Capítulo I



Capítulo I – Senhoras e Senhores, com vocês... Minnie Mac

Maio de 1938

Minerva McGonagall estava voando. Os seus braços estavam abertos e o seu corpo sobrevoava as verdes planícies e colinas da Escócia. A neblina era como um delicado véu gelado que resvalava por seu peito, tornando aquela experiência ainda mais agradável. Havia cervos e corças pastando sob o sol poente, completamente ignorantes de que um ser humano estava sobrevoando as suas cabeças.

Ela se sentia livre, como uma águia que poderia perder-se em todo aquele enorme e vasto mundo, sem importar-se para onde ia ou se algo a esperava. Era apenas ela e nada mais. Não havia horários e Minerva poderia conhecer todo o mundo. Ali, voando, ninguém poderia vê-la, ninguém poderia encontrá-la. E ela queria sentir-se ainda mais livre!

O seu vôo tornou-se ainda mais veloz e ela rumou em direção ao poente, os seus olhos incrivelmente não se feriam diante da intensa luminosidade da enorme esfera alaranjada e quente. Apenas lhe aumentava o desejo de seguir em frente, chegar ao mar e atravessá-lo, continuando numa trilha sem fim, para até onde as suas forças agüentassem sustentá-la.

A costa escocesa surgiu à sua frente. As ondas turbulentas e altas se chocando violentamente contra o alto rochedo. Para Minerva era tudo magnífico, pois, adiante dela, estava o infinito, descortinando-se em um leque infinitos de possibilidades, descobertas, sonhos...

Minnie...

E Minerva atravessaria cada canto desse infinito azul e magnífico. Ninguém jamais a alcançaria. Ela era livre sim, e para fazer o que quiser. Ela chegaria até o fim de todos os lugares que jamais havia visto. Seria a mais completa das pessoas...

Minerva!

Mas, de repente, o mar pareceu aproximar-se mais dela. Para o horror de Minerva, ela reparou que estava perdendo altitude! O que estava acontecendo afinal de contas?! Parecia que estava perdendo o dom de voar! Alguém a estava puxando para baixo! Mas ela queria voar! Queria! Iria atravessar o oceano e ninguém iria detê-la! Ninguém! Ninguém...

— SRTA. MCGONAGALL!

O susto que Minerva tomou foi tão grande que o seu corpo adormecido escorregou da cadeira e foi encontrar o chão, para a explosão de risos de toda a sala. Ainda muito sonolenta, a garota sentou-se no chão e esfregou os olhos, abafando um enorme bocejo. A primeira coisa que viu com precisão foi um par de sapatos velhos e gastos. Os seus olhos negros foram subindo e ela encontrou pernas. Deveras interessante!, ela pensou, sarcasticamente. O seu olhar continuou a subir. Depois das pernas ela encontrou um tronco, dois braços e, enfim uma cabeça velha, cheia de pêlos brancos e com uma expressão nada satisfeita.

Colocando o seu mais inocente e convincente sorriso nos lábios, Minerva exclamou, em alto e bom som:

— Prof. Binns! O senhor por aqui! Que agradabilíssima surpresa! – ela não se levantou, continuando a fitá-lo de baixo. – O que faz em tão belo dia por estas bandas?

Toda a sala continuou a rir abafadamente e o rosto do professor começou a corar-se. Binns crispou as mãos e seus lábios formaram um perigoso esgar.

— Vejamos, o que eu faria em minha sala de aula, Srta. McGonagall?

Minerva abraçou os joelhos, se recusando a sair do chão. Sua face assumiu um tom decididamente pensativo enquanto o seu olhar lançava-se direto para o teto, seus lábios contorcidos para um dos lados. Quando ela ficou mais de dez segundos naquela posição, Binns cruzou os braços e começou a bater com pé no chão, rápida e irritantemente. A garota finalmente voltou a encará-lo.

— Realmente não faço idéia do que o Sr. poderia fazer aqui, Sr. Binns! Ensinar é que não é! – o rosto do professor empalideceu-se. – Talvez... Uma sessão de relaxamento, eu suponho? Se for, devo dizer que os resultados são excelentes! Tive um sono reparador!

A palidez de Binns tornou-se, no mesmo instante, vermelhidão enquanto ele encarava o rosto convencido e superior da garota aos seus pés. De vermelho, o seu rosto foi começando a atingir um tom de roxo e ninguém iria se impressionar se fumaça começasse a sair de seus ouvidos. O sorriso de Minerva só se ampliava, para o aumento da fúria do professor.

— Detenção, McGonagall. – ele sibilou entredentes, quase ofegante, seus olhinhos foscos cintilando em raiva. – Menos dez pontos para Gryffindor e se retire da minha sala neste mesmo instante!

Minerva nem sequer pestanejou. Levantou-se, com todo o seu orgulho intacto e fez uma enorme e exagerada reverência ao professor. As pessoas ao redor temeram que ele a agredisse, mas Binns mantivera-se imóvel, apenas o seu queixo tremia. A menina sorriu, e acrescentou, enquanto caminhava para fora da sala.

— Prof. Binns, o senhor realmente é muito gentil! Obrigada por me proporcionar um agradável fim de tarde sem a falação de um velho asmático! – ela virou-se ao batente da porta e deu uma risadinha baixa, sussurrando. – Mesmo você sendo um velho asmático, Binns, confesso que o senhor mora em meu coração! – Binns fechou os olhos, o roxo de seu rosto começando a tornar-se verde quando ela fez menção de partir, mas novamente voltou. – Pensando melhor... Não. Você não mora no meu coração! – Minerva McGonagall piscou e desapareceu pela porta.

Enquanto Binns ainda arfava, olhando por onde ela havia desaparecido, a sala de aula explodiu em palmas e vivas e risadas, todos claramente aprovando as palavras da garota. Binns fechou os olhos e virou-se, caminhando de volta para a sua mesa, fingindo não ouvir os aplausos. A garota que estava sentada ao lado de Minerva sorriu, como que já acostumada àquilo e disse em voz baixa e em tom solene enquanto Binns rabiscava no quadro negro:

- Senhoras e senhores, com vocês: Minnie Mac...

– x –


Nome: Minerva Amabilia McGonagall. Idade: 12 anos. Casa: Gryffindor. Série: 1º Ano.

Mas nada disso descreveria o que Minerva realmente era. A palavra que os professores mais usavam quando o assunto “Minerva McGonagall” vinha à tona era: problema. Pois sim, a garota era a personificação da palavra. Desde o primeiro momento em que colocara os pés no castelo isso ficou bem claro para o corpo docente. Afinal, qual calouro faria uma grande reverência, balançando o Chapéu Seletor, logo após de ser selecionado? Ninguém sabia de um precedente como esse. Mas Minerva McGonagall o criou.

Durante as primeiras semanas de aula, todos acharam que a sua incrível exibição durante o banquete de início de ano letivo havia sido um caso isolado. Minerva se mostrara uma excelente aluna, bastante assusta e aparentemente comportada. Mas assim que a segunda semana de estudos teve início os desastres envolvendo-a começaram. Debochar dos professores era apenas a menor das confusões que Minerva arranjara. O professor de Poções, Horace Slughorn que diga! Ele recebera de Minerva uma Azaração das Pernas Presas durante uma de suas aulas. Ele fora a piada da escola durante os dois meses seguintes.

Não havia o que segurasse a pequena Minerva. Já havia batido o recorde de detenções que um aluno do primeiro ano já havia recebido. Quinze até o mês de maio, para sermos mais exatos. E também perdera mais pontos para Gryffindor do que qualquer outro aluno.

Em compensação, ganhara outros tantos. Nenhum dos professores podia negar que a garota era um pequeno gênio. Não precisa ouvir mais do que uma vez a forma cabalística de um feitiço para aprendê-lo e realizá-lo com perfeição. As únicas dificuldades que ela tinha eram em Poções e Transfigurações. O que os professores dessas matérias aproveitavam muito bem para humilhá-la e dar o troco dos maus tratos que sofriam das mãos da doce garota.

Entre os alunos, Minerva era a aluna do primeiro ano mais comentada. Os seus companheiros de série simplesmente admiravam e seguiam os seus passos por onde ela fosse. Os alunos mais velhos dividiam-se entre incredulidade e confusão. Nenhum deles ainda achava possível que aquela menina realmente existisse. Mas Minerva McGonagall era bem real sim. E exatamente da maneira em que acaba de ser descrita.

– x –


Depois de ser expulsa da sala de aula de História da Magia, Minerva realmente não sabia para onde ir ou o que fazer. Sua bolsa havia ficado na sala de aula, nem se interessara em pegá-la. Sua amiga, Cassiopeia a traria para ela, certamente. Binns realmente lhe estragara o humor. Ela estava tendo um sonho realmente maravilhoso antes de ele ter a falta de educação de acordá-la. Será que ele não tinha o menor respeito? Não sabia que era muito feio e de mau gosto acordar pessoas adormecidas?

— A mãe dele não deve ter lhe dado educação alguma! – ela resmungou quando saiu para os jardins do castelo.

Maio já estava no fim e o verão parecia ter chegado bem mais cedo naquele ano. O sol estava tão forte que Minerva sentiu uma imensa vontade de jogar-se dentro do lago. Mas, ao invés disso, ela caminhou, displicentemente, em direção ao campo de Quadribol. Tirou sua capa e jogou-a por cima do ombro enquanto olhava pequenos pontos vermelhos voando de um lado para o outro. O time de sua casa parecia estar fazendo um treino de despedida antes que as férias de verão começassem. Afinal, era o último ano de um dos artilheiros do time. E ano que vem eu serei a nova... Ela acrescentou-se em pensamento, enquanto subia as escadas da arquibancada, até o ponto mais alto do estádio.

Os jogadores nem se deram por ela, continuaram o seu treino no mesmo ritmo. Minerva adorava o esporte. Desde que era uma menininha e o seu pai a levava aos estádios, para ver os jogos do Montrose Magpies tornando uma torcedora inveterada do time e fã insaciável do esporte. Ainda estava inconformada por não ter entrado no time por ser “nova demais” e, isso foi o que mais a irritou, por ser uma menina. Mas no ano seguinte eles iriam ver só uma coisa... A se iriam!

Ela fez um pequeno travesseiro com a sua capa e colocou-a sobre o assento, deitando a cabeça sobre ele ainda olhando os sete jogadores de um lado para o outro. Ela suspirou, sua longa saia balançando contra a brisa que vinha de encontro a ela. E, sem que ela percebesse, já havia adormecido.

– x –


— Há! Eu sabia que iria encontrá-la aqui!

Minerva abriu os olhos devagar, pronta para azarar quem quer que fosse. Já era a segunda vez no dia que a acordavam de um bom sonho. Do mesmo sonho. E já estava realmente cansada disso. Mas logo reconheceu Cassiopeia, o seu sorriso bobinho estampado na face, parecendo realmente encantada de ter encontrado a amiga. Minerva soltou o punho da varinha e soltou um gemido quando se sentou no banco de madeira. Surpreendeu-se quando reparou que o céu já estava quase escuro. Havia dormido tanto assim? O time de Quadribol nem estava mais ali.

— Trouxe minhas coisas? – Minerva suspirou, olhando para os olhinhos azuis da menina, que presos em seu rosto.

Como o esperado, Cassiopeia havia pegado a mochila de Minerva e trazido até ela. Quando pegou de volta seus pertences, Minerva sequer agradeceu. Mas a sua amiga não se ofendeu. Estava bem mais acostumada com isso já depois de quase um ano convivendo com Minerva McGonagall. Depois de algum tempo, Minerva até começava a tornar-se previsível.

— Você deixou o professor Binns realmente irritado desta vez. – Cassiopeia disse, em voz baixa, desviando o olhar do rosto de Minerva. – Nunca o vi passar tanto dever. Nunca vou conseguir terminar até a semana que vem!

Minerva riu, descontraída e levantou-se, espreguiçando-se.

— Eu lhe ajudarei, não se preocupe. – ela piscou. – E vou deixá-lo ainda mais irritado quando ele tiver que me dar um dez para esse dever gigante.

— Eu não entendo porque você faz isso, Minnie! – Cassiopeia riu, se levantando e seguindo a outra, que já descia as escadas da arquibancada.

Ela não disse nada imediatamente. Parecia pensar na resposta. Mas já há muito tempo sabia o porquê não dava a menor paz a nenhum dos professores de Hogwarts ou qualquer outro funcionário.

— Porque não tem nada mais divertido para se fazer!

Cassiopeia riu da resposta, mas não discutiu. Tinha que admitir que não havia nada mais divertido do que ver Minerva McGonagall caçoando com os professores que não faziam idéia de como respondê-la, sem perder a classe. Ela amava os momentos passados ao lado daquela que já era a sua melhor amiga. Haviam-na feito esquecer-se de todos os seus problemas. Principalmente os seus problemas com os Slytherins. Minerva conseguira fazer um pequeno grupo de garotos do quarto ano da Casa da Cobra perderem a compostura quando ousaram chamá-las de Sangue-Ruim.

Elas atravessavam em direção às portas do castelo quando Minerva parou e Cassiopeia quase trombou às suas costas por estar tão distraída em pensamentos.

— O que foi?

Minerva apontou um ponto meio ao longe.

— Quem é aquele?

Olhando na direção em que Minerva apontava, Cassiopeia viu, muito distante, próximo às portas que levavam ao Saguão de Entrada do castelo, um homem alto, mas quase indistinguível àquela distância. Mas não lembrava à Cassiopeia ninguém que ela conhecesse. Ela encolheu os ombros mas teve que falar a sua opinião ao perceber que Minerva não a estava olhando.

— Não faço a menor idéia.

— Não parece ninguém que eu conheça. – Minerva disse, colocando em palavras a mesma coisa que Cassiopeia havia pensado. Então um sorriso malvado surgiu em seus lábios. – Talvez você não tenha que fazer a sua tarefa de História da Magia, Cassie. Com sorte, Prof. Binns acaba de se demitir e aquele pode ser o seu substituto!

Cassiopeia não pôde deixa de rir quando as suas voltaram a andar, Minerva rindo com ela.

— Não somos tão sortudas assim, Minnie, aposte isso! AH! – Cassiopeia deu um tapa na própria testa, se lembrando de algo. – Binns lhe mandou isto.

Minerva pegou o pedaço de pergaminho que Cassiopeia lhe estendia e leu rapidamente o que havia escrito ali em letras miúdas e trêmulas. Ele certamente ainda estava com raiva quando escreveu o bilhete com a hora e o local da detenção de Minerva. Com o rosto incrédulo, virou-se para Cassiopeia, mostrando-lhe o bilhete.

— E o que isso tem a ver com sorte, Cassiopeia?

— Tem tudo a ver com a falta de sorte, Minerva! – Cassiopeia devolveu e, deu uma incontrolável risada. – Só não sei sua ou de quem irá supervisioná-la!

Mas, quando viu o olhar afiado de Minerva, teve que certeza absoluta que a falta de sorte era do pobre professor Slughorn, que iria instruí-la em como fazer compostas em conserva de ovas de rãs siamesas.


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N.A.: dhausdhusahdusahduasu
Não me batam! ._." Bem, capítulo pequenininho só pra começar! Devo continuar? =P

→ Tash LeBeau

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