A voz misteriosa
Calor. Muito calor. Era o que Harry sentia confinado, como de costume, em seu quarto no número quatro da Rua dos Alfeneiros. No andar térreo, os Dursley riam – menos tia Petúnia, claro, Harry a achava incapaz de dar uma risada de verdade – assistindo a um programa de televisão.
Harry não agüentava mais; outro verão inteiro preso na odiosa casa dos tios, e sem quase nenhuma notícia do mundo bruxo... principalmente depois de tudo o que aconteceu no último ano em Hogwarts. Essas foram, sem dúvida, as férias mais duras que o garoto passou em companhia dos Dursley, desde a maravilhosa descoberta de que era um bruxo e iria para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
Ele só conseguia pensar no maravilhoso dia, dentro de uma semana, em que estaria voltando para a escola, revendo seus amigos e professores (não estava muito feliz em ter de ver Snape, mas, exceto isso, estava muito animado). Mas até lá, o jeito era continuar aturando os Dursley, da melhor forma que pudesse. O calor o estava deixando com muito sono, por isso se esticou em sua cama e ficou olhando para a janela até adormecer.
O que a princípio foi um sono tranqüilo, logo se transformou em intensa agitação. Mais uma vez ele revia em seus sonhos a morte de Cedrico Diggory, e o ressurgimento de seu maior inimigo: Lord Voldemort. Porém, de repente, o sonho mudou. Harry estava em uma sala escura, sentado em uma grande poltrona que cheirava a mofo. Olhando a seu redor, ele não podia ver nenhum outro móvel no recinto, havia apenas uma lareira, com algumas brasas já definhando, sequer emitindo algum calor. A um canto, uma gigantesca cobra, totalmente enrolada, parecia dormir. Foi então que ele ouviu aquela voz, que ele odiava e temia ao mesmo tempo ecoando na sala, como se saísse de sua própria boca:
- Harry Potter. Seja bem-vindo à minha mente. Não se assuste meu caro, esse é apenas um teste. Porém creio que teremos outros encontros como este muito em breve.
Harry estava agitado, queria desesperadamente acordar, mas quanto mais lutava, mais preso parecia ficar. E para tornar a situação ainda mais insuportável, não conseguia sequer responder ao que Voldemort dizia, a voz parecia ter ficado presa em sua garganta.
- Com pressa, Potter? Mas por quê? Nossa conversa está tão agradável...
E então, milagrosamente, ouviu primeiro muito baixinho, mas depois com mais intensidade, uma voz feminina, suave, porém forte, que lhe falava:
- Saia daí, Harry. Você precisa afastar-se dele, saia. Volte para casa, Harry, volte para a segurança...
E então ele acordou. Harry suava a cântaros, mas, de alguma forma, aquela voz misteriosa o havia deixado mais calmo e imensamente curioso. Quem seria ela? Como conseguira fazer aquilo? E porquê, de alguma forma, sua voz lhe passara tanta calma? Sua cicatriz ardia intensamente, talvez por causa do sonho, pensou ele. Aquilo era outro enigma. Fora um sonho? Fora real?
Tantas perguntas o deixaram totalmente desperto. Não conseguiria voltar a dormir; decidiu então que devia contar o acontecido a alguém. Mas quem? Talvez Dumbledore...
Não, não iria incomodar o diretor com um sonho durante as férias. Se escrevesse à Rony ou Hermione, seria o que eles lhe diriam para fazer. Mas então... quem?
- Sirius! Claro!
Pegou um pedaço de pergaminho e começou a escrever uma pequena carta ao padrinho. Talvez ele soubesse o que fazer, ou ao menos o significado de tudo aquilo. Após escrever, amarrou com cuidado, mas com firmeza, a carta na pata de Edwiges.
- Encontre ele rápido, está bem?
A coruja deu um pio alto, e saiu voando rapidamente pela janela. Logo, Harry só podia ver seu contorno escuro sob a luz fraca da lua.
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