Capitulo 10
CAPITULO X
Harry olhou para o relógio do microondas. Era hora de acender as velas. Hermione deveria estar chegando dentro de alguns minutos e queria que tudo estivesse perfeito quando ela chegasse.
Tocando o pavio com a chama do isqueiro, as velas foram acesas. Colocou uma garrafa de suco de uva no balde de gelo de prata sobre a mesa e uma rosa vermelha no vaso de cristal, que exalava uma fragrância suave.
Satisfeito, dirigiu-se à janela e respirou a agradável brisa noturna. Hermione acharia sua proposta inteligente, sem dúvida. Tinha de achar. Passara o dia inteiro pensando nas opções, revisando os detalhes, e chegara a conclusão que aquela era a única solução.
Quando a campainha soou, Harry sorriu. Aproximava-se o momento de colocar seu plano em ação.
— Boa noite, coisa linda! — exclamou, abrindo a porta. Sem perder tempo, tomou-a nos braços e lhe deu um breve beijo nos lábios.
— Boa noite para você também, bonitão!
Baby saltou aos pés dela, pulando e abanando a cauda. Hermione ajoelhou-se e afagou a cadelinha.
— Senti sua falta depois que deixou a Potter Tower, esta tarde. — Harry a ajudou a tirar o casaco.
— Também senti a sua. — A voz suave fez o pulso dele acelerar.
Harry passou depressa o braço ao redor dos ombros dela e com as mãos cobriu-lhe os olhos. Não queria apenas lhe fazer uma surpresa, precisava bloquear aquele olhar sedutor antes que fizesse alguma bobagem, como por exemplo desviar-se de seu propósito.
Hermione riu quando ele a conduziu até a sala de jantar.
— Decididamente você tem uma queda para o drama, Potter. O que está aprontando desta vez?
— Confie em mim, garanto que vai gostar — sussurrou-lhe junto ao ouvido.
Para sua imensa satisfação, Hermione estremeceu, e a confiança em sua bem elaborada estratégia aumentou.
Caminhando mais alguns passos, parou e destapou os olhos dela. Segurando-lhe o rosto, dirigiu-lhe a atenção à mesa, posta para duas pessoas.
— Bem-vinda ao Café Harry!
— Oh, querido, não precisava ter feito isso tu...
Ele pousou o indicador sobre os lábios carnudos, fazendo-a calar-se.
— Sei que não precisava. Mas eu quis fazer.
— Obrigada. — Comovida, beijou-lhe a ponta do dedo. Acomodando-a, Harry dirigiu-se à cozinha, pegou os pratos de salada no refrigerador e voltou à sala de jantar. Abriu a garrafa de suco de uva e verteu o líquido em duas taças. Em seguida, sentou-se no lado oposto da mesa em frente a Hermione. Encarou-a por vários segundos. Por que estava tão nervoso? Era um dos melhores relações-públicas do mundo dos negócios, excelente vendedor de idéias. Além do que, seu plano era muito simples.
— Conte-me como foi seu dia. — Harry apanhou o garfo de salada.
Hermione tomou um gole de suco, antes de responder:
— Vejamos. Depois que saiu da sala de reuniões, esta manhã, tive uma conversa muito interessante com Jennifer Anderson. — Baixou o olhar por um momento. Quando voltou a erguê-lo, Harry notou uma sombra de preocupação nos lindos olhos castanhos. — Sinto muita pena dela.
— Por quê?
— A vida não tem sido nada fácil para Jennifer.
— O que está querendo dizer com isso? — Harry recolheu os pratos vazios para levá-los à pia.
Hermione o aguardou. Quando ele retornou com a lasanha e algumas fatias de pão de alho, prosseguiu:
— A pobrezinha é muito jovem para assumir tanta responsabilidade.
— Sei que ela tem uma filha.
Harry achou melhor não comentar que Jennifer era apenas três anos mais jovem que Hermione e que dali a alguns meses ela se encontraria na mesma situação, ou seja, uma mãe que precisava trabalhar fora, tentando criar uma criança sem o auxílio de ninguém.
— As coisas estão tão ruins assim para Jennifer?
Hermione assentiu.
— Depois que o marido morreu, teve de enfrentar a dura realidade de criar a filha sem o pai. Para não dizer que ainda precisou procurar um emprego para poder sustentá-las.
— Pelo que sei, Jennifer é muito bem paga para organizar a agenda social de minha mãe. Mas, se acha que ajudaria, posso tentar conseguir-lhe um aumento.
— Não é uma questão financeira.
Harry observou-a empurrar o prato da lasanha para a frente, pousar o garfo recostar-se no espaldar.
— Então, do que se trata?
Hermione olhou-o bem dentro dos olhos, e Harry acabou percebendo que ela não estava apenas falando de Jennifer. Expressava seus próprios medos e incertezas.
— Jennifer está perdendo a melhor fase da vida de Sarah. Deixou de presenciar suas primeiras palavras, os primeiros passos...
Harry pousou o copo sobre a mesa, estendeu os braços e alcançou-lhe as mãos. Doía ver aquele rosto adorável com um semblante tão preocupado, quando ele já tinha a solução para todos aqueles problemas.
— Venha aqui. — Empurrou a cadeira para trás, trouxe-a consigo e a fez sentar-se em seu colo. — Não se preocupe. Você e Amendoim ficarão bem.
— Acha mesmo?
— Confie em mim, certo? Sei o que estou dizendo.
Num gesto automático, Hermione ergueu os braços e enlaçou-o.
— Então, consultou sua bola de cristal e descobriu o que o futuro me reserva?
— Algo assim... — Ele sorriu. O plano que traçara funcionaria sem nenhum contratempo. Chegara a hora de fazer a proposta.
Contudo, nesse instante, Hermione se inclinou para a frente, e Harry sentiu o coração acelerar com aquela simples proximidade. E quando ela traçou com a ponta da língua o contorno dos lábios sedentos de amor, achou que sofreria um ataque cardíaco.
Aquela mulher não tinha nenhum pudor em demonstrar que o desejava. Era muito excitante!
Sem mais delongas, Hermione introduziu a língua em sua boca e massageou-a com movimentos sensuais, roçando os quadris contra os dele.
Interrompendo o beijo, Harry a ergueu nos braços e dirigiu-se para o quarto. Queria que ambos dessem vazão à paixão que sentiam um pelo outro, sem limitações.
— Vamos para a cama, minha querida?
Hermione não protestou. Em vez disso, mordiscou-lhe o lóbulo da orelha. Com os joelhos bambos, Harry temeu perder o equilíbrio.
Assim que entraram na suíte, Harry empurrou a porta com o calcanhar, deixando o mundo todo do lado de fora.
Depois do amor, saciados e felizes, Harry virou-se de lado para observá-la. Hermione estava completamente imóvel, os olhos fechados, a respiração lenta e ritmada. "Meu Deus! Será que a machuquei?", pensou.
— Hermione querida, você está bem?
— Não poderia me sentir melhor. — Ergueu as pálpebras e enlaçou-lhe o pescoço. — A menos, é claro, que queira fazer amor comigo outra vez.
Harry sentiu vontade de bater no peito e berrar como Tarzã.
— Otima ideia! — exclamou, beijando-a de forma apaixonada.
— Eu te amo.
Harry ficou paralisado por alguns segundos. Será que ouvira direito?
— Como é? — Apoiou-se em um dos cotovelos.
— Eu disse que... — Hermione fez uma breve pausa, como se não estivesse segura se deveria repetir. — ...te amo...
A incerteza refletida naqueles olhos castanhos atingiu-o no fundo da alma. Teria de confessar-lhe o que se passava em seu coração apaixonado:
— Eu também te amo, querida!
Horas depois, estavam abraçados no sofá, com Baby, assistindo ao último noticiário noturno na tevê. Hermione bocejou e esticou os braços.
— Preciso ir embora.
Harry balançou a cabeça.
— Não vá.
Ela olhou para o homem que amava. Lutara muito contra aquele sentimento. Porém, desde o instante em que se conheceram, tinha se tornado impossível resistir àquele adorável teimoso.
— Não posso. Não trouxe roupas para trabalhar amanhã e...
Harry colocou o dedo indicador sobre os lábios dela, silenciando-a.
— Ligue para eles amanhã e diga que...
— Não, Harry. Preciso mesmo ir.
Beijando-lhe os lábios, Hermione retirou Baby do colo e ergueu-se.
— Não sugeri que lhes dissesse que estava doente, Hermione. — Levantando-se, tomou-a nos braços. — Ia pedir que ligasse para informar-lhes que está de aviso prévio.
— Ficou maluco? Não posso fazer isso! — disse ela, rindo. Aquilo era um absurdo. Harry só poderia estar brincando,
— Evidente que pode. Já providenciei tudo. — Harry estufou o peito, mostrando-se muito orgulhoso.
Hermione sentiu como se o mundo parasse de repente, e um nó apertado formou-se em sua garganta.
— O que está querendo dizer com "já providenciei tudo"?
— O chefe de segurança da Potter Corporation vai se aposentar no próximo verão, e quero que você assuma o lugar dele. — Mencionando uma alta soma em dinheiro que seria seu salário, acrescentou: — E quero que se mude para cá.
Hermione sentiu vontade de sair correndo dali.
— Vou embora — falou, com firmeza.
Deus, como Harry podia dizer que a amava se sabia tão pouco a seu respeito?!
— O que há de errado, querida? — indagou, confuso. — O salário que mencionei é baixo?
— Você não entende nada, não é, Potter?
— Não entendo o quê?
— Não faz a menor idéia do quanto me esforcei para ser promovida para o departamento ou de como minha carreira é importante para mim.
— Mas...
— "Mas" nada! — Cutucou-o no tórax com o dedo indicador. — Aposto como se orgulha de ser o vice-presidente de relações públicas de sua empresa.
Harry fez que sim.
— É lógico!
— Pois bem, não sou diferente. Orgulho-me do trabalho que faço e do fato de ser competente no desempenho de meu dever. E também me orgulho de ter dado a volta por cima, fazendo algo por mim mesma, quando o mundo parecia desabar sobre minha cabeça.
— Nunca duvidei disso, Hermione — retrucou, soando como se estivesse perdendo a paciência. — Mas agora um bebê está a caminho, e sua profissão é perigosa. Tem de pensar em Amendoim.
— Estou pensando em meu filho.
— Mas isso resolveria todos os seus problemas — Harry insistiu. — Poderá estabelecer seu próprio horário na Potter Corporation.
Segurando-a pelos ombros, continuou:
— Assim, poderá acompanhar a primeira infância de Amendoim. E, quando se mudar para cá, estarei presente para ajudá-la nessa prazerosa tarefa. — Abraçou-a.
— Não aceito esse trabalho, Harry! — bradou, convicta, desvencilhando-se dele. — Nem tampouco pretendo me mudar para cá!
"Meu Deus!" Como Hermione podia recusar aquela oferta, perguntava-se, incrédulo.
Levando as mãos à cintura, Harry exigiu:
— Por que não?!
As lágrimas embaralharam a visão dela.
— Não entende o quanto prezo minha independência ou o que um compromisso significa para mim.
— Claro que entendo.
— Não, não entende! — Hermione caminhou até o armário e pegou seu casaco. — Se entendesse, jamais teria tentado me arrumar um emprego, nem me pediria para brincar de casinha. Pode me chamar de egoísta, mas quero tudo a que tenho direito.
Vestindo o agasalho, voltou-se para encará-lo.
— Quero liberdade e respeito para fazer minhas próprias escolhas. E também pertencer a uma família onde o amor e o compromisso caminhem de mãos dadas.
— Eu amo você e Amendoim, Hermione. E podemos ter tudo isso. — A sinceridade brilhava nas íris verdes.
— Não, Harry, isso não é amor, se tenho de fazer todas as concessões. Você precisa aprender que amor não é uma questão de dinheiro ou uma oferta de trabalho ou de brincar de casinha. É muito mais importante que isso. Sei que é um conceito novo, e que não deve ter levado em consideração, mas amor é um investimento emocional. Para encontrar o verdadeiro amor e a felicidade, tem de investir o recurso mais valioso que possui: você. Tem de investir o coração e a alma.
— Sei muito bem disso. — Harry levou a mão à nuca, como se quisesse aliviar a tensão. — Jamais disse a uma mulher que a amava, nem pedi para que viesse morar comigo.
Hermione meneou a cabeça, descrente.
— Apenas pensa que me ama, Harry.
— Como pode dizer isso, se faço tudo o que está a meu alcance para agradá-la e vê-la feliz?!
As lágrimas rolaram-lhe pelas faces, mas ela permaneceu impassível.
— Quando o sentimento é verdadeiro, você aceita a outra pessoa como é. Não tenta modificá-la. — A voz falhou, e Hermione teve de fazer um esforço sobre-humano para continuar falando: — Sempre te amarei, Harry. Entretanto, não sou a mulher ideal para você.
— Claro que é, minha querida!
Harry parecia tão infeliz quanto ela, mas Hermione não se deixaria influenciar por isso. Se ele não a aceitava do jeito que era, não poderiam construir um futuro juntos.
Abaixando-se, Hermione apanhou a cadelinha no colo.
— Tome conta dele, Baby.
Colocando o animalzinho no chão outra vez, fitou-o por vários segundos. Sentia como se seu coração estivesse sendo arrancado do peito.
— Adeus, Harry.
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