Enganos



CAPÍTULO 2 – ENGANOS


Hermione acordou bem cedo, e quando abriu os olhos ainda não havia ninguém na Sala Comunal, pelo que parecia. A cabeça lhe pesava, e ela espreguiçou-se lentamente. Bocejou como um gato, e secou o rosto.

Havia chorado a noite inteira, por causa do que ele dissera. Inalou o ar profundamente, tentando esquecê-lo de vez. Mas não conseguia. Toda vez se pegava pensando em sua voz, em como era cheiroso, e seus olhos se perdiam nas madeixas vermelhas que ela tanto amava...

Espantou os pensamentos da cabeça como se fossem moscas. Não precisava dele. Não precisava de seu amor, muito menos de sua amizade. Apanhou a manta e subiu silenciosamente ao dormitório, para terminar de dormir lá. Àquela hora, não seria importunada com Lilá e sua seita, e pelo menos dormiria melhor. O corpo inteiro dela doía pela posição em que dormira, e ela estalava as articulações enquanto subia. O corredor parecia mais escuro do que ela se lembrava, com mais degraus, e ela não reparou na ausência do quadro de frutas no topo da escada. Não reparava em nada: apenas queria chegar em sua cama.

Adentrou no quarto escuro sem emitir nenhum ruído, dando passos silenciosos e concisos até sua cama. Pisou em algumas meias, mas não se importou com a bagunça. As “garotas” deviam ter feito uma festa. Ouviu roncos altos. Será que Lilá roncava? Riu baixinho á esse simples pensamento. Andou até a última cama, a cortina corrida. Estranhou, mas também não parou para pensar muito. Abriu as cortinas com delicadeza e jogou-se no colchão macio, mas, ao invés de colchão, deitou-se em outra coisa. Uma coisa viva, que começou a gritar assim que Hermione caiu em cima dela;

- AAAAAAAAAAAH!

As luzes acenderam-se magicamente, revelando uma figura ruiva sem camisa por baixo de Hermione, empunhando a varia com susto. Essa levou um tempo para se acostumar á claridade, mas, ao ver que estava deitada por cima de ninguém menos que Rony Weasley, as faces se tingiram de rubro e toda a sua capacidade de mover-se pareceu se esvair.

Como todos os dosséis eram a prova de som e luz (cortesia de Fred e Jorge, que se diziam solidários com os companheiros de quarto de Rony, que tinham que agüentar seus roncos), nenhum dos garotos acordara, apenas o dito cujo. Ele tinha os olhos arregalados, as bochechas vermelhas, e, digamos assim, estava numa posição comprometedora com a Granger.

Ela tinha as pernas entrelaçadas com as dele, os braços apoiados em volta do seu tronco e a cabeça á poucos centímetros da sua. Igualmente rubra, esta não ousava se mexer, mais por falta de capacidade do que outra coisa.

- Esse... É o dormitório feminimo? – balbuciou ela, soprando de leve no rosto do ruivo. Este estava alheio á tudo. Apenas via aqueles lábios á sua mercê, e a menina que ele tanto amava em sua cama. Não pensou duas vezes: agarrou os ombros dela, jogou-a e a deitou no colchão bruscamente.

- Aham. – com isso, Rony inclinou sua cabeça pra frente, tocando seus lábios de forma provocante nos dela. Ele se inclinou mais ainda e a beijou sensualmente, provocando arrepios em ambos os corpos. Hermione parecia estar levando uma descarga elétrica, quente e doce. Porém, ela levantou uma das mãos, e, ao invés de segurar na nuca do ruivo para aprofundar o beijo, ela deu um tapa estalado no rosto de Rony, rompendo a ligação entre os dois e levantando-se com rapidez, mais vermelha do que nunca.

- Você... Nunca mais faça isso... Seu idiota. – ela ofegava, e saiu do dormitório como um raio. Desceu as escadas e escorou-se na parede, o coração martelando. Sentia um misto de raiva e felicidade, e seu orgulho rugia em desaprovação. Escorou-se na parede do corredor que levava ao dormitório feminino (dessa vez ela havia se assegurado de que era o dormitório certo). Agradecia, intimamente, pelo fato de que nenhum dos garotos havia acordado, graças ás cortinas enfeitiçadas dos gêmeos. O que mais incomodava Hermione era o fato de que o ruivo havia empurrado-a e beijado-a com plena consciência do que estava fazendo. Isso a intrigou profundamente. Primeiro, ficava feliz, pois ela, apesar de custar admitir, era apaixonada por Rony. Por outro lado, sentia-se muito confusa, pois ele estava com a Lilá, e parecia gostar, pelo menos um pouco, dela. Também não conseguia deixar de se sentir com raiva, pelo seu orgulho ferido e pelo atrevimento do garoto. E, por último, sentia uma ponta de superioridade com relação á Lilá, por ter beijado seu namorado. Adentrou o dormitório, se dirigiu á sua cama, fechou as cortinas em torno dela e recostou a cabeça no travesseiro branco e fofo.

O gosto dos lábios de Rony ainda brincava em seus lábios, e ela pegou-se relembrando o momento do beijo com carinho. Sim, havia beijado Vítor no Baile de Inverno, mas fora apenas uma vez, e ela não havia sentido aquele tremor trespassar seu corpo como á pouco.

Foi interrompida de seus devaneios pelos ruídos de uma Lilá murmurando no sono, algo muito parecido com “Uon – Uon”... Hermione sentiu o gosto salgado das lágrimas invadirem seus lábios, apagando o beijo.

“Porque você é tão estúpida, Hermione?” – perguntou-se em pensamento, amaldiçoando pelos cada vez mais freqüentes acessos de choro. “Não tem a menor chance de ele gostar de você. Ele deve ter pensando que você era a Lilá.” – a vozinha dentro de sua cabeça completou maldosamente, fazendo com que Hermione empurrasse o rosto contra o travesseiro para abafar os soluços. “Ora, vamos. Não se comporte como uma mangueira humana, ou vai acabar como a Chang.” – espantando a vozinha como uma mosca, Hermione fechou os olhos e esvaziou os pensamentos.

“Pelo menos em Oclumência você não está nada mal.” – admitiu a vozinha, antes que a garota caísse num sono irregular e cheio de sonhos com um certo ruivo.

- HARRY! HARRY!

Harry foi acordado bruscamente pelo melhor amigo, que o sacudia freneticamente, berrando com entusiasmo.

- Que foi, Rony, pelo amor de Deus... – o moreno se espreguiçou, sentado na cama. Apanhou os óculos e colocou-os sem jeito sobre o nariz, e se deparou com a face extremamente vermelha e o sorriso abobalhado de Rony.

- Ela me BEIJOU, Harry! – ele gesticulava, incapaz de terminar uma frase de modo coerente. – Ela... Tá certo que ela me deu um tapa, mas... Ainda assim foi um beijo e... Ah, Harry, ela irrompeu no quarto e... Eu estava dormindo e de repente...

- Rony. – interrompeu Harry, levantando uma das mãos em sinal de advertência. – Quem fez o que quando? E me faça o favor de concluir as frases, sim?

- A Hermione, Harry!

- Como? – O moreno engasgou com sua própria voz, tossindo ininterruptamente. Quando conseguiu se recuperar, perguntou de novo, cautelosamente:

- Você está me dizendo que a Hermione entrou no nosso dormitório... Pra te BEIJAR?

- Bom, resumindo, foi isso! – Rony coçou a cabeça, sorrindo amarelo. – Quer dizer, acho que ela errou de dormitório, pra ser sincero... E ela deitou na minha cama, e de repente ela estava só á uns centímetros de mim, e eu tive de beijá-la...

- Ah. Então VOCÊ a beijou?

- Mas é claro! - disse Rony, na defensiva. Quer dizer, ela não parecia querer me impedir. Ela conhece umas azarações bastante boas, e podia ter me impedido a qualquer momento e...

- E ela deixou você beijá-la? – Harry prosseguia incrédulo, interrompendo o amigo. Pelo que ouvira na noite anterior, Hermione não queria chegar perto de Rony nem que isso lhe rendesse mil galeões. – Até o final?

- Bom, não exatamente. – A expressão animadora se evaporou, dando lugar á uma de extremo desapontamento. – Ela me deu um tapa, e me disse pra nunca mais fazer aquilo. Ah, e me chamou de idiota. – ele suspirou pesadamente, erguendo os olhos azuis com sinceridade para Harry. – O que você acha que ela quis dizer com isso?

- Bom, cara, - disse Harry, fingindo pensar seriamente no assunto. – Lendo nas entrelinhas, parece que ela não quer te ver nem pintado de ouro. – Harry explodiu em risadas, assim como Neville, que estiver entreouvindo a conversa dos dois enquanto se arrumava. Dino e Simas já haviam descido para tomar café.

- Ei, isso não tem graça! – Rony arremessou uma almofada na cara de Harry, que apenas a apanhou e continuou rindo. – E de qualquer modo, - continuou Rony, assim que os amigos pararam de rir, - Eu estou namorando, não é mesmo?

Os dois assentiram com as cabeças, de modo a encerrar o assunto. Não gostavam muito de Lilá, mas não queriam ofender Rony. Este, porém, continuou:

- E nem é como se eu realmente GOSTASSE da Hermione. – enfatizou o “gostasse”, não muito seguro. – Quer dizer... Eu gosto, mas não AMO. Eu acho que não. Eu... Suponho.

Neville soltou uma risadinha tímida, como se duvidasse. Cruzou os braços em “X”, como se esperando uma almofada voar em direção á sua cabeça, mas espantou-se ao ver que as orelhas de Rony murchavam.

- Tá tão na cara assim? – perguntou desconsolado aos colegas. Harry hesitou. A resposta sincera seria um “sim”, mas ele não estava afim de arruinar completamente o amigo. Já bastava Hermione fazendo isso.

Não, cara. Quer dizer, dá pra ver que você realmente se importa com ela, - deu peso ao “se importa”, com relutância. – Mas... Ah, não parece que você AMA ela.

Neville apenas fez que sim com a cabeça, concordando, meio relutante, com Harry. Pegou a capa de inverno, e, acenando, foi em direção á saída do quarto.

- Bom, caras, - disse ele, sorrindo, - eu vou tomar café da manhã... Espero que já tenha gente na mesa.

Depois, Neville desceu as escadas, fechando a porta atrás de si sem barulho.

- É, Rony, é melhor a gente descer também. E eu acho – disse, enfaticamente, lembrando Hermione, - que você deveria terminar com a Lilá. Pode ser verdade o que a Mione anda dizendo sobre ela.

- Talvez. – resmungou Rony, e com isso, desceu as escadas atrás do amigo, perguntando-se se algum dia teria coragem para fazer isso.


N/A: Nossa... Só uma coisa... COMO eu gostaria de ser a Hermione. sigh

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Comentários (1)

  • Louisy

    O que ela tem na cabeça de não ficar lá e beijar Rony???

    2012-03-17
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