Capitulo 5
CAPITULO V
Aguardando o último interrogatório daquela manhã, Hermione apoiou os cotovelos sobre a mesa e contemplou o lago Michigan.
Como tantas outras vezes durante os últimos cinco dias, Harry Potter povoou seus pensamentos. Desde a última sexta-feira não conseguia afastar da memória sua bela figura. Talvez devido ao fato de ele não ter lhe dado chance de pensar em mais nada.
Jamais permitira que alguém a perturbasse de tal forma. E nunca se abrira com outra pessoa como fizera na noite anterior.
Enfureceu-se consigo mesma. Não era de seu feitio fazer confidências a estranhos. Porém, Harry fora tão atencioso e compreensivo!
A princípio, seu ex-marido agira do mesmo modo. Quando conheceu Michael, ele a cobria de mimos, fingindo escutar e se preocupar com tudo o que dizia. Entretanto, não demorou muito para perceber que aquilo não passava de uma manobra, um modo que Michael encontrou de descobrir suas fraquezas e tirar vantagem disso.
Quando se conheceram, Michael precisava se casar para obter uma promoção no escritório de advocacia do distrito. Quando soube que Hermione havia crescido em um abrigo para menores e sonhava em constituir sua própria família, usara aquilo para convencê-la a casar-se com ele. Assim Michael Delgado, alguns meses mais tarde, via-se ligado a uma esposa grávida que não desejava.
Banindo para longe as recordações desagradáveis, Hermione conferiu as horas. Pelo visto, o interrogatório das onze horas não seria realizado. O sr. Marsh com certeza estava ocupado com algo que não pôde adiar.
Decidida a não perder mais tempo, ergueu-se da cadeira e se dirigiu ao corredor para falar com a secretária de Harry. Tinha uma consulta médica marcada para depois do almoço e, como não podia dispor do carro, que ainda se encontrava na oficina, teria de pegar o trem.
— Fiona, por favor, pode remarcar o interrogatório de Robert Marsh?
— Claro. — A mulher apanhou o telefone. — Pode ser no período da tarde?
Hermione fez que não.
— Tenho uma consulta médica, e não voltarei mais hoje. Poderia verificar se ele tem um horário disponível nos próximos dois dias?
— Sim — respondeu Fiona, discando o ramal de Robert Marsh.
De novo na sala de reuniões, Hermione recolheu os papéis, e estava vestindo o casaco quando Harry entrou.
— O que está acontecendo? — Alarmado, correu em sua direção. Pousando-lhe as mãos sobre os ombros, a fez sentar-se. — Está se sentindo mal? Nauseada? Por que não mandou Fiona me chamar?
A preocupação estampada naquele semblante bonito a fez emudecer por um instante. Até que, por fim, conseguiu falar.
— Estou bem. O que o fez imaginar o contrário?
— Fiona disse que você vai ao médico. Se está se sentindo bem, por que precisa disso?
Hermione o fitou, atônita. Seu ex-marido jamais demonstrara tanta apreensão, nem mesmo quando ela sofrera dois abortos.
— Irei ao obstetra, porque preciso fazer exame pré-natal regularmente.
— Oh, sim... Entendo.
Harry aprumou-se e esfregou os músculos tensos do pescoço. Sentia-se um idiota. Porém, quando Fiona lhe informou que Hermione estava saindo para ir ao médico, um medo tremendo abateu-se sobre ele, acabando com sua decisão de só procurá-la quando fosse imprescindível.
— A que horas é a consulta?
— Às treze. Mas, como Robert Marsh não pôde comparecer ao interrogatório, pensei em almoçar um pouco mais cedo e depois ir ao consultório. — Hermione ergueu-se e começou a recolher seus pertences. — Até amanhã.
Num gesto súbito Harry a segurou pelo braço.
— Espere um minuto. Ouvi você dizer ontem à noite que seu carro ainda está na oficina.
— Sim. E o mecânico me ligou esta manhã para dizer que precisa trocar determinadas peças que me custarão uma verdadeira fortuna.
— Eu a levarei. — Harry a conduziu em direção ao corredor.
— Agradeço pela oferta, mas pegarei o trem.
— De jeito nenhum. Não gosto da idéia de vê-la andando por aí em condução pública.
Elena estacou. Encarando-o, disse-lhe, seriíssima.
— Não importa se gosta ou não, Potter. Isso não é de sua conta.
— Não é seguro, Hermione.
— Sei muito bem me cuidar sozinha.
Convencer a si mesmo de que Hermione portava uma arma e que devia saber usá-la muito bem, caso precisasse se defender, não aliviou as apreensões de Harry. Detestava ter de usar seu trunfo outra vez, mas Hermione era a mulher mais teimosa que já conhecera!
— Levando em conta sua história pregressa, duvido que a excitação lhe faça bem, ou ao bebê, na hipótese de alguém tentar abordá-la.
Hermione o fitou, brava e insegura.
— Isso é um golpe baixo, Potter. Não está jogando limpo.
Harry olhou-a, cheio de culpa.
— Sinto muito. — Tomou-a nos braços. — Mas tem de pensar no bebê.
Consciente de que estavam parados em frente à escrivaninha de Fiona e que a secretária presenciava toda aquela cena, Harry levou Hermione até seu escritório. Fechou a porta e tomou-lhe o rosto entre as mãos.
— Sei que foi treinada para se defender. Mas as circunstâncias são bem diferentes. Agora não é apenas você. Existe o amendoim, também.
— Que amendoim é esse?
— O bebê. Precisa considerar o potencial de risco para a criança, Hermione.
— Potter, odeio quando tenho de admitir que está com a razão..
— Eu também, doçura.
Harry lhe deu um beijo rápido na testa e em seguida afastou-a. Se não mantivesse uma distância segura entre eles, não teria mais controle sobre seus atos.
— Deixe-me apenas cancelar a reunião desta tarde.
— Não é preciso, Harry. Fique aqui e faça o que tem de fazer. Irei chamar um táxi.
Harry soltou um suspiro exasperado.
— Também não é uma boa opção. A última coisa que precisa é se envolver em um acidente de carro.
Ela o encarou.
— Você não dirige melhor do que qualquer taxista. Parece um louco, lutando por uma posição numa corrida de Fórmula 1.
Ele riu.
— Sim, mas sei o que estou fazendo,
— E acha que eles não? Nossa! Você tem um ego inabalável.
Harry achou graça.
— E você sabe o que dizem sobre o ego masculino?
— O quê?
— É muito frágil.
Hermione gargalhou.
— Onde ouviu isso?
— Todos os programas de entrevista dedicam pelo menos um dia por mês para discutir este assunto. E as revistas femininas estão sempre editando artigos que ensinam como fazer isto ou aquilo sem abalar o ego de um homem.
— Pelo visto, já deve ter lido muitos, não é mesmo?
Sorrindo, Harry balançou a cabeça numa negativa.
— Não nesta encarnação. Mas tenho irmãs que leram. — Apertou o botão do interfone e instruiu Fiona a remarcar os compromissos daquela tarde. Colocou o casaco e segurou-a com firmeza pelo braço. — Onde é o consultório?
Hermione lhe forneceu o endereço.
— Conheço um lugar lá perto que tem a melhor sopa de batata da cidade.
Uma hora mais tarde, quando deixavam o bar irlandes, Hermione teve de concordar com Harry. A sopa, servida com pão de massa azeda, estava deliciosa, e fora sem dúvida a melhor que já tomara.
— Como estão indo os interrogatórios? — perguntou ele, guiando em meio ao tráfego turbulento.
— Progredindo muito bem. Conversei com todos os seus irmãos, com exceção de Seth.
— Ele teve de ir várias vezes ao tribunal, esta semana — Harry fez uma curva. — Deverá estar disponível na sexta-feira. Caso contrário, não se livrará de ser o primeiro da semana que vem.
— Seth não é advogado? —Hermione não pôde deixar de imaginar como seria maravilhoso ter tantos irmãos. — Vocês são íntimos?
— Não éramos quando ele veio viver conosco. Naquela época, Seth era muito revoltado para se tornar amigo de quem quer que fosse. Mas nos últimos anos diria que temos um bom relacionamento.
Hermione franziu o cenho.
— Estou confusa. Se Seth não vivia com seus pais, onde...
— Ele é meu meio-irmão. — Um pouco indeciso, desviou o olhar, mas decidiu esclarecer: — Como sabe, meus pais se separaram por algum tempo depois que meu irmão Rafe nasceu. Isso foi há trinta e três anos. A mãe de Seth, Angie Donahue, na ocasião era secretária de meu pai.
Hermione notou que as mãos de Harry apertaram o volante.
— Deixe-me adivinhar. Ela estava preparada para consolá-lo?
Harry assentiu.
— Depois que meus pais voltaram a viver juntos, Angie deixou a Potter Corporation. Papai cuidou para que Seth recebesse uma pensão mensal. Porém, a mulher não tinha a menor noção de como criar e educar uma criança. Quando Seth fez doze anos, estava fora de controle. Assim, Angie assinou o termo de custódia, renunciando em favor de meu pai.
— Isso deve ter sido muito complicado para todos vocês.
Tendo passado boa parte da vida em lares adotivos com jovens problemáticos, Hermione sabia bem dos contratempos que uma criança rebelde poderia causar em um lar.
— Drew e eu tínhamos apenas sete anos, na ocasião, mas ainda me lembro de tudo muito bem. — Harry entrou no estacionamento do edifício comercial do obstetra de Hermione. — Não demorou muito para papai perceber que, se não agisse rápido, Seth estaria em sérias dificuldades. Então, usou sua influência para que fosse admitido em uma das melhores escolas militares do país. Foi onde Seth se endireitou.
— Seth teve sorte de terem achado o lugar certo para ele. — Hermione recordava as várias crianças que conheceu no passado que não foram tão afortunadas. — Ele visita com frequência a mãe biológica?
Harry estacionou e contornou o Jaguar para ajudá-la a descer.
— Ninguém mais viu Angie Donahue desde a noite em que Seth veio morar conosco.
— Que estranho! Por que a mãe não se interessou, pelo menos, em ver o filho de vez em quando?
— Terá de perguntar isso a ela, se conseguir encontrá-la.
— Acho que seria uma boa idéia descobrir seu paradeiro.
Entraram no elevador.
Na sala de espera, Harry tirou o casaco e procurou um lugar para se sentarem, enquanto Hermione falava com a recepcionista.
— Devem me chamar em alguns minutos — disse, entregando a Harry uma revista. — Achei que gostaria de algo para ler enquanto aguarda.
Harry leu o título em voz alta:
— Gravidez e Nascimento.
Rindo, ela despiu o agasalho.
— Ou isso ou um folheto intitulado: Seu Útero e Você.
— Acho que não tenho necessidade de ler isso...
— Foi o que pensei. Tomaria conta de meu casaco enquanto eu estiver na sala do médico?
— Sem problemas.
— Hermione Delgado? — chamou a enfermeira.
— Não devo demorar. — E Hermione seguiu a mulher.
Minutos mais tarde, recostando-se no espaldar, Harry começou a folhear a revista, quando a mesma enfermeira caminhou em sua direção.
— E o acompanhante da sra. Delgado?
— Sim. Há algo errado com ela?
— Não, está tudo bem. Apenas imaginei que gostaria de estar ao lado dela para presenciar esse momento.
— Certo.
No entanto, Harry não fazia a menor idéia do que a atendente queria que ele visse, e tinha certeza de que Hermione não aprovaria sua presença lá dentro. Todavia, a curiosidade foi mais forte.
Quando abriu a porta da sala que a enfermeira lhe indicou, Harry encontrou Hermione deitada sobre uma maca de exames fitando o teto. De repente, ela virou a cabeça, e a expressão se endureceu.
— O que está fazendo aqui?
Era evidente que não tinha a mesma opinião da enfermeira.
— Fui aconselhado a não perder o que vai acontecer. — Harry notou que Hermione vestia apenas um roupão de hospital.
O fato de saber que não havia uma só peça de roupa sob aquela indumentária fez sua pressão sanguínea subir.
— Não vejo motivo para isso. Agora, vá embora.
Harry ignorou o protesto e chegou mais perto.
— Não se aflija. Não é bom para você, nem para o bebê.
— Isso não é de sua conta, Potter.
Lançando os casacos sobre uma cadeira ao lado da maca, Harry colocou as mãos sobre os ombros dela, tentando impedi-la de se erguer.
— Relaxe.
— Não.
As faces de Hermione adquiriram um tom cor-de-rosa, e ela o fulminou com o olhar.
Harry não compreendia por que de repente se tornara tão importante para ele testemunhar fosse lá o que fosse que estivesse para acontecer naquela sala. Conhecendo apenas um modo de silenciar os protestos inflexíveis de Hermione, inclinou-se e pressionou os lábios contra os dela.
A princípio, ela tentou empurrá-lo. Porém, aos poucos, rendeu-se, deslizando os braços ao redor do pescoço dele.
Uma imensa satisfação encheu o peito de Harry, fazendo-o se esquecer de tudo mais a sua volta.
Quando os lábios dela se entreabriram, introduziu a língua em sua boca, explorando-a com sensualidade. Erguendo-a na maca até sentá-la, estreitou-a contra si e deslizou os dedos por dentro do roupão, acariciando-lhe as costas macias.
Sentiu a respiração ofegante, consciente de sua excitação inevitável. Estava louco por aquela mulher, e podia jurar que ela também o desejava com a mesma intensidade.
A porta se abriu de repente, lembrando-a de que, mais uma vez, esquecera a promessa que fizera a si mesma de restringir aquela relação apenas ao âmbito profissional.
Relutante, Harry soltou-a e ajudou-a a se deitar.
Quando se virou, viu uma mulher vestida com um jaleco branco caminhando em sua direção.
— Boa tarde! Sou a dra. Simmons. — E estendeu-lhe a mão. Harry retribuiu o cumprimento.
— Harry Potter.
— Parece que teve alguns problemas, neste último fim de semana — a médica voltava a atenção para uma Hermione mais tranquila.
Sentindo que ela precisava de apoio, Harry tomou-lhe a mão entre as suas.
— Além da náusea habitual, tive alguns problemas com vertigem.
— Falei com o pessoal do Memorial, e eles me puseram a par dos detalhes. — A dra. Simmons revisava o prontuário. — Creio que não temos com que nos preocupar, mas quero que continue repousando e se alimentando muito bem.
— Certo. — A entonação de Hermione refletia o alívio que experimentou ao ouvir aquelas palavras.
— Há alguma outra coisa que seja prejudicial para ela ou para o bebê?
— Bem, sr. Potter, com o histórico de Hermione, não a aconselharia a correr numa maratona. — Pensando que Harry e Hermione tivessem um relacionamento íntimo, sorriu. — Porém, não vejo nenhuma razão para limitar suas atividades, e isso inclui sexo.
Hermione meneou a cabeça.
— Nós não temos...
— E lógico que a doutora compreende, querida — interrompeu-a Harry.
A médica assentiu.
— Você pode manter relações até mais ou menos o oitavo mês. Bem, agora vamos tirar a primeira foto de seu nenê?
Harry não fazia idéia do que a médica quis dizer, mas parecia agradar Hermione. Nunca a vira com uma expressão tão feliz ou excitada.
— Já podemos visualizar algo?
— Há uma possibilidade, Hermione. Você está entrando no terceiro mês de gestação. Creio que já podemos ver algo.
Puxando o lençol até a cintura de Hermione, a médica levantou o roupão, expondo o ventre arredondado.
Harry observou fascinado quando a doutora espalhou uma boa quantidade de gel lubrificante embaixo do umbigo dela e pegou um aparelho que se assemelhava a um microfone ao lado de um monitor. Em seguida, fez alguns movimentos circulares sobre o abdome de Hermione, até que surgiu uma imagem um tanto confusa na tela.
— Aí está seu bebê — falou a dra. Simmons, sorridente. Harry notou os olhos de Hermione se encherem de lágrimas.
— Oh, como é linda!
— É uma menina? — Harry examinava a tela com atenção. — Como pode saber? Não vejo nada que se assemelhe a um bebê.
— É um pouco cedo para se determinar o sexo — respondeu a doutora. —Acho que Hermione está querendo uma menina. Veja, há um braço e uma perna.
O que elas conseguiam ver e ele não? Tudo o que era capaz de decifrar, além de um emaranhado de imagens cinza e pretas, era algo que se contraía com ritmo. Então, como que por encanto, a imagem tornou-se nítida. Ou talvez Harry tivesse se concentrado o suficiente para entender o que Hermione e a dra. Simmons tinham visto desde o início.
Não estava bem certo, mas de súbito sentiu como se lhe faltasse a respiração, quando a imagem mudou na tela e uma minúscula mão, com um dedo polegar e quatro dedinhos, ficou evidente.
— Meu Deus! Isso é impressionante! — Sem pensar um segundo sequer, abaixou-se e beijou Hermione com todo o respeito e encantamento que aquele momento significava para ele.
Lágrimas de felicidade rolaram dos cantos dos olhos dela, quando a boca de Harry se moveu, suave, sobre a sua. Quando ele ergueu a cabeça, disse:
— Obrigado por me permitir ver isto, Hermione.
— Obrigada por estar aqui comigo — sussurrou ela, surpresa de estar de fato contente por tê-lo ali, compartilhando tamanha alegria.
Jamais, em suas outras duas gravidez, fizera uma ultra-sonografia para ver a minúscula vida que pulsava dentro de si. Mas sabia que se tivesse feito seu ex-marido não teria se dado ao trabalho de acompanhá-la para ver a criança. A única preocupação de Michael era como um filho afetaria sua carreira ou seu estilo de vida.
Quando contemplou Harry, desejou saber como pôde ter pensado que os dois fossem iguais. Na última semana, Harry mostrara mais cuidados e lhe oferecera mais apoio moral do que Michael nos seus quatro anos de casamento. E nem por um segundo se queixara de ser incomodado de alguma forma.
— Aqui está o primeiro retrato de seu bebê. — A dra. Simmons entregou à Hermione uma cópia impressa da ultra-sonografia.
— Você faria outra cópia?
— Claro que sim, sr. Potter. — Fez alguns ajustes, e a máquina imprimiu outra foto. — Tem alguma dúvida ou queixa que eu possa esclarecer antes de fazermos o restante dos exames?
Hermione pensou por um momento.
— Acho que não. Estou tomando minhas vitaminas e, com o uso do remédio, a náusea torna-se suportável.
— Estou cuidando para que ela não cometa excessos — interferiu Harry.
Dizendo isso, sentou-se na cadeira ao lado, como se pretendesse permanecer ali.
— Você poderia nos dar um momento, dra. Simmons?
— Sim, Hermione. Estarei de volta em alguns minutos.
— Obrigada. — Virando a cabeça para olhar Harry, Hermione tentou conter o riso. Evidente que ele não estava a par do que iria acontecer. — Acho que seria mais confortável se esperasse lá fora.
— Não se preocupe comigo. Estou bem.
— Mas é... que não é você. Estou mais preocupada comigo.
Quando Harry ergueu a cabeça, ela quase riu da confusão dele.
— A médica vai fazer um exame rotineiro em outras partes...
— Ah... um desses... — Erguendo-se depressa, recolheu os casacos e caminhou para a saída. — Estarei na sala de espera, se precisar de mim.
Harry sentou-se observando a foto que tinha nas mãos, alheio aos outros ocupantes da sala de espera. Um pensamento continuava povoando sua mente. Nunca se sentira tão privilegiado como quando a imagem do filhinho de Hermione surgiu naquele monitor. E, embora ela não o tivesse convidado a testemunhar o primeiro contato visual com a criança que carregava em seu ventre fora persuadida com facilidade permitindo-lhe ficar lá.
Recostou-se na cadeira e se recordou da apreensão que vira naqueles olhos castanhos... O temor quando a doutora entrou na sala. Admitisse ou não, Hermione precisava de alguém por perto para segurar-lhe a mão e confortá-la.
Apoiando a cabeça contra a parede, deteve-se fitando o teto. Conjecturas desgovernadas lhe ocorriam sem parar.
Pela primeira vez, queria ser desejado... e tomar conta de alguém que não fosse ele mesmo. E era aí que residia a questão. Não estava certo se poderia dar mais de si do que se dispunha.
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