Sala Precisa



CAPÍTULO 4 – SALA PRECISA

Rony olhou fixamente para o retrato da mulher gorda. Em séculos, não havia sido reportada nenhuma vez em que a Mulher Gorda tivesse abandonado seu posto assim, no meio do dia, e, mesmo para Rony, que não havia lido Hogwarts uma História (e, portanto, não sabia que a Mulher Gorda não podia sair do seu posto), aquilo era anormalmente inconveniente.

- Okey, Ronald, isso definitivamente não foi engraçado, tirar a Mulher Gorda daí...

- Eu não fiz nada! – Rony exclamou, de boca cheia, olhando atônito para o retrato vazio. O garoto levantou-se com cautela, e espalmou a mão no cenário da pintura. Bateu algumas vezes, impaciente – EI! Eeei!

- Ora, Rony, não seja ingênuo – Hermione levantou as sobrancelhas, cruzando os braços e sorrindo de maneira sarcástica – apesar do seu charme encantador, uma pintura não é como uma porta. Pode berrar o quanto quiser: enquanto a Mulher Gorda não estiver nessa moldura, nada nos tirará daqui. E nem permitirá que alguém entre.

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- Raven, isso NÃO VAI dar certo. Eles vão destruir a sala precisa, ou algo do gênero.

- Não vão, porque, considerando que eles acham que estão no Salão Comunal, só podem pensar em destruir o Salão Comunal, não é? A Granger é monitora, e sabe cuidar do patrimônio da escola... Eu espero.

- Você nunca os viu brigando, não é mesmo? Hermione está mais do que possessa, e Rony é teimoso e inconseqüente. – Harry se apertou contra a porta do armário. Confundir os dois monitores para que andassem até a sala precisa E pensassem que era o Salão Comunal havia sido relativamente fácil, comparado ao que viria depois. E Harry tinha apenas uma nítida idéia do que viria depois.

- Não, não vi, mas não pode ser pior do que você e Draco. – ignorando o olhar de protesto de Harry, ela continuou – além do mais, se eles vão se matar, que se matem agora, antes que eu tenha que dar mais alguma aula de vôo.

- Porque não diz pra Hermione que não quer mais ensinar?

- Porqueee – exclamou Raven, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo – eu sou uma pessoa de bom coração! Eu não faço isso com as pessoas, sabe.

- Hm. – Harry revirou os olhos. Já não bastava estar naquele armário apertado, tendo somente uma fresta pra espiar os amigos, e ainda tinha que dividi-lo com a rainha da modéstia? – Se eles nos encontrarem aqui, será o nosso fim.

- Argh, Harry. Tem certeza de que é Grifinório? Porque acho que esqueceram de botar a coragem em você.

- Shh. Eles vão nos ouvir.

- Quer dizer... – Rony andava em círculos, parecendo aflito – Quer dizer que eu estou preso aqui, com você?

- Sim.

- Por tempo indefinido?

- Correto.

- Até que nos achem ou achem a Mulher Gorda?

- Se a sua burrice permitir, você concluirá que sim.

- Ei! – Rony largou os doces na mesinha de centro, indignado. – Você está me chamando de BURRO?

- Talvez desprovido de inteligência seja mais elegante, mas eu diria que você é uma completa anta. – Hermione se virou para ele, desafiadora, as mãos ainda cruzadas sobre o peito. – Mas tenho de admitir que você fica bem de chifres. – frisou a última palavra, debochada. A face de Rony se avermelhou, o calor subindo até as suas orelhas.

- Pelo menos o ápice do meu dia não é “ler um bom livro”!

- Ora! Eu não fico rotulando as pessoas, pele menos!

- Pelo menos eu tenho uma vida!

- Pelo menos eu tenho minha vida amorosa suficientemente resolvida para saber quando estou sendo enganada!

- É, E PELO MENOS EU TENHO VIDA AMOROSA COM UMA PESSOA REAL, E NÃO COM UM BANDO DE LIVROS!

A distância entre os dois aumentou. Rony e Hermione se levantaram, as faces vermelhas como pimentões, uma distância de um metro entre eles. Berravam e gesticulavam ferozmente.

- VOCÊ É UM IDIOTA, RONALD! NÃO PRECISO DE VIDA AMOROSA, PORQUE NÃO SOU ESTUPIDAMENTE DEPENDENTE COMO VOCÊ!

- OU TALVEZ SEJA PORQUE NÃO É NEM REMOTAMENTE INTERESSANTE?

- INTERESSANTE? E VOCÊ TEM UM ÓTIMO PAPO, REALMENTE, DÁ PRA VER COMO VOCÊ E A LILÁ CONVERSAM!

- A LILÁ NÃO LIGA PRA ISSO!

- NÃO DEVE LIGAR, DESENTUPIDORES DE PIA NÃO FALAM!

- ELA FICA DO MEU LADO, NO MÍNIMO!

- MAS É CLARO QUE FICA, PORQUE SÓ O QUE ELA QUER É A FAMA QUE O HARRY PROPORCIONA! OU SÓ VOCÊ É CEGO E PREPOTENTE O SUFICIENTE PARA ACHAR QUE ELA SAI TODOS OS DIAS ÁS QUATRO COM O MCLAGGEN, PARA LEREM LIVROS?

Os dois pararam para respirar. Olharam-se com rancor, e Rony quebrou o contato visual abruptamente. Largou-se no sofázinho, bufando raivosamente, enquanto enfiava alguns doces goela abaixo. Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, ele disse, com a voz tremida:

- Talvez eles estejam mesmo juntos pelas minhas costas, Hermione. Mas isso não muda o fato de que ela se importa comigo.

- Rony! – Hermione o chamou pelo apelido, e sentou-se no sofá na frente dele – Ela apenas FINGE se importar! – Ante ao silêncio do amigo, continuou – Não é como se ninguém fosse capaz de gostar de você. Mas é que a Lilá que a fama, que você, convenientemente, proporciona. – Ela suspirou, enquanto a raiva se dissipava gradualmente.

- Hermione, vamos encarar. As chances de alguma menina algum dia gostar de mim de verdade são tipo, menos que zero.

-Não é verdade! Eu... – a menina corou furiosamente, e continuou com pouca desenvoltura. – Eu tenho uma amiga. E ela está completamente apaixonada por você, de verdade.

Os olhos de Rony se arregalaram. Ele estava esperando algo completamente... Diferente. Mas resolveu continuar.

- Quem é?

- Ela... Ela prefere que eu não diga... Mas... – Hermione torceu as mãos, nervosa. – Mas ela me disse que te encontraria no baile de Halloween.

- Baile de Halloween?

- É! No... No próximo sábado. – Hermione corou mais ainda. Porque estava fazendo aquilo? Procurou desesperadamente pelo orgulho e a raiva que havia nela há pouco, mas eles pareciam ter se derretido sob o olhar verde do ruivo. – Ela me disse que você deveria encontrá-la no jardim á meia noite.

- Meia noite...?

- Isso. Ah, e tem mais uma coisa. Você tem de terminar com a Lilá antes.

- Mas, Hermione...

- Rony. Você gosta dela, eu sei. Mas... – a garota procurou as palavras certas, relutante. – Mas ela está te enganando. E... Vai ser melhor pra você, de qualquer modo. Não estou com ciúmes de vocês, antes que você se precipite – acrescentou ela, na defensiva – faça o que achar melhor. Mas... Pense nisso.

O ruivo se inclinou levemente, fazendo contato visual com Hermione novamente. Sabia que Lilá o estava traindo, e sabia que não gostava dela. Mas havia algo que ele precisava fazer antes.

- Olha... Obrigada, Mione. E... Me desculpe. Eu fui um imbecil completo aquela noite, e não devia ter dito nada do que disse. Sei que não tem ciúmes... E você não é feia, não mesmo.

Hermione ficou alguns instantes quieta. Havia se metido numa grande encrenca, quanto ao baile de Halloween, mas não podia deixar de acatar as desculpas de Rony.

- Bom, Ronald. Se você me ajudar com o FALE por algumas semanas... Eu penso nas suas desculpas.

O garoto abraçou Hermione, e a soltou após um longo minuto. Olhou pra ela, corando, e virou o rosto.

- Ah, mais uma coisa... Me desculpe por aquela noite no dormitório, quando eu...

Cortando a fala do garoto, Hermione se levantou, resoluta. – Quando você o que? Acho que estava sonhando, Ronald.

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- POOOOOOOOOOOOONTO PRA MIM!

Harry bufou. Não acreditava que os dois amigos tinham se reconciliado em apenas uma hora. Mas o mais inacreditável era a mentira deslavada de Hermione: Harry sabia que nenhuma amiga dela era insensível a ponto de tentar se apaixonar por Rony.

- O que eu disse?

- Raven, você ganhou, pronto. O que quer mais?

- Ah, mais nada, a sua expressão de surpresa incrédula já me ganhou o dia. Mas... Que história era aquela de “uma amiga minha gosta de você”?

Harry balançou a cabeça em sinal de “não faço a menor idéia”, enquanto conduzia Rony com a varinha, através do feitiço Levi corpus. Havia sido muito mais fácil estuporá-los quando estavam calmos do que quando estavam bravos, mas ainda assim desagradava a Harry a idéia de fazer aquilo com os amigos.

- Então quer dizer que não vai aparecer ninguém no baile de Halloween, a meia noite? Hm, isso vai ser legal de assistir... A não ser que Hermione apareça.

- Nah. – Harry gostava da companhia da artilheira, admitiu. Pelo menos ela não tinha crises de berros a cada minuto e nem estava agarrada feito uma enguia deformada com alguém. – As chances de Hermione se declarar para Rony são as mesmas de... De...

- Você ter se declarado pra Cho. Então, visando as circunstâncias...

- Não, você não está entendendo. – frustrado, o moreno bateu com a cabeça de Rony numa porta. – Não há chance.

- Quer apostar?

- Não vou apostar se o amor da Hermione vai ser maior que o orgulho dela!

- Medroso.

A simples palavra fez com que Harry tirasse dez galeões de bolso, espalmando-os na mão esquerda.

- Eu aposto dez galeões que ela não se declara.

- Apostado. E, Harry?

- Que?

- Que vença o melhor. – Raven piscou, disparando Salão Comunal adentro e colocando Rony sentado distraidamente sobre a poltrona que ladeava a lareira.


N/A: Façam as suas apostas, porque o jogo vai começar.

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