Almoço em Família



Capítulo 5
Almoço em Família


 


Quando Levi deixou o quarto onde os pais estavam hospedados na casa de Lupin, desceu um lance de escadas e procurou pelo dono da casa, apenas chegando a conclusão que Lupin realmente não estava em casa. O pequeno se lembrou de Tonks ter dito aos seus pais que o homem não estaria ali naquele final de semana. Estaria em Londres a serviço do ministério.


Levi virou-se e da porta da sala seguiu até a porta da casa. Ele saiu e foi até o meio da rua. O inverno ainda estava longe, mas um vento frio soprava ao longo da rua vazia. Ele conseguia ouvir a agitação vinda da rua principal de Hogsmead, onde as lojas de doces e peculiaridades ficavam sempre lotadas aos finais de semana.


Numa tentativa de se distrair – sabendo que o pai demoraria no banho –, Levi tirou do bolso da calça um aviãozinho de papel enfeitiçado por Hermione e começou a brincar com ele. Ele jogava o pequeno avião para cima e ele subia muito mais do que um avião de papel normal subiria. Depois ficava rodopiando pelo ar, voando de ponta cabeças e fingindo quedas violentas, até que chegava perto do chão e voltava a voar bem acima da cabeça do menino.


Já fazia algum tempo que ele estava brincando quando três rapazes passaram correndo na rua; um corria atrás dos outros dois disparando feitiços contra eles, enquanto os dois amigos riam muito de alguma coisa. Um dos feitiços ricocheteou na porta da casa que ficava de frente para a de Lupin e voou para cima desgovernadamente, acertando em cheio o aviãozinho de Levi, que se partiu em vários pedaços e caiu no chão como apenas um monte de papel rasgado.


- Droga! – o pequeno exclamou choroso, crispando a boca enquanto corria até o que era seu brinquedo.


Só que quando ele abaixou para pegar os pedacinhos do avião, um par de pernas longas surgiu no seu campo de visão. Ele ergueu os olhos, curioso, e viu uma mulher de longos cabelos negros sorrindo para ele.


- Olá – disse a mulher, sorrindo alegremente para ele. – O que um moço bonito que nem você faz sozinho aqui?


O menino mordeu o lábio e se levantou com os pedacinhos de papel na mão.


- Eu to esperando meu pai e minha mãe, a gente vai passear... – ele disse em um tom decepcionado, depois olhou para o papel rasgado nas mãos em forma de concha. – Eu tava brincando de aviãozinho.


A mulher olhou para ele penalizada.


- Oh, querido, eles destruíram seu avião? Esses meninos não deveriam correr assim pelas ruas, disparando feitiços só porque são maiores, né? – o menino concordou com ela sem muito animo. – Me diga, querido, qual seu nome?


- Levi... Levi Potter


A mulher sorriu para ele.


- Ah, meu nome é Astarte, eu conheço seu irmão... Vou ser professora dele e da sua irmã esse ano.


Levi levantou os olhos para ela e sorriu com o canto dos lábios.


- Olha, Levi – Astarte disse. – Vou mostrar uma coisa muito legal para você!


Ela tirou uma varinha fina e curta das vestes, feita de uma madeira clara e com a ponta de trás ligeiramente torta.


- Jogue esses pedacinhos de papel no chão – ela instruiu.


O menino, com uma expressão confusa no rosto, obedeceu, abrindo as mãos e deixando que todos os pedaços de papel caíssem ao mesmo tempo.


Astarte agitou a varinha e, antes que qualquer um dos pequenos pedaços atingisse o chão, todos eles rodopiaram no ar, um na direção do outro e, quando se chocaram, grudaram-se novamente. As linhas finas que delimitavam os rasgos lentamente desapareceram e, antes que Levi pudesse se dar conta, o avião estava inteiro novamente e subia mais uma vez fazendo cambalhotas no ar.


O menino sorriu para a mulher a sua frente.


- Eba! Você conseguiu consertar o meu aviãozinho! – ele exclamou cheio de empolgação.


O avião passou voando rápido perto do menino e com um pequeno pulo o menino conseguiu pegá-lo e prendê-lo nas mãos.


- Obrigado!


- Não foi nada, querido – Astarte riu para ele e guardou a varinha nas vestes.


Levi abriu a boca para dizer mais alguma coisa, mas foi interrompido pela voz de Hermione, que soou chamando por ele da porta da casa de Lupin.


Quando ele e Astarte se viraram, Hermione já caminhava em direção a eles enquanto Harry trancava a porta da casa e se apressava para alcançar a esposa.


- Levi, eu pedi que nos esperasse na sala, não pedi? – a morena repreendeu o filho.


- Na verdade, mamãe, disse lá fora – o menino respondeu sorrindo.


A mãe não conseguiu contar uma risada, mas rolou os olhos. Astarte também deu uma risada alegre. Só então Harry apareceu, chegando por trás do filho e pegando-o no colo, erguendo-o ao alto.


- Seu filho é uma graça – disse a professora de Feitiços.


Hermione viu Harry dizer alguma coisa no ouvido do filho que o fez rir e concordar com a cabeça, depois desviu o olhar para a professora. O moreno segurou o filho no alto e saiu correndo, fazendo o filho rachar em deliciosas gargalhadas.


- Você deve ser Astarte Burchell, a nova professora de Hogwarts – ela estendeu a mão para a outra. – Hermione Potter, muito prazer.


- O prazer é todo meu – a mulher replicou, sorrindo.


- Está ansiosa para as aulas? – Hermione perguntou, a título de puxar assunto.


Harry agora tinha ido com Levi até o final da rua e o menino lhe mostrava o aviãozinho de papel enfeitiçado.


- Muito! – ela respondeu. – Passei os últimos dias só pensando em como preparar uma aula realmente interessante para eles... Você tem dois filhos mais velhos em Hogwarts, não tem?


- Tenho, sim... Heron está no sexto ano e Cat no quinto.


- Bons alunos, eu espero – a professora brincou.


De alguma forma meio incoerente, aquilo causou uma leve irritação em Hermione, mas ela fez o possível para que o sorriso no rosto não parecesse forçado.


- Ótimos alunos... – ela disse. – O Heron é mais estudioso que a Cat, mas nunca me deram trabalho quando a isso.


A professora pareceu não perceber a defesa enfática que Hermione fizera dos filhos. Olhando de novo, a morena pareceu reconsiderar que talvez a brincadeira de Astarte fosse realmente inocente.


- Bom, eles são filhos de Hermione Potter, não é mesmo? – a morena corou diante daquele comentário. – Eu já li todos os seus livros e devo dizer que achei a sua pesquisa sobre Runas Antigas fascinante. Acho que, de modo geral, as pessoas não sabem o quanto de magia podem entender dominando a linguagem e a simbologia existente por detrás das runas.


- Que bom que gostou – disse Hermione, realmente agradecida.


Ela viu Levi jogar o avião para o alto e dizer alguma coisa para Harry. Então o moreno olhou na direção das duas, o sorriso no rosto se desfez e um olhar sério fixou-se em Astarte. Hermione franziu o cenho sem perceber o motivo daquilo. Olhou mais uma vez para Astarte, curiosamente.


- Bom, foi um prazer conhecê-la, professora Burchell – ela disse educadamente para a mulher, que se despediu com igual educação e seguiu na direção oposta da morena.


Quando Hermione finalmente chegou ao final da rua, o filho olhou-a com testa franzida e as sobrancelhas curvadas.


- Mamãe, eu estou com fome.


A mãe lhe olhou com carinho.


- Vamos andando então, querido, procurar um lugar para comermos – o menino sorriu e seguiu na frente, sob as vistas protetoras dos pais e Hermione se virou para Harry, que estava quieto e pensativo. – O que foi?


 - Astarte Burchell – ele disse, depois suspirou profundamente. – É a filha das vítimas do assassino de Paddington.


Hermione olhou para trás, curiosa, mas Astarte já havia desaparecido de vistas.


- Jura? Ela não soou como se tivesse perdido os pais há poucas semanas, parecia mais ter ganhado na loteria...


Harry deu os ombros.


- Vou ter que interrogá-la... Ou pelo menos eu queria, mas não sei o que Dumbledore vai achar disso, não quero que Hogwarts acabe sendo vítima de boatos maldosos por causa disso.


- Não devia se preocupar com isso, Harry. Se você for fazer algo não-oficial, como alguém poderia descobrir? Dumbledore até mesmo te forneceu material sobre o assassinato, tenho certeza que por parte dele você terá total apoio.


Harry levantou o olhar para a esposa, um sorriso se formou no canto dos lábios.


- Material esse que eu acabei não tendo tempo de ler... – Hermione pediu para que Levi não se afastasse tanto e depois voltou a olhar para Harry. – Mas essa semana é nossa e eu não quero gastar nem um segundo dela pensando em outra coisa.


Ele sorriu e abraçou a esposa com carinho. Depositou-lhe um beijo terno nos lábios e antes que pudesse aprofundar o carinho, ouviram Levi os chamando de longe, reclamando novamente de fome.


- Juro que nunca vi alguém ter um apetite tão grande quanto o do Levi – Harry riu.


Hermione soltou uma gargalhada.


- Claro que viu... O de Rony!


 


-X-


 


Cat suspirou. A aula de história da magia conseguia ser tão chata que ela estava mergulhada em um devaneio bobo. Os olhos estavam fixados e aparentemente atentos ao quadro negro onde um giz enfeitiçado escrevia incessantemente um texto enorme sobre a guerra dos duendes.


A sua pena fazia o mesmo. Sábia e discretamente, a menina havia a enfeitiçado quando estava mais ou menos no meio do texto e, agora, sua mão se movia pelo esforço da pena enquanto o olhar estava perdido.


Aparentemente, o professor não havia percebido, porque se tivesse certamente ela já estaria de detenção. Mas dois minutos depois, quando a pena parou de se mover, trazendo Cat de volta ao mundo real, isso não fazia mais diferença porque o professor já estava anunciando os deveres extras e os dispensando.


Cat não sabia de onde vinha a preguiça dentro de si. Talvez fosse porque ela só tivera aulas chatas durante a manha e porque DCAT e Feitiços ela só teria no dia seguinte. De todo modo, ela balançou a varinha brandamente e todo o material se enfiou na mochila de maneira desajeitada, ela a jogou sobre os ombros com descaso e rumou para fora da sala.


- Ei, Cat, meu espera! – ela ouviu Marina exclamar.


Parou à porta da sala e forçou um sorriso para a amiga, que parecia demonstrava uma animação tão grande que quase chegava a irritá-la.


- Tudo bem, prima? – ela perguntou.


Cat não achava estranho considerar Adam, Marina e David como primos uma vez que Harry e Rony eram quase irmãos.


- A medida do possível...


- É o primeiro dia de aula e eu já não agüento mais História da Magia. – Marina disse em tom de lamento.


Cat olhou com a sobrancelha erguida e riu com desgosto.


- Nem me diga, isso está até me deprimindo!


As duas jogaram as mochilas pelos ombros e se dirigiram a saída da sala.


- Você vai pra Hogsmead no próximo fim de semana?


- Já vai ter Hogsmead com só duas semanas de aula? – ela perguntou.


Marina suspirou e deu os ombros.


- Ao que tudo indica, sim... Ano passado foi só depois do primeiro mês de aula, mas acho que nesse ano Dumbledore resolveu aliviar a barra um pouco.


Elas passaram pela porta da sala e seguiram pelo corredor a direita. Haviam alguns alunos vindo do outro lado do corredor, mas de modo geral, os companheiros de História da Magia de Cat já haviam desaparecido dali e o corredor estava relativamente vazio. Com a exceção de uma roda de cinco garotos sextanistas da corvinal no fim do corredor.


Cat rolou os olhos.


- Eu só espero que isso não signifique que vamos ter algum trabalho extra essa semana, porque esse tipo de regalia só vem quando é pra compensar alguma coisa.


- Pior que você tem razão – a outra disse. – E na minha atual disposição para fazer centímetros e mais centímetros de pergaminho, eu prefiro ficar em Hogwarts e não fazer nada.


A outra apenas a olhou sorrindo e concordando com um olhar divertido. Cat voltou o olhar para frente, distraída. Elas já estavam virando o corredor quando o nome dela pairou alto no ar.


- Cat! Ei, Cat!


As duas se viraram para trás e viram dois dos rapazes da corvinal se aproximarem. O que vinha na frente era mais alto, tinha os cabelos muitos escuros e os olhos em um tom que ficava entre o verde e os castanhos. Cat reconheceu o capitão do time da corvinal do lado de um rapaz mais baixo, loiro e de olhos escuros, um pouco mais magro e de poste menos atlético.


- Oi, Elliot – ela forçou um sorriso.


Marina, ao lado dela, abriu um sorriso muito maior quando o loiro a cumprimentou e balançou os cabelos ruivos.


- Oi Chase! – ela disse.


Elliot Mackenzie era o aluno mais popular da corvinal, acumulando não somente prêmios como artilheiro e capitão do time de quadribol da casa, como também carregando em seu peito o distintivo de Monitor da casa. Cat já ouvira alguns boatos de que ele desempenhava a função tão bem que era forte candidato para Monitor-Chefe no próximo ano, quando estaria no sétimo ano.


Já o rapaz ao seu lado, Chase Smith, era apenas conhecido por estar sempre andando ao lado de Elliot. Ela já ouvira comentários de que os dois eram primos, mas ninguém dizia com certeza e os sobrenomes eram completamente diferentes.


- Escuta, Cat, eu estava pensando se você gostaria de me acompanhar na visita ao povoado no outro final de semana – ele abriu um sorriso branco que combinava perfeitamente com os traços perfeitos no seu rosto.


Cat forçou ainda mais o sorriso e, hesitante, entreabriu os lábios procurando as palavras certas.


- Hm, Elliot, eu não sei se... – ela parou, sentindo uma discreta e forte cotovelada na costela e lançando um olhar irritado a Marina.


A ruiva fez sinal com a cabeça e estreitou as sobrancelhas de modo tão discreto que nenhum dos dois rapazes percebeu.


- Eu não vejo quem pode ser melhor companhia para um passeio tão divertido do que você – ele disse.


Ela ouviu Marina soltar um gemido de lamento ao seu lado e segurou a vontade de rir.


- É que eu não sei se vou a Hogsmead ainda, Elliot – ela disse muito lenta e cuidadosamente, esperando uma segunda cotovelada.


Mas Marina não repetiu o gesto, apenas balançou a cabeça negativamente num gesto muito suave e de lamentação.


O sorriso desapareceu do rosto de Elliot e apenas por uma fração de segundo, Cat pensou que magoá-lo deveria ser decretado pecado. Ou qualquer outra coisa que apagasse aquele sorriso. Só que o pensamento não durou tempo suficiente para que ela se arrependesse – e mesmo que durasse mais, ela não iria se arrepender – porque Elliot continuou com uma expressão animada.


- Bom – disse ele. – Não é um sim, mas também não é um não, né? Por que não combinamos assim: você vê se vai e eu volto a te convidar semana que vem, quando espero obter um sim como resposta.


Cat abriu a boca para falar alguma coisa, mas ele foi mais rápido.


- Caso contrário, eu infelizmente serei obrigado a continuar insistindo até que possa desfrutar da companhia da garota mais bonita de Hogwarts.


Cat ouviu outro suspiro de Marina e sorriu involuntariamente, sem pensar no que isso significaria para Elliot. Mas de todo modo, foi ela quem o interrompeu dessa vez, não querendo prolongar o assunto.


- Está bem, Elliot, perfeito! Fica combinado assim!


Marina duvidava seriamente que Elliot pudesse sorrir mais alegremente do que daquela forma, mas depois suspeitou que o sorriso que ele abriria se Cat aceitasse seria ainda maior e mais bonito. Cat, por outro lado, não parecia muito preocupada com isso quando se despediu do rapaz com um tímido beijo na bochecha e virou-se, distanciando-se do rapaz.


- Como você nega um encontro com Elliot Mackenzie, Cat? – foram as primeiras palavras que deixaram sua boca quando elas viraram o corredor, longe o bastante dos sextanistas para que eles não ouvissem.


Cat apenas deu os ombros; o olhar estava novamente perdido em algum ponto muito distante de si.


- Eu não estou muito afim de me preocupar com garotos agora, Marina – ela disse, indiferente.


- Garotos? Cat, Elliot Mackenzie pode ser, no mínimo, classificado como um homem – ela deu certa ênfase na última palavra.


- Homem – ela disse. – é o que eu gostaria de encontrar pra mim. O Elliot é só bonito.


- Incrivelmente bonito – a outra corrigiu. – Bonito e completamente chegado em você, amiga. Não pense só na beleza, certo? Pense na forma como aquele garoto olha e fala com você.


Agora, as duas passavam pela enorme entrada do salão principal. Já havia vários alunos ali para o almoço, mas muita gente ainda ia chegar.


- Eu já... – mas a frase de Cat ficou incompleta, cortada por um suspiro profundo. – Mari, eu não estou com cabeça pra isso agora.


A ruiva ao seu lado se limitou a soltar uma risada divertida e mais algum comentário, provavelmente malicioso, que passou batido para Cat.


As duas avistaram Heron e Adam sentados ao longe na mesa da Grifinória, mas pararam na metade do caminho, atrás de um David muito falante e animado, na mesa da Lufa-Lufa.


- Maninho! – Marina abraçou o irmão por trás e deu-lhe um beijo na bochecha. – Como foi o primeiro dia de aula?


Cat pareceu voltar a vida real com uma risada quando viu o rosto do menino tingir-se de um vermelho forte e vivo, enquanto os olhos rolavam arregalados. Os amigos do menino desviaram o olhar e fingiram conversar alguma coisa entre si.


David virou-se para Marina com um olhar de poucos amigos.


- Estava indo muito bem até você decidir me humilhar publicamente – ele disse seco. – Sabe, Mari, você tem uma vida social aqui, eu não. Não tente me impedir de construir uma, está bem?


As sobrancelhas dela se levantaram, enquanto Cat não conseguia prender a risada.


- Credo, David, eu sou a sua irmã! Você não pode falar assim comigo!


- E eu tenho onze anos, não cinco. Você também não pode falar assim comigo!


E depois, ainda irritado de uma maneira que Cat parecia ter achado muito engraçada, David virou-se para voltar à conversa com os amigos enquanto o rubor sumia do rosto. E Marina ainda parecia indignada quando puxou Cat na direção de Heron e Adam.


Os dois rapazes estavam sentados com outros dois garotos grifinórios que Cat só conhecia de vista. De todo modo, eles pareciam mais entretidos em um livro que liam sobre a mesa do que em qualquer outra coisa.


- Bom dia, meninos... – disse Cat.


Os dois a cumprimentaram sorrindo. Marina ainda parecia atônita quando se sentou à mesa; Cat sabia que exageradamente.


- Você acredita que o David...?


- Foi grosso com você? – Adam perguntou, não parecendo se importar muito com isso. – É, parece que ele está meio obcecado com essa história de vida social, eu já provei do veneno.


Cat lançou um olhar divertido ao irmão do lado oposto da mesa e os dois trocaram um sorriso.


- Primeira semana em Hogwarts, numa casa diferente da gente...  – disse Heron. – Mas isso passa.


Marina olhou para o primo com um olhar engraçado.


- É bom que passe... Ele tem só onze anos, não é gente o bastante pra sair me tirando desse jeito.


Mais uma vez Heron e Cat riram e Adam continuou observando o movimento crescente do salão principal sem muito interesse.


Pouco tempo depois todos estavam ali; a grande maioria dos professores também apareceu por ali. E o almoço finalmente começou.


Foi tranqüilo como sempre. Heron, Cat, Adam e Marina falaram sobre as aulas que haviam tido de manha. Nenhum deles tivera as aulas de DCAT ou Feitiços ainda, mas Heron e Adam pareciam ter tido uma manha bem mais divertida do que as meninas, incluindo Trato de Criaturas Mágicas e Transfiguração.


As meninas já haviam terminado de almoçar e subido para o salão comunal da Grifinória quando Astarte entrou pelo salão principal, desfilando pelo corredor principal cercado de mesas até a mesa dos professores. Parecia muito mais tranqüila – e normal – do que Heron jamais havia visto.


Os olhos correram pelos vários alunos e um sorriso foi jogado para Heron pouco antes de ela chegar na mesa dos professores e se entreter com o almoço e uma conversa animada com Tonks.


Adam olhou para o primo com o queixo caído.


- Cara, aquela mulher quer o seu corpo.


Heron voltou um olhar chocado e enojado do amigo.


- Eu estou falando sério – ele se defendeu. – Ela olha pra você e manda esses risinhos... Espera só até a nossa primeira aula, aposto que eu não serei o único a perceber!


- Você é tonto – Heron disse, balançando a cabeça e rindo. – Ela é nossa professora, cara! Você não acha que vê maldade demais nos outros não?


- Eu não... Acho que a nossa professorinha está jogando um charme muito pouco discreto pra você. É isso que eu acho.


- Pois eu acho que ela tem cara de ser uma ótima professora e uma mulher de família, não uma oferecida qualquer.


Adam soltou uma risada alta e olhou para Heron com uma expressão divertida.


- E, qual é, Potter? Está já apaixonado pela professorinha?


Heron soltou uma risada e levantou uma das sobrancelhas.


- Adam, você está se escutando?


- Tanto faz – ele deu os ombros. – Eu já terminei, vamos subir um pouco antes de encarar Poções?


- Você que sabe – Heron riu, se levantando.


Os dois distanciaram-se da mesa da grifinória lentamente. Adam observava David, ao longe, conversando com os amigos amistosamente. O olhar de Heron, por outro lado, estava fixado na linda morena sentada ao lado de Tonks na mesa dos professores. Um segundo observando-a rindo de alguma coisa que a professora de cabelos cor-de-rosa havia dito e ele já estava perdido em pensamentos, não escutando o que Adam dizia.


Depois de dizer alguma coisa sobre David, os olhos de Adam também se desviaram do irmão e correram para uma corvinal sentada há uns dez metros do rapazinho.


- Mudando de professora para aluna, Claire Walker também é uma garota e tanto, ein? – Adam disse sorridente. E deu uma cotovelada fraca em Heron ao seu lado.


O moreno despertou do devaneio e olhou confuso para Adam, mas o primo pareceu não perceber que Heron não havia prestado atenção em nada que ele havia dito.


- Qual é? Vai dizer que você não a acha a garota mais bonita desse castelo? – Adam riu. – Cara, ela é perfeita. E, pra melhorar, não é o estilo “garota metida”.


Heron franziu o cenho. O olhar correu imediatamente para Claire, sentada longe na mesa da Corvinal. Por um momento achou que iria distrair-se novamente, mas se pegou sorrindo abertamente enquanto olhava para ela.


- Como se você já tivesse conversado muito com ela, né? – ele disse com sarcasmo, voltando a encarar Adam.


O primo mordeu o lábio e riu maliciosamente.


- Mas você já conversou, né, priminho? Fiquei sabendo dos seus encontros casuais com a filha do Ministro... – ele viu Heron corar e desviar o olhar e deu uma risada alta. – E aí? Vai me contar se ela é tão divertida pessoalmente como parece ser de longe?


- Ela é... bem legal – foi o que o moreno se limitou a dizer.


Os dois se desvencilharam de alguns alunos que estavam na entrada do salão e seguiram para as escadas, na direção do salão comunal.


- Sei... – Adam disse desconfiado, não contendo a risada. – Tenho plena certeza que você deve ser o único cara de Hogwarts que acha a Claire “legal”... Da mesma forma que é muito provavelmente o único que acha a professora Astarte uma “mulher de família”.


Heron riu com um tom claro de ironia. Eles estavam passando pelo ultimo lance de escadas e percorrendo um corredor vazio.


- E eu tenho plena certeza que nenhuma garota nesse castelo olharia novamente para a sua cara se soubessem que você é um tarado machista – ele retrucou.


Mas Adam não pareceu se importar muito. Eles pararam na frente do quadro da mulher gorda, que os olhou com uma expressão animada e balançou o leque branco na mão esquerda.


- A senha... – ela cantarolou.


- Doce de canela – os dois disseram ao mesmo tempo.


A mulher gorda sorriu para os dois, cantarolou mais alguma coisa e finalmente abriu passagem atrás do quadro para que eles passassem.


O salão comunal estava praticamente vazio, o que era normal na única hora que os alunos poderiam ir curtir o dia quente nos jardins do castelo. Mas Heron achou isso bom, de alguma forma, e jogou-se no sofá com um suspiro alto.


- Eu não sou um tarado machista! – Adam protestou. – Eu só estou dizendo o que toda a ala masculina dessa escola está pensando!


Heron rolou os olhos.


- É a primeira vez que temos uma professora tão jovem aqui em Hogwarts. Jovem e bonita! – ele continuou dizendo. – Tudo bem, talvez eu tenha exagerado em sugerir que ela fosse uma desclassificada ou algo do tipo, mas se você realmente acha que ela não olha nem um pouco diferente para você, então das duas, uma: ou você está em negação ou está cego.


Heron suspirou alto e fechou os olhos, apertando-os com força.


- Eu acho isso besteira! A Tonks não devia ser muito mais velha que ela quando começou a dar aulas aqui...


- A Tonks é praticamente da família, Heron, é diferente. Além do mais, quem te garante que na época em que ela entrou, não atraiu olhares?


Os olhos castanhos do moreno se abriram e pairaram em reflexão em algum ponto distinto do teto.


- É, nisso você tem razão, pelo menos... – Heron riu sem humor. – Mas, de todo modo, falar assim de uma professora ou menos de uma garota qualquer é muito...


- O que? Rude? – Adam soltou uma risada. – Olha, cara, eu não sou um completo cretino, está bem? E concordo com você que alguém como Claire Walker merece ser tratada como uma dama... E talvez mesmo a professora Burchell, não sei porque ainda não a conheço... Mas você tem que ficar esperto, entende? A maioria dos caras daqui não pensa assim e, se você der mole, eles chegam primeiro.


O olhar de Heron deslizou do teto do salão comunal até o rosto do amigo e, de repente, ele estava com a sobrancelha erguida num tom questionador.


- Agora, sim, gostei de ver... – ele disse com certa ironia; ainda assim havia algo de duvidoso na sua expressão. – Mas você está falando agora como se eu estivesse numa disputa pela Claire.


- Ou pela professora Burchell – Adam ressaltou, com o dedo erguido na direção do primo. – Eu acho que você está, sim. Quero dizer, eu acho que se a Claire fosse ficar com alguém, nesse momento pelo menos, seria com você. Ela é simpática com você, vocês conversam bastante...


- Você não diria isso se ouvisse nossas conversas – disse o outro.


Dessa vez foi Adam quem rolou os olhos.


- Você entendeu o que eu quis dizer... E aliás, os momentos constrangedores entre vocês só enfatizam ainda mais a atração que sentem um pelo outro...


Mais um suspiro pesado deixou os pulmões de Heron, depois uma risada carregada de sarcasmo e ele se levantou do sofá com uma preguiça tão grande que seu corpo parecia pesar toneladas.


- E você descobriu isso sozinho ou teve que praticar legilimência nela?


Adam apenas deu os ombros, levantando os olhos para o moreno. O sorriso nem sequer vacilou no seu rosto e ele deu os ombros.


- Está bem, desconfie de mim... Você vai ver que eu estou certo! – ele riu. – Eu diria que a professora Burchel também está interessada em você, mas deixarei essa conclusão para depois que tivermos nossa primeira aula com ela.


- Está bem! – Heron exclamou, puxando o primo para fora do sofá. – Agora, que bom que você pensou em aulas, porque nós temos que voltar para as nossas.


- Já?


Adam franziu o cenho em uma expressão de falso sofrimento. Heron riu, mas não teve mais que puxar o primo para fora da sala comunal. Os dois passaram pelo quadro da mulher-gorda ouvindo ela reclamar alguma coisa sobre a sua voz.


- É, você perdeu seu precioso tempo falando besteira.


Heron riu, descendo o primeiro lance de escadas no fim do corredor, e Adam foi logo atrás.




Nota do Autor: tempos e tempos que eu não apareço por aqui, mas mesmo com a quantidade ínfima de comentários, eu não vou abandonar. Primeiro porque tem pessoas aqui que sempre comentáram e me apoiaram, pessoas para com as quais não é justo dar fim a fic. E em segundo lugar, porque Lílium 2 tem uma história para contar que eu acho muito interessante e eu quero muito escrevê-la até o final.

Espero que tenham gostado desse capítulo e que comentem bastante.

Prox. Capítulo: Aula de Feitiços.

Abração a todos. Lucas.

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