Prólogo.



Prólogo


“E é aqui”, disse Ted, apontando para o trem com a cabeça, “E você finalmente vai entrar comigo, ao invés de ficar parado na estação, acenando. Como se sente?”


Tiago observou o trem, parecendo minúsculo ao lado da máquina.


“Um pouco nervoso”, disse, num fio de voz, erguendo os olhos para o amigo, “Você também se sentiu assim no seu primeiro ano?”


“Eu estava aterrorizado. Sabe, o tio Rony fez questão de passar a lenda urbana do ‘lutar contra o trasgo’ para frente, e quando cheguei no Salão Principal para seleção, quase me mijei de alívio ao ver o Chapéu Seletor”


Tiago gargalhou.


“Então, não tem mesmo esse lance da luta contra o trasgo?”, perguntou o garoto, os cabelos escuros mostrando um reflexo avermelhado com a luz do sol.


Ted cogitou ser honesto, mas não seria tão divertido.


“Só se você for escolhido para a Sonserina”, olhou por sobre os ombros e constatou que Gina e Harry ainda estavam longe demais para ouvi-lo, então, com um sorriso maldoso, continuou, “Mas não é bem uma luta... é mais um ‘bem vindo ao lar’...”


O garoto piscou os olhos, perplexo.


“Não quero ir para a Sonserina”, declarou.


“Olhe para os seus pais”, os dois observaram Harry e Gina, de mãos dadas, conversando com Rony, Hermione, Gui e Fleur, as mãos entrelaçadas, “Sendo filho de quem você é, não há nem a possibilidade de nenhum de vocês ir para a Sonserina”


Tiago pareceu aliviado, mas durou pouco tempo.


Um grupo de lufalufanos passou, conversando animadamente sobre Quadriboll e o verão. A cor sumiu do rosto do garoto de onze anos.


“E se eu não conseguir fazer amigos?”


“Você é filho do Menino-Que-Sobreviveu-Duas-Vezes-vulgo-O-Escolhido e da melhor artilheira que a Holyhead Harpias já teve em décadas. Vai por mim, as pessoas vão fazer fila para falar com você”, passou a mão pelo ombro do garoto, “E, qualquer coisa, você pode contar comigo”, acrescentou.


“Tocante, você sabe”, uma voz familiar fez com que os dois rissem e girassem nos calcanhares para encararem um garoto de dezessete anos, negro, com o cabelo composto por tranças finas, “Também quero um protegido. Onde eu posso adotar um para mim?”


“Eu diria para você adotar o Alvo, mas quando ele entrar em Hogwarts você já vai ter saído”, comentou Tiago, tentando ser útil.


“Posso saber que negócio é esse de adoção?”, perguntou Gina, chegando de mãos dadas com Harry, enquanto Rose, Alvo, Lílian e Hugo corriam em volta deles, gargalhando.


“Senhora P!”, Justin Jordan assobiou, batendo palmas, fazendo Gina encará-lo, inexpressiva, enquanto Harry revirava os olhos, contrariado, “Cada dia que passa, fica mais bonita e mais jovem!”


“Olha só, Harry, você bem que podia aprender algumas coisas com o Justin”, comentou Gina, erguendo uma sobrancelha, mas em contraste com a provocação, entrelaçou seus dedos com os dele e permitiu que o marido a puxasse para mais perto.


“Vai arranjar a sua própria esposa, Jordan”, disse Harry, sério, mas Ted reconheceu o brilho divertido nos olhos do padrinho, “E deixe a minha em paz”


“Vou ter que contar o seu segredo, senhor P”, Justin fez cara de desapontado, depois deu de ombros, “Gina, minha flor, você acha que foi coincidência que Voldy tenha morrido três semanas e cinco dias depois que eu nasci?”, todos os presentes gargalharam, “Sabe, senhor P, eu aceitei te deixar com a fama, mas não vou deixar você ficar com a garota”


“Sabe, Justin, eu adoro o Lino... e a Amanda é uma mulher fantástica”, Harry comentou, pensativo, “Ainda não consegui entender como é que você nasceu”


“Ah, senhor P, é bem simples: um espermatozóide vencedor conseguiu entrar no óvulo...”, mas interrompeu-se perante os rostos curiosos dos menores, “Ahn... Opa”


“O que é um espermatozóide?”, perguntou Lílian, olhando confusa para o pai.


“Algo com o qual você só vai entrar em contato depois do quarenta anos. E você...”, Harry apontou com o dedo indicador para o negro, ameaçador.


“Estou indo para o trem”, apressou-se Justin, “Guardo um lugar para você”, apontou para Ted, “E para você também”, referindo-se a Tiago, agora.


Sem mais, o garoto pulou para dentro do trem e os adultos o acompanharam com os olhos.


“Tiago, querido, não fale muito com o Justin, OK?”, aconselhou Gina, mortificada, fazendo os dois garotos rirem, “Você já tem má influências o suficiente na sua vida”


Hermione e Rony, que chegaram naquele instante, sorriram ao reconhecer o garoto que sempre surgia pelo menos um fim de semana por verão para se divertir com Ted desde o primeiro ano dos dois.


“Esse garoto é terrível”, comentou Rony, passando o braço pelos ombros de Hermione, “Jorge me disse que ele gastou quase cinqüenta galeões nos Gemialidades Weasley nesse verão”


“Hogwarts costumava ser um lugar seguro...”, suspirou Harry.


“Gente”, Hermione apontou para o relógio na plataforma que tinha o ponteiro grande no dez e o pequeno quase chegava no onze.


Gina mordeu o lábio inferior e ela e Harry abraçaram o filho, prometendo escrever toda a semana. Quando Tiago foi se despedir dos padrinhos, os dois se voltaram para se despedirem do afilhado.


“Fique de olho no Tiago, tá bem?”, pediu Gina, depois de dar um abraço apertado e um beijo na bochecha de Ted, “E nos escreva, ouviu?”


“Vou escrever”, resmungou, abraçando o padrinho, “E pode esperar, porque o meu time vai ganhar o troféu esse ano”, provocou.


Harry riu.


“Se cuida, Ted”, lançou um olhar receoso ao filho, por cima do ombro, que estava prestando atenção em um discurso ‘as-regras-são-suas-amigas’ de Hermione, “E cuide do Tiago pela gente, você sabe como as pessoas têm o costume de ficarem... agitadas... ao ouvirem o nosso sobrenome”


“Não se preocupe. Vou cuidar para que não despedacem o menino”, colocou uma mão sobre o peito e ergueu a outra no ar, solene, “Eu juro”


“... e não quero mais saber desse tal de Thomas”, terminava Gui, que vinha puxando Victoire pelo antebraço, enquanto Fleur os observava, parecendo entediada, “E atenha-se aos estudos, ouviu? Colégio não é lugar para namoros, nem...”


Pai”, a garota gemeu, mortificada, “Posso embarcar agora?”


“Com quem você vai se sentar no trem?”, exigiu saber o homem.


“Com a Verônica, acho. E a Margo... se a encontrarmos”, a garota revirou os olhos castanhos e jogou os cabelos loiros para trás, “Posso ir, agora?”


“Só vão sentar vocês três?”, perguntou homem, desconfiado, os cabelos ruivos já apresentando alguns fios grisalhos.


“Pai!”, ela bufou, “Só, eu acho. Talvez o Travis...”


“Quem é Travis?”


“O namorado da... Ah, pai, assim vou desencontrar com as meninas!”, beijou o pai, apressada, na bochecha, e depois a mãe, “Vou escrever, prometo! Beijos!”, quando voltou-se para o trem, seus olhos encontraram o outro grupo de pessoas que os encarava.


Quando seus olhos encontraram os de Ted, seu rosto congelou numa careta de desgosto.


“Dá para sair da frente? EU preciso embarcar”, disse, num tom entediado, enquanto cruzava os braços na frente do peito, mas lançou o melhor sorriso arrogante na direção do garoto.


“Cordial como sempre”, resmungou, sarcástico, saindo da frente da porta e permitindo que a garota pulasse para dentro, “Usou as férias para melhorar sua convivência social? Ou você sempre foi esse doce de pessoa?”


“Se manda, Esquisito”, ela sussurrou, mas logo ergueu os olhos para os demais familiares, que conversavam entre si – com a exceção de seu pai, que a encarava, com a sobrancelha erguida.


Erguendo o queixo, ela entrou no trem.


Tiago começou a embarcar, depois de ouvir alguns conselhos dos pais, e Ted estava para segui-lo quando Gui o chamou.


Hesitante, o garoto lançou um olhar ao relógio, faltavam cinco minutos. Desceu do trem e caminhou com o homem para um lugar um pouco afastado do grupo, onde Fleur comentava com Hermione o quão ciumento o marido estava em relação à filha.


“A gente não pode andar muito, porque eu tenho que...”


“Quero que você fique de olho na minha filha”, disse Gui, rapidamente, num tom baixo, quase urgente.


“...eu tenho que embarcar e...”, piscou os olhos, confuso, “O quê?”


“Ela tá com quinze anos e os garotos estão em cima dela como se ela fosse um... pedaço de bife!”, Gui rosnou, irritado, “Então, por favor, fique de olho nela”


“Mas eu nem falo com ela!”, e, com toda a sinceridade, não tinha a mínima intenção de começar a fazê-lo naquele ano, “E não somos amigos. Seria estranho. Então, acho que é melhor...”


“Eu te pago”, o tom da voz beirava o desespero.


Ted ficou em silêncio.


“Não que eu aceitar”, pigarreou, “Mas de quanto estamos falando?”


“Um galeão por mês”, sugeriu.


Dois corvinais passaram andando, rápido, mas parte de sua conversa foi bem escutada pelos dois.


“Você consegue imaginar o que esse verão deve ter feito com a Victoire?”, um dos dois perguntou, maravilhado, o outro riu, malicioso.


Ted viu, no rosto furioso do mais velho dos Weasleys, a chance para uma boa barganha.


“Cinco galeões por mês”, alteou uma sobrancelha e estendeu a mão.


Gui mal pensou e apertou a mão do garoto.


“Nenhum garoto encostará nela”, Ted, solene, sacudiu a mão do homem, “Sempre um prazer fazer negócios com o senhor”


“TED!”, berrou Gina, gesticulando para o relógio.


O garoto acenou uma despedida com a cabeça e correu para dentro do trem.


Continua...

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