Um encontro bizarro...



Um encontro Bizarro

Departamento de Aurores
Sede do Ministério da Magia, Londres

Dia seguinte


- Mas o que ela disse? – perguntou Harry, curioso.
- Disse que quer o divórcio. – respondeu Rony. – Obrigado, amigo, pela ajuda.
- É, eu sei, eu pisei na bola. Você conhece a Mione. – disse Harry, totalmente sem jeito. – Você acha que ela vai mesmo pedir o divórcio?
- Acho que não. – respondeu Rony, tranqüilamente, e Harry ficou surpreso com a resposta.
- Como assim, ela mesmo me disse que ia pedir para se separar de você! – falou Harry.
- Eu a ameacei. Disse que se ela pedir o divorcio, levo ela num tribunal de trouxas, dou aquele recibo pro Juiz e digo que ela tem um amante. Por falar nisso, quero o recibo de volta, parceiro. – e como Harry pareceu completamente aturdido, Rony completou: - Eu não sou bobo, Harry. Conheço um pouco de lei de trouxa. Eu disse a ela que vou brigar pela guarda dos filhos. Ela se aquietou e para mim foi a resposta que eu queria, Harry. Mione tem mesmo um amante. Aposto a minha vida como é o Brade.
Harry não falou nada, mas achou mesmo que Rony tinha razão. Para a Hermione se aquietar era preciso mesmo que ela fosse culpada, ou senão era teria enfrentado Rony e pedido a separação.
- E agora, o que vai fazer? – perguntou Harry.
- Eu disse a ela que vou investiga-la até ter provas e que se ela me traísse quem iria pedir o divorcio seria eu. Claro que eu blefei, não posso perder a Mione.
- E o que ela respondeu? – perguntou Harry, corroído pela curiosidade, dando uma olhadela no relógio: Hermione logo chegaria.
- Nada. Hermione não respondeu nada, Harry. Não acha suspeito?
- Acho mesmo! Rony... Hermione deve estar chegando.
- Está bem, já vou indo!

Quando Hermione chegou cinco minutos depois, Harry se sobressaltou. Aquela Hermione era muito diferente da do dia anterior. Ela vestia uma saia rodada de motivos florais e os cabelos estavam soltos e cheios, não estavam presos no coque usual. Tinha os olhos avermelhados e uma grande mancha roxa sob eles, como se tivesse ficado a noite toda em claro, ou se tivesse chorado por várias horas.
- Tudo bem, Hermione? – perguntou Harry, polidamente, preocupado com a amiga.
Hermione não respondeu e deteve-se em sentar-se, cruzar as pernas e abrir a pasta sobre o colo.
- Consegui o relatório de um dos legistas. Risolda foi atacada por volta das nove e meia da noite. O assassino deu uma facada no ombro esquerdo e depois nas costas, perfurando o pulmão esquerdo. Ele a posicionou no chão, virada para o lado esquerdo, para que não se afogasse com o próprio sangue que saía do pulmão, enquanto isso, a torturou e arrancou o próprio rim. Duas testemunhas depuseram na delegacia local e disseram que escutaram os gritos, mas não ajudaram pois a região é violenta e tiveram medo. Elas disseram que viram uma mulher pequena e magra perto do local do crime antes de escutarem os gritos e imaginaram que fosse dela. Eu ainda não consegui o retrato falado da mulher. Vou tentar conseguir hoje à tarde. Risolda morreu hipotermia, causada pela hemorragia severa.
- Pobre mulher! – falou Harry, olhando o relatório que Hermione havia depositado sobre a mesa de Harry. Folheando o documento, Harry não pode deixar de notar que o texto não estava tão bem escrito e faltava alguns detalhes. O que era quase um crime em se tratando de Hermione Granger. – Bem, continue a investigação, Hermione...
- Tudo bem! Vou precisar mesmo de uma equipe. Eu descobri que Risolda trabalha no Hospital Saint Mungus. Claro que a interpol não tem essa informação. Segundo eles, ela não trabalhava. Eles nem sabem onde ela mora pois não há documentos. Mas eu descobri que ela mantinha um apartamento em Londres e uma casa em Hogmeade. O apartamento é protegido por Fidelis, mas já contactei a prima de Risolda que é o fiel do segredo. Preciso de uma equipe para investigar esses lugares. Devo contar a Brade o que já descobri? Ele tem me perguntado, mas eu queria sua autorização.
- Sim, pode revelar. Ele provavelmente deve conhecer esses lugares. Mas não vaze mais nenhuma informação.
- Está bem!
- Hermione... agora me diga o que aconteceu entre você e Rony.
- Ora... se não me engano, você já sabe! Ele não acaba de sair daqui? – falou Hermione, com um sorriso cínico.
- Como...?
- Eu também sou uma investigadora, esqueceu? – falou Hermione, parecendo mais cansada do que nunca.
- Sim, é verdade. Ele esteve aqui e já me deu um relatório completo do que aconteceu com vocês dois ontem à noite. Mas eu queria saber de você. Sei que não tem outros amigos, Mione e sei que não pode contar com Gina, então só sobra eu. Queria que você se desabafasse!
- Para a sua informação: você e a família Weasley não são o meu mundo somente! Embora eu tenha me dedicado a vida inteira a vocês. Eu já desabafei sobre isso com outra pessoa!
- Brade? – perguntou Harry, sem deixar de perceber em si mesmo uma pontada de ciúme.
- Brade é meu chefe. E não estou tendo um caso com ele, se quer mesmo saber.
- Então com quem estava na noite retrasada?
- Não é da sua conta!


Harry não sabia o que fazer com Hermione. Rony era seu amigo, seu melhor amigo. E Hermione também. Quando Hermione saiu, Harry pensou no que fazer. Queria saber se era ou não verdade que Hermione tinha um caso, então resolveu proceder com uma investigação pessoal.
Avisou a secretária que estaria numa missão e saiu mais cedo. Andou pelas ruas de Londres pensativo, enquanto via a noite cair serenamente naquela cidade que pouco dormia. Era quase oito horas da noite quando chegou perto da sede da Interpol, um prédio soberbo que chamava atenção de todos os turistas que passavam – muitos tiravam fotos e ficavam muitos minutos contemplando a altura do edifício – mas Harry já o conhecia. Tinha estado ali algumas vezes, principalmente no sétimo andar, onde ficava o Departamento de Casos Sobrenaturais, uma lenda da Inteligência. Dessa vez, o poderoso bruxo resolveu ficar às sombras de uma viela, olhando atentamente o interior do prédio e verificando os agentes, funcionários e militares de alto escalão que dali saíam com confiança, sabendo que a segurança do país estava em suas mãos. Fechou o casaco e enfiou as mãos no bolso, quando a noite trouxe uma brisa fria, mas não se moveu do seu lugar até ver a criatura que vinha vigiar. Hermione ainda vestia a mesma roupa que vestira pela manhã, o que destoava dos outros agentes, quase uniformizados nos elegantes conjuntos de cores sóbrias. Ela jogou um casaco de lã fininho sobre as costas e andou rapidamente, descendo a rua e afastando-se do mundo da Interpol. Cortando por vielas, Harry a seguiu de uma certa distância. Pensou que iria perde-la quando Hermione chegou perto de uma estação de ônibus, mas Hermione não parou e Harry continuou a caçada.
Hermione só parou em frente a um hotel de trouxa. Harry percebeu que ela o analisava atentamente. O nome era diferente do que estava escrito no recibo que Rony achara. Hermione olhou para os lados e Harry entendeu que ela temia estar sendo seguida, antes que ela olhasse na sua direção, Harry havia agachado para colocar a capa de invisibilidade. Como ela resolveu entrar, Harry, meio curvado, apressou o passo, atravessou a rua e entrou no hotel. Hermione estava parada na recepção, esperando pelo atendimento do recepcionista. Harry chegou muito perto dela, mas sabia que ela não o via, assim como ninguém daquele hotel e havia muitos entrantes e saintes.
- Pois não, senhorita? – perguntou o homem da recepção.
- Queria um quarto pequeno, por algumas horas. – falou Hermione, com uma vozinha quase inaudível.
- Com frigobar? Televisão? Certo! Então são somente 14 libras por hora. – respondeu o recepcionista quando Hermione dispensou os acessórios.
Enquanto o recepcionista dava entrada de Hermione no computador, Harry percebeu que ela parecia agitada, olhando o relógio a todo momento. Quando Hermione pegou a chave, Harry aproximou-se a fim de ver o número: 245.
Sabendo o número do quarto, Harry resolveu pegar as escadas, pois o elevador estava muito cheio e com qualquer movimento, alguém poderia sentir sua presença. Correu pela escadaria quando viu que estava só e que ninguém perceberia o som de alguém invisível e saiu para o corredor do segundo andar segundos antes do elevador abrir.
Harry caminhou até o 245 e ficou esperando pela Hermione. Quando ela abriu o quarto, Hermione hesitou a entrada por alguns segundos, olhando em direção ao corredor e ao elevador. Harry aproveitou o momento de distração da amiga e enfiou-se dentro do quarto.
A amiga entrou em seguida, mas Harry percebeu que ela não trancou a porta.
Rony tem razão, pensou Harry. Hermione tem um caso com Brade. Por isso deixou a porta destrancada. Aposto que ele chegará aqui em segundos e se chegar, juro por Deus que vai se arrepender por ter mexido com a mulher de meu amigo.
Harry não conseguiu deixar de sentir o ciúme lhe corroendo. Pensou em se revelar naquele instante quando percebeu que Hermione estava diferente. Ela havia se sentado na beiradinha da cama e se movimentava para frente e para trás. Harry se aproximou silenciosamente e percebeu que Hermione tentava conter o choro. Seus olhos haviam lacrimejado e seus lábios tremiam levemente.
De repente, Harry escutou um barulho e se virou para a porta, onde o trinco se mexia. Hermione apertou os olhos com os dedos e respirou fundo, tentando disfarçar o choro. Harry enfiou a mão nos bolsos e apanhou a varinha. Iria dar um susto em Brade, ah, se iria!
Mas quando a porta se abriu, a surpresa de Harry era tanta que ele deixou cair a varinha de sua mão. Felizmente, o chão era de carpete macio e não produziu nenhum barulho.
- Olá, Granger! – falou aquela voz sibilante e sem graça que Harry bem conhecia.
- Malfoy! – disse Hermione, olhando duramente para Draco e tudo o que Harry menos viu naquele olhar foi paixão.
Ele se aproximou e se sentou ao lado de Hermione. Tocou nos seus cabelos cheios, fazendo uma leve carícia no rosto da sua amiga. Hermione virou o rosto em repulsa e Harry simplesmente não sabia como explicar o que acontecia. Se ela tinha nojo de Draco, então porque estava tendo um caso com ele?
- Ah, Granger... se você não fosse uma sangue-ruim. Talvez poderíamos ser felizes, sabia? Eu nunca desejei ninguém como desejo você, minha querida.
- Hoje não, Malfoy! – Hermione afastou a mão de Draco que havia deslizado o casaco de Hermione até deixar os ombros nus. – Hoje, não.
Malfoy pareceu um pouco aborrecido com a recusa de Hermione.
- Hermione... você sabe que eu tenho o poder para...
- Eu sei. Eu sei, Draco. Você sabe que eu sou sua, mas hoje estou muito mal. Acho que estou ficando com uma gripe, ou sei lá. Só vim pra dizer que hoje eu não posso. Preciso ir para casa. Rony está desconfiado. Ele já sabe que ontem a noite eu estava no outro hotel.
- Ele sabe de nós? – perguntou Malfoy, arqueando uma das sombrancelhas.
- Não. Ele... ele e Harry pensam que estou tendo um caso com Brade, meu superior na Interpol.
- Sei quem ele é! Um aborto. Um idiota de um aborto com você? Só mesmo o idiota do Potter para pensar numa coisa dessas. Falou para o Rony que quer a separação?
- Falei, Draco. Mas ele me ameaçou. Disse que vai brigar pelas guardas dos meus filhos num tribunal de trouxas se eu pedir o divorcio.
- Ainda melhor! – falou Draco, revelando os dentes alvos num sorriso alinhado. – Você dá um fora no Rony e ainda dispensa os filhos. Perfeito!
- Draco, por favor... eu não posso ficar sem meus filhos! Eu não posso! – falou Hermione e Harry percebeu que a voz dela estava embargada.
Draco a olhou como quem olha a um inimigo.
- Eu não sou misericordioso, Granger. Escolha o que melhor lhe aprouver: a guarda dos seus filhos ou a destruição de Harry Potter!!!
Harry ficou alarmado quando escutou seu nome. “Meu Deus, Hermione, no que você se meteu”, pensou ele.
- Esta bem! Vou pedir o divórcio, hoje – respondeu Hermione e Harry percebeu que ela não conteve mais o choro. Uma lágrima escapou de seus olhos e cruzou seu rosto.
- Não chores, meu amor. – disse Draco, enxugando a lágrima de Hermione com o polegar. Quando o dedo de Malfoy tocou a pele de Hermione, Harry percebeu que ela tremou o corpo todo e olhou para Draco com repulsa. – Teremos nossos próprios filhos. Claro que minha mulher nunca saberá, mas teremos nossos filhos, Hermione, deixarei para eles uma grande fortuna, não se arrependerá.
- Tenho certeza que não. – Hermione respondeu quase mecanicamente.
- Vou embora agora, minha paixão. Amanha nos encontraremos no mesmo horário.

Quando Draco deixou o quarto, Hermione correu até a porta e trancou. Depois encostou as costas na parede e escorregou até o chão, onde, começou a chorar, com os soluços tremendo todo o corpo. Ela enxugava as lágrimas que não paravam de vir e encolheu-se tanto que parecia quase uma trouxa de roupa largada ao chão. Harry não conseguiu deixar de chorar também por pena da amiga. Ela havia se metido numa encrenca e Harry não sabia o que fazer para ajuda-la.
Pensou em se revelar por um instante, mas conhecendo Hermione como ele a conhecia, provavelmente ela ficaria com raiva da intromissão dele e fugiria sem lhe dizer nada, então resolveu ficar e ver o que mais aconteceria.
Depois de chorar por muitos minutos, Hermione levantou, enxugou o rosto e se sentou na cama, procurando por sua bolsa. Com os dedos trêmulos, Harry viu quando Hermione tirou uma foto de dentro da bolsa. Era uma foto que Harry havia tirado com ela a alguns anos atrás. Os dois estavam sorrindo, olhando um para o outro e se abraçavam. Harry lembrava-se que Rony foi quem tirou a foto, por isso não estava nela. Hermione voltou a chorar olhando para a foto e depois aproximou-a do peito.
- Meu amor... – Harry escutou Hermione dizer baixinho e apurou os ouvidos. Será que Hermione dizia isso dele? “Meu amor?”, pensou Harry, sem entender mais nada.
Então ela voltou a colocar a foto na bolsa e procurou por outra coisa: um lenço branco, com uma rendinha em volta. Harry achou que Hermione fosse enxugar o rosto ainda banhado de lagrimas, mas Hermione fez uma outra coisa: ela levantou-se, olhando com atenção por todo a cama. Depois, quando achou um fio de cabelo muito louro, apanhou-o com cuidado e o colocou no lenço.
Depois de guardou o lenço no bolso, Hermione tirou o celular e discou rapidamente.
- Thomas? – falou ela, quando alguém atendeu. – Consegui! Onde você está? No laboratório? Estou indo então.
Hermione saiu do quarto, antes que Harry tivesse chance de poder segui-la. Na verdade, Harry ainda estava aturdido, tentando compreender e juntar os retalhos de informações que havia conseguido naquele encontro bizarro entre Hermione Granger, uma sangue ruim, e Draco Malfoy, o bruxo mais famoso pelo preconceito contra sangues-ruins.

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