Você acredita em Papai Noel?



CAPÍTULO 17 – Você acredita em Papai Noel?



Lizie acordou com a fraca claridade do sol batendo na janela. Levantou-se da cama com um pulo e se espreguiçou bocejando. Afastou as cortinas vermelhas e douradas da janela e deu uma espiada lá fora, piscando com a forte claridade que invadiu o quarto; Pandora piou indiguinada, e tornou a enfiar a cabeça debaixo da asa para se esconder da claridade. A neve alvíssima cobria todo o terreno da casa, e Lizie pensou que seria uma ótima hora para ir ao Beco Diagonal.
Abriu o guarda-roupa, e ao puxar um suéter uma coisa caiu no chão. A garota apanhou o papel e sorriu; era uma foto. Nem se lembrava mais dela, era do terceiro ano. Nela, Lizie, Dave e o resto do time da Grifinória comemoravam enlouquecidos; tinha sido após uma vitória contra a Corvinal. Enquanto os outros ocupantes da foto pulavam e se abraçavam, Lizie reparou que no canto da foto, Dave a puxou para um abraço também, provavelmente lhe parabenizando. A Lizie da foto corou tanto que ficou com as bochechas da cor do seu uniforme de quadribol, e sorriu sem jeito para o capitão do time.
A garota sorriu; lembrando-se que não tinha colocado essa foto junto com as outras na estante porque Peter iria incomodá-la no mínimo para o resto da vida. Já gostava de encher Lizie só pelo fato de ela ficar vermelha com uma facilidade anormal, e se visse isso, a grifinória nunca mais teria paz na vida.
Terminou de se vestir rapidamente, e escondeu a foto recém-encontrada dentro de um pequeno baú de madeira com chave, adornado de enfeites e estrelas, junto com as misteriosas cartas de D.A.L.
Desceu até a cozinha, e encontrou sua mãe ainda descabelada, fritando o bacon apressada.
- Bom dia mamãe. O papai já foi trabalhar é? – perguntou Lizie, sentando à mesa.
- Sim, ele já foi. Você sabe como é... Agora que está trabalhando para esse jornal importante, não pára em casa, nem mesmo no Natal... Mas eu também vou ter que sair, desculpe filha, tenho que ir ao ateliê urgentemente! Céus! Acho que os seres de outros mundos clarearam minha mente, acho que finalmente descobri uma coisa... Preciso registrá-la apropriadamente. – informou Anna animadamente, colocando o bacon na mesa.
- Ah... Não faz mal. Vou ao Beco Diagonal com o Peter agora. – informou Lizie, servindo-se de suco.
- Melhor assim! Talvez eu não volte para o almoço... Vocês podem ir almoçar fora, deixei o dinheiro em cima da geladeira! Tchau Lizie, estou indo! – despediu-se a mulher, saindo praticamente correndo da cozinha.
Lizie achou melhor acordar Peter antes de comer se quisesse ir ao Beco Diagonal ainda hoje, e foi até o quarto dele no segundo andar. Abriu a porta devagar; o irmão estava esparramado na cama, quase caindo, roncando, de boca aberta. Não podendo resistir, a garota caminhou na ponta dos pés para perto da cama.
- PETER! SE QUISER IR COMIGO NO BECO DIAGONAL ACORDA LOGO! – gritou Lizie à plenos pulmões, e o garoto caiu da cama, assustado, olhando para os lados com os olhos inchados de sono.
A garota voltou para a cozinha antes que o irmão pudesse se vingar. Quando Peter chegou à cozinha, Lizie já tinha comido metade do bacon.
- Que maneira mais suave de se acordar alguém Lizie. – resmungou ele. – Quase me matou do coração, isso sim. Dá próxima vez, vou trancar a porta antes de dormir.
- Bom-dia, maninho! – exclamou a bruxa sorrindo, sarcástica, como se não tivesse ouvido o irmão.
- Isso ainda vai ter volta. – disse Peter, apontando ameaçadoramente para o rosto de Lizie com um pão.
- Enquanto você termina de comer e pensa numa vingança terrível para mim, vou pro meu quarto, esqueci de pegar meus galeões.
A garota subiu até a torre novamente, e abriu uma das gavetas da estante e de lá tirou uma pequena bolsa cheia de moedas de ouro, e a guardou no bolso interno da jaqueta. Resolveu esperar por Peter ali mesmo, sentada no parapeito de uma das janelas, observando a neve. Muitos de seus colegas de Hogwarts sempre iam ao Beco Diagonal para comprar presentes de Natal, e ela não conseguiu deixar de pensar que talvez Dave também estivesse lá...
- Ahhh pensando nesse garoto ruivo, é? – caçoou o seu irmão mais velho, que tinha entrado sorrateiramente no quarto. A grifinória estava tão concentrada pensando que nem tinha notado sua presença. Corou até a raiz dos cabelos quando viu que Peter segurava sua foto com Brad.
- Me dá essa foto, Peter. – exigiu Lizie autoritária.
- Ui, ficou bravinha? Esse ruivo deve ser seu namorado, então... – disse Peter sorrindo malicioso.
- Ele não é meu namorado! Por que você insiste tanto nisso? Por Merlim! Você devia arranjar uma namorada, isso sim, talvez parasse de me incomodar. – bufou a garota, com as bochechas vermelhas, resgatando a foto das mãos de Peter e a recolocando no porta-retrato na estante.
- Isso tiraria toda a graça da vida. – explicou ele, piscando.
- Eu teria pena da pobre garota.
- Tá ok! Eu paro! Satisfeita? Vamos logo de uma vez! Beco Diagonal, aí vamos nós!



O Ford Anglia vermelho estacionou em frente ao Caldeirão Furado, e os dois Lohans entraram no Beco Diagonal, que estava magnificamente enfeitado para o Natal. Pinheiros de Natal de variados tamanhos estavam espalhados por todo o Beco, luzinhas mágicas e brilhantes sobrevoavam o local como vaga-lumes, as vitrines das lojas exibiam enfeites natalinos...
- Primeiro vamos à Floreios e Borrões, na livraria. – informou Lizie.
- O quê? Eu não acredito que você está pensando em comprar livros, assim vai estragar a minha reputação! Se alguém perguntar, você não é minha irmã.
- Não tem nada de mais em comprar livros Peter, e são de presente; mas quanto à ser sua irmã, fica tranqüilo, juro que não conto pra ninguém.
Minutos e minutos depois de terem entrado na livraria, saíram de lá com uma saca e a bolsa de galeões mais leve. Para seu pai, Lizie tinha comprado um exemplar de Hogwarts, uma história, sabendo que ele ia gostar. Para um dos gêmeos Loper, Henry, que era o mais tímido e estudioso dos dois, ela comprou o livro O Senhor dos Anéis, a Sociedade do Anel, que era um livro muito famoso no mundo dos trouxas, mas o que eles não sabiam é que J.R.R. Tolkien era um escritor bruxo. Para sua amiga Dora, o livro Manual de Adivinhação para aprendizes de adivinhos, porque a lufana era fascinada por adivinhação, e Lizie sabia que ela vinha querendo esse livro à algum tempo. Uma agenda para anotar deveres para seu primo Evan, e para sua prima Vanessa, que também adorava ler histórias de magia e ficção, o livro As Crônicas de Nárnia, de C.S. Lewis, que também era um livro famoso entre os trouxas, mas o escritor também era um bruxo.
- Não sei o que essas pessoas que gostam de ler tem na cabeça! – comentou Peter, que era quem estava carregando a saca de livros.
- Com certeza, muito mais coisa que na sua. – retrucou Lizie divertida.
- Me chamou de cabeça-de-vento é?
- Talvez. Mas agora vamos na Gemialidades Weasley...
A loja de logros e brincadeiras, era, de longe, a que mais chamava atenção. A vitrine era tão colorida, cheia de variedades de objetos estranhos, luminosos, escandalosos e barulhentos, que era impossível não passar em frente e dar apenas uma olhada.
- Isso sim! Agora vamos entrar numa loja de verdade! – exclamou Peter animado, adiantando-se.
Mal Lizie e seu irmão tinham entrado na loja cheia de gente, na maioria jovens, e Peter esbarrou em uma garota loira e arrogante. O ânimo de Lizie despencou; era Gabriela Tonkson. Desejou com todas as forças que Peter não começasse a dar em cima dela. Mas seus desejos foram atendidos, pois o irmão não parecia nem minimamente interessado nela, por incrível que pareça.
- Ora, ora, ora... Veja quem está aqui. A sangue-ruim e o irmão trouxa! – sibilou Gabriela, em tom zombeteiro.
- Quem é essa, Lizie? Fugiu de um circo ou do quê? – ironizou Peter, comprando a briga.
- Troxas deviam ser proibidos de freqüentar o Beco Diagonal, e sangues-ruins também... Não vou respirar o mesmo ar que vocês, posso me contaminar. – disse Gabriela, visivelmente começando a ficar nervosa. Lizie abriu a boca para retrucar, mas foi interrompida pelo irmão novamente.
- E você devia ser proibida de andar por aí... Destilando veneno pra todo lado, pode envenenar alguém, sabia? – retrucou Peter não se deixando abalar, com o típico sorriso maroto estampado no rosto. Lizie chegou até a sentir uma pontinha de pena da sonserina; não sabia a briga que tinha comprado. Mas a pena logo desapareceu; ela merecia.
- Como você se atreve seu trouxa idiota... – zangou-se a loira, puxando a varinha, e a grifinória pensou ter visto uma sombra de medo nos olhos do irmão. Lizie puxou a varinha também, encarando a sonserina, se colocando na frente do garoto. Usar a varinha contra Peter seria covardia, já que ele não tinha poderes mágicos. Não deixaria Tonkson fazer nada com seu irmão.
- Não liga Peter, ela é meio retardada. – comentou a grifinória.
- Bem, acho que meio é bondade, Lizie. – discordou o garoto, sorrindo ainda mais ao ver Gabriela passando de vermelha para púrpura.
- Só podia ser trouxa mesmo! Precisa da irmãzinha sangue-ruim para te defender!
- Olha aqui, sua patricinha, pode me chamar de sangue-ruim se quiser, mas prefiro mil vezes ser sangue-ruim do que ser uma “sangue-puro” idiota e mimada que nem você! – disse Lizie em tom de conversa, mas com os olhos faiscando perigosamente.
- Ah, perdeu a fala foi? Talvez a água oxigenada afetou o cérebro dela... Ou será que ela está pensando em nos atacar com um gloss labial? – ironizou Peter. Agora alguns visitantes da loja tinham percebido um tumulto e observavam curiosos.
- Vocês não tem noção do perigo? Olha só para vocês, um trouxa metido a palhaço e uma sangue-ruim vadia... – falou Gabriela zangada. Ah, se ela queria descer o nível, ela ia se arrepender...
- Olha só quem fala, Tonkson, você é a maior vaca que eu já tive o desprazer de conhecer! – encrespou Lizie, e Peter deixou escapar um assobio.
- Lizie! Não ofenda os animais! Assim você vai denegrir a imagem das vacas! – ralhou o irmão mais velho, fingindo estar zangado. Foi de mais para a sonserina; quando ela levantou a varinha, se preparando para atacar, um dos donos da loja, Fred Weasley, apareceu.
- O que está acontecendo aqui? – perguntou Fred autoritário, e o montinho de gente se dispersou, voltando para as compras, e seu irmão gêmeo, Jorge, apareceu ao seu lado. – Deixa eu adivinhar... Essa patricinha deve ser da Sonserina, e está implicando com essa garota, com certeza uma da Grifinória.
- Acho que sim, Fred. Bem, não queremos o pessoal idiota da Sonserina ofendendo ninguém da Grifinória aqui dentro... Então por favor, Srta. Patricinha, faça o favor de deixar a nossa loja. – expulsou Jorge, piscando para Lizie e Peter, escondendo um sorriso. Gabriela, sem outra opção, deixou a loja lançando olhares de puro ódio para Lizie e o irmão. Peter acenou para a loira cinicamente, sorrindo, e Lizie seguiu seu exemplo, sabendo que isso deixaria a sonserina mais irritada ainda.
Gabriela estava à ponto de explodir; com certeza, quando tivesse oportunidade, com certeza se vingaria. Mas Lizie não se importou com isso, não sentia medo da sonserina. Nas Gemialidades Weasley, comprou um kit mata-aula para dar de presente para Peter, sabendo que ele acharia muito útil.
Para sua prima Marcella, o “Infalível Removedor de Espinhas em Dez Segundos”, no entanto, Peter pareceu não achar seguro comprar isso para a prima, uma vez que ela nem mais ninguém da família sabiam que Lizie era bruxa.
- Não esquenta. Ela vai amar, é só eu dizer que é algum cosmético novo, lançado na América, que ela acredita. Ela se preocupa tanto com a aparência... – comentou Lizie, para tranqüilizar o irmão.
Resolveu comprar uma caixa de Feijõezinhos Mágicos de Todos os Sabores para Evan, não era uma coisa evidentemente mágica, e como o primo adorava comer... Saíram da loja de logros e brincadeiras com vários galeões a menos, mas satisfeitos.
Os dois Lohans caminhavam em meio à confusão de bruxos que faziam as compras de Natal, olhando as vitrines, Peter caminhava com o braço transpassado na cintura da irmã, meio abraçados, até que pararam na Artigos para Quadribol. Lizie se distraiu um momento, e então viu uma coisa que fez seu coração acelerar; viu Dave. Percebeu que o garoto estava olhando, e acabou deixando cair, sem querer, várias das sacolas que estava segurando. Imediatamente, sentiu seu rosto queimar, e recolheu as sacolas do chão apressada.
Antes que o irmão tivesse tempo para rir dela, a grifinória o puxou para dentro da loja, corando.
Dave continuava a olhar para a Artigos de Quadribol, ignorando os empurrões dos outros bruxos. Quem era aquele garoto que estava abraçado com Lizie? Não, não era possível, agora que ele pensara que o caminho estava livre, Brad Tanner tinha ido embora...
- Olá, Dave! É melhor sair daí, os outros estão querendo passar. Vai acabar sendo pisoteado. – avisou Dora.
- Ah, certo. – concordou o grifinório, chegando mais perto da vitrine, fingindo estar interessado nas vassouras expostas. Hesitou um momento, mas ele tinha que saber. – Dora, você sabe quem é aquele garoto com a Lizie?
Para seu constrangimento, a lufana gargalhou com vontade.
- É só o irmão mais velho dela, o Peter. Fica tranqüilo, Dave... – explicou Dora, sorrindo.
- Ah, é... Tinha esquecido que ela tinha um irmão. – disse o garoto aliviado, contendo um sorriso. – Como eu fui burro! – Dave pensou alto, e quando percebeu o que fez, ficou levemente corado, isso só acontecia quando era alguma coisa relacionada à Lizie, pois o garoto não costumava corar. – Dora, por favor, não conta pra Lizie que eu perguntei isso, melhor, você nem me encontrou! Nem conversou comigo!
- Por que não?
- Só jure que não vai contar!
- Tá, tá, juro que não conto. Mas que fique bem claro que eu sou contra essa babaquice... Não vejo o por quê que ela não deveria saber que você... hum, perguntou dela. – objetou Dora. O grifinório se incomodou um pouco com o olhar de subentendimento da lufana, mas continuou em silêncio.
- Bem, agora eu tenho que ir... O Thomas tá me esperando! Tchau, Dave! – despediu-se a lufana, indo se juntar ao monitor de cabelos castanhos e encaracolados, que por acaso, estava sorrindo.
Lizie olhava por cima do ombro à todo instante, tentando ver através da vitrine, e só parou quando o irmão comentou:
- O que você tanto olha lá fora? Só pode estar procurando algum garoto! Esse mundo tá perdido!
Lizie resolveu comprar uma miniatura de uns 40 cm² de um campo de quadribol para Peter, que continha ainda bonequinhos montados em vassouras, que simulavam um jogo, enquanto o irmão estava distraído babando pelas vassouras. É incrível como os garotos, mesmo nunca tendo visto nem um jogo, ficam meio abestados por causa do quadribol.
E a garota ainda queria comprar um presente para Dave, não alguma coisa grandiosa, mas simples, mas que mesmo assim o garoto gostasse. Bem, já que é um garoto, logicamente gosta de quadribol, e ainda é o capitão do time da Grifinória... Finalmente, resolveu comprar um modelo em miniatura de uma Firebolt, pedindo à Merlim que ele gostasse.
Já se passava do meio-dia, e Lizie ainda comprou para um dos gêmeos Loper, Mike, um conjunto de bexigas, um jogo de bruxos parecido com o de bolas de gude, em que as bolas espirram um líquido fedorento na cara do outro jogador quando ele perde um ponto. E para sua mãe, Anna, um modelo perfeito de uma galáxia em movimento, dentro de um globo de vidro do tamanho de uma bola de futebol.
Lizie e Peter já estavam no Caldeirão Furado, quando a grifinória reconheceu uma garota de cabelos longos e negros, Bella Monteiro.
- Ah, oi Lizie, tudo bem? – cumprimentou a corvinal, sorrindo.
- Tudo, Bella. Esse aqui é o meu irmão, Peter. – apresentou Lizie.
- Prazer, Srta. Bella. – disse Peter galante, apertando a mão da corvinal. Lizie revirou os olhos para o teto, reconhecendo a tática; será que ele não era capaz de ver uma garota sem dar em cima dela? Bem, mas ele não ter dado em cima da Tonkson já era um milagre.
- Ah, Peter, e esse é o Jony, o namorado da Bella. – acrescentou a grifinória, quando o sonserino apareceu ao lado de Bella, com cara de poucos amigos para Peter, que parecia indiferente. - Bem, tchau Bella, Jony, nós temos que ir. Feliz Natal!
Quando os Lohans estavam saindo do Caldeirão Furado para almoçar, toparam com Dora.
- Dora! Você vai almoçar aonde? – perguntou Lizie.
- Estava pensando em ir num café trouxa... Meus pais estão por aí, não faço a mínima idéia de onde, nem ligam pra o que eu faço...
- Então, você podia almoçar com a gente! – convidou a grifinória, animada.
- Seria ótimo! – aceitou a lufana.
Os três andaram pelas ruas de Londres no Ford Anglia à procura de uma lanchonete para comerem alguma coisa, até que acharam uma que parecia ser razoavelmente boa. Era pequena e abafada, as paredes claras com enfeites natalinos. Uma garçonete mal-humorada foi até a mesa deles, mascando chiclete, e eles pediram hambúrgueres e refrigerante.
- Como ela era simpática! – comentou Peter irônico, enquanto a garçonete se afastava.
- Dora! Esqueci de te perguntar... Então, seus pais deixaram você ir passar o Natal lá em casa? – quis saber Lizie, curiosa.
- Ahh, deixaram! Disseram que me levam na sua casa amanhã, no comecinho da tarde!
Depois de comerem até não agüentarem mais, Lizie, Dora e Peter estavam ainda à mesa, conversando.
- Peter, eu e Dora vamos ir dar uma olhada nas vitrines, sabe, ela não conhece muito bem a Londres trouxa! – avisou Lizie, olhando de esguelha para a amiga, que confirmou com a cabeça.
- Olhar as vitrines é? Sei. Vocês querem é botar as fofocas em dia! – protestou Peter, sorrindo. – Mas podem ir, só não demorem muito. Vou ficar aqui esperando, se demorarem vou atrás de vocês e faço passarem a maior vergonha de suas vidas! Apesar de que não é preciso muito pra Lizie ficar vermelha...
- Tá, maninho, já entendemos. Daqui a pouco estamos de volta...
As duas amigas deixaram a lanchonete, enrolando o cachecol no pescoço. Peter já estava se arrependendo de ter deixado as duas saírem sozinhas, não sabia o que ficaria fazendo até elas voltarem. Foi até o balcão e pediu um café, e quando se virou para ir para a mesa, alguém esbarrou nele, derramando todo o café quente em cima da sua blusa nova. Olhou irritado para ver quem tinha feito isso, e todo o seu aborrecimento desapareceu instantaneamente.
- Ah, realmente, me desculpe, não estava vendo para onde ia... – desculpava-se uma garota linda, que aparentava ter uns dezessete anos. Peter nem escutava o que ela dizia; só conseguia olhar para ela, quase hipnotizado. Tinha os cabelos lisos e negros, a pele alva como a neve e os olhos azuis escuros e profundos. Seu coração quase parou. Seus olhares se cruzaram, e neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles. O que está acontecendo? Era o que ele se perguntava. Nunca tinha acontecido nada igual...
- Desculpe mesmo... Eu pago outro café para você. – adiantou-se a garota. Se Peter soubesse o que era uma veela, ou tivesse visto uma veela em sua vida, com certeza acharia que aquela garota era uma. O irmão mais velho de Lizie apenas ficou olhando a garota pagar outro café, como se tivesse sido atingido por um balaço, pela primeira vez na vida sem fala diante de uma garota. E ela o conduziu para uma mesa vazia.
- Desculpe pela sua blusa... – desculpou-se a garota novamente, sentando defronte a Peter.
- Não, não foi nada... – protestou Peter, com a voz fraquinha, arriscando um sorriso. – Eu não gostava dela mesmo!
- Você é daqui de Londres? – perguntou ela, sorrindo também. Peter sentiu seu estômago afundar. Tudo isso era tão estranho, uma sensação estranha e maravilhosa...
- Sou, moro aqui em Londres sim. E você?
- Moro em Berkshire, não muito longe daqui. – respondeu a garota.
- Hum, e você vai passar o Natal lá mesmo? – quis saber Peter, interessado. De alguma maneira, não conseguia imaginar o seu futuro sem aquela garota... E daí se eles tinham se conhecido a pouco mais de segundos, quando ela derrubou café na sua blusa? Ela tinha despertado uma coisa dentro dele que nenhuma outra jamais tinha conseguido.
- Vou... infelizmente. Só eu e meu irmão. Não temos muitos parentes, e meus pais trabalham... num, hum, jornal, e tiveram que viajar para a Itália, para trabalhar num artigo, e eu e meu irmão não quisemos ir junto. – explicou a garota, jogando os cabelos negros para trás. Peter a olhava fixamente. Teve uma idéia repentina... E daí se eles mal se conheciam? Ainda podiam se conhecer, Peter tinha que conhecê-la.
- Você e seu irmão podem ir lá pra casa, pelo menos para a ceia de Natal... O Natal é uma coisa tão importante, e bem, ia ser melhor com mais gente. Eu sei que a gente nem se conhece direito... Mas passar o Natal só com o irmão, parece ser muito... solitário. Você deve me achar maluco... Mas se quiser recusar o convite eu entendo perfeitamente... – engrolou Peter, olhando nos olhos azuis profundo da garota, que parecia hesitar. Pela primeira vez em anos, o irmão de Lizie ficou um pouco corado.
- É, parece ser uma boa idéia. Acho que meu irmão também vai gostar. – aceitou ela sorrindo, com os olhos brilhando. Peter não conseguiu deixar de sorrir ainda mais, aliviado, com o coração aos saltos.
Eles ficaram conversando cerca de meia hora, animados. Quanto mais conversavam, mais descobriam que tinham coisas em comum. Ela era... perfeita.
- Ah, realmente me desculpe, Peter. Eu tenho que ir. Disse que buscaria meu irmão á cinco minutos atrás! Então até o Natal, com certeza eu apareço lá! – disse a garota, levantando-se. Peter adiantou-se, e a garota despediu-se dando um beijo na bochecha do irmão de Lizie, e saiu da lanchonete, olhando para trás e sorrindo.
Peter deixou-se cair na cadeira, com um sorriso bobo. Mal teve tempo para pensar nela, quando a porta da lanchonete abriu novamente, e Lizie apareceu.
- Vamos logo pra casa, Peter. A Dora já voltou pro Beco Diagonal, os pais dela já estavam indo. Ainda tenho que embrulhar todos esses presentes!
Durante todo o trajeto de volta para casa, Peter permaneceu estranhamente quieto, o que Lizie achou estranhíssimo. Ele até quase atropelou um cachorro, e nem caçoou de Lizie sequer uma vez.
- O que há de errado com você, maninho? Parece que tá doente...
- Nada não. Está tudo perfeitamente bem.



No resto do dia, Peter agiu como se fosse outra pessoa, totalmente diferente. Na altura do jantar, sua mãe já estava decididamente preocupada, achando que talvez a influência maligna dos habitantes de Marte tinha agido contra ele, quando ele subiu para o quarto sem comer nada, dizendo que estava sem fome, uma coisa extremamente rara de se acontecer. Lizie olhou preocupada para as escadas em que o irmão acabara de desaparecer, e sem dizer nada subiu atrás dele.
Chegou no quarto dele, e bateu na porta. Ouviu uma voz abafada, “Entre”. O irmão estava deitado na cama, olhando para o teto, com uma expressão séria poucas vezes vista, e a irmã sentou-se no pé da cama.
- O que há com você, Peter? Está estranho desde hoje quando saímos daquela lanchonete. Nem riu de mim quando tropecei na escada, não fez brincadeiras no jantar... Estava mais sério do que o papai. Ficou quieto o dia todo. Pode contar pra mim, Peter. – falou Lizie docemente.
- É. É que aconteceu uma coisa hoje. Uma coisa muito estranha. – confidenciou ele baixinho.
- E por acaso essa coisa aconteceu na lanchonete enquanto eu e Dora estávamos olhando as vitrines?
- Sim. Sabe... Uma garota derrubou café em mim.
- E você ficou assim por quê? Por causa do café é que não foi.
- Bem... Sabe, acho que ela mexeu comigo. Quando eu encontrei com ela, parece que meu coração parou de funcionar por alguns segundos. Me dava uma sensação estranha quando olhava pra ela... Uma coisa boa, mas definitivamente estranha. Parece que não consigo mais imaginar meu futuro sem ela. Não sei o que é, nunca senti isso antes. - contou Peter com a voz abafada, ainda contemplando o teto. Lizie riu.
- O quê? Peter Lohans, que dizia que se apaixonar, namorar tiraria toda a graça da vida, está completamente apaixonado por uma garota que mal conhece? – disse a irmã, incrédula.
- Então, isso que eu estou sentindo, é amor? – quis saber Peter, interessado, agora sentado na cama.
- Vai dizer que nunca gostou de ninguém?...Sabe, pra valer? – espantou-se Lizie, meio constrangida de falar sobre isso com o irmão.
- Não. Não tinha a mínima idéia de como era isso. Então... isso é amor?
- Sabe... Não sei definir o amor, Peter. É uma coisa muito complicada, o amor faz tão bem, e tão mal também... Mas pelo o que você falou, sabe, parece que você está gostando dela, pra valer. – explicou Lizie, ficando mais vermelha. Era muito estranho estar ali, no quarto com seu irmão, tentando explicar para esse ser que nunca amou o que era o amor.
- É tão estranho... Não consigo parar de pensar nela. Tudo me lembra ela. É... angustiante! Você consegue me entender? – disparou ele agoniado. Lizie confirmou com a cabeça.
- Entendo perfeitamente. – murmurou a grifinória, pensando em Dave. – Você pretende vê-la de novo?
- Claro. Eu precisava! Então, convidei ela para a ceia de Natal. Vai vir junto com o irmão.
- Ah! Que bom! Vou poder conhecer essa garota que conseguiu um milagre!
- Ela é perfeita, Lizie... – suspirou ele.
- Ok... Então boa noite, maninho, e sonhe com essa garota perfeita...
- Duvido que eu consiga dormir hoje, mas pode deixar... Boa noite, maninha.
Lizie foi para seu quarto na torre, ainda sorrindo. Era difícil de acreditar! Seu irmão, Peter, apaixonado! Quando ela chegou no quarto, viu que uma coruja branca batia à sua janela com uma carta no bico. Pensou que fosse uma carta de D.A.L., mas logo raciocinou... Sua coruja não era branca. Mas quem mais poderia ter lhe mandado uma carta?
Lizie abriu a janela, e a coruja voou para dentro e deixou cair a carta em cima da cama, e sem esperar, foi embora. A grifinória pegou a carta, curiosa, e seu coração quase parou de bater quando reconheceu a letra de... Dave. Abriu o envelope, com as mãos tremendo ligeiramente, sem conseguir conter um sorriso.

“Olá Lizie!

Bem, deve estar se perguntando por que eu estou te escrevendo uma carta. A questão é que eu acho que eu te devo desculpas, e não podia esperar por isso nem mais um minuto. Você deve estar se perguntando, também, por que eu estava te tratando daquela maneira na última semana de aulas... Sobre aquilo, esquece. Acho que você deve saber exatamente o porquê, ou não... Mas, enfim, esquece.
Escrevi pra te contar que vou passar o Natal em Londres! Meus pais viajaram para a Itália, pois trabalham no Transfiguração Hoje, e estão trabalhando num artigo muito importante. Eu e minha irmã íamos passar o Natal aqui em Berkshire mesmo, mas então a Julie conheceu um cara em Londres, e a gente vai pra ceia de Natal na casa dele. É um tanto estranho, mas fiquei feliz de ir para Londres! Quem sabe a gente não se encontra?
Espero que esteja bem, afetuosamente, Dave.”


Lizie terminou de ler, mas continuou olhando fixamente para a carta em suas mãos. Nem conseguia acreditar que Dave tinha se desculpado por ter tratado ela com toda aquela indiferença... E talvez eles se encontrassem no Natal! Com o coração aos saltos e com um sorriso de orelha a orelha, correu para sua escrivaninha com pergaminho, pena e tinteiro na mão, sentando-se na poltrona.
Ficou vários minutos, ora olhando para o pergaminho que não tinha sequer uma palavra, ora olhando para a carta que Dave tinha lhe escrito. Finalmente, veio a inspiração. Fez questão de escrever com a melhor letra que ela conseguia, e, por fim, analisou o que tinha escrito.

“Fico realmente feliz que tenha se dado conta de que eu não fiz nada de errado! Fique sabendo que o jeito que você estava me tratando me fazia muito mal! Mas, bem, esquece! O importante é que agora está tudo bem!
Meu irmão também conheceu uma garota, e ela e o irmão vão vir passar o Natal aqui em casa. Que coincidência, não?Imagine se meu irmão Peter e sua irmã Julie tivessem se conhecido? Seria ótimo, então ao invés desse garoto, você viria... Temos que combinar de nos encontrar no Natal então!
Ps: Ganhei essa coruja de Natal, a Pandora. Espero que ela não se perca no caminho nem nada parecido!
Beijos, Lizie.”


Pandora se mostrava entusiasmada com a primeira entrega, e a grifinória ficou apreensiva. Será que ela conseguiria achar o caminho da casa de Dave?
Lizie prendeu o envelope na pata de Pandora, que piou com dignidade como se dissesse: “Deixa comigo!”, e a coruja parda saiu pela janela, desaparecendo no horizonte coberto de neve. A garota ficou observando o céu por um tempo, e se arrastou para a cama.
Ela adormeceu ainda com um sorriso gravado no rosto, com a leve impressão de que estava acontecendo alguma coisa que ela ainda não tinha percebido... Imagina se essa garota e seu irmão são Julie e Dave? Não... Impossível!



Lizie escutou o milésimo chamado de sua mãe para ir almoçar, e resolveu descer antes que sua mãe fosse buscá-la pelos cabelos.
- Até que enfim, Lizie! Já estava começando a achar que tinha sido abduzida! O seu irmão estava me contando agora que convidou uma garota para a ceia de Natal... Dá pra acreditar?
- É, realmente não dá – concordou Lizie.
- Ei, eu também sou um ser humano e tenho sentimentos, sabiam? – interferiu Peter, fingindo estar magoado.
Lizie sentou-se à mesa, e constatou, irritada, que em seu lugar não tinha copo. Com certeza, coisa do Peter, então levantou-se para buscar um no armário.
- Afinal, qual é o nome dessa moça, meu filho? – Lizie escutou sua mãe perguntar.
- O nome? Julie Warty. – respondeu Peter encenando um grande suspiro, e a grifinória parou de chofre, deixando o copo que estava segurando cair, espalhando vidro por toda a cozinha.
- O quê? Warty? Você disse Warty? Tem certeza? – quis saber ela, incrédula.
- É maninha, Julie Warty. Por quê? Conhece?
- Eu... hum, Warty... Ela deve ser a irmã de um colega meu de Hogwarts. – engrolou a bruxa, corando um pouco.
- Hum, então ela também é bruxa? – perguntou Anna interessada, enquanto recolhia os cacos de vidro.
- É... Pelo o que eu sei, ela é bruxa, mas não estuda em Hogwarts. Ela faz o sétimo ano em Beauxbatons, a escola de magia da França. Ela preferiu Beauxbatons à Hogwarts, gosta mais da França. – informou Lizie, ainda com o olhar vidrado. Sim, uma vez Dave tinha lhe contado isso...
- Como sabe tanto assim sobre ela? Andou tendo umas sessõezinhas íntimas com o irmão dela, seu amigo é? – perguntou Peter com um sorrisinho malicioso.
- Pára de ser bobo, Peter! Ele é só meu amigo! – protestou a grifinória, corando ainda mais, embora desejasse que Dave não fosse só um amigo. Seu cérebro ainda não conseguia processar a informação... Não conseguia acreditar que Dave viria para sua casa no Natal!
- Então Peter, essa moça é sua namorada? – perguntou Anna retomando a conversa.
- Não, ainda não. – disse Peter, piscando.
Lizie mal tocou em seu prato, quando disse que estava sem fome e foi para sua torre. No caminho, topou com seu pai, acabando de chegar do jornal, e sua mãe já andando de um lado para o outro da casa, arrumando coisas de última hora, pois seus primos e Dora chegariam hoje. Chegou ao seu quarto basicamente vermelho e dourado, e foi direto para sua escrivaninha escrever uma carta para Dave. Arrependeu-se de ter mandado aquela carta para o garoto ontem por Pandora, pois ela ainda não tinha voltado. Receou que talvez ela tivesse se perdido; nunca tinha feito uma entrega com ela. Enquanto esperava, pôs-se a escrever a carta.

“Dave!
Acabei de descobrir que a garota que meu irmão convidou para a ceia de Natal aqui em casa é a sua irmã Julie! Fico realmente feliz que você vá vir aqui em casa para a ceia de Natal! Que feliz coincidência, não acha? Então, te vejo no Natal!
Afetuosamente, Lizie.”


Leu e releu o que escreveu, pelo que lhe pareceram mil vezes, olhando esperançosa de segundo em segundo para a janela, vasculhando os céus em busca de Pandora. Depois de minutos que lhe pareceram horas de espera, a garota avistou um pontinho pardo aumentando de tamanho gradativamente enquanto se aproximava. Para seu desapontamento, não trazia reposta alguma de Dave, mas ela não se abalou.
- Pandora... Você estaria disposta á fazer toda essa viagem novamente? É muito importante. – propôs Lizie suavemente, enquanto a coruja bebia grandes sorvos de água. Ela olhou para a dona com seus grandes olhos cor de âmbar, e piou em concordância. Lizie sentiu um arrombo de afeição pela coruja, teve que admitir que era muito determinada e resistente. A deixou descansar cerca de vinte minutos antes de despachá-la para Berkshire novamente.
Logo depois, quando tinha acabado de descer para a sala, a campainha tocou. A grifinória foi atender a porta, e encontrou Dora no hall de entrada, com o malão. Não viu sinal algum de seus pais. As amigas se abraçaram como se não se vissem à anos.
- Dora, como é bom vê-la! – saudou Anna contente. – Como vai a sua pesquisa sobre Júpiter?
- Correndo tudo perfeitamente, Sra. Lohans. Descobri umas coisas que você irá gostar, inclusive sobre Plutão. – informou Dora sorridente.
- Que notícia maravilhosa! Depois você me conta, querida, tenho que terminar os preparativos para receber os meus sobrinhos... E então eu aproveito e te mostro uma prova concreta que existe vida em Plutão! Até depois. – disse Anna, desaparecendo pela porta da cozinha, apressada.
As duas amigas subiram para o quarto de Lizie, e guardaram o malão de Dora junto com o da grifinória. A lufana a ajudou a guardar todas as coisas evidentemente mágicas do seu quarto – inclusive as fotos que se mexiam e um pôster autografado das Harpias de Holyhead, – dentro de um baú que foi escondido debaixo de sua cama. Com um aperto no coração, guardou sua Nimbus 2001 no armário como se fosse uma vassoura qualquer, junto com seus livros de feitiços e bruxaria dos anos anteriores que não cabiam no malão.
Montaram três camas de armar pelo quarto, que agora parecia meio vazio para Lizie sem as suas habituais coisas, mas embora estivesse muito apertado por causa das camas para Dora e suas primas Vanessa e Marcella, isso que as coisas das primas nem tinham sido colocadas ali ainda, e conhecendo Marcella, a prima traria seu guarda-roupa inteiro.
Quanto à gaiola de Pandora, deixou-a ali mesmo, não tinha como mandar sua nova coruja desaparecer por uns tempos, e o jeito seria simplesmente dizer que ela gostava de aves noturnas.
Escutaram a campainha tocar novamente, e Lizie desceu para a sala rapidamente com Dora em seus calcanhares. Chegou em tempo de ver dois garotos idênticos cruzando a soleira da porta, seguidos de um casal, que eram recepcionados por Anna.
Os gêmeos Loper, Mike e Henry, tinham quatorze anos, eram bonitos, meio altos para a idade. Tinham os cabelos castanhos e olhos claros. Embora fossem idênticos fisicamente, eram muito diferentes. Mike vestia roupas mais descoladas, era extremamente extrovertido e cara-de-pau, popular na escola, e dizia que seu herói era Peter e que seu sonho era ser igual a ele quando crescesse. Já Henry, era o oposto do irmão gêmeo. Vestia roupas mais discretas, era extremamente tímido e fechado, e gostava de passar a maior parte do seu tempo trancado no quarto lendo livros de ficção, e tinha dificuldades para fazer amigos.
O pai deles, Ben Loper, era irmão de Anna, portanto, eles e Lizie eram primos por parte de mãe. Ben e sua mulher, Kate, iam viajar à negócios, pois representavam uma importante empresa de marketing.
- Agora temos que ir para o aeroporto. Nosso vôo para o Canadá já deve estar quase saindo! Obrigado Anna, por ficar com o Mike e o Henry... Realmente, não podemos levá-los juntos, são negócios... Obrigado. – agradeceu Ben, apressado.
- Qualquer problema me ligue, Anna. – pediu Kate, enquanto abraçava os filhos.
- Se comportem! Obedeçam a tia Anna e o tio Robert! Feliz Natal! – e dizendo isso, Ben e a esposa Kate fecharam a porta e foram para o aeroporto.
- Mike! Henry, como vão? – cumprimentou Peter entusiasmado.
- Peter! Meu herói! – saudou Mike, lhe fazendo uma reverência cômica, a qual Peter retribuiu. Henry murmurou um olá, sentou no sofá, abriu um livro grosso de umas setecentas páginas e começou a ler.
- Oi Henry. – disse Lizie, e ele ergueu os olhos do livro por um instante e arriscou um sorriso tímido.
- Oi, Lizie. – falou Henry. Ele sempre se dera melhor com a prima do que com Peter, e seu irmão era justamente o contrário.
- Quando é que os seus outros primos, os por parte de pai, vão chegar Peter? – perguntou Mike tentando parecer apenas levemente interessado. Peter lhe lançou um olhar astuto.
- Você quis dizer, quando a Vanessa vai chegar? – quis saber o irmão de Lizie, com um ar maroto.
- Exatamente. Ah, o Henry parou até de ler para escutar. Ele deve tá doidinho pra ver a Marcella... – comentou Mike maldoso. – Sorte que elas não são minhas primas... Só suas, Peter!
- É, mas sorte a de vocês que o Evan não tem muito ciúme das irmãs! – falou Peter, sério. – Só não dê em cima da Vanessa tão descaradamente na frente do Evan! Eu conheço um cara, que conhece um cara que viu um garoto, meio parente dele, dando em cima da irmã...
- E o que aconteceu com esse garoto? – indagou Mike, receoso.
- Ah, não sei! Eu briguei com esse cara e a gente nunca mais se falou! – disse o irmão de Lizie, dando de ombros, ignorando o desapontamento de Mike.
- Mas pode deixar, juro que tomo cuidado. Ah, acho que eles chegaram! – exclamou Mike animado, passando a mão pelos cabelos para bagunçá-los, quando a campainha tocou novamente.
Lizie correu para atender a porta, e quatro pessoas sorridentes entraram na sala; um homem, um garoto e duas garotas. Joe Lohans era alto e corpulento, tinha os cabelos curtos e castanhos já começando a rarear, e um rosto que outrora fora bonito. Ele vinha sozinho com os filhos, pois a mãe deles, sua ex-mulher Jesie Ridell, morava na Irlanda desde que eles tinham se separado.
Sua filha mais nova, de treze anos, Marcella, entrou atrás do pai. Ela tinha um rosto angelical, os cabelos castanhos e brilhantes presos num rabo-de-cavalo, a franja quase caindo sobre seus olhos verde-claros. Lizie notou que Henry desviou os olhos do livro e olhava Marcella, hipnotizado. É, com certeza ele gostava dela; só pelo jeito que a olhava dava para perceber! A filha mais nova de Joe era o que chamavam de patricinha, se importava muito com a aparência, mas era uma garota muito legal, tinha um jeito meio quieto e sonhador, mas muito enganador; uma coisa que Marcella não era, era quieta. Como o irmão costumava dizer, ela falava pelos cotovelos, e só se calava quando estava escrevendo seus poemas.
Em seguida, vinha a filha do meio, com quatorze anos. Vanessa tinha os cabelos longos e castanhos, grandes olhos verdes e brilhantes e um rosto muito bonito. E Lizie também percebeu o olhar de Mike sobre ela. Ela era uma garota animada, inteligente e enérgica, e não era muito vaidosa como a irmã mais nova, mas mesmo assim, possuía uma beleza encantadora.
E por último vinha uma garoto alto e bonito, com os cabelos castanhos bagunçados e olhos verdes e perspicazes. Evan vinha comendo uma grande barra de chocolate, e acenava para todos animadamente; ele era o irmão mais velho, com quinze anos, mas não era, nem de longe, o mais maduro. Tinha um ar um tantinho maluco, e um sorriso divertido brincava em seu rosto sujo de chocolate, um sorriso que fazia garotas suspirarem e que raramente desaparecia.
- Que bom que chegaram! Bem-vindos, Joe, Evan, Marcella, Vanessa! – exclamou Anna. – Agora todo mundo já está aqui! As meninas vão ficar no quarto da Lizie, os meninos no quarto do Peter, e Joe no quarto de hóspedes.
Depois de todos levarem suas coisas para seus respectivos quartos, ficaram na sala conversando até a hora do jantar. E depois da refeição, o grupo voltou para a sala, e permaneceram lá por um bom tempo. Marcella estava à um canto, escrevendo numa caderneta rosa seus poemas, e Lizie reparou que em outro canto, Henry, que lia um livro, não parava de lhe lançar olhadelas furtivas.
- Na última festa da nossa escola, em Hemel Hempstead, tinha um pudim ótimo... – ia contando Evan, com um grande pirulito de uva na boca.
- Ótimo, mas extremamente calórico. – rebateu Marcella do canto dela.
- Mas a banda era incrível, dancei a noite inteira! – exclamou Vanessa animada.
- Sim, e tinha o pudim... – disse Evan em um tom sonhador, fechando os olhos provavelmente lembrando do pudim.
- A decoração estava horrível, totalmente brega. – criticou Marcella.
- Ei, o que você está fazendo Mike? – perguntou Vanessa irritada, porque Mike estava examinando atentamente a etiqueta da sua blusa.
- Vendo se você foi feita no céu. – justificou Mike, piscando. Todos riram com vontade, exceto seu irmão Henry, que balançou a cabeça, desaprovando, e Vanessa, que olhou para o teto, soltando um muxoxo de impaciência. A grifinória reparou que Evan olhava discretamente para Dora de vez em quando.
- Bem, crianças, vamos dormir, antes que a mamãe desça do sótão e quebre a tela que ela está pintando na nossa cabeça. Garotos, por gentileza, me sigam. Garotas, a excelentíssima Lizie irá levá-las para sua torre... – avisou Peter sorrindo. Todos subiram até o segundo andar ainda conversando animados, e Peter, Evan, Mike e Henry ficaram por ali, no quarto de Peter, e Lizie, Dora, Marcella e Vanessa seguiram até o quarto de Lizie.
- Eu vi o meu irmão te olhando, Dora. – disse Vanessa com um sorrisinho.
- O Evan? Ah, deve ter sido impressão sua. E aliás, eu tenho namorado. – replicou a lufana calmamente.
- O quê? Como eu não sei disso? – quis saber Lizie, zangada.
- Desde que eu cheguei não paramos... Achei melhor te contar agora. Eu to namorando com o Thomas! Ele me pediu hoje de manhã... lá no... – mas Dora se interrompeu, olhando insegura de Lizie para as outras. – Lá onde você foi ontem para as compras de Natal!
- Vanessa, até que o Mike é bem bonito, não acha? – provocou Marcella sorrindo, mudando de assunto.
- Ah, já que você acha o Mike bonito, você deve achar o Henry também, afinal, eles são irmãos gêmeos... Pensa que eu não percebi você olhando pro Henry? – retrucou Vanessa vingativa, e a irmã mais nova corou.
- Eu... eu não disse isso! Eu... Você cansa minha beleza! Boa noite meninas. – bufou Marcella, se enfiando debaixo dos cobertores mal-humorada.
Depois disso, ninguém mais conversou, embora Lizie tivesse certeza de que não era a única acordada, perdida em pensamentos.



A neve pousava suavemente sobre Londres, enquanto as alegres luzes de Natal ajudavam a Lua e as estrelas a iluminarem toda a cidade. Era véspera de Natal. O clima era animado e feliz; músicas natalinas soavam por todos os cantos. Pandora havia chegado naquela tarde, com um pedaço de papel amarrado à pata. O bilhete era breve, mas Lizie ficou imensamente feliz ao vê-lo.

“Foi realmente bom nossos irmãos terem se conhecido. Te vejo no Natal!
Atenciosamente, Dave“




Era tarde da noite, porém, Lizie e o resto do pessoal encontravam-se na sala, enquanto os adultos conversavam na cozinha. Peter, Mike e Henry estavam meio afastados dos demais, observando Evan e as garotas rirem de alguma coisa que Evan tinha falado.
- É Peter, mas a gente nem é primo direito! – falava Mike em voz baixa. – Tio Robert é nosso tio por obrigação, porque é casado com nossa tia Anna. E elas são filhas do Joe, que é irmão do Robert! Então, tecnicamente, elas não são nossas primas, pra valer. Além do mais, são lindas...
Henry pigarreou e desviou os olhos de Marcella para encarar o irmão.
- Ei! Não precisa me olhar desse jeito! Eu só estou dizendo a verdade, a Marcella é linda, mas eu deixo ela para você... Eu prefiro a Vanessa! – replicou Mike sorrindo.
- Eu não disse... Eu não me importo com o que acha da Marcella, se quiser... Bem... – mas Henry deixou a frase morrer, corando levemente. Não adiantava discutir, não adiantava mais tentar disfarçar. Todos já tinham percebido que ele gostava de Marcella.
- Então não se preocupem... O Peter aqui vai dar um jeito de dar um empurrãozinho. – tranqüilizou-os Peter confiante.
- O que vocês tanto sussurravam? Depois dizem que as garotas que são fofoqueiras. – disse Lizie em voz alta, quando os outros garotos se aproximaram do sofá.
- Não estávamos fofocando, querida irmã, estávamos comentando os fatos. – devolveu Peter, dando de ombros, embora Lizie tenha o visto piscar discretamente para Mike.
- Quero que amanhã chegue logo... A ceia de Natal já está me dando água na boca! – suspirou Evan.
- Ah, já eu estou ansiosa para abrir os presentes amanhã de manhã! – exclamou Marcella batendo palmas.
- Não se preocupa prima, eles não vão fugir. – falou Peter sorrindo.
- A tia Anna coloca os presentes onde? – perguntou Henry quase num murmúrio. Era raro vê-lo falando alto, mas todos já estavam acostumados com sua voz baixa e calma.
- Não sei... Mas sei que ela sempre coloca os presentes debaixo da árvore de madrugada. Sempre na mesma hora, todos os anos, tem alguma coisa a ver com a posição dos planetas... Mais uma maluquice da mamãe. – explicou Peter revirando os olhos para o teto.
- Não é maluquice! Faz sentido... Ela já me contou o porquê disso. – intrometeu-se Dora.
- Fala sério! E vocês acreditam que é ela que coloca os presentes debaixo da árvore? – zombou Evan.
- E por que não iríamos acreditar? – perguntou Mike, erguendo as sobrancelhas. Todos imaginaram o que viria pela frente. Evan não era o que se chamava de normal, talvez tenha sido influenciado pela excentricidade de Anna.
- Oras! Vocês não sabem? É o Papai Noel que coloca os presentes ali! – explicou Evan, como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. Todos caíram na tentação e riram. – O que foi? Estão rindo do quê?
- Evan, acho que você está um pouco crescido para acreditar em Papai Noel. – ponderou Lizie gentilmente, se esforçando para não rir.
- É verdade, ele existe! Eu já o vi com os próprios olhos! – justificou Evan, se irritando diante das caras incrédulas dos outros. – Uma vez, à uns 5 anos, eu queria flagrar o papai colocando os presentes debaixo da árvore de Natal...
- De novo essa história, Evan? – interrompeu Vanessa impaciente.
- De novo, e vou repeti-la até vocês acreditarem. A questão é que eu não vi o meu pai Joe, e sim um grande vulto vermelho, rápido como um raio. Num segundo ele estava ali, e no outro não estava mais, e antes não havia presentes, e eles apareceram depois que vi o vulto... – contou Evan teatralmente. Marcella suspirou impaciente, aparentemente envergonhada do irmão.
- Você deve ter adormecido e imaginado coisas. Talvez tenha sonhado e pensou que era real. – insistiu Lizie sensata. Ninguém mais ria, e talvez achassem, como Lizie, que ele estava endoidando.
- Então eu proponho a vocês que hoje fiquemos de vigia, á espreita, esperando pelo Papai Noel. E então vocês vão ver que eu não sou louco e que digo a verdade. – propôs Evan, num tom solene muito digno. Todos se entreolharam, inseguros. Estava claro como a água que ninguém mais além de Evan acreditava que Papai Noel existia, mas mesmo assim hesitavam. – O que foi? Vocês pareciam tão convictos de que ele não existia antes... Estão com medo do que possam ver? Estão com medo de estarem errados?
- É claro que não estamos com medo. – desafiou Peter sério, o cérebro trabalhando rapidamente. – Então, é o que faremos. Vamos nos dividir em pares, cada par vai vigiar um ponto de referência, onde o Papai Noel possa passar. Ah, Evan... mas se não virmos o bendito Papai Noel... – ele deixou a frase incompleta, e passou o dedo pela garganta num gesto ameaçador, depois riu. – Estou brincando, mas você nunca mais terá paz na vida depois disso.
Quando terminou de falar, havia nele um ar diferente... Ninguém mais notou, mas Lizie o conhecia muito bem e sabia que ele estava tramando alguma coisa. Mas ela não precisou esperar muito para saber o que ele estava planejando por trás disso tudo.
- Ok então... Vamos subir e esperar que os adultos durmam. Depois, desceremos e assumiremos os nossos postos. Esperem no quarto, já preparados, eu vou avisá-los quando chegar a hora. – anunciou Peter com um ar de grande importância, como se anunciasse os planos de uma guerra.
Meia hora depois, as quatro garotas esperavam impacientes no quarto de Lizie, e a grifinória se levantou da cama com um pulo quando ouviu leves batidas à sua porta. Vanessa chegou primeiro que Lizie e abriu a porta entusiasmada, era verdade que não acreditava nessa historia de carochinha do Papai Noel, mas estava animada com a “aventura”, se é que isso pode ser chamado de aventura. Marcella praticamente arrastou-se até a porta, resmungando algo parecido com “olheiras” e “preciso descansar minha pele”, de muito mal-humor. Dora parecia indiferente, e o humor de Lizie não estava muito melhor do que o de Marcella.
Os jovens desceram até a sala no mais absoluto silêncio, em fila indiana com Peter os liderando.
- Muito bem, é agora. Lizie, você será meu par. – murmurou Peter com um sorrisinho, o suficientemente alto para todos ouvirem. – Eu e você ficaremos de guarda perto da árvore de Natal. Marcella e Henry ficarão lá fora, na varanda, para vigiar quando ele chegar no trenó. – ele fez uma pausa, fazendo o possível para não deixar transparecer o sarcasmo em sua voz. Marcella nada disse sobre a escolha de seu par, mas Lizie pensou ter percebido o mal-humor dela desaparecendo instantaneamente. – Vanessa e Mike...
- Eu não vou fazer par com ele! – protestou Vanessa imediatamente, em sussurros furiosos.
- Não fique com medo, Va, eu não mordo. – disse Mike sorrindo, piscando para ela, que o olhou enojada.
- Vai fazer par com ele sim! Assim você vai arruinar tudo! – mandou Evan, para a surpresa de todos.
- Ele é o seu irmão mais velho, prima. Tem que obedecer. Como eu ia dizendo, Vanessa e Mike ficarão próximos à lareira, para ficar de tocaia caso o velhote desça por ela. E finalmente, Evan e Dora ficarão na cozinha, porque segundo nosso especialista em Papai Noel, Evan, ele vai passar por lá para... comer biscoitos e tomar um copo de leite. – terminou Peter, com visível ironia.
- É uma longa viagem, ele vai querer comer alguma coisa. – defendeu-se Evan, dando de ombros.
- Quando eu ver que a causa está perdida, chamarei vocês e poderão ir dormir. Mas antes disso, ninguém vai, entendido? Agora, à seus postos! – ordenou Peter, ignorando as reclamações de Vanessa.
Marcella foi até a porta da frente e a destrancou com cuidado, com Henry a seguindo timidamente. Os dois sentaram-se no banco que havia na varanda, em silêncio. A neve caía fina, e dava para ver os contornos difusos da Lua através dela.
- Você espera que o Papai Noel apareça? – perguntou Henry baixinho, depois de alguns minutos de silêncio, com os olhos ainda fixos no céu à procura de algo estranho, como por exemplo, um trenó voador puxado por renas com um velho de barba branca vestido de vermelho em cima.
- Não. Mas o Evan não ia sossegar até concordarmos. Eu achei estranho o Peter aceitar isso, e ainda liderar... Mas ele só pode estar tramando alguma. E eu tenho uma boa idéia do que seja. – comentou Marcella displicente.
- A sua irmã Vanessa não pareceu nada contente de ter meu irmão como par. – disparou Henry, depois de outro longo silêncio.
- É, acho que ela não gosta muito dele. – concordou a garota, olhando para ele, porém, ele tinha os olhos fixos no céu. Silêncio. Marcella quase riu quando se lembrou de como Henry era absurdamente tímido. A garota cruzou os braços por causa do frio, e Henry finalmente olhou para ela.
- Você está com frio? Desculpe não ter percebido antes...
- Não precisa se desculpar. – interrompeu Marcella docemente, observando ele despir o casaco. Desajeitado, Henry colocou o casaco sobre a garota, e em seguida se afastou novamente. Marcella quase irritou-se por causa disso, mas vai ver que era por isso que ele a atraía tanto.
Então ela aconchegou-se para mais perto do garoto, tateando em busca de sua mão. Quando seus dedos se entrelaçaram, Henry corou absurdamente, mas controlando-se, não soltou a delicada e fria mão dela. Percebendo isso como um sinal positivo, Marcella chegou mais perto e encostou sua cabeça no ombro do garoto, e pensou tê-lo sentido estremecer, mas Henry não se esquivou. Os dois permaneceram observando o céu atentos. Juntos.



Enquanto isso, Evan e Dora encontravam-se encostados no balcão da cozinha, olhando para o prato em cima da mesa cheio de biscoitos de chocolate e um copo de leite. Até que Evan não agüentou mais e apanhou um bocado de biscoitos do prato e começou a comê-los.
- Está servida? – perguntou ele de boca cheia.
- Não obrigada. – agradeceu Dora entediada.
- Não se preocupa, você não precisa fazer regime. Você já está ótima assim. – insistiu Evan.
- Não, é sério, não quero. Mas tomara que o velho venha logo... – suspirou a lufana, fingindo que acreditava nessa história maluca de Papai Noel só para não ofender o garoto.
- Ele vai vir sim, logo, não se preocupa. Ele sempre vem onde tem alguém que acredita nele, de verdade. Eu acredito, então ele virá – explicou o garoto sorrindo. – Vocês todos devem me achar maluco.
- Um pouquinho. – riu Dora.
- Você é tão bonita. Deve ter namorado, acertei?
- Obrigada, tenho sim.
- Imaginei, que pena. Bem, então não adianta nada gostar de você. – disse Evan com franqueza, dando de ombros indiferente e engolindo o último biscoito. A lufana o encarou meio surpresa. – Sem problemas, eu gosto de uma garota lá do colégio.
- Você é meio maluco mesmo! – falou ela assombrada, rindo, e Evan fez cara de quem recebera um elogio.



Vanessa e Mike estavam meio escondidos atrás de um sofá em frente à lareira, de tocaia. O garoto chegou mais perto de Vanessa, mas ela o empurrou novamente, irritada.
- Você não desiste? Nós somos meio primos! – sibilou ela perdendo a paciência.
- E se não fossemos meio primos? – perguntou Mike esperançoso.
- Eu inventaria outra desculpa. – respondeu Vanessa secamente. Qualquer garoto normal teria se calado diante disso, mas Mike era diferente. Ele não desistiria assim tão fácil.
- E se eu fosse o último garoto da face da Terra, eu teria uma chance com você? – quis saber Mike.
- Não. – replicou a garota com dureza.
- Já que não sou, eu tenho chance? – insistiu ele sorrindo. Vanessa apenas revirou os olhos para o teto, e balançou a cabeça negativamente, cansada.
- Você acredita no amor de Deus? – continuou o garoto. Ela resmungou “sim” mal-humorada. – Então, me dá um beijo pelo amor de Deus!
- Você é mesmo cara-de-pau Mike! Já sei o que te dar de presente de Natal: vergonha na cara e um pente. – vociferou Vanessa, olhando para os cabelos bagunçados dele.
- Ah, vai dizer que não gosta deles? Vai dizer que você não me acha nem um pouco bonito? – protestou Mike, convencido. Ela apenas suspirou impaciente, e continuou em silêncio. Estava claro que sua paciência já estava se esgotando. – Tá, se você não quiser me dar um beijo, pelo menos aceita o meu, vai!
- Dá pra calar a boca Mike?! Você não se enxerga? Se acha o maioral, mas você não passa de um idiota com as piores cantadas que eu já vi! Já perdi as contas de quantos foras eu já te dei, e você continua insistindo! Você é completamente intragável, nunca vi alguém com um ego maior do que o seu!
Desta vez, Mike ficou em silêncio. Mas isso não ia acabar assim tão fácil. O garoto era realmente persistente. Ele podia ter perdido a batalha, mas não a guerra.



Lizie e Peter observavam sentados no chão a grande árvore de Natal, que ficava num canto da sala, sem nenhum presente em baixo. Lizie bocejou pela vigésima vez, as pálpebras pesadas.
- Não sei por que concordamos com essa maluquice. – resmungou a grifinória pela milésima vez. – Pensa que eu não sei por que você concordou, Peter? Você está só querendo juntar o Mike e a Vanessa, o Henry e a Marcella, e talvez até o Evan e a Dora, o que eu acho muito improvável. Só queria uma desculpa para deixar eles sozinhos por um bom tempo. Não sabia desse seu lado cupido.
- É maninha, você é um gênio! Como foi que descobriu? – ironizou Peter, com a cabeça apoiada nas mãos. – Estou começando a achar que não foi uma boa idéia.
- Isso é uma completa perda de tempo! Me sinto tão idiota, como aquelas criancinhas que ficam de tocaia toda véspera de Natal para tentar flagrar o Papai Noel! – reclamou Lizie mal-humorada. – O Evan é mais excêntrico que a mamãe, para acreditar nessa idiotice de Papai Noel, e você foi um idiota em concordar com isso só pra dar uma de cupido...
- Eu tinha que ajudar os garotos, tá ok? O Henry nunca ia se mexer se não fosse por esse empurrãozinho, ele é o cara mais tímido que eu conheço, e você deveria saber como ele se sente, pois você também é tímida! – defendeu-se Peter, ofendido.
- Nossa, que bicho que te mordeu para você estar assim tão compreensivo? Está assim desde que você se apaixonou por aquela Julie. – resmungou a garota rabugenta.
- E daí? Ahh já sei por que está assim tão rabugenta, pior que uma velha solteira e resmungona. Todos estão felizes à sós com a pessoa que gostam, menos você, que está esperando o Papai Noel que nunca virá com o irmão mais velho, provavelmente invejando os outros e pensando no irmão da Julie e de como gostaria que ele estivesse aqui e agora e que ele fosse o seu par e...
- Não é nada disso! – cortou Lizie, embora tenha ficado escarlate; como seu irmão poderia ter imaginado?
- Pensa que eu não percebi, querida e adorável irmã? Afinal, acho que não sou tão burro quanto você pensa que eu sou. Quando eu falei o sobrenome da Julie, o jeito que você ficou? E quando falou sobre o irmão dela? Tá na cara que você é doida por ele! – explodiu Peter zangado, embora mantivesse seu sorriso maroto. Lizie abriu a boca, ficando mais vermelha a cada palavra do irmão, mas não conseguiu pensar em nada para dizer, e isso só a enfureceu mais. O irmão a encarou com um ar insuportavelmente triunfante.
Lizie abriu a boca para retrucar, mas o que aconteceu em seguida varreu completamente tudo de sua cabeça. As janelas se abriram todas de uma vez, sacudindo as cortinas e deixando entrar flocos de neve. Ouviu-se um grito vindo da varanda, e o barulho de alguém caindo no chão próximo dali.
Lizie e Peter também caíram para trás, mas a grifinória olhou para a árvore, e, completamente aturdida, viu um vulto enorme e vermelho se mexer com assustadora rapidez, e um instante depois, como num passe de mágica, o chão debaixo da árvore estava repleto de presentes de todos os tamanhos e cores – inclusive os que ela mesmo tinha comprado no Beco Diagonal – e o vulto não estava mais ali.
Marcella e Henry, que estavam na varanda, estavam ainda observando o céu, de mãos dadas, quando a garota avistou um risco cortar o céu, que não parecia em nada com uma estrela cadente ou qualquer coisa que já tivesse visto. Com o choque, gritou; percebeu se tratar de uma espécie de trenó, e parecia que ele tinha pousado no telhado!
Vanessa e Mike também perceberam imediatamente que tinha algo de muito estranho acontecendo, quando uma enorme onda de cinzas voou da lareira para cima deles, como se alguém tivesse caído ali dentro, e Mike caiu para trás com o susto, mas a garota conseguiu ver com dificuldade através da fumaça um vulto vermelho, e tapou a boca com as mãos, mal podendo acreditar no que seus olhos viram.
E Dora e Evan também levaram um enorme susto quando um vulto veloz entrou na cozinha, fazendo o vento balançar seus cabelos, e de uma hora para a outra, os biscoitos e o leite desapareceram, e os dois continuaram ali, plantados no chão, como todos os outros.
Evan esfregou os olhos e sacudiu a cabeça, certo de que seus olhos cansados haviam lhe pregado uma peça. Ele olhou para Dora e viu que a lufana se encontrava em estado de choque. Então, compreendeu. Seu rosto se iluminou em um sorriso de orelha e orelha, e correu para a sala puxando a garota pela mão.
- Haha, eu sabia, eu sabia! O que foi que eu disse, hein? – exclamou Evan triunfante. – Eu disse à vocês que ele viria! Eu...
- Shiu! – mandou Peter, colocando o dedo sobre os lábios. Todos o olharam intrigados, ainda mudos e de olhos arregalados de espanto. Até que puderam ouvir uma risada, se afastando.
- Vocês ouvirão? “Ho, ho, ho!” – sussurrou Lizie com o fiozinho de voz que ainda lhe restava.
- Eu disse à vocês! Ele sempre vem onde há aqueles que acreditam nele! – se gabou Evan, sorrindo ainda mais. Ninguém conseguia encará-lo. Evan olhou para todos, ligeiramente decepcionado que nenhum deles se desculpasse por zombar dele. Ninguém dizia uma palavra, estavam num estado de choque, parecendo que tinham acabado de se deparar com um cachorro gigante de três cabeças num beco escuro.
Então, para o completo aturdimento de todos, Peter deu um passo a frente.
- Desculpe por não acreditar em você, Evan. Depois dessa até eu acredito em Papai Noel, parece que você estava certo.
Evan abriu um largo sorriso, parecendo muitíssimo satisfeito, como se tivesse acabado de ganhar um pudim gigante de presente de Natal. Todos murmuram desculpas para o garoto.
- Bem, acho que agora que as crianças aqui já descobriram que Papai Noel existe, vamos todos dormir, antes que o Evan nos faça pedir desculpas de joelho e peça que a gente beije seus pés e o reverencie. – mandou Peter, recuperando o seu antigo tom divertido. – E eu tenho que pensar numa boa desculpa para dar à mamãe, porque ela vai querer saber porque todos os presentes já estão aqui em baixo, e se eu disser: “ Ah, mamãe, foi o Papai Noel que colocou ali em baixo!”, bem, então ela vai me mandar para um hospício, definitivamente.
- Mas o que tem de errado...? – mas Evan foi interrompido por Peter novamente.
- Depois a gente discute sobre isso, Evan, depois.

Fim do Capítulo 17


É isso ai pessoal *-*
Espero nao ter perdido leitores,
e espero nao perder, porque ainda ando impossibilitada de postar sempre ¬¬
Mas, por favor, comentem se vcs ainda leem!

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