O dia seguinte



O dia nasceu como se esnobasse os acontecimentos da noite anterior. Claro e quente, o sol brilhava no céu dando as boas-vindas a um novo dia, uma nova vida. Todos estavam muito quietos, olhavam fixamente para a câmara ao lado do Salão Principal onde estava o corpo inerte de um bruxo temido por muitos anos, um corpo muito branco, com dedos longos e finos, os olhos vermelhos com fendas no lugar de pupilas abertos – ainda que cegos – paralisados na última cena que viram, no último esgar de uma alma tantas vezes mutilada. Lord Voldemort jazia sem vida e sozinho, longe dos outros que morreram enfrentando-o. Ali estava o maior bruxo das trevas que o mundo já conhecera, ali sem vida no chão da escola que lhe acolhera quando criança, o lugar que mais admirava e que mais o fascinou durante toda a vida.

- Então, acham que ele vai sair daqui de dentro sozinho? – disse um Neville aparentando mais incerteza do que gostaria – Quem me ajuda a retirar o corpo? – completou dando um passo à frente.

As pessoas se entreolharam, em dúvida se deveriam se aproximar ou não. Se passaram talvez trinta segundos em que Neville pensou que o deixariam retirar o corpo do Lorde das Trevas sozinho, mas então um movimento ao seu lado denunciou Luna Lovegood caminhando em direção à pequena sala. A iniciativa de Luna caiu como um tônico em outros colegas e Dino Thomas, Gina e Jorge Weasley acompanharam a ela e Neville. Os cinco adolescentes exitaram por um momento diante da porta, e foi Gina quem tocou a maçaneta primeiro. No instante em que fez menção de abrir a porta uma exclamação geral veio ao encontro deles e quando se viraram viram as quatro mesas das casas se encherem de comida: um belo café da manhã preparado pelos elfos domésticos da escola, com uma imensa variedade de pães, bolos, frutas, sucos e biscoitos, além dos tradicionais ovos com bacon. Neville imaginou que tal abundância de comida seria a forma de recompensa dos elfos por todo o suor e sangue derramado.

Ninguém exitou diante de tal banquete, todos estavam demasiados cansados e famintos para recusarem a comida mais que bem vinda e os cinco adolescentes voltaram aos seus lugares para saborear a merecida refeição.

Harry saiu do escritório do diretor acompanhado de Rony e Hermione, desejando mais do que nunca deitar na sua confortável cama na torre da Grifinória, mas ainda havia algumas coisas a fazer. Eles deveriam dar um destino digno aos seus companheiros mortos em combate, e além desta difícil despedida, deveriam retirar o corpo de Voldemort definitivamente dos terrenos de Hogwarts, e seria uma tarefa complicada decidir o que fazer com o cadáver.

Durante o percurso até o Salão Principal os três repararam com a devida atenção, pela primeira vez, o estrago que a batalha da noite anterior havia feito ao castelo: muitas estátuas e armaduras estavam caídas no chão em pedaços, o teto cedera em alguns corredores, faltava uma grande parte do castelo entre os sétimo e sexto andares e todos os corredores pelos quais passaram estavam cobertos de estilhaços de vidro, pó, sangue e pedras que se desprenderam das paredes de Hogwarts.

Quando chegaram ao Salão Principal viram a multidão de aliados disposta nas quatro mesas das casas, tomando um magnífico café da manhã preparado para os professores, alunos e convidados.

- Acho que podemos nos reunir a eles... Para repor as forças, sabe. – disse Rony esperançoso olhando de Harry para Hermione.

Harry, porém, se dividia entre a vontade de dormir e a de terminar o que deveria ser feito.

- Ah, qual é Harry! Comer nunca fez mal a ninguém e nós bem que merecemos um café desses depois de tudo! – exclamou Rony tentando convencê-lo.

- OK. Acho que até vou poder dormir melhor de barriga cheia. – concordou Harry lembrando-se do quanto era boa a comida dos elfos.

- Então vamos logo! – exclamou Hermione enquanto puxava Rony pela mão em direção à mesa mais próxima. Rony olhou para Harry enquanto Hermione o puxava com um sorriso e uma expressão de incredulidade no rosto diante do ato repentino da amiga. Harry já havia percebido que a amiga estivera anciosa pela sua resposta e sabia que se tivesse escolhido não comer, os dois o acompanhariam sem pestanejar, mesmo exaustos e mortos de fome. Por isso, ficou feliz em acompanhá-los até a mesa para tomar café da manhã.

Quando Harry chegou à mesa Rony já devorava uma imensa tigela de cereais. Não quis se sentar entre ele e Hermione, por isso arranjou um lugar em frente ao deles. Harry teve que reunir suas últimas forças para levar a primeira garfada de ovos com bacon à boca, mas depois que a primeira porção de comida tocou seu estômago foi fácil devorar tudo o que via pela frente. Enquanto comia, Harry sentia a energia transpassar seu corpo, como um Patrono quando emerge de uma varinha: quente e luminoso, e imaginou se seus amigos poderiam sentir o mesmo.

Rony e Hermione, Harry percebeu, comiam quase colados um no outro e sorriam sempre que seus olhares se encontravam. Olhando ao redor, Harry viu a família Weasley comendo, todos juntos à mesa como se estivessem n’A Toca, e percebeu que Jorge parecia um tanto estranho sem Fred ao seu lado, como se uma parte dele tivesse deixado seu corpo junto com o irmão. Atrás de Rony e Hermione, Harry via Luna e Dino sentados lado á lado, ela falava alegremente, com aquele olhar sonhador de sempre, e Harry imaginou se ela estaria explicando a Dino o que são Narguilés e Zonzóbulos, e à menção deste pensamento ele riu sozinho.

Os professores conversavam com os pais dos alunos, Hagrid ajudava Firenze a se alimentar, pois seus ferimentos não o deixavam se movimentar direito. Os centauros que saíram da floresta para ajudar ainda estavam nos jardins juntamente com Grope, Harry os via pelas imensas portas de carvalho abertas e percebeu que os elfos também haviam lhes levado comida. Os fantasmas conversavam excitados com os habitantes de Hogsmead e os retratos nos quadros comemoravam cantando e dançando. Harry sentiu que poderia ficar ali sentado olhando aqueles rostos pelo resto de sua vida. Aqueles tantos rostos que lutaram para mantê-lo vivo, e que agora partilhavam deste novo dia com ele como se fossem uma grande família. Ele foi tirado de seu devaneio por Rony:

- Então o que vamos fazer primeiro? – perguntou o amigo depois de repetir pela terceira vez um bolo de caldeirão.

- Bem, acho que Voldemort não deve ficar aqui por mais tempo, devemos remover o corpo. – Disse Hermione mais para si mesma do que para os dois amigos.

- Até aí tudo bem, mas o que exatamente vamos fazer com ele? Quero dizer, não dá para simplesmente jogar o cara no meio da Floresta Proibida. Acho que os habitantes da floresta iriam ficar muito magoados por nós jogarmos lixo lá. – Disse Rony imitando uma cara de incerteza. Harry não conseguiu se conter e caiu na risada e percebeu quase que imediatamente que algumas pessoas se viraram para olhá-lo, tentou parar de rir e disse:

- Tenho certeza absoluta de que ele adoraria ser enterrado nos terrenos da escola, mesmo que fosse na floresta.

- Ninguém deixaria que enterrassem ele aqui, ele não merece, não é Dumbledore! – exclamou Hermione derramando um pouco de suco de abóbora.

De repente uma idéia veio à mente de Harry, como se já estivesse ali há muito tempo. Ele sabia o que deveriam fazer, sabia onde ficaria o corpo de Voldemort:

- LITTLE HANGLETON! – exclamou alto demais, e desta vez praticamente todo o Salão Principal ficou em silêncio fitando-o. O instinto e a luz que veio à sua cabeça diziam o que deveria ser feito, debruçou-se para frente para que apenas Rony e Hermione escutassem e explicou sua idéia quase num sussurro:

- O deixaremos em Little Hangleton. A cidadezinha trouxa onde morava o pai que ele tanto desprezava. Ele ficará para sempre no cemitério onde renasceu, ao lado dos trouxas que ele sempre odiou.

- Concordo. Ele nunca aceitaria ser enterrado num cemitério trouxa, ainda mais no cemitério onde está enterrada sua família trouxa. – Falou Hermione pensativa.

- Boa idéia, Harry! Nossa, será que do lugar onde está ele sabe pra onde vamos levar o corpo, se souber deve estar explodindo de raiva, gritando maldições para todos os lados. – Completou Rony com uma risada debochada.

Os três se levantaram e começaram a caminhar entre as mesas em direção aos professores, o Salão Principal ficou em silêncio, todos atentos a cada passo que davam. Enfim chegaram perto o suficiente para que todos os professores pudessem ouvir e Harry percebeu muitas pessoas se levantarem e chegarem mais perto para ouvir também.

- Vamos retirar o corpo daqui. Voltaremos logo, será rápido. – Informou Harry.

- Mas, não irão sozinhos é claro, precisarão de ajuda. – Disse McGonagall um pouco aturdida com a rapidez da decisão de Harry.

- Não será perigoso – interveio Hermione – não agora que ele se foi. – Completou.

- É verdade, e como disse o Harry será rápido. – disse Rony.

Todos olhavam para eles, talvez com a expectativa de que Harry, Rony ou Hermione chamassem a todos para se livrarem do cadáver. Mas Harry sabia que não seria necessário tantas pessoas, e que seria muito estranho essas centenas de pessoas chegarem à pequena cidade para enterrar o corpo de um desconhecido.

- Bem, e para onde o levarão? – Perguntou Flitwick esganiçado em cima de um banco.

- O levaremos para o lugar de onde nunca deveria ter saído, ele ficará com sua família. – respondeu Harry.

Ninguém disse mais nada, todos, Harry sabia, entendiam que haveria tempo para explicações mais tarde quando voltassem e depois de dormirem um pouco. Os três amigos se dirigiram à pequena câmara ao lado do Salão Principal, mas antes que Harry pudesse chegar perto o suficiente para girar a maçaneta sentiu um movimento às suas costas e se virou: Neville, Luna, Gina, Jorge e Dino vinham em sua direção.

- Queremos ajudar! Iremos com vocês! – Exclamou Gina.

- Vocês não vão conseguir aparatar sozinhos carregando um corpo daquele tamanho. – Disse Luna calmamente.

Harry não recusou a ajuda, na verdade achou que não haveria pessoas mais certas para acompanhá-los do que os colegas de casa. Eles entraram na pequena câmara, exitaram ao chegar perto do corpo e Luna tocou Voldemort lhe fechando os olhos, da mesma forma que havia feito com Dobby. Eles enrolaram o bruxo em uma cortina roída, Harry reconheceu, por fadas mordentes e em seguida saíram para o Salão Principal. Todos ficaram quietos quando eles andaram em direção ao Saguão de Entrada, e no meio das centenas de pessoas eles ouviram a voz de McGonagall gritar:

- Pelo amor de Deus, mas por que não usam um feitiço de levitação?

E Harry tinha a resposta preparada:

- Ele não merece a magia.

Harry deu uma última olhada no salão antes de chegarem ao Saguão de Entrada e seu olhar encontrou o de Draco Malfoy, ele até já havia esquecido que o garoto permanecera no castelo. Draco estava sentado no meio de seus pais – muito aliviados que o filho estivesse bem – porém abatidos e deslocados como se não pertencessem àquele espaço que ocupavam, mas Draco, e Harry pensou que estivesse sonhando, estava com um semblante suave, quase angelical e por um milésimo de segundo Harry pensou ter visto o que qualquer um – inclusive ele mesmo - poderia ter achado impossível: Draco sorrir para ele. Imaginando que tivesse sido apenas impressão ele continuou seu caminho em direção aos muros do castelo, uma vez fora deles poderiam aparatar em direção à Little Hangleton.


Fiz umas pequenas alterações em erros de português e no final do capítulo, estou gostando de escrever até o momento, parece que estou dentro da história. Foi muito bom ter descoberto o FEB. Bjos



Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.