Capítulo 10
Hermione ficou desesperada. Sua única vontade era correr atrás de Harry, pedir perdão mil vezes, beijá-lo e dizer-lhe o quanto o amava. Mas era tarde demais. Ela o havia magoado muito e vira o ódio estampado no olhar que ele tinha lhe dirigido pela última vez. Conseguira estragar tudo, chegando a conclusões precipitadas e duvidando do único homem que realmente havia amado na vida. Devia ter tido mais sensibilidade. Qualquer um seria capaz de perceber que Harry não era pessoa de enganar ninguém. Era honesto e correto demais para isso e o demonstrava em todas as atitudes. Só ela havia sido incapaz de se dar conta de um fato tão óbvio.
__ Minha filha, você agiu mal. Devia ter perguntado a ele, de forma objetiva sobre Sheila. Afinal, você o amava e nada mais justo do que querer saber sobre a vida dele. Sua atitude foi infantil, Hermione. Espero que tenha crescido, depois dessa experiência negativa.
Seu pai falava com muita tristeza na voz. Estava claro, pelo seu tom e pela expressão triste do olhar da mãe, o quanto ambos gostavam de Harry e como tinham ficado chateados com o desfecho de uma história que lhes teria agradado muito.
Desolada, saiu para caminhar um pouco naquele fim de tarde. O sol começava a se pôr, por trás das árvores, e seus raios rosados jogavam sombras no chão. O caminho por onde Hermione ia caminhando estava todo desenhado pelas sombras das folhas, que dançavam com a brisa daquele final de dia. A dança das sombras parecia acompanhar sua tristeza. Ela não conseguia mais segurar as lágrimas que vinham a seus olhos e rolavam sem parar por suas faces. Ia pensando num único nome: Harry, Harry, Harry . . .
Sentou-se num tronco de árvore caído e ficou inerte, os braços sobre o colo, pensando no que faria de sua vida dali por diante. Parecia que tudo tinha perdido o significado. Sem perceber, levantou-se e recomeçou a andar. Ia pela estradinha de terra que tantas vezes havia percorrido, e chegou à Casa do Pomar.
Ficou um bom tempo parada, diante da casa de Harry. O carro estava na garagem, mas as janelas estavam escuras e não havia qualquer sinal de vida. Hermione parecia não querer voltar. Ficou ali, rememorando os momentos que havia passado com o homem que amava. Mas não teve coragem de tocar a campainha, nem de bater à porta. Não saberia como encarar Harry, depois do que havia acontecido. Não tinha idéia do que poderia dizer para explicar sua tolice. Por isso virou-se lentamente, e começou a andar de volta para casa. Lá, enfrentaria uma longa noite de insônia e a reprovação da família por ter desperdiçado a oportunidade que a vida lhe dera de ser feliz.
Por muitos dias não ouviu falar de Harry. Ele não aparecia na cidade, nem no armazém, e a Casa do Pomar permanecia do mesmo jeito: escura e sem movimento nenhum, apenas o Jaguar ali estacionado. Hermione se arrastava todos os dias até à biblioteca, para trabalhar. Fazia suas tarefas sem entusiasmo e, quando ficava em casa, entregava-se ao desânimo. Quase não comia, não conversava e não demonstrava interesse por nada. As noites eram de insônia e se estendiam longas e cheias de escuridão, povoadas apenas pelos pensamentos tristes que insistiam em vir à sua cabeça.
De manhã, levantava-se exausta, com olheiras profundas marcando seu rosto. Mas enquanto vivia esse período difícil de sua vida, Selma e Alan pareciam estar no sétimo céu. O romance ia a todo vapor e os dois passavam a maior parte do tempo juntos. Hermione não conseguia demonstrar, mas sentia um pouco de alívio ao vê-los. Gostava sinceramente deles e, um dia, quando seu ânimo melhorasse, ela lhes diria o quanto estava contente.
__ Sabe, Hermione, acho que você tinha razão. Selma parece gostar mesmo de mim e não acho que ela seja de fingir esse tipo de sentimento. E eu muito estou apaixonado por ela também. – comentou Alan, certa tarde.
__ Que bom! Olhe, não ponha dúvidas mesmo. Não a deixe escapar, como eu fiz com Harry.
__ Hermione, será que não há jeito de você voltar a ser feliz? Se falar com esse homem, não seria possível. . .
__ Não. Não há mais nada que eu possa fazer. Fui uma idiota. Estraguei tudo. E era a coisa mais bonita que já tinha acontecido em minha vida. Agora está tudo perdido. Tudo.
Hermione estava descontrolada, falando alto e soluçando. Eles estavam num dos corredores formados por estantes de livros, na biblioteca, e sua voz ecoava por todo o salão. Sentindo que estava sendo ouvida por todos, saiu rapidamente em direção à sala dos funcionários e tentou entrar no banheiro. Lá poderia chorar em paz. Mas o Sr. Leaven, que naturalmente ouvira o vozerio, cortou-lhe o caminho.
__ Era a senhorita quem fazia todo aquele barulho? – perguntou o chefe, de forma seca.
__ Exatamente, Sr. Leaven. Era eu mesma. – Seu olhar deixava bem claro que ela desta vez não estava disposta a aceitar reprimendas e, muito menos, a pedir desculpas.
__ Ah, bom. . . Só queria saber o que estava acontecendo. – ele disse sem graça com a atitude da moça.
O expediente parecia demorar uma eternidade para terminar, mas finalmente chegou a hora da saída. Hermione estava ansiosa para voltar para a sua casa, para a solidão de seu quarto. Como de costume, o pneu de sua bicicleta estava murcho. Parecia que, dia sim dia não, ele resolvia deixá-la na mão. Caminhou, de cabeça baixa, para o ponto do ônibus. Ia tão distraída que nem percebeu uma pessoa que caminhava em direção contrária, até esbarrar nela.
__ Brian! – Era a última pessoa que ela esperava encontrar e seus olhos mostravam isso. Mas a surpresa era boa e Hermione conseguiu até sorrir um pouco.
__ Sim, senhora, eu mesmo.
__ Mas você não me parece muito surpreso em me encontrar. Já sabia que eu trabalhava aqui e que costumava pegar este ônibus?
__ Claro, sua boba! Vim lhe oferecer carona para casa. Mas antes tomei o cuidado de saber onde a encontraria. Pensa que eu sou um tonto sem iniciativas?
__ Não, claro. Desculpe Brian. Mas o que você está fazendo por aqui?
__ Vim visitar meus tios e também conhecer a nova casa de James.
__ Ah! Sim. . . E como está ele?
__ Você quer saber do ponto de vista físico ou mental?
__ Nossa, que linguagem! E depois vem me dizer que não quer ser médico.
__ E não quero mesmo. É vício de linguagem que se adquire com minha família. – ele disse, rindo. __ Mas estou adorando meu curso de teatro e, além disso, gosto muito das garotas que estudam lá.
__ E a Trudi? Ela não se importa com isso?
__Quem? Trudi? Esse romance já terminou faz muito tempo. Já estou de novela nova, esta se chama Amy – Brian falava em tom zombeteiro.
__ E eu que pensei ter destruído seu coração, Brian. Pelo jeito, você se recompôs rapidamente. – Hermione também brincou, contente por rever o amigo e todo seu bom humor.
__ Não brinque com isso, Hermione. Eu gostava muito de você, e ainda gosto. E é por isso que acho errado você e o James não conversarem para tentar se entender.
__ Não há mais nada que possa ser feito, Brian. Nosso caso ficou definitivamente acabado.
__ Pois eu discordo. E para provar que está errada, amiga, vou levá-la a casa dele.
O pequeno carro esporte que Brian dirigia, e que já estava quase chegando à casa de Hermione, obedeceu ao volante e fez uma curva fechada, entrando na estradinha da Casa do Pomar. Brian parou em frente ao portão, com um solavanco. Hermione balançou a cabeça negativamente.
__ Isso não vai adiantar nada.
__ Pelo menos forçará os dois a se olharem cara a cara.
Brian saiu do carro, abriu a porta do lado de Hermione e tirou-a para fora, puxando-a pela mão.
__ Isso é o que você acha. Agora vamos ver se é verdade mesmo. – Dizendo isso, ele bateu decididamente na porta, enquanto Hermione se encolhia sob seu braço, temerosa do que ia acontecer. Quando a porta se abriu, revelou-se a figura abatida e desleixada de Harry.
Hermione não conseguiu se conter. Começou a chorar.
__ Oh. . . Harry. . .
__ Lhe trouxe um presente, James. – Brian desvencilhou-se dos braços de Hermione, que não queriam soltá-lo, e empurrou-a em direção a Harry. Depois virou-se rapidamente, entrou no carro e saiu, dizendo ainda, de longe:
__ Tchau! Não se esqueçam de me convidar para o casamento.
Como era mesmo que Selma havia definido? Devorando-a com o olhar? Pois era exatamente assim que Harry a olhava, naquele momento. Hermione não podia acreditar. Tinha imaginado cenas tão violentas para o caso de se encontrarem, agora, lá estava ele com aquele ar carinhoso. . .
__ Harry, eu amo você! Muito – Hermione falava em voz quase sumida, enquanto andava alguns passos em sua direção, ainda vacilando.
__ Minha garotinha tola e confusa. Também adoro você. Estive, durante toda esta semana, pensando numa forma de ir até sua casa e pedir-lhe desculpas.
Dizendo isso Harry a abraçou e começou a dar milhões de beijos em eu rosto e seus cabelos.
__ Desculpas? Mas sou eu que tenho que pedir perdão por não ter confiado em você. Você não me deve nada. . .
__ Pensei muito, Hermione. Todo esse tempo desde domingo, estive pensando e cheguei a uma conclusão: não era mesmo possível, para você confiar em mim. Eu não tinha contado nada sobre minha vida. Fiquei todo esse tempo tentando afastá-la do meu passado, achando que você era criança demais para entender. Além disso, o nome com que me apresentei. . . Tudo levava a crer numa história falsa. Qualquer um teria ficado desconfiado. Mesmo assim, você me amou. . . Isso é lindo, criança! Seu sentimento é lindo! – Harry a levou para dentro de casa, tomando-a em seus braços assim que terminou de fechar a porta.
__ Fui até a loja de seu pai, hoje de manhã, e conversei muito com seus pais, sabe?
__ Fez isso, Harry?
__ Sim. Eu não suportava mais ficar longe de você. Expliquei tudo a eles e pedi permissão para casar com você.
__ E eles?
__ Concordaram, desde que você estivesse de acordo. Por isso, agora, eu quero lhe perguntar: quer se casar comigo, Hermione?
Não podia ser verdade. De repente, tudo o que mais queria na vida estava ali, resumido naquela pergunta. Seria um sonho? Se fosse, ela não queria mais acordar.
__ Sim, claro que sim! Ora, Harry, isso é o que mais quero no mundo. – Ela se agarrava a ele com todas as forças, rindo e chorando ao mesmo tempo.
__ Eu a amo muito, mais do que achava capaz de amar alguém.
__ Mais do que a Melinda?
__ Eu gostava muito dela. Mas agora percebo que não a amava. Nunca a amei de verdade. Ela era bonita e eu achava que seria uma boa esposa. Mas só soube realmente o que era amor depois que vim a Sanford e conheci uma pequena feiticeira que virou a minha cabeça com sua simplicidade e seu jeito sincero.
O jantar fora um sucesso. Pela primeira vez haviam recebido convidados em sua nova casa. Hermionemandou preparar pratos finíssimos e arrumá-los cuidadosamente em travessas artísticas. Até aquela estranha sobremesa, que ela mesma passara a tarde inteira preparando, tinha dado certo. Ela fizera questão de comandar pessoalmente o pessoal da cozinha, porque Harry insistia em receber bem e ela tinha ficado o dia inteiro ansiosa com a recepção. Era o primeiro aniversário de casamento dos dois. Um ano inteiro de felicidade para ambos, vivendo como marido e mulher.
As pessoas ainda conversavam na sala. Um dos convidados especiais era Brian, acompanhado de sua noiva. Ruth era uma moça simpática, colega de teatro, que finalmente parecia ter conquistado o coração do amigo querido de Harry e Hermione.
__ Parece que minha intromissão daquele dia não foi tão ruim quanto você achava, não é, Hermione? – falou Brian, com sua costumeira zombaria carinhosa.
__ Acho que foi sim – respondeu Hermione, com o mesmo ar de gozação do amigo. __ fez com que o pobre Harry se casasse com a pessoa com quem ele mais brigou na vida.
__ Mas, em compensação, hoje não brigo com mais ninguém. – completou Harry, no mesmo bom humor. ___ Esta senhora me comanda de tal forma que não me permite um minuto de zanga.
Harry trabalhava em Londres novamente, por isso moravam lá agora. Porém a Casa do Pomar era o lugar onde faziam questão de passar todos os fins de semana. Era o verdadeiro lar do casal.
__ Como vão seus pais, Hermione? – Brian quis saber.
__ Felizes com nosso casamento, tristes por morarmos em Londres, mas sem muito tempo para se lamentar, pelo trabalho que Billy lhes dá com suas reinações. E os seus?
__ Eles andam muito ocupados também, com o novo neto que ganharam de June.
A cunhada, que estava sentada no sofá perto deles, olhou carinhosamente para Hermione, Harry e Brian, agradecendo com um sorriso o comentário. Hermione que estava enamorada do sobrinho de seis meses tanto quanto os avós, acrescentou:
__ Pode-se entender perfeitamente a corujice. Seu filho é o menino mais lindo que já nasceu em Londres.
__ Só será superado quando o nosso nascer. – completou Rick.
Hermione lhe dirigiu um olhar carinhoso, acompanhado de um sorriso enigmático que ele pareceu não entender.
Por fim, todos se despediram desejando muitas felicidades ao casal. Harry e Hermione ficaram finalmente a sós.
Abraçados, sentaram-se em frente à lareira onde alguns troncos ainda queimavam, dando ao ambiente um cheirinho gostoso e aconchegante. Harry beijava delicadamente a face de Hermione e acariciava seus cabelos.
__ Tenho um presente para você – Harry falava baixinho ao seu ouvido.
__ Mas você já me deu isto! – Hermione passava a mão por uma lindíssima pulseira de diamantes que ele lhe dera antes do jantar, quando ainda não haviam chegado os convidados.
__ É outro presente. - Harry se levantou, foi até o escritório e voltou com um livro, que entregou a Hermione. __ Veja!
__ Seu livro. – O olhar de Hermione brilhava de orgulho.
__ É o primeiro exemplar. Está quentinho, acaba de sair da editora. Leia a dedicatória.
Hermione abriu o livro, tremendo, e folheou até encontrar a página onde estava manuscrita uma dedicatória para ela.
__ Para Hermione, minha esposa – leu em voz alta __, sem a qual este livro não teria existido e sem a qual eu, também, não teria muitos motivos para existir.
A jovem senhora engoliu as lágrimas de emoção que vieram à tona. Não sabia o que dizer. Todo o profundo significado que o encontro dos dois tinha sido para suas vidas estava ali registrado, nas páginas daquele livro. E o enredo, que havia começado em forma de tragédia, se transformara numa bela e comovente história de amor.
__ Querido! É lindo!
Ela se atirou comovida nos braços de Harry.
Ele a segurou ternamente nos braços, por alguns momentos, até que ela conseguiu novamente falar.
__ Sabe, Harry? Eu. . . Eu também tenho um presente para você.
__ Outro? Não foram só as abotoaduras que você me comprou?
__ Este não é comprado, Nem todo o dinheiro do mundo o pagaria. Só que você terá que esperar um pouco para poder vê-lo.
Harry foi até a mesinha onde estava a garrafa de champanhe, ainda no gelo, encheu duas taças e voltou para a esposa.
__ Tome, beba um pouco. Talvez assim você consiga se explicar melhor. Não estou entendendo nada do que está dizendo.
__ Harry, eu estou grávida. Nós vamos ter um filho, Harry. Um bebê!
Harry ficou sério, parecendo que ia desmaiar. Não conseguia articular direito as palavras e nem compreender bem o que estava ouvindo.
__ Filho? Nós vamos ter um filho?
__ Sim, querido. Não está feliz?
__ Feliz? Mal posso acreditar! Vou ser pai, meu Deus! É a coisa que mais sonhei na vida. Vamos encher nossa casa de crianças, querida. Um filho. Puxa vida! E ele será só o começo, não? Vamos providenciar para que tenha muitos irmãos.
Hermione ria gostosamente. O marido a havia pegado no colo, num abraço, e rodopiava pela sala.
__ Harry! Essa não é uma atitude adulta, de um homem que vai ser pai. Ponha-me no chão antes que nós dois rolemos no tapete.
Ele a colocou suavemente na poltrona e ficou fitando longamente seus olhos castanhos, como a agradecer pela felicidade que estava sentindo naquele dia de aniversário de um casamento perfeito.
Finalmente, ele tornou a falar:
__ Bem. As coisas vão mudar um pouco por aqui, mocinha. De agora em diante, nada mais de bebidas alcoólicas, nada mais de esforços com as tarefas de casa, que você teima em fazer. Terá que ficar muito calma e com muito repouso, está bem? Lembre-se de que eu sou o médico por aqui.
__ Como o senhor mandar, doutor.
__ E, agora, fale sério, Hermione: como está se sentindo?
__ Ora, não precisa ficar tão tenso, papai. Não é você o médico que mais traz bebês ao mundo em toda Londres?
__ Pode ser, mas nunca trouxe o meu próprio. Meu Deus, desta vez nada, mas nada mesmo pode dar errado.
E tudo deu certo, mesmo. Meses depois, num hospital de Londres, sob os cuidados de um orgulhoso papai-médico e os olhares de avós-corujas, nascia mais uma criança. Uma linda menina e cabelos castanhos, como Hermione, e olhos com uma cor ainda indefinida mas que, provavelmente, se tornariam verdes, como os de Harry.
FIM!!!!
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N/A: Mais uma fic terminada! Espero q gostem...
Começo a próxima apenas em fevereiro pq vou viajar...
Até lá :*
Ps: Comentem.!
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