O Beco Diagonal
Capitulo 3 – O Beco Diagonal
Quando sua mãe lhe dissera que estavam indo a um lugar chamado Beco Diagonal para fazer compras Kyo imaginou que estariam indo a algum tipo de muquifo mal instalado, escondido nas imediações de Londres, onde encontrariam um senhorzinho do tipo ex-bruxo das trevas que lhes ofereceria as piores bugigangas que o mundo mágico jamais imaginou que pudessem existir, em troca do pouco ouro que tinham. Jamais lhe ocorrera que estaria numa espécie de Nova York do mundo mágico.
Mais de três quilômetros de lojas e mais lojas, das mais simples as mais espalhafatosas, que vendiam das mais simples peças para decoração da casa até vassouras de ultima geração como a recém lançada no mercado, Thunderbolt, a vassoura mais rápida já vista, orgulho da seleção americana de quadribol, há trinta e nove anos considerada a melhor do mundo.
A imponente livraria Floreios e Borrões sumia atrás de uma fila de mais de cem pessoas, todas famílias que esperavam esvaziar a loja para iniciar suas compras. A Sorveteria Florean Fortescue estava na mesma situação, com jovens acomodados em suas mesinhas, apreciando as mais variadas delicias geladas, enquanto conversavam sobre a escola, sobre quadribol ou, em alguns casos não raros, namoravam.
Kyo notou que passaram batido pela loja de vestes para todas as ocasiões de Madame Malkin, e nem se abalaram com a passagem com a loja de Caldeirões de Paul Pala. Tentou fazer a mãe parar em frente a uma loja verde berrante de nome Gemialidades Weasley, onde vendia-se logros e brincadeiras, mas quase apanhou e não teve êxito, já estava se perguntando quando iriam parar quando notou um enorme prédio branco, ligeiramente torto e de aparência minimamente esquisita. Ao avistarem o prédio sua mãe diminuiu o passo e o garoto se viu procurando algum outro lugar onde poderiam comprar alguma coisa.
Seu queixo caiu quando descobriu o nome do lugar: Gringotes.
Do lado de fora, na escadaria que levava a porta um homem alto de cabelos negros os esperava, usava vestes trouxas, muito bem alinhadas e não parava de consultar o relógio. Kyo suspirou ao avistar o pai. Fazia quase uma mês que não se falavam e, desde que chegaram na nova casa, a distancia só aumentava, devido a frustração do garoto com o fato de ter que cursar novamente o primeiro ano.
Kyo já estava se familiarizando com a idéia, pois sempre soubera que era um bruxo medíocre, quando supervalorizado, e talvez fosse realmente uma boa idéia rever tudo o que não assimilara em Gallard. Mas não estava pronto para admitir para os pais que achava que isso pudesse lhe ser bom, e isso fazia com que tivesse que manter sempre a cara de emburrado.
–Vocês estão quase uma hora atrasados! –ralhou o sr. Hunter, assim que os avistou, subindo a pequena escadaria.
–Pensamos que o lugar era menor e, nosso amigo aqui –sua mãe apontou para ele. –nos atrasou um pouco porque não gosta de viajar por flú.
Kyo notou o olhar reprovador do pai, mas fingiu que estava ocupado em observar uma loja de corujas a sua frente. Numa das cartas havia um recado que dizia que ele poderia ter uma coruja ou um rato ou um sapo e ele imediatamente decidiu que queria ter uma coruja, sapos e ratos seriam cobaias para experiências e feitiços e ele não era muito fã de maltratar animais, além de que uma coruja seria cem vezes mais útil, podendo levar e trazer cartas para e de seus pais.
Ele deixou seus pais conversando sobre o que quer que fosse e seguiu na direção da loja, procurando por algum animal mais bonito ou interessante. Sempre admirara a coruja dourada e seu pai, que parecia ao mesmo tempo poderosa e frágil, como um algum tipo porcelana antiga. Seus olhos foram irremediavelmente atraídos por um borrão prateado que acabara de passar pela loja, fugindo de sua gaiola. É essa pensou Kyo, se segurando para não entrar na loja e pegar a coruja sem avisar a ninguém.
Virou-se a procura da mãe, para dizer o que queria. Ela ainda conversava com seu pai, mostrando-lhe a lista de materiais que viera com a carta de Hogwarts. O garoto adiantou-se para os dois, tentando driblar um bando de ruivos escandalosos que passava pelo lugar. Pareciam uma comitiva, devia ter mais de cinqüenta deles ali e, por onde passavam, arrancavam risadas surpresas das pessoas.
–Para, Harry! –ele ouviu uma voz feminina exclamar. –As crianças estão aqui!
–E todo o resto do mundo mágico Gina! –zombou o homem.
Kyo não pode deixar de reparar no dois, eram um casal mais ou menos da mesma idade que seus pais, mas pareciam dois namorados. O homem era alto e tinha os cabelos negros muito mal penteados, os olhos verdes escondidos atrás de lentes em forma de meia lua, a mulher era ruiva, com os cabelos curtos caindo-lhe sobre o rosto, numa franja estranha, na concepção de Kyo, os olhos castanhos escuros estavam apertados, devido as cócegas e beijos que seu marido lhe dava.
–Harry e Ginevra Potter! Parem já com isso! –exclamou um rapaz de mais ou menos vinte anos. –Nem parecem adultos!
Os dois pararam e encararam o rapaz ruivo de olhos verdes com uma expressão um tanto constrangida.
–Tiago, não se faça de rogado. –zombou o pai. –Como se não tivéssemos visto você e Anne nesse ultimo mês n’A Toca!
O rapaz corou violentamente e saiu andando, puxando o grupo. Kyo notou que cerca de dois metros atrás uma garota muito ruiva de cabelos lanzudos também estava muito corada e seu cérebro não pode refrear a idéia de que aquela muito provavelmente era a tal Rosie. É muito ruivo por metro quadrado! Pensou Kyo, alarmado.
Quando o grupo de ruivos debandou Kyo pôde finalmente ver a mãe, que já não conversava mais com seu pai, que provavelmente já entrara no banco novamente. Ela parecia se divertir com a quantidade astronômicas de pessoas com cabeleira de fogo que acabara de congestionar a rua. Atravessou com um sorriso largo no rosto e parou ao lado do garoto, esticando o pescoço para ver para onde iam os ruivos.
–Família grande, não?! –brincou ela.
–Quero distancia desse tipo de coisa. –alfinetou o garoto. –Ahn… mãe, eu quero uma coruja!
O garoto apontou para a loja a sua frente, onde uma coruja das torres dava um show piando num ritmo que Kyo não conhecia, mas que lhe parecia extremamente agradável.
–Coruja, certo? –perguntou sua mãe, em tom brincalhão. –E qual seria o animal esplendido que foi capaz de encantá-lo?
Kyo sorriu e fez sinal com a mão para que sua mãe o acompanhasse para dentro da loja. O Empório das Aves parecia ser a única loja em toda a extensão do Beco Diagonal que não estava abarrotada de alunos e pais nas compras.
Ali dentro era tudo escuro e Kyo teve de ficar parado alguns instantes até que seus olhos se acostumassem com a escuridão. O piados de corujas e algumas outras aves exóticas enchiam o cômodo pequeno e abafado, junto com o cheiro de excrementos, que tornavam a permanência no lugar quase impossível. Com os olhos Kyo procurou pela coruja de penas prateadas que lhe chamara a atenção ainda a pouco.
–Como poderia ser útil? –sussurrou uma voz as suas costas e Kyo achou que seu coração sairia pela boca, acompanhado do fígado ou de um rim, talvez.
–Meu garoto gostaria de comprar uma coruja. –explicou prontamente a mãe de Kyo, pondo-lhe uma mão no ombro.
Aquela era, no mínimo, uma situação constrangedora. Kyo era quase uma cabeça mais alto que a mãe e, para pôr-lhe a mão no ombro ela tinha que se esticar, fazendo com que quem visse a cena tivesse que entortar um pouco a cabeça para realmente perceber o que estava acontecendo.
–Uma coruja, hãn? –o homem voltou-se para ele. –E como seria, uma das torres, uma de igreja, uma parda colossal?
Kyo teve medo dos olhos castanho claro daquele homem, eram como os de uma coruja quando olha para um rato, frio e famintos. Teve vontade de perguntar se o homem tomara o café da manhã.
–Eu vi uma coruja prateada aqui, agora a pouco e gostei muito dela.
Os olhos do homem faiscaram e Kyo teve que se conter para não recuar alguns passos, aquilo, sim, era assustador. O homem esticou o pescoço olhando a volta, se demorando longamente num ponto particularmente escuro do teto da loja.
–Ela ainda é um filhote. –comentou o homem, como se estivesse se recusando “gentilmente” a vender a coruja.
–Eu cuido bem dela! –replicou Kyo, mais para a mãe do que para o vendedor.
–Você está parecendo uma criança mimada. –zombou sua mãe.
Kyo arregalou os olhos. Naquele mesmo instante o atendente da loja assobiou tão alto que Kyo teve tapar seus ouvidos também, com medo de que seus tímpanos explodissem, de tabela. A pequena coruja prateada desceu planando de qualquer lugar onde estivesse, pousando no ombro do homem, só neste momento Kyo notou a grossa tira de couro no sue ombro, para que as corujas pudessem pousar ali.
A coruja era menor que a cabeça do homem, mas aparentava ser duas vezes mais perigosa do que qualquer outra que já tivesse visto.
–Ela é bem arisca, meu garoto, não gosta de estranhos. –disse para Kyo, com um sorriso sinistro nos lábios. E, voltando-se para a mãe do garoto, prosseguiu: –Além de ser arar e cara.
–Temos dinheiro. –respondeu a sra. Hunter, apenas.
–Ótimo… –murmurou o homem.
Kyo ergueu seu braço para a coruja, esperando que ela resolvesse que talvez fosse mais interessante ficar ali. Foi inútil. Assobiou e, para sua surpresa a coruja o encarou, com a cabeça inclinada, como se esperasse que ele lhe desse um motivo para sair de onde estava e ir ate ele. Kyo sorriu ao ver aqueles olhos amarelos lhe fitando.
A coruja piou baixinho e voou até o braço do garoto, consciente da força e perigo as garras das corujas Kyo se preparou para a dor, mas tudo o que sentiu foi um leve apertar em seu antebraço, como se uma pessoa o pegasse. A coruja o encarou com uma expressão que ele não foi capaz de decifrar.
–Ela parece ter gostado de você, garoto… –o homem murmurou, aparentemente desgostoso.
Kyo sorriu para a mãe, que lhe retribuiu o sorriso. O garoto sentia uma estranha sensação na boca do estomago que ele poderia jurar que era felicidade. Ele tinha uma amiga. Uma amiga para o resto da vida.
Uma das peculiaridades das corujas mágicas era que elas costumavam viver quase cinqüenta anos sem mostrar o menos sinal de envelhecimento e aquela parecia ser bem jovem, ainda.
O sol que bateu nos olhos do garoto fez com que ele piscasse varias vezes, antes de começar a andar novamente. Sua mãe pagara dois Galeões pela coruja, um preço muito alto para uma coruja, mas não houve reclamações, nem cara feia. E o homem lhe recomendara nunca tentar prendê-la em gaiolas, pois ela simplesmente odiava ser privada de sua liberdade. Por esse motivo Kyo a carregava em seu ombro, chamando olhares curiosos em sua direção.
A próxima parada foi a loja de penas e pergaminhos, na qual Kyo nem ao menos entrou, pois sua mãe dissera que ela decidiria quais seriam suas penas, antes que ele quisesse um jogo de penas de fênix para escrever. O garoto só pôde sorrir e concordar. E então passaram pela loja de caldeirões, onde Kyo pegou um caldeirão comum de inox tamanha padrão três e alguns mexedores. Foram até a farmácia e ele teve que segurar a coruja que ficara extremamente atraída por alguns texugos mortos pendurados, ele comprou um para ela, além do kit de ingredientes e alguns tubos de ensaios e uma balança de prata.
Passaram pela loja de livros Floreios e Borrões, onde Kyo cortara fila para pegar rapidamente seu jogo de livros, agradecendo intimamente pela praticidade que tivera ao encontrar todo o kit já embalado e pronto para a retirada.
Por fim pararam defronte para Madame Malkin – Vestes para Todas as Ocasiões e Kyo sorriu, era a ultima parada do dia. Foi rápido, por sorte ela acabara de tirar as medidas de um garoto com exatamente o mesmo porte de Kyo, apesar de ele ser dois anos mais velho, por isso ela já tinha vestes separadas do tamanho dele e algumas gravatas também.
–Que tal um sorvete, agora? –sugeriu sua mãe, assim que deixaram a loja com as sacolas de vestes em mãos.
–A senhora não podia sugerir uma coisa mais chata? –brincou Kyo, já esticando o pescoço na direção da sorveteria.
Kyo correu na direção da varanda onde um senhorzinho servia uma taça de sundae para um casal de ruivos, que pareciam bem íntimos.
Kyo fez questão de se sentar bem longe deles, com medo de dar de cara com o bando absurdo de ruivos que os acompanhava. Sua mãe se acomodou numa cadeira ao seu lado e sorriu para ele, quase como se estivesse zombando do medo que ele parecia sentir medo daqueles ruivos.
–Sundae de morango. –pediu a mãe de Kyo, quando o atendente da sorveteria parou sorridente ao seu lado.
–Dois. –emendou Kyo, fazendo um carinho em sua coruja.
–Que nome você vai dar para ela? –perguntou sua mãe, olhando também para a coruja.
–Estava pensando em… Gallard. –disse Kyo, com um sorrisinho no canto dos lábios.
–Gallard? É, pelo jeito como você estava por não querer se mudar, devia adorar a escola mesmo.
–Para falar a verdade é mais porque eu queria lembrar de uma coisa boa quando pensasse no nome.
Disse Kyo, com um sorriso sem graça.
21/01/08
Diário do Autor
Nada a escrever hoje... terminei um cap depois do outro...
Fazer o que?!
Até mais!!
E comente, Please!!!!
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!