dia 16/09/918 - O fim do mundo
Nem todo dia é um bom dia. Nem todo dia se quer viver mais. Hoje o mundo acabou. Meu mundo se partiu e me deixou solitária, fria e muda.
Ontem eu esperava poder comentar aqui o quanto fora bom meu aniversário de 13 anos. Infelizmente não o poderei fazer. Na cama sólida e fria em que me encontro só posso comentar que o que mais queria era não ter podido fazer 13 anos. A história deve ser completa, e meu desafortunado comentário desse dia de tristeza também.
Desde maio desse ano algo terrível vinha acontecendo. Os moradores da civilização cercana de onde eu vivia começaram a suspeitar dos trabalhos de meu pai. Minha mãe fora atacada na feira por cerca de três vezes. Eles suspeitavam que nós estávamos envolvidos com bruxaria ou algo do gênero, o que claro, era verdade mas de maneira nenhuma poderia ser considerado algo macabro ou sem escrúpulos. O cidadão chamado Genvard insistia que em minha casa praticávamos algum tipo de malefício à sociedade e ontem, por volta das onze horas da noite, entrou em minha casa, onde eu já dormia. Genvard trouxe muitos trouxas juntos com ele e disse que era melhor que ele somente entrasse na casa. O que nenhum daqueles trouxas sabia e só eu e meus pais sabíamos era que aquele Genvard era um bruxo ridiculamente mesquinho e idiota que queria nada mais nada menos do que roubar as riquezas de minha família, por isso causara tudo aquilo. Quando acordei e dei por mim, escutava gritos e percebi que minha mãe chorava e duelava,eu a podia escutar da porta de minha alcova, mesmo fechada.
Sem medo, abri a porta e desci. Não vi meu pai. O que significava que ele não poderia estar vivo pois jamais permitiria a cena que vinha a seguir: minha mãe duelando com o homem, ela gritou para mim e sem pensar Genvard fincou-lhe a espada e minha mãe caiu imóvel no chão. Eu gritei. Ele ria. Tentou me acertar com a varinha que queimou uma parte do meu braço. Caindo de dor, me recompus e levantei na mesma hora, arranquei-lhe a varinha e fiz com que o ódio tomasse conta de mim. Levantei-o no ar, ele gritava alto de dor e eu pude perceber que os trouxas incendiavam minha casa na mesma hora. Eu não me importava.
Eu não sabia onde estava meu pai, mas aquele desgraçado tinha acabado de matar a minha mãe. Ele me pedia piedade e eu certamente não ouvi. Explodi os olhos do homem e quando percebi que ele gritava de dor arranquei-lhe a língua, com um feitiço que eu sinceramente esperava ser o mais doloroso possível. As lágrimas de raiva corriam do meu rosto queimado já com o fogo que praticamente me cobria. Os trouxas já adentravam a casa e vendo o homem rodopiando no ar e eu embaixo o movimentando com a varinha gritavam toda sorte de disparates mas não ousavam se aproximar. Lancei o feitiço mortal no desgraçado no mesmo momento que caía no chão aturdida pela fumaça das chamas e pela dor no meu coração. Quando todos com rastelos e machados caminhavam para cima de mim, eu ouvi um largo som. Os trouxas gritaram algo sobre um monstro ou um dragão, mas eu só consegui ver Linx que voava encima de tudo e de todos com suas afiadas garras. Ele entrou embaixo de mim forçando-me a montá-lo e os trouxas, ainda estagnados não podiam fazer nada senão olhar. Enquanto voávamos pelo jardim, eu só podia ver minha casa em chamas, eu segurava fortemente em suas penas e chorava. Quando descemos na torre, ele também chorava.
Uma águia nunca chora. Ao menos nunca tinha ouvido falar de algo parecido. Mas ele o fazia. Eu o abraçava e então percebi uma luz e abri meus olhos. Envolta num círculo iluminado, lá estava ela, a Rainha.
"Ele é muito leal" - Ela disse de Linx - "Vocês tem sorte de ter um ao outro"
Ela me pegou nas mãos e me trouxe até o outro lado do lago novamente. Dormi muito. Acordei hoje e Linx estava do meu lado. Percebi que ele tinha preso às patas algo desde o dia anterior. Enrolado em um pedaço de pano estavam minha tiara de ametista e esse diário que Linx não me perguntem como, conseguiu pegar em minha alcova, antes de me salvar tornando quem sabe, meu fim de mundo, num recomeço.
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