Ultimamente



Suzan,

Acho que nunca consegui colocar na minha cabeça que tudo isso realmente aconteceu.
Todos esses malditos anos simplesmente se jogaram sobre mim, e já não tenho tanta certeza do que eu sei ou do que eu quero saber.
Às vezes me pego perguntando se você ainda se lembra...
É...
Por que é que tudo teve de acontecer tão depressa?
De qualquer forma, acredito que não haja mais tempo para muita coisa, então resolvi que te diria tudo que venho pensando quando me lembro de você. Cheguei a ensaiar isso tudo, de tantas vezes que as palavras passaram pela minha cabeça. Queria mesmo poder vê-la enquanto digo essas coisas, para as cores voltarem àquelas velhas lembranças...
Ainda lembro muito bem da última vez em que nos vimos. Você chorava por algum motivo que não compreendi, e hoje acredito que, de alguma forma, você sabia do que estava por vir enquanto eu ria porque acreditava que íamos nos ver de novo.
Naquele tempo, eu ainda achava que podia te proteger, me julgava inatingível, mesmo quando me envolvia em assuntos da Ordem...
***
[i]Era uma madrugada fria de outubro, e as poucas pessoas que caminhavam pela estação tinham seus corpos envolvidos por agasalhos pesados e soltavam vapor à medida que respiravam.
Um jovem casal aguardava diante de uma das plataformas, a menina chorosa e quieta e o rapaz tranqüilo a consolá-la. Abraçavam-se como jovens casais fazem, trazendo à tona lembranças à mente de uma senhora que esperava na estação, lembranças de quando ela também namorara um rapaz elegante como aquele.
Alheios à observadora, começaram a conversar em voz baixa.
- São só algumas semanas, Suz...Vai dizer que não agüenta ficar longe de mim?
- Não é isso, e você sabe...
O rapaz segurou as mãos dela, sorrindo.
- Eu vou ficar bem. Todos nós vamos.
Ela olhou para baixo e uma lágrima caiu.
- Com tudo isso acontecendo... Eu não sei mais o que é seguro. Tenho medo... de te perder.[i/]
***
Naquele dia, com você em meus braços, eu não poderia ver se algo estivesse errado. E era estranho, mas eu me sentia quase feliz. Porque olhava pra você e me surpreendia por perceber que isso me fazia sentir algo diferente.
***
[i]Quando o trem chegou, a moça já não chorava, mas estava séria, quase compenetrada.
- Eu vou, vejo o que está acontecendo, resolvo o que puder e volto assim que for possível...- disse ela, mais para si mesma do que para o namorado, como que repassando um complexo plano.
- A que horas sai o aveão?- perguntou ele, e ela de repente começou a rir, sinceramente divertida.
- Não se diz aveão, Sirius, se diz avião. E ele sai às dez.
- Sei.
Suzan se adiantou para pegar a mala do chão, mas foi impedida.
- Ei... Não se preocupe, tá?
Abraçaram-se.
Suzan engoliu e piscou algumas vezes para parar as lágrimas.
- Eu volto logo, Sirius. Vê se se cuida.
E então se beijaram, enquanto um apito soava indicando que o trem logo partiria.
Suzan pegou a mala do chão, deixando nele mais uma lágrima.
- Eu te amo, Suzan.[i/]
***
Naquele dia, Suzan, eu me apaixonei por você diversas vezes, e acreditei que poderia continuar me apaixonando até o fim dos meus dias.
E ultimamente, quando lembro disso, sinto que, se tivesse tido uma chance, teria mesmo.
Teria me apaixonado e voltado a apaixonar de todas as maneiras possíveis, se tivesse sido possível.

Sirius

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.