Capítulo I
A princípio, Hermione pensou que os golpes soavam dentro da sua cabeça, já que fora para a cama com uma forte enxaqueca. Mas quando os golpes na porta tornarem-se mais fortes, sentou-se na cama e olhou a hora no relógio de parede.
Era uma da madrugada, e não poderia imaginar que alguém no rancho queria despertá-la a essa hora, por motivo nenhum.
Levantou-se de um salto e colocou um robe sobre a camisola.
Seus olhos castanhos refletiam a preocupação que a embargava enquanto atravessava a casa para abrir a porta. Era uma casa como a de todos os ranchos da região e, de onde estava cravada, podiam contemplar-se as Montanhas Chiricahuas, a sudeste do Arizona.
-Quem é? -perguntou ela com o clássico sotaque de Charleston, onde nascera.
-Neville Longbotton, Srta. -respondeu uma voz do outro lado da porta. .
Era o capataz de Harry Potter. Sem que fosse necessária uma só palavra de explicação, ela soube o que estava acontecendo e a razão pela qual a tinham acordado.
Abriu a porta e recebeu o alto e moreno homem com um sorriso preocupado.
-Onde está? -perguntou.
O homem tirou o chapéu suspirando.
-Na cidade, no bar Rodeio.
-Está bêbado?
O capataz hesitou um instante.
-Sim, Srta -disse por fim.
-Esta é a segunda vez nos últimos dois meses.
Neville encolheu os ombros e começou a manusear o chapéu.
-Acho que ele está preocupado com a falta de dinheiro - aventurou-se ele.
-Não acredito - murmurou ela - Já faz alguns meses que tenho um comprador para esse pedaço de terra dele, mas não quis nem pensar no assunto.
-Srta. Granger, sabe o que ele pensa dessas urbanizações Essas terras estão em sua família desde a guerra civil.
-Tem milhares de hectares! - explodiu ela - Não diga mais nada. Acha que justamente esse pedaço de terra, fará falta para ele?
-Bom, é que é fica justamente onde está a casa principal.
-Pois não parece que a esteja usando muito.
Ele se limitou a encolher os ombros como resposta ao comentário de Hermione.
Alguns minutos depois, vestida com uns jeans, uma camisa de jérsey amarelo e uma jaqueta de pele, ela estava sentada ao lado de Neville na caminhonete do rancho de Harry Potter.
-E por que não foi pedir a outra pessoa que o ajude? –perguntou aborrecida.
-Porque você é a única pessoa no vale que não está zangada com ele.
-E por que você e os meninos não podem levá-lo para casa?
-Tentamos uma vez, mas a conta do médico foi muito cara. Ele não se atreverá a golpeá-la.
Isso era verdade. Harry era um homem feroz e rude, que vivia em um edifício em ruínas que ele chamava de casa, como se fosse um ermitão. Odiava seus vizinhos e era o homem mais violento que ela conhecera em sua vida. Mas, depois do primeiro momento, conseguiram se entender. As pessoas diziam que era porque Hermione era uma dama de Charleston, Carolina do Sul, e ele se sentia na necessidade de protegê-la. Mas isso só era verdade em partes. Hermione sabia que ele gostava dela porque tinham o mesmo caráter, porque o enfrentava sem medo. Era assim desde o começo.
Saíram da estrada do rancho e pegaram a auto-estrada. Havia luz suficiente para ver os cactos gigantescos levantando seus braços para o céu e as montanhas escuras recortando-se contra o horizonte.
O Arizona era tão bonito, que ela sentia sua respiração suspensa sempre que apreciava aquelas paisagens, apesar de morar ali há oito anos. Viera da Carolina do Sul quando tinha dezoito anos, destroçada por uma tragédia pessoal e esperando encontrar nessa terra nua, uma perfeita expressão de sua própria desolação. Mas se esqueceu de tudo quando viu as Montanhas Chiricahuas pela primeira vez. Depois, aprendera a apreciar aquelas paisagens, e os verdes tons da região onde nascera foram ficando cada vez mais apagados em sua memória. Ainda notava-se nela suas origens, sobretudo no sotaque e em sua forma de comportar-se; mas nesse momento se sentia tão nativa do Arizona como um, personagem de Zane Grei.
-Por que ele faz isso? -perguntou ao capataz quando entravam no pequeno povoado de Sweetwater.
-Isso não é da minha conta. Mas é um homem solitário e se sente velho.
-Mas se tem somente trinta e oito anos! – replicou ela - Não está a ponto de ir para um asilo.
Neville olhou ceticamente para ela .
-Está sozinho, Srta. Granger. Os problemas não parecem tão grandes quando podemos compartilhá-los.
Hermione suspirou. Disso ela sabia muito bem. Desde que seu tio morreu, fazia quatro anos, não tinha ninguém com quem compartilhar sua solidão. Se não tivesse sido pela agência imobiliária e ser sócia de meia dúzia de organizações, teria ido embora de Sweetwater desesperada.
Neville estacionou diante do bar Rodeio e saiu da caminhonete. Hermione descera antes mesmo ele pudesse aproximar-se para ajudá-la.
O garçom os esperava na porta, sua calvice brilhava à contraluz.
-Graças a Deus! Hermione, ele acaba de deixar um vaqueiro inconsciente. E cobriu de bofetadas outros três.
-O quê?
-Era um peão do rancho Lazy X. Disse alguma coisa para ele sabe Deus o que, que não gostou. Ele estava sentado tranqüilamente, terminando outra garrafa de uísque, sem meter-se com ninguém quando esse vaqueiro estúpido... - deteve-se e suspirou - Quebraram o espelho outra vez, além de uma dúzia de garrafas. Tiveram que levar vaqueiro para o hospital, para que recomponham sua mandíbula e terão que fazer o mesmo com outros dois, quando despertarem. O último, está aí atrás, subiu em uma árvore, com o Harry sentado no chão embaixo dele, esperando que ele desça ou caia, rindo como um louco.
Harry não ria nunca. Pelo menos até que não ficasse realmente como um louco sedento de sangue.
-E onde está o xerife? -perguntou Hermione suspirando.
-Como fariam a maior parte dos homens em sã conciência, pensou que era melhor mandar seu ajudante para que o convencesse.
-E? - perguntou ela arqueando as sobrancelhas.
-E esse senhor está no quarto dos fundos, gritando para que o tirem dali.
-E por que não o soltaram?
-Porque Harry tem a chave.
Neville enterrou o chapéu sobre os olhos.
-Acho que é melhor que eu vá esperar na caminhonete.
-Sim, mas antes tente tirar o xerife da cama, Neville - disse o garçom angustiado.
-Por quê? -perguntou Neville - O xerife Wilson não vai se levantar para prender Harry e como Simas está trancado no quarto dos fundos, acho que está tudo em ordem. O único problema são os gritos.
-Até pouco tempo, isso acontecia de vez em quando, e era normal, não acontecia nada porque alguém quebrava o espelho e algumas garrafas uma vez por ano. Mas agora, é todo mês! O que está acontecendo?
-Eu gostaria de saber - suspirou Hermione - Bom, acho que é melhor ir vê-lo.
- Ah, ele está armado! Boa sorte. -disse o garçom – Vai precisar.
Hermione chegou aos fundos do bar bem a tempo para escutar a última parte de uma larga e calorosa série de tacos, lançados por um homem alto, vestido com um jaquetão de pele de cordeiro e que olhava muito sério para o outro homem que estava encarapitado no galho mais alto de um carvalho.
-Srta. Granger! -disse o homem da árvore - Socorro!
O alto e robusto o homem voltou-se e a olhou. Usava o clássico chapéu de vaqueiro enterrado até os olhos, seu queixo não via um aparelho de barbear há muito tempo, assim como seus cabelos, pediam uma ida ao barbeiro. Tinha uma pistola na mão e um olhar capaz de atemorizar qualquer um.
-Vamos, atire - desafiou ela -Vamos ver se atreve - Ele ficou quieto, respirando lentamente, observando-a.
-Se não vai usar essa pistola, poderia passá-la para mim? – perguntou Hermione indicando a arma.
Ele ficou quieto durante um longo e tenso instante, então, lentamente, segurou a pistola pelo cano e estendeu para ela pela coronha.
Ela a agarrou com cuidado, esvaziou o carregador e guardou em um bolso a pistola e em outro as balas.
-O que faz esse homem na árvore?
-Pergunte para ele.
-Dino, o que você fez? -perguntou ao vaqueiro jovem e magricela que estava em cima da árvore.
-Bem, Srta. Grager, eu o atingi pelas costas com uma cadeira...Ele estava brigando com o Lino e eu achei que ele iria machucá-lo.
-É uma boa desculpa- disse ela para Harry - vai deixar ele descer?
Ele ficou pensando um momento, equilibrando-se com muita dificuldade sobre seus pés.
-Acho que sim - disse por fim.
-Dino, peça desculpas!
-Eu sinto muito, Sr. Potter!
Harry olhou para cima.
-Ok, filho da...
Hermione cerrou os dentes com a lista de palavrões proferidos por Harry, antes de deixar que o vaqueiro descesse.
-Obrigado! -disse Dino rapidamente e saiu correndo antes que Harry mudasse de idéia.
Hermione suspirou e olhou para Harry. Era um homem alto e de ombros largos, com um físico que atrairia qualquer mulher. Mas com aquelas maneiras horríveris, era inimaginável que uma mulher quisesse viver a seu lado.
-Neville veio com você?
-Sim, como sempre.
Ela aproximou dele, movendo-se muito lentamente, agarrou sua mão. Era grande e cheia de calos, além de quente. Sentiu uma espécie de calafrio ao tocá-la.
-Vamos para casa, Harry.
Ele deixou que o guiasse, tão dócil como um carneirinho. Não era a primeira vez que a surpreendia aquela docilidade. Ele atacava qualquer homem que cruzasse em seu caminho, mas, por alguma razão, aceitava que ela o dominasse. Era a única pessoa que seus empregados poderiam chamar para que os ajudasse com ele.
-Tenho vergonha de você - disse ela.
-Feche o bico. Quando quiser um sermão, chamarei um padre.
-Qualquer padre que você chamasse morreria para não ouvir seus pecados. E não me dê ordens, eu não gosto.
Ele parou repentinamente. Ainda estavam de mãos dadas, com isso, ela quase caiu.
-Você é como uma gata selvagem - disse ele com os olhos brilhando na escuridão - Com toda sua cultura e educação, é tão dura como uma mulher de campo.
-Eu sou mesmo! - respondeu Hermione - Tenho que ser para lidar com um selvagem como você!
Algo obscureceu o olhar de Harry. De repente, fez que ela virasse, abraçou-a e a levantou do chão.
-Ponha-me no chão, Harry! - disse empurrando seus ombros fortes.
Ele ignorou seus esforços. Com uma de suas mãos a agarrou pelo cabelo e fez com que jogasse a cabeça para trás.
-Estou farto de me deixar levar por você como se fosse um cachorrinho. Estou cansado que me chame de selvagem. Se é isso o que pensa de mim de verdade, acho que já é hora de me aproveitar dessa reputação.
Doía-lhe tanto o puxão de cabelo, que mal podia ouvir o que ele estava dizendo. Então, com uma precisão estranha para o estado em que ela se encontrava, a beijou fortemente nos lábios.
Hermione ficou rígida com a inesperada intimidade daquela boca que cheirava a uísque. Tinha os olhos muito abertos, e se lia neles a surpresa e o medo. Ele apertou ainda mais, até que a pressão chegou a ser dolorosa.
Ela conseguiu dar um penetrante grito de protesto e fazer com que ele afastasse um pouco a cabeça. Seus olhos refletiam tanta confusão como os dela e em seu rosto havia uma expressão de severidade que Hermione nunca tinha visto. Quando seu olhar pousou na boca dela, descobriu que com sua ardente fúria machucara os lábios dela.
Foi como se nesse instante, ao perceber o que fizera, sua bebedeira tivesse passado. Suavemente a colocou de volta no chão e, hesitando, segurou-a pelos ombros.
-Sinto muito -disse lentamente.
Ela tocou os lábios trêmulos, todo o desejo de brigar tinha desaparecido.
-Você me machucou - murmurou.
Ele passou então um dedo pelo lábio ferido enquanto seu peito se agitava nervosamente. Hermione rejeitou o contato e ele deixou a mão cair.
-Não sei por que fiz isso.
Ela nunca se preocupou antes em como seria sua vida amorosa ou os homens que tinham passado por ela, mas o contato com sua boca tinha provocado uma inesperada intimidade entre eles que fez despertar sua curiosidade por ele de uma forma que chegou a envergonhá-la de seus pensamentos.
-É melhor irmos embora - disse - Neville deve estar preocupado.
Ela deu a volta, deixando que ele a seguisse. Não queria ficar muito perto dele até que, superasse um pouco a impressão que tivera poucos minutos atrás.
Neville abriu a porta, franzindo o cenho quando viu a expressão de seu rosto.
-Você está bem? - perguntou rapidamente.
-É uma ferida de guerra -respondeu ela com o que restara de seu humor.
Entrou na caminhonete, juntando os joelhos quando Harry se sentou a seu lado e fechou a porta de um golpe.
-Vamos ! -disse Harry para Neville sem olhar para ela.
Para Hermione, a volta a casa foi horrível. Sentia-se ultrajada. Fazia anos que o conhecia, mas em todo esse tempo, nunca tinha pensado nele de uma forma que pudesse ser chamada de física.
Harry era muito grosseiro para considerá-lo objeto de desejo, muito rude e anti-social. Por outro lado, jurara a si mesma que nunca mais se apaixonaria. Ainda estava muito fresco em sua memória o amor que perdera há alguns anos. E agora, Harry a tinha tirado de sua apatia com um beijo brutal. Tinha roubado sua paz mental. Essa noite ele mudara as regras do jogo inesperadamente e ela se sentia vazia, ferida, e assustada
Quando Neville parou na porta da sua casa, Hermione esperou nervosamente que Harry saísse da caminhonete para que ela pudesse descer.
-Obrigado-murmurou Neville.
-Da próxima vez eu não vou.
Hermione desceu, tentando compreender porque dissera aquilo. Entrou em casa sem dirigir uma palavra para Harry, quando fechou a porta, ouviu ligarem a caminhonete e partir. Então, começou a chorar.
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Bjinhussss
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