquila e despreocupadamente, como sempre.




"Bom dia, Nad", disse Ginevra para Nadine, as duas já na sala de trabalho que dividiam.

"Bom dia, Ginny", a morena disse bocejando. "Que temos hoje para fazer?"

Ginevra pegou uma pasta vermelha que estava em cima da sua escrivaninha lotada de coisas, abriu-a, e vasculhou com as unhas longas pintadas de negro o conteúdo da pasta, até achar o que procurava. "Aqui, Nad", ela disse, mostrando a pasta para a amiga. "Temos que fazer o índice da próxima edição. Horacius deixou um memorando dizendo que quer a revista desse mês de cara nova. Quer que ela ganhe um visual retrô, mas moderno ao mesmo tempo. Quer uma coisa única."

"Sua especialidade, não, Ginny?", Nadine disse sorrindo. "Bem, pelo visto você não tem muito a fazer, eu tenho mais que você, é a minha semana de escrever a coluna da revista."

Ginevra sorriu para a amiga.

"Já tem idéia do que vai escrever, Nad?", perguntou.

A outra refletiu por uns instantes, antes de balançar lentamente a cabeça. "Tenho. Acho que poderia escrever sobre o assassinato do príncipe Hoffmann, o que acha?

Ginevra arregalou os olhos. Não ouvira falar desse assassinato! "Quando é que Klaus Hoffmann morreu, Nadine?"

Nadine sorriu. "Eu não consegui dormir, então assisti o jornal da madrugada. Ele morreu às duas da manhã, com um golpe na nuca.", Ginevra olhou intensamente para as vigas do teto, com aquele brilho no olhar que adquiria quando ia resolver algo.

"Descubra o máximo que puder sobre isso, Nad", disse Ginevra, empolgada. "Porque aí estará matando dois coelhos com uma cajadada só: escreverá uma coluna super incrementada e poderemos começar a tentar resolver esse mistério."

Nadine deu uma gargalhada, olhando para Ginevra como se ela fosse uma criança. "Certo, senhorita Sherlock Holmes, resolveremos o caso depois. Agora temos que dar cara nova à uma revista.

Ginevra assentiu com a cabeça e as duas começaram a trabalhar, mas a mente de Ginevra continuava a mil, e seu instinto de detetive começou a trabalhar.




Draco acordou com os pensamentos embaralhados. O ilustre e importante príncipe Hoffmann morto? Aquilo estava estranho... foi divulgado como um trágico acidente, mas não podia ser só aquilo. Ninguém que morre com um golpe certeiro na nuca é acidente. Decididamente, ali havia alguma coisa a mais...

Esfregou os olhos e tentou lembrar-se de tudo que ouvira na televisão. Algo como os seguranças do castelo do clã Hoffmann nocauteados... mas nenhum tipo de arrombamento nas portas imponentes do castelo. Aquilo estava além da conta, de tão estranhíssimo.

Lembrou-se da ruiva. Ela, provavelmente, iria resolver o mistério. E ele também andara aguçando sua perspicácia e inteligência, para tentar resolver algum caso, não para ficar ao lado de Ginevra, mas sim para ganhar reconhecimento da Scotland Yard. Scotland Yard, bah, pensou. Provavelmente o FBI, a Sûreté Nationale ou até mesmo a Interpol descobrirão primeiro que a Scotland Yard...

Colocou a camisa, calça e sapatos, com a cabeça ainda disparando informações não processadas para todo lado. Desceu pelo elevador de serviço, pois não estava nem um pouco preocupado com o dia e o trabalho. Queria mesmo era entender porque alguém assassinaria Klaus Hoffmann, o príncipe da Inglaterra.

Draco era um homem inteligente e astuto, conseguia processar complexas informações em questão de segundos. E ele tinha certeza que iria resolver aquele mistério. E não custava nada tentar fazer de sua parceira Ginevra Weasley, e a amiga inseparável dela (que ele já havia visto no apartamento de Ginevra, uma noite que a observava.

"Dia, Kreischner", disse Draco para um homem alto de cabelos castanhos, que trabalhava no escritório ao lado da sua sala de gerente.

"Dia", disse o outro com um sorrisinho cordial. "Muito trabalho hoje?"

Draco, o gerente, verificou com um homem que estava ali parado. "Não muito. Eu só vim aqui para verificar o andamento dos serviços. Mas já estou de saída", dizendo isso, continuou seu caminho pelos departamentos.

Logo depois de verificar tudo, voltou para o estacionamento, pegou o carro e resolveu ir almoçar num restaurante local. Não estava com cabeça nenhuma para trabalhar, tinha que falar com Ginevra e sua amiga, tinha que resolver aquele mistério, tinha...

Sentou-se numa mesa encostada na parede. Pediu um refrigerante e um cheeseburger. Resolveu que iria falar com Ginevra no dia seguinte, e iria começar a resolver aquele mistério naquele momento.

Uma garçonete loirinha trouxe o pedido minutos depois. Draco comeu o lanche rapidamente e foi direto para casa, para assistir o noticiário do meio-dia. Talvez passasse mais algo sobre o assassinato...

De repente, uma coisa vermelha na sua frente e logo estava estatelado no chão, e Ginevra, a coisa vermelha que trombara com ele ao sair do trabalho também.

"Ahn... me desculpe", disse ela desconcertada. E arregalou os olhos ao enxergar melhor quem era o loiro na sua frente. "Ei, você é o cara que mora no prédio azul, que fica me olhando pela janela!"

Draco assustou-se com o comentário, não soube o que responder. "Eu... ahn...", e ia virar as costas para ir embora, mas Ginevra continuou falando.

"Não me importo", disse ela. "Quer tomar um café? Você parece bem cansado.", ela sorriu gentilmente. Draco agradeceu e os dois foram para um café perto de onde estavam.

Draco achou-a bem diferente do que achava que ela era. Ela não era grossa, como achou que ela iria tratá-lo depois do encontrão, nem envergonhada e boba como a maioria das garotas que já conhecera. Ela era, em outras palavras, madura.

Logo depois de conversarem bastante, Ginevra tocou no assunto da morte do príncipe Hoffmann. Contou que iria tentar resolver o caso junto com Nadine. "E você, o que vai fazer?", perguntou.

"Vou tentar resolver também. Se quiserem resolver junto comigo... as portas estão abertas", disse Draco, impassível.

Ginevra sorriu, assentindo com a cabeça. "Sim, é uma boa idéia... afinal, três cabeças pensam melhor que duas", e riu. "Tenho que ir agora, meu horário de almoço já está acabando. Vou procurar o máximo que puder sobre esse assassinato. Aliás, seu nome é...?"

"Draco. Draco Malfoy.", Ginevra sorriu e saiu, em direção ao prédio em frente ao café. Draco sorriu internamente. O caso era deles. E a Scotland Yard iria se envergonhar pela vida inteira por perder um caso de tamanha importância para três jovens, calouros no mundo adulto.




*Nota da Autora*

Eu acho que estou lendo muita Agatha Christie, como eu amo essa escritora que escreve mistérios indecifráveis e surpreendentes. Espero que a fic esteja agradando, ainda tem muito capítulo pela frente! E eles vão ser assim, nem muito grandes, nem muito minúsculos. Ok?

Obrigadíssima pra quem leu a fic, duplo obrigadíssima pra quem leu e comentou, triplo obrigadíssima pra quem leu, comentou e deu nota. xD

Continuem acompanhando e fiquem à vontade para mandar e-mails, tenho certeza que responderei.

Beijos

Mari Maruyama

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