Um Jantar Animado



Capítulo 2 - Um Jantar Animado

– Bem... – Harry assobiou baixinho. Seu rosto ganhara uma expressão atônita, embora o timbre de sua voz não apresentasse um só pio de espanto, muito pelo contrário, o som vibrava pelo ar com deliberada cortesia. – Parece que dessa vez seu admirador procura alguma coisa… – pegando o cálice de vinho meio cheio, Harry fez a bebida rodopiar elegantemente num gesto preguiçoso para, então, como se de repente perdesse o apetite de saborear o aroma macio, o colocar de novo sobre a mesa e se recostar contra a cadeira. – Alguma coisa a dois! – ele concluiu, a arrogância sem jamais abandonar seu semblante indecifrável.
Parada no meio da sala, Hermione semicerrou os olhos com reprovação. Sentia-se tal e qual um vulcão em erupção depois do ultrajante comentário. Nada significavam os presentes que recebia de seu suposto admirador, portanto, Harry poderia evitar certa infantilidade perversa.
É claro, analisando agora o aparato do último presente, diferente de todos os que costumava receber – cartas em forma de poema gentil, flores modestas, caixinhas de bombons –, até ela perceberia a idéia errada de algo tão inocente quanto qualquer outro presente. Mas o fato era que Harry não lhe sugeria pensar desse jeito. Ele parecia insultá-la, a ela e à sua reputação!
Com os nervos em franja, Hermione apertou os lábios para não o insultar do mesmo modo, cedendo apenas à tentação de deslizar o olhar, de maneira eloqüente, pelo perfil másculo.
Harry estava refestelado na cadeira com um relax todo descarado. Os braços fortes cruzados contra o peito poderoso, os lábios curvados em um leve sorriso zombeteiro, o cabelo rebelde quase obrigando os dedos elegantes duma mulher a se enfiarem naquele emaranho confuso. Enfim, a visão perfeita para descrever a pura arrogância de Harry.
Seria boa idéia se ela adquirisse também esse relax todo descarado, Hermione decidiu, enquanto cortava a distância que a separava da mesa de vidro com passos firmes. Queria, pelo menos, quebrar a presunção dos traços morenos bem definidos. Conseguir repreendê-lo. Desmanchar-lhe a pose de superioridade por um segundo. Ela capturaria e triunfaria.
Sentou-se na frente dele para continuar, assim, o zeloso diálogo que ele criara. Entretanto, agora que se encontrava próxima a Harry, arrepios – vindos sabe-se de onde – começaram a lhe percorrer a espinha com insistência, provocando tantas vertigens tontas que ela agradeceu mentalmente por não mais se encontrar sobre o apoio de suas pernas. Ou, como uma mulher que de repente se tornara inepta, fraca e sem forças, oscilaria e ameaçaria desabar no chão. Harry a acudiria, com certeza, e talvez não fosse tão humilhante assim dar parte de mais fraca nos braços musculosos... Devia estar louca, definitivamente louca.
Hermione respirou fundo, em uma tentativa bem sucedida para afastar os pensamentos insanos, e retomou a conversa com extrema cautela.
– Por acaso você está insinuando algo idêntico a… – ela se interrompeu e olhou as rosas que repousara na cadeira ao lado, procurando a palavra adequada para aquela situação – um encontro?
Em vez de responder à sua pergunta, Harry desviou o olhar para as flores e o deteve lá. Então, depois de observar os botões por entre a transparência do tampo vidrado, ele desviou o olhar para o cartão um tanto chique.
– Porque não lê o cartão, Hermione? – Harry sugeriu de súbito, erguendo uma sobrancelha.
Os olhos de Hermione brilharam quando ela susteve o olhar fixo de Harry, o desafiando para uma batalha mortal antes de ter que sucumbir à sugestão do moreno – ainda por mais, em sua presença. Mas Hermione não era habilidosa naqueles tipos de batalha, não quando os olhos verdes simplesmente a derrotavam com sua beleza. Desgraçado! Harry era o diabo em pessoa!
Vencida e contrariada, ela pegou o pequeno cartão com dedos contestados. Então, à medida que aprofundava a leitura, sua face foi ganhando um tom enrubescido cada vez mais forte. De repente, alguma coisa a fez engasgar, chocada, incapaz de acreditar.

Estou desorientado, carinho…
Há dias que tento me decidir entre sua calça justa e sua saia curta
Entre seu belo traseiro e suas pernas esculturais.
Mas ontem… ontem descobri meu remédio.
Tire a roupa e me enlouqueça.
Tire tudo e me oriente, carinho...

PS: Janta comigo?


Ela releu tudo de novo, uma, duas, três vezes. De certo modo, as palavras teriam o intento de elogiar seu corpo, somente seu corpo, mas Hermione não se sentia o mínimo elogiada. A simples idéia de ser o alvo sexual de algum tolinho a deixava totalmente ofendida. Entretanto, quem seria esse tolinho? Um velho rabugento que se babava toda a vez que a via?
Enojada, ela torceu os lábios em uma clara evidência de asco.
– Que tem o cartãozinho de tão repugnante? – perguntou Harry, que, desde o inicio, acompanhara os movimentos e reações de Hermione.
Ao ouvir o som da voz grave, ela ergueu a cabeça, sem saber o que dizer e tampouco se haveria de dizer algo a respeito.
Ele percebeu sua hesitação e resolveu abdicar um pouco da arrogância.
– Posso ler? – Harry insistiu, esticando o braço por cima da mesa e abrindo a palma de sua mão.
Hermione se limitou a mirar os dedos compridos e fortes.
– Não vou caçoar, só estou curioso – ele acrescentou, sincero.
Porque não o deixar ler? O bilhete simplesmente não tinha importância alguma. Era um absurdo ela levar a sério tal coisa insignificante, e caso ele risse, ela se juntaria a ele e riria também. Ambos cairiam na gargalhada, pelo que, mais tarde, o episódio se tornaria apenas em uma lembrança cômica.
– É claro – com aparente diversão, ela atirou o bilhete por cima da mesa ao invés de colocá-lo na mão de Harry, que, surpreendido com a repentina mudança de humor, pegou o bilhete de seu colo.
Segundos depois, como ela previra, Harry gargalhava sem sequer disfarçar seu divertimento.
Todavia, Hermione não riu junto com ele, como decidira instantes antes. Com um sorriso nos lábios finos, Hermione apreciava o moreno, extasiada por seu riso agradável.
– Então… – ela começou, tentando cessar o tom melodioso e inebriante de Harry, de forma a se proteger. – Vai fazer mais algum de seus comentários escarninhos ou poderemos jantar?
Ele respirou fundo, tentando visivelmente se controlar.
– Desculpe… – disse, a respiração meio deformada. – Podemos jantar… carinho!
Dito isso, Harry tornou a rir alto.
Hermione não resistiu e misturou sua deliciosa gargalhada à dele.
As duas melodias pareciam namorar, se enlaçando pela atmosfera afável como laços invisíveis, aventureiros e inseparáveis. As duas melodias combinavam. Uma com a outra.

O jantar decorreu com extrema descontração. Harry fazia piadinhas sempre que surgia uma nova oportunidade. Sorria e ria.
Embora na brincadeira, Hermione começou a achar aborrecedor o fato de ele usar o termo carinhoso – carinho – por tudo e por nada. Chegara mesmo a suspeitar da garrafa de vinho, mas Harry pouco bebera. E porque motivo ele ignorava o resto do cartão, sem fazer menção a tal? Quer dizer, o restante da mensagem era muito mais conflituoso que um mero tratamento afetuoso. E porque ela se preocupava tanto com isso? Pelo contrário, ela deveria se sentir grata e aliviada por Harry não citar nenhuma outra palavra lá incluída.

Pela enésima vez na noite, Hermione bebericou o cálice de vinho e observou Harry por cima da borda.
Porque diabos ele não parava de sorrir? Ok, Harry realmente irradiava arrogância por todos os poros, mas Deus, até para o prato ele sorria.
– Você, por acaso, está assim tão… – ela franziu a testa, confusa e hesitante.
– Tão? – Harry a encorajou e, em simultâneo, pousou os talheres chegados. Uma clara evidência de que acabara o jantar. Sorriu.
Ainda de copo na mão, Hermione deslizou seu olhar pelos lábios masculinos, apetitosos, abertos em um sorriso sensual, e sentiu cada centímetro de sua pele arrepiar de excitação. Por quê? Céus, por que aquilo estava a acontecer a ela?
“Logo eu…”
Talvez possuísse doses de vinho a mais e alimentos a menos no estômago.
– Você… você… – porque não conseguia falar?
“Ah meu Deus, bêbeda não, bêbeda é que não! Por favor!”
Harry estranhou sua atitude e, distraído, acariciou o lábio inferior com o polegar lento, como se fosse exatamente a mesma coisa que colocar a mão sobre o queixo, enquanto ponderava com seriedade sobre a irreconhecível atitude de Hermione.
Entretanto, aquele pequeno gesto involuntariamente sedutor, roubara o raciocínio de Hermione com uma velocidade estrondosa. As faces arderam e ruborizaram. O coração parou e tornou a disparar em fortes batidas. Como ainda não deixara cair o copo? Derramando vinho pela mesa afora?
Sem conseguir evitar, começou a ver tudo às voltas, em uma mistura de cores horríveis e agonizantes – no ponto de vista dela. O mais certo seria vomitar a qualquer momento ou desmaiar da cadeira abaixo. Fechou os olhos com força. Ar… precisa urgentemente de ar fresco. Talvez um beijo boca a boca…
“Ai meu Deus, cheguei ao Inferno!”
– Hermione? – ele murmurou com voz rouca, e ela preferia, entretanto, que houvesse gritado a altos pulmões.
Harry estreitou os olhos, o polegar ainda sobre seu lábio. Hermione estava corada. Coradíssima. E por que fechara os olhos?!
– Está passando mal? É o calor? – questionou, preocupado.
– Eu… eu acho… – não terminou de falar, pois sequer se achava em boas condições para isso. Sentindo-se desfalecer, notou como seu corpo começava a pender ora para a frente, ora para os lados.
Isso foi o suficiente para apavorar Harry, que se levantou com um pulo rápido, empurrando a cadeira para trás.
Sem se importar com a taça de vinho, que acabou desabando no chão em estilhaços e manchas encarnadas, Harry atraiu uma frágil Hermione para si e a tomou nos braços.
“Oh, como era bom, tão bom…”, ela pensou, enlevada.
– Mumm… Assim ‘tá melhor – confessou baixinho, denunciando sua insanidade.
– Você está bêbeda – Harry riu e marchou para fora da sala –, completamente bêbeda, carinho…
Enquanto o percebia fechar uma porta com o pé, Hermione deixou seu rosto descansar no côncavo do pescoço de Harry. O homem emanava um aroma realmente muito delicioso.
Quando sentiu a maciez da colcha fofa, abriu os olhos devagar… E ficou chocada.
Aquele não era seu quarto.

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Aí o capítulo 2, desta vez mais modificado que o um.
Será Harry assim tão safado? Acham que ele vai se aproveitar da situação da amiga? Ou será ela mesma a implorar? kkkkk
O três virá assim que estiver pronto e também quando tiver comentários suficientes.
Obrigada àqueles que comentaram e votaram. Continuarei logo, logo. E, please, comentem!
Beijão.

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