Na sua Estante



Na sua Estante
Música: Na sua Estante – Pitty


Te vejo errando e isso não é pecado
Exceto quando faz outra pessoa sangrar...


Lil observava Tiago. Ele estava compenetrado em uma conversa com Sirius. “Estão armando” Ela pensou. Olhou pro lado, na direção pra onde eles riam e apontavam. Um aperto segurou seu estômago quando ela percebeu de quem se tratava: Severo Snape.
Lílian não devia mais dar atenção aquele garoto. Ele só a fizera sofrer. Mas ela ainda gostava dele. Amizades de infância não se perdiam tão facilmente.

Te vejo sonhando
E isso dá medo
Perdido num mundo que não dá pra entrar.


Snape olhou-a mais uma vez, sorrateiramente, por cima do livro que lia. Ela estava linda, com os cabelos flamejantes no sol. E olhava, olhava apenas pra “ele”. Ah! Como odiava aquele garoto! Aquele idiota! Como sentia...
Sentia ciúmes. Queria que Lílian olhasse sonhadoramente pra ele, como olhava pra Tiago Potter. E Snape estava se fechando no próprio mundo, num mundo só dele.

Você está saindo da minha vida.
E parece que vai demorar
Se não souber voltar ao menos mande notícias
Você acha que eu sou louca, mas tudo vai se encaixar.


–Lil... – Ele chamou, tomando coragem. Ela se virou pra ele com um brilho sonhador nos olhos.
–Oh! Sev! Sente-se aqui! – Ela mandou, batendo na grama ao lado dela. – Vamos colocar as “fofocas” em dia. – Terminou, com uma piscadela marota. – Você andou desaparecido...
–Ando meio fechado. Mas você também tem me evitado.
–Eu? Imagine! Isso é impressão sua! – Ela respondeu, mordendo os lábios. – Ando só meio ocupada. Então? Quais são as novidades?
–Ah... Não tenho nenhuma... E você?
–Também não... – Ela respondeu, e ambos afundaram no silêncio. O silêncio que durou o resto da vida de ambos.

To aproveitando cada segundo
Antes que isso aqui vire uma tragédia
E não adianta nem me procurar
Em outros timbres outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu.


–Eu não preciso de sua ajuda, Evans! – Ele berrou, desvencilhando-se dela. Tiago ria deslavadamente enquanto o rapaz, estatelado no chão, brigava com Lílian.
–Severo... O que é isso. Deixe-me ajuda-lo. – Lílian contestou. Sirius riu da cara que a ruiva fez pro amigo.
–Largue-me! – Snape berrou mais uma vez. – Largue-me sua sujeitinha de sangue ruim! – Todos em volta pararam de rir. Lílian recuou alguns passos, abobada. Uma lágrima pura desceu por seu rosto. Tiago puxou Severo pelo colarinho, com varinha apontada direto para o meio da cara do rapaz de cabelos escorridos.
–Repita isso se tiver coragem, seu idiota! Repita isso, seu covarde! –Tiago berrou, a raiva despontando em seus olhos. Remo abraçou Lílian e ela escondeu o rosto em seu ombro, soluçando. Severo puxou a própria varinha e, com um estalo, Tiago foi empurrado bruscamente para trás. Nesse meio tempo, Severo aproveitou para fugir, enquanto Sirius alvejava-o com milhares de feitiços diferentes.

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu.


–Droga! Droga! Droga! Droga! – Ele repetiu, socando o travesseiro. A porta se abriu, e uma garota entrou, caminhando como se levitasse.
–Sinceramente, Snape? Meus parabéns! – Ela disse-lhe, rindo. – Você não podia ter dito melhor praquela sangue-ruim da Evans.
–Cale a boca, Black! – Ele berrou pra Bellatriz, mas ela só riu mais.
–Deixe de bobagens, homem. Você está... Chorando? – Ela berrou a última palavra, e se deitou na cama segurando a barriga e rindo. – Você é mesmo hilário.
–Mais alguma coisa que você disser Bellatriz, eu juro que amaldiçôo você.
–Você jamais me amaldiçoaria, Severo. Jamais.
–Quer apostar? – Ele perguntou, apontando a própria varinha pra ela. Mas Bellatriz apenas soltou um riinho de deboche. Puxou-o pelo cangote e o beijou.
–Você jamais me amaldiçoaria, Severo, por que você me ama. – E riu com desdém ao se retirar do quarto. Severo bufou de raiva e depois largou a cabeça no travesseiro.

Você tá sempre indo e vindo
Tudo bem
Dessa vez eu já vesti minha armadura
E mesmo que nada funcione
Eu estarei de pé, de queixo erguido.


–Lílian? – Ele chamou-a novamente, com um buquê de rosas na mão. Ela se virou e fechou a cara.
–O que você quer Snape? – Pediu, com o tom mais venenosos que conseguiu usar. Ele estendeu-lhe as flores.
–Vim pedir-lhe seu perdão. Pedir-lhe que esqueçamos o que aconteceu. – Ela segurou as rosas com um sorriso terno. E por um instante, Severo achou que ela aceitaria suas desculpas.
–Agradeço-lhe pelas flores, Severo. Assim posso fazer isso com elas!!! – E virou tudo em cima dele. –Acha realmente que flores e palavras poderiam conquistar novamente minha amizade? Você não merece nada, Snape, nem ninguém. Você é a criatura mais estúpida que eu já conheci em toda a minha vida. – E, com um giro nos calcanhares, ela desapareceu no corredor. E ele ficou ali, olhando pra ela, tendo certeza que gravara tudo, e que sua alma absorvera as palavras rudes dela. E Severo teve certeza que sua vida nunca mais seria a mesma.

Depois você me vê vermelha e acha graça
Mas eu não ficaria bem na sua estante.


–Juro que é a última vez que vou tentar. – Ele sentenciou, sentando-se na mesa com os amigos.
–Ela não merece tanto. – Narcisa sentenciou. – Quer dizer... É só a Sangue-ruim da Evans.
–Bem se vê que você e Bellatriz são irmãs. – Ele observou, com aspereza. – Mas ainda assim é a última vez que vou tentar. Senão ela pode-me por na estante de coisas velha dela e me esquecer completamente.

To aproveitando cada segundo
Antes que isso aqui vire uma tragédia
E não adianta nem me procurar
Em outros timbres outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu.


Ele arrumou tudo impecavelmente. Decorou palavras, arrumou presentes...
Se aquilo falhasse, ele desistiria.
Arrependera-se ao máximo de ter dito qualquer coisa. Ele merecia perder sua amizade.
Mas não a perderia sem lutar.

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres outros risos
Eu estava aqui o tempo todo
Só você não viu.


–Tiago? – Ela chamou. O rapaz se virou pra ela, suado, depois de diversas flexões.
–Lílian? O que você... – Mas ela calou-o com um beijo ardente. Afastou-se, ofegante, enquanto ela a segurava pela cintura. – Céus! Quero que você brigue mais vezes com o Ranhoso... – E, como resultado de suas palavras, ela começou a chorar, desesperada. –Ei, ei! Lil... Desculpe... Eu não quis fazê-la lembrar disso... – Mas ela encostou a cabeça no ombro dele e chorou no que pareceu-lhe horas a fio.

Só por hoje não quero mais te ver
Só por hoje não vou tomar minha dose de você
Cansei de chorar feridas que não se fecham, não se curam, não
E essa abstinência uma hora vai passar.


–É a última vez que vou falar com você.
–Poderia ter-me feito o favor de não vir mais.
–Nunca desistiria sem lutar. Jamais!
–Pois bem, tente. Mas já aviso que não vai adiantar.
–Todas as palavras que decorei sumiram da minha cabeça nesse instante. – Ele avisou.
–Ótimo. Se bem conheço você, teria declarado um discurso...
–Você me desculpa?
–Como poderia? Você não tem a mínima noção do quanto me feriu. Você não sabe. – Ela disse, e sua voz falhou. Ela se sentiu impotente quando foi incapaz de controlar as lágrimas que lhe afloravam facilmente. – Sinto muito, Severo, mas não posso perdoá-lo. Não até que você não tenha se tocado do quanto me feriu. –Ela se virou e voltou para o castelo. Um grito de dor se fez por ouvir do lado de fora quando Lílian fechou a porta. E ela jurou que as lágrimas que brotaram em seus olhos verdes naquele momento seriam as últimas que ela derramaria por um garoto que não merecia sua amizade.

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