Propriedade dos McKinnon
Propriedade dos McKinnon
Cozinha
10:49 Da Noite
31 De Agosto
-Marlene, pare de fazer essa cara de quem não entendeu-disse a mãe de Marlene, Alicia.-É tudo muito simples...você não vai.
Marlene Mckinnon sacudia sem parar os pingentes que pendiam de sua pulseira de ouro. Aquele discreto tilintar era o único som que podia fazer, a não ser, é claro, que ela quisesse ser acusada de “interromper” sua mãe irritante de tão educada, o que não desejava. Queria apenas ganhar aquela discussão.
-Mas tenho planos e seria uma grosseria se eu faltasse-disse Marlene.-Não é? Quer dizer, você não me diz sempre para “honrar meus compromissos”?-Ela fez o sinal de aspas no ar para lembrar à mãe de que a regra era dela.
Marlene olhou para o pai, William, em busca de apoio, mas ele se limitou a tomar mais um gole de seu chá e continuar a leitura do último exemplar do Pasquim.
-Eu conversei com você sobre isso há semanas-disse Alicia. Ela falava muito lentamente e enfatizava cada palavra, do mesmo modo como falava com kristen, a empregada.
-Seu pai é um grande amigo do Sr. Simon desde a época da faculdade. Eles estão vindo da Flórida para Londres, para que o Sr.Simon trabalhe para ele. E, enquanto estão procurando por um lugar, eles vão morar em nossa casa de hóspedes. E, sendo nossa filha, é importante que você esteja aqui para recebê-los quando chegarem.
-Por quê?-Marlene estreitou os olhos.-Eles são os amigos interesseiros do papai, e não meus.
Alicia lançou um olhar desesperado para o marido do outro lado da mesa. William continuava concentrado no pasquim.
-Bem, muito em breve eles serão seus amigos - disse a mãe. - Rachel também vai começar a sexta série na terça-feira, então vocês vão ter muito o que conversar.
-Sobre o quê? Matemática?-disse Marlene.
-Você pode convidá-la para o seu compromisso - sugeriu Alicia. -Assim você não perde nada.
-Impossível. - Marlene balançou a cabeça. – Marcamos os horários há semanas. Não podemos simplesmente ligar para o spa e incluir outra pessoa na última hora. – Marlene desviou os olhos.- Não que a gente fosse querer - disse ela bem baixinho.
-Então está combinado – disse Alicia. – Kristen servirá o brunch na sala de jantar amanhã a uma e quinze. Não se atrase.
Marlene virou-se e saiu da cozinha com estardalhaço. Sua coruja branca, Aly, voou, tentando acompanha-la sem chegar perto demais de Marlene. Quando chegaram à escada, Marlene pegou Aly e colocou-a no seu ombro.
Normalmente ela tiraria os saltos antes de subir a escada por causa do “delicado acabamento brilhante da madeira”. Mas, considerando as circunstâncias, ela preferiu ficar com os sapatos. Cada arranhão no assoalho seria uma represália à mãe por destruir os planos que tinha feito com as três melhores amigas para aproveitar o restinho das férias.
Quando chegou ao segundo andar, Marlene tirou os sapatos e cruzou o carpete felpudo direto para o quarto. E bateu a porta atrás dela.
-Não bata a porta! – veio a voz de Alicia pelo interfone. Marlene olhou para o alto-falante branco ao lado da cama e revirou os olhos.
Tudo em seu quarto era branco: a poltrona de couro perto da janela da sacada, o tapete de pele de ovelha, as paredes, a dúzia de tulipas frescas e seu computador Mac de tela plana. Suas amigas o chamavam de iPad. Ela escolheu o estilo do quarto depois de se hospedar na suíte presidencial do hotel Modrian em Los Angeles. A única cor no enorme quarto de hotel vinha da maçã verde decorativa no meio da mesa de centro de mármore branco. Ela adorava o modo como tudo parecia fresco e organizado.
Mas outro dia ela lera em uma revista de fofoca britânica que a cor oficial da realeza era o roxo, o que explicava os novos lençóis malva Calvin Klein em sua cama. Ela queria comprar mais coisas da “cor da rainha” durante a farra de compras do restinho das férias, mas isso não seria mais possível.
Marlene pegou a gaiola de Aly e colocou-a em sua frente para que seus olhos se encontrassem.
-Aly, me diga que isso não está acontecendo.
Aly piscou.
-Deixar de ir amanhã pode estragar meu crescimento social pelo resto do ano – disse Marlene.
-Todo mundo vai ter um monte de histórias engraçadas que eu nem vou entender. Vou ter que sorrir enquanto todo mundo gargalha e diz, “Ah, você tinha que estar lá”. – Marlene balançou a cabeça com força, como se fosse possível apagar os pensamentos que não agradassem.
-E a Dorcas vai comprar o delineador labial Yves St. Laurent que eu escolhi numa revista de compras, a Luck – disse ela.
-E quer saber por que isso está acontecendo?- continuou Marlene. Ela não esperou pela reação de Aly. – Porque tenho que conhecer uma garota qualquer de Orlando que vai morar aqui por um ano. Quer dizer, por que a pressa? Ela não vai a lugar nenhum. – Marlene se interrompeu e ficou pensativa, procurando por uma explicação razoável. – A não ser, é claro, que ela tenha uma doença fatal.
Aly se mecheu na gaiola.
- E se ela tiver... – Marlene soltou um suspiro pesado. – Por que eu tenho que me apegar a ela?
Marlene rasgou o itinerário que fez para as amigas, detalhando tudo o que tinha planejado para o dia de beleza. Parou ao lado da lixeira e deixou que as tiras de papel escorregassem por seus dedos como flocos de neve. Ela podia ver que as palavras como spray bronzeador, depilação de sobrancelha, aroma (terapia tinha sido rasgado) e Bergdorf’s ainda estavam intactas.
Marlene se jogou na cama e esticou o braço para a mesa de cabeceira. Pegou o celular e apertou a tecla 1 para discagem rápida. A garota do outro lado atendeu depois do primeiro toque.
-Alôôô – disse Lily.
-Espera aí, vou ligar para a Dorcas – disse Marlene.
-Tá.
Marlene apertou 2 e depois send.
-Dorcas?
-Oi.
-Espera aí, vou ligar para a Kaitlin.
Marlene apertou 3.
- Oi, Lene – Disse Kaitlin.
-Oi, Lily e Dorcas também estão na linha – disse Marlene.
-O que é que tá pegando? – Perguntou Kaitlin. Ela parecia nervosa, como se estivesse prestes a ser acusada de alguma coisa que não fez.
-Não vou poder ir com vocês amanhã – disse Marlene de repente.
-Ah, tá – respondeu Dorcas, irritada.
-Não, é sério. Vocês não vão acreditar, mas eu... – Marlene parou para reconsiderar o que diria a seguir. – Peguei uma gripe. – Saiu algo como: “Beguei uba gribe.”
-Meu Deus, parece terrível – Disse Kaitlin.
-É, talvez a gente não deva ir – propôs Dorcas. – A gente pode ir aí para cuidar de você.
-O quê?Não ir? – Disse Lily. – Quer dizer, Marlene, o que exatamente há de errado com você? Talvez a gente possa ajudar.
-Febre. Dor de cabeça. Toda endupida, bais do que o anorbal. – Marlene acrescentou uma fungada e um “aaarrrggghhh” para dar efeito.
-A Dorcas está certa. Vamos deixar pra lá – disse Kaitlin. – Não vai ser o mesmo sem você. Quem vai segurar a minha mão quando eu depilar minhas sobrancelhas com cera?
- E quem vai me dizer que estou gorda quando eu me entupir de comida? – perguntou Dorcas.
-O espelho – disse Lily.
Kaitlin soltou sua famosa risada, que parecia um cacarejo, só que áspero.
-Marlene, por favor, não me deixe sozinha com elas – brincou Dorcas.
Marlene sorriu de alívio. Elas queriam que ela fosse. Elas precisavam de sua presença. E isso, como sempre, era tudo o que importava. Mas ela também sabia da rapidez com que elas podiam mudar de idéia.
-Vocês têm que ir. Mas quero saber de cada detalhe do que aconteceu. – Marlene momentaneamente se esqueceu da voz doente. – Cada detalhezinho.
N/A:Ficou um pouco pequeno mas...Espero que vocês tenham gostado!C o m e n t e m!!!
Bjosss;* Nanda;
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