Capitulo 3



CAPITULO III


No instante em que a porta do elevador se abriu, Hermione conteve a respiração, rezando para que o remédio que o médico lhe dera para náusea surtisse algum efeito. Para sua salvação, a subida não foi tão ruim assim e, quando desceram no vigésimo andar, seu estômago se encontrava apenas um pouco embrulhado.
Harry conduziu-a em direção à luxuosa cobertura no fundo do corredor e abriu a porta.
— Não fique surpresa se a casa estiver de cabeça para baixo. Baby destrói tudo sempre que me atraso.
— Baby?
Harry vivia com alguém, pensou, curiosa.
Ele acenou com a cabeça e acendeu a luz a tempo de Hermione ver uma pequena bola de pêlos escuros e longos vindo em sua direção. A cadelinha latia e saltava abanando a cauda, como se quisesse brincar. Porém, quando Harry se ajoelhou para pegá-la, afastou-se e em seguida se virou, fitando-o de soslaio.
— Então é assim que vai ser, hum? — Harry sorriu e acompanhou Hermione até o interior da espaçosa sala de estar. — Baby será ultracarinhosa com você, porém, irá me ignorar pelo resto da noite.
Quando Harry ligou o abajur ao lado do sofá, murmurou, entre os dentes:
— Bem, parece que terei de comprar novas almofadas outra vez.
Hermione não conseguiu disfarçar o riso quando olhou ao redor e viu todo aquele enchimento e tiras de pano espalhadas sobre o carpete bege.
— Pelo visto, já passou por isso antes.
Harry fez um gesto de assentimento e a ajudou a retirar o casaco.
— Sempre que chego atrasado do trabalho.
— Ela só faz isso quando você se atrasa? E durante o dia? — Hermione se abaixou para pegar algumas tiras de tecido acetinado.
— Ei! — gritou, alarmado. — Não faça isso. Sente-se e coloque suas pernas para cima. Eu cuidarei de tudo.
— Vou ajudá-lo.
— Não, não vai. — Harry recolheu os farrapos e conduziu Hermione até a poltrona que lhe indicara. — Apenas acomode-se e relaxe. Até que estou com sorte, pois foram só duas almofadas. Baby costuma destruir três ou quatro, e ainda algumas revistas.
Nem bem Hermione se sentou, e Baby saltou em seu colo. Os dois olhinhos escuros a encararam sob uma grossa camada de pêlo, antes de mergulhar a cabeça em sua mão para ser afagada.
— Qual a raça dela?
Harry deu de ombros, recolhendo os pedaços de enchimento.
— O veterinário disse que é uma mistura de shihtzu com pequinês. Porém, acho que tem um pouco de diabo da Tasmânia também.
Abraçando o pequeno corpo peludo, Hermione sorriu.
— Seja lá o que for, é adorável. Quantos anos tem?
— O médico estimou em mais ou menos seis meses de idade, quando a encontrei vagando na calçada próxima à Potter Tower. Estava faminta, assustada, com medo da própria sombra e muito carente. — Harry sorriu. — Isso faz pouco mais de um ano. Agora, está bem alimentada, arrogante e pensa que é minha dona.
Dizendo isso, deixou a sala com as almofadas esfarrapadas nas mãos. Momentos depois, retornou com uma coleira, e Hermione notou que ele havia trocado o terno por uma calça jeans e uma camisa pólo branca.
— Espero que goste de comida chinesa. — Respirou aliviado, quando ela fez que sim. — Ótimo! Pedi uma sopa de galinha com macarrão, arroz e legumes grelhados. Deve chegar dentro de uns vinte minutos.
Harry deu alguns passos à frente e inclinou-se para colocar a coleira em Baby. Nesse instante, a mão dele roçou levemente na de Hermione, que se afastou de imediato ao sentir um calor inesperado percorrê-la.
Havia algo de excitante no contato com aquele homem. Não sabia por que, porém toda vez que o tocava um formigamento se abatia sobre ela.
— Tem alguém que a leva para passear quando está trabalhando, Harry? — Esperava que ele não notasse sua voz ofegante.
— Contratei uma pessoa que a leva duas vezes por dia à rua. — Olhou para Baby: — Ei, mocinha, está pronta?
Hermione achou graça quando viu Baby virar-lhe a cara, ignorando-o, ao se dirigirem para a saída.
— Não estava brincando quando afirmou que ela faria isso, não é mesmo?
— Não tenho mais nenhuma autoridade por aqui. Ninguém me respeita. — De repente, sua expressão tornou-se séria. — Agora, ajeite-se aí e descanse. Estarei de volta em alguns minutos.
Depois que ele saiu, Hermione acomodou-se na poltrona e apoiou os pés num banquinho, refletindo a respeito da personalidade de Harry Potter.
A primeira vista lhe pareceu um egocêntrico como seu ex-marido. Alguém que vivia apenas para o momento, detestava que atrapalhassem seus planos ou lhe cobrassem qualquer tipo de responsabilidade.
Em geral, era boa juíza de caráter. Bastavam-lhe cinco minutos de conversa. Afinal, fazia parte de suas funções avaliar as pessoas e decidir se eram o que aparentavam ser.
Mas fora forçada a admitir que se precipitara naquele julgamento em relação a Harry. Ele não só a surpreendera com seu comportamento no hospital, como mais tarde, no apartamento dela, com sua atitude generosa, oferecendo-se para abrigá-la sob seu teto.
Deu uma olhada ao redor, examinando a mobília luxuosa e as telas originais de pintores famosos. Que playboy egocêntrico salvaria um cachorro perdido na rua e permitiria que destruísse suas coisas como se nada fosse? Ou se prontificaria a ajudar uma policial grávida sem ter para onde ir e com quem contar?


Quando Baby saltou na cama e começou a fazer um verdadeiro sapateado sobre sua barriga, Harry abriu os olhos.
— Não me diga que já quer sair agora — murmurou, sonolento.
Em resposta, a cachorrinha latiu e lambeu-lhe a face.
— Oh, sim... Com esse beijinho eu a perdoo, e posso até esquecer o modo como me tratou ontem à noite.
Baby se acomodou no tórax desnudo, descansou o focinho entre as patas dianteiras e o encarou como se pedisse desculpas por seu comportamento da véspera.
Harry suspirou.
— Certo, está perdoada. Vou levá-la para passear. Mas pare de me olhar com esse jeitinho triste.
Afastando Baby, Harry rolou para o lado e a colocou no chão. Enquanto pegava a calça de moletom de sobre a poltrona, Baby dançava, abanando a cauda, impaciente, a seus pés.
Harry desejou que ela não começasse a latir para apressá-lo. Hermione estava no quarto do outro lado do corredor, e não queria despertá-la, pois precisava repousar. Amarrou depressa o cadarço dos tênis, apanhou Baby e saiu.
A porta do quarto de hóspedes continuava fechada. Não se ouvia nenhum som proveniente do interior. Ótimo. Não a tinham perturbado.
Na noite anterior, quando retornara com Baby do passeio, Harry encontrou Hermione enroscada na poltrona onde a deixara. Sorriu, lembrando-se da cena.
Hermione parecera tão relaxada que não tivera coragem de acordá-la. Assim, erguera-a nos braços e a levara para o quarto de hóspedes. Dormia tão profundamente que apenas se mexeu quando ele lhe removeu os sapatos e a cobriu com um edredom.
Harry ficara dividido entre duas sensações muito distintas: a primeira fora a maciez e a feminilidade daquele corpo pressionado ao seu, e a segunda, o prazer que aquele contato lhe provocara.
Forçando-se a se concentrar no estado de Hermione, franziu o cenho. Não tinha nenhuma experiência com mulheres grávidas, mas com certeza eram bem mais vigorosas do que ela.
Notou como era evidente sua fragilidade quando a pegou no colo. Hermione não pesava mais que cinquenta quilos.
As ordens médicas foram claras. Tinha de se alimentar com mais regularidade, e acabara perdendo o jantar. Mas compensaria isso naquela manhã. Assim que Harry voltasse, prepararia para Hermione um farto desjejum.


Harry abriu a porta, e o cheiro delicioso de bacon frito o atraiu até a cozinha.
— Hermione?
— Sim, estou aqui.
Ele tirou o casaco e retirou a coleira de Baby.
— O que está fazendo? Você devia estar descansando.
— Bom dia! — disse ela, removendo as várias tiras de bacon da frigideira. — Onde está Baby?
Harry fez um gesto com o polegar na direção da sala de estar.
— Escondendo-se sob as almofadas que sobraram.
Harry notou que Hermione tomara um banho e colocara uma calça jeans e uma camisa de moletom cinza com os dizeres "Academia de Polícia de Chicago" estampados na frente.
— Por que ela faz isso? — Hermione apanhou a caixa de ovos do refrigerador.
— Para se aquecer. — Harry tomou a caixa de papelão das mãos dela e a colocou sobre a pia.
— Não a culpo. Fevereiro é um mês muitíssimo frio em Chicago. Como gosta dos ovos? Estrelados ou mexidos?
— Estrelados. Mas eu cuidarei disso. Você vai se sentar. — E a conduziu até a mesa.
— Posso muito bem cozinhar. Da mesma forma como teria sido capaz de ir para a cama ontem à noite com meus próprios pés, se alguém tivesse me acordado.
Ele já esperava por algum comentário a esse respeito.
— Você estava cansada.
— Isso não importa.
— Engano seu, Hermione: isso é o que importa.
Harry percebeu o rosto dela corar, e uma ponta de raiva surgir nos lindos olhos castanhos.
Apoiando as mãos na cintura, estudou-a de alto a baixo. Odiava ter de intimidar as pessoas, sobretudo uma mulher. Mas, se fosse necessário para impedi-la de cometer uma extravagância, era o que faria.
— Precisa descansar, e cuidarei para que não cometa excessos. Além do mais, é minha convidada. Portanto, sente-se aqui.
Hermione fez menção de dizer algo, como se quisesse protestar, mas cedeu e sentou-se.
— Harry, eu...
Os olhos dela encheram-se de lágrimas, e os lábios carnudos tremeram. Harry sentiu um aperto no peito. Não imaginara que Hermione se magoasse por algo tão banal quanto sua insistência para que repousasse.
— Querida, sinto muito. — Ajoelhou-se diante dela. — Por favor, não chore — suplicou, tomando as mãos dela entre as suas,
— Eu odeio isso! — Levando as mãos ao rosto, desatou em choro.
Harry ficou arrasado. Enlaçou-a e puxou-a para si.
— Não a culpo por ficar brava comigo, querida. Passei dos limites. Não deveria ter falado num tom tão autoritário.
— Não é você. Sou eu.
— Você?!
Hermione fez um gesto afirmativo, e Harry não entendeu o que ela quis dizer com aquilo. O corpo pequeno e delicado apertou-se contra o dele. A sensação agradável daqueles braços a seu redor e a respiração morna, provocando-lhe a pele sensível do pescoço, quase destruíram suas boas intenções.
— São as... mudanças hormonais, Harry. Não posso controlar.
Então era isso. Aquele pranto se devia à gravidez.
Recordou-se de anos atrás, quando seu irmão gêmeo mencionou que a esposa experimentara todos os tipos de emoções, ao esperar a filha deles, Amanda.
— Sente-se melhor? — perguntou, quando os soluços de Hermione cessaram e os ombros pararam de tremer.
Ela acenou com a cabeça e afastou os braços dele.
— Estou tão envergonhada...
Harry apanhou alguns guardanapos de papel na gaveta do armário e enxugou-lhe o rosto.
— Imagine, Hermione... Isso vai passar à medida que a gestação evoluir.
Hermione o encarou.
— Já teve experiência com mulheres grávidas antes?
— Não, mas a última esposa de meu irmão gêmeo passou por problemas desse tipo quando engravidou. Isso foi quando nós ainda trocávamos confidências um com o outro.
— Vocês não são mais tão íntimos?
— Não tanto quanto éramos. — Harry deu de ombros, porém era evidente que aquilo ainda o incomodava. — Depois que Talia morreu, ele se afastou do resto da família.
— Por quê? — Hermione era incapaz de entender por que alguém se distanciaria dos parentes no exato momento em que mais precisaria deles. Se tivesse tido familiares, com certeza recorreria a sua ajuda e proteção inúmeras vezes.
Harry se ergueu e foi para o fogão. Quebrou dois ovos e os colocou na frigideira antes de voltar a falar:
— Acho que Drew se afastou de nós porque se sentia culpado pela morte de Talia. Minha cunhada morreu de overdose de barbitúricos quando a filha deles era pequena. Sabíamos que havia algo errado, e tentamos avisá-lo. Porém, Drew se recusava a enxergar isso. Quando se rendeu às evidências e resolveu enfrentar o fato de que sua mulher estava viciada nessas drogas, era tarde demais. Um dia, ao retornar do trabalho, encontrou-a morta.
— Lembro-me de ter lido sobre isso nos jornais. Deve ter sido um tremendo choque para ele.
Harry assentiu.
— E a mídia só fez piorar ainda mais a situação. Por se tratar de uma Van Dorn casada com um Potter, os jornais agiram como tubarões em torno da presa. A maioria das redes, de televisão e estações de rádio dispensou demasiada atenção ao assunto.
Hermione estava bem a par da tática utilizada por alguns repórteres para manipular os fatos ou inventar histórias. Mas, quando duas das famílias mais proeminentes de Chicago eram afetadas por um escândalo, isso era digno de nota. Ainda mais tendo a mãe de Harry, Lilian, sido princesa de Altaria, era óbvio que aquilo se tornaria manchete de primeira página.
— Às vezes repudio o trabalho da mídia — disse, solidária. — Mais de uma vez eles já complicaram, em vez de ajudar, colocando em risco o andamento das investigações.
— Isso não me surpreende. — Harry removeu dois pratos do armário e despejou os ovos sobre eles. Retornando ao fogão, quebrou outro ovo em uma tigela, bateu-o de leve e o verteu numa frigideira. — Há quanto tempo se tornou policial?
— Trabalho no Departamento de Polícia de Chicago desde que deixei o abrigo para menores. Primeiro como arquivista de registros e, oito anos atrás, quando completei vinte e um anos, pleiteei e fui aceita na Academia de Polícia. Harry, está esperando mais alguém para o café da manhã?
— Não. — Sorriu. — Gosto de ovos estrelados, mas Baby prefere os dela mexidos.
Hermione gargalhou.
— Por que deu-lhe esse nome?
— Acho que você não gostará de ouvir. — Enrubesceu.
— Tente...
Harry pigarreou.
— Algum tempo depois que a achei, descobri que as mulheres se sentem atraídas por anímaizinhos.
— Oh, por favor... Não me diga isso.
— O nome dela completo é Baby ímã.


Harry colocou o último prato na lavadora de louça e em seguida dirigiu-se à sala de estar, onde encontrou Hermione enroscada com Baby no sofá.
Ela retirou o bloquinho de anotações de dentro da bolsa é escreveu algo na primeira página, antes de encará-lo por trás dos longos cílios.
— Importa-se de responder a algumas perguntas sobre sua família?
— Prefiro esperar até segunda-feira.
Hermione lhe dirigiu um olhar desconfiado.
— Por quê? Não quer ver a pessoa que atentou contra a vida de seu irmão atrás das grades o mais rápido possível?
— Não me interprete mal. Não vejo a hora de isso acontecer. Contudo, não à custa de sua saúde. — Harry sentou-se ao lado dela. — Daniel está em um lugar seguro. Desse modo, não vejo nenhum inconveniente em esperarmos até segunda-feira, quando já estiver mais descansada.
— Sinto-me ótima.
Harry sabia que Hermione ainda estava envergonhada por ele ter testemunhado seu colapso no restaurante e seu pranto incontrolável. Ela encarava isso como fraqueza e falta de autocontrole. Algo que de modo algum tolerava.
— O médico falou...
— Quer parar com isso, por favor, Harry? Está parecendo um disco quebrado.
— Prometi que não a deixaria cometer excessos — retrucou, tomando o bloquinho das mãos dela e colocando-o sobre a mesa de centro.
Hermione fitou-o por um longo minuto antes de inclinar-se para a frente e tornar a apanhar o bloco.
— Não se preocupe com isso. Não considero esforço fazer-lhe algumas indagações, sentada aqui no sofá.
Harry tornou a tirá-lo de suas mãos e o lançou sobre a poltrona.
— Quais são seus dias de folga?
O som da risada de Hermione enviou-lhe uma onda de calor que lhe percorreu a espinha.
— Não há dias de folga, nem horário fixo para um policial de investigações especiais. Se formos nomeados para uma investigação, não podemos dizer: "Hoje não trabalho". Temos de estar sempre disponíveis.
— Sempre? — Ele não gostou nada do que acabara de ouvir.
— Dia e noite.
Hermione ergueu-se para recobrar o bloquinho, quando Harry segurou-lhe a mão com força, e ela se desequilibrou, caindo em seu colo. Encararam-se durante vários segundos, antes de Harry falar:
— Por que não pára um pouco, investigadora? — Deslizou o indicador pela pele macia da face dela. — Estou apenas tentando cumprir minha promessa.
Ao perceber o brilho de emoção estampado naqueles olhos castanhos, Harry sentiu uma enorme satisfação. Então, ela não era assim tão imune a seu charme quanto julgara a princípio.
— Não tem noção de como é bonita, não é mesmo? — Harry traçou um círculo sobre o lábio superior dela.
— Nunca dei muita importância a isso.
— Por que não?
— Não me preocupo com aparências.
Harry ficou surpreso. Jamais conhecera uma garota igual. A maioria das mulheres com quem se relacionava se preocupava muito com a imagem. Algumas chegavam a ser obcecadas. Todavia, isso parecia não ter o menor valor para aquela bela policial.
O pager de Hermione soou de repente.
— Está de repouso, Hermione. Portanto, seja lá o que for, ignore.
— Já falei que não posso fazer isso. — Ergueu-se do colo dele e, após ler a mensagem no aparelho, pegou o celular e começou a fazer uma ligação. — Droga! A bateria está descarregada. Posso usar seu telefone?
— Claro. Deixei o telefone sem fio na pia, perto da cafeteira.


Duas horas após deixar Hermione em casa, Harry e Baby retornaram ao apartamento, cabisbaixos. A mensagem no pager fora de um vizinho, informando-a de que o aquecimento central voltara a funcionar.
Harry tentara, em vão, persuadi-la a permanecer em sua casa por rnais uma noite, mas ela alegou que ficaria mais à vontade em seu próprio lar.
Vendo a sala de estar, Harry sentiu-se muito solitário. O que era ridículo. Por opção própria, resolvera morar sozinho desde que terminara a faculdade. Enquanto alguns de seus colegas dividiam apartamentos com amigos, preferiu um lugar só seu.
Gostava de viver assim. Aquela fora a primeira vez, durante os seis anos em que morava ali, que uma mulher passava uma noite inteira em sua companhia.
Aproximando-se da janela, abriu as cortinas e observou o porto de Belmont, tentando entender aquele estranho sentimento que o dominava. Se ao menos tivesse compartilhado uma noite de sexo magnífico com Hermione ou qualquer coisa além de uma simples conversa amigável, conseguiria entender aquela enorme vontade de tê-la a seu lado.
Jamais se sentira atraído por uma grávida, e isso o perturbava.
Não... Aquilo não era uma simples atração. Experimentava uma enorme necessidade de cuidar dela, de protegê-la. O que Hermione, claro, acharia absurdo. Ela era uma policial, uma veterana com pelo menos cinco anos de experiência nas ruas de Chicago, portanto, sem dúvida capaz de tomar conta de si mesma.
Era uma moça inteligente, independente. Portava uma arma e sabia como usá-la. Além do que, devia ser ótima profissional, caso contrário não teria sido promovida para investigações especiais.
Contudo, Harry percebeu uma fragilidade que Hermione tentava, mas não conseguia esconder. Pelo menos não dele. A solidão estampada no fundo daqueles olhos castanhos, quando na véspera ela lhe dissera que não tinha ninguém.
Tendo vindo de uma família numerosa e dedicada, Harry nâo imaginava como seria não ter o apoio emocional de seus entes queridos. Porém, Hermione mencionara ter saído de um abrigo para menores e parecia não ter ninguém com quem contar. Isso o deixou consternado.
Afastando-se da vidraça, caminhou até a cozinha. Assim que entrou, encontrou Baby, que estava saindo.
— Não é justo se sentir assim tão só — falou para o animalzinho.
Em resposta, Baby baixou a cauda e soltou um melancólico ganido.
— Sim, meu anjinho, é assim mesmo que me sinto.

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