Perdendo o juíso
CAPITULO VII
CAPITULO 8
Luna voltou para o quarto e fechou-se novamente. Mas agora não podia descansar. Sua mente estava perturbada pela discussão que tivera com Blaise e ela se debatia na cama. Sentia-se isolada, como se os vidros das janelas a fechassem em uma estranha concha silenciosa da qual começava a pensar que jamais escaparia. Mais além, Londres se estendia por quilômetros, uma cidade estranha e solitária, sem nenhuma semelhança com a sua Atenas. Quantos outros seres humanos estariam sozinhos, em quartos silenciosos, olhando para o horizonte e sentindo-se como numa ilha deserta?
Fechou os olhos, tentando fazer de conta que estava em Atenas. Lembrou-se do perfume forte das ruas no verão, do céu azul, da luz brilhante do sol, que cegava e que dava à paisagem uma beleza inesquecível. No tempo tinha sido somente há alguns dias; no espaço, uns poucos quilômetros. Entretanto, parecia-lhe ser um outro planeta.
Coisas demais haviam acontecido desde que deixara a vila. Algum processo químico devia estar funcionando em seu sangue e sentia as células se dissolverem nas emoções que Blaise lhe despertava. Se ele lhe desse uma outra oportunidade de telefonar, poderia chamar a polícia. Por que não tivera essa idéia antes? Mas, ao chegar, não conseguira pensar direito. Mesmo que ele tivesse me dado a oportunidade de ligar, pensava, com amargura, eu a teria usado?
A luta entre eles transformara-se num duelo feroz do qual, sabia, seria ele o vencedor. Não acreditava que Blaise usasse a força. A idéia era por demais insuportável. Ele tentaria persuadi-la, seduzi-la, induzi-la a aceitar. Se fizesse isso, ganharia. Aquele duelo era muito mais do que simplesmente ir para a cama com ele ou não. Seu auto-respeito estava em jogo, assim como sua reivindicação de dignidade pessoal como mulher.
Havia deixado seu lar, sua família e seus amigos para afirmar-se como ser humano. Se Blaise realmente a amasse, não falaria com ela como se fosse uma idiota, uma cabeça-de-vento que esperava ser submetida para poder ter uma desculpa, dizendo que a intenção não fora sua. Partira da Grécia exatamente para ser dona da própria vida e Blaise recusava-se a compreender isso.
Enquanto estava ali, deitada, absorta em pensamentos, a luz do dia quase desaparecera. As lâmpadas da rua se acenderam e uma chuva fina começou a bater na janela, carregada pelo vento. Luna suspirou, com o corpo sacudido pela ansiedade.
— Luna! — Blaise bateu na porta.
— O que é? — respondeu, esquecendo que não pretendia fazer isso.
— Está com fome?
Fechou os olhos.
— Não.
— Não gostaria de uma refeição leve? Ovos mexidos? Um sanduíche ou qualquer coisa simples?
Parecia calmo e razoável. Olhou para a porta e desejou que ele ficasse sempre assim, mas sabia que se transformaria novamente num atacante feroz, se abrisse a porta.
— Não.
Blaise não respondeu. Ouviu-o afastar-se e ficou triste. Estava cansada, enjoada do pequeno quarto, do brilho alaranjado das luzes da rua através da chuva. Uma onda de nostalgia trouxe lágrimas a seus olhos. Tinha frio. Sentia saudade do sol, do canto das cigarras e do murmúrio do mar. Desejava que Blaise voltasse. Queria ouvir a sua voz, mesmo que não respondesse. Ele era um outro ser humano, embora fosse o responsável por seu isolamento e solidão.
Tremendo, saiu da cama e começou a despir-se. Seria melhor tentar dormir. Vestiu a camisola mais grossa que tinha e fechou as cortinas. A luz ao lado da cama banhava o quarto de amarelo, e Luna, deitada novamente, observava as figuras formadas pelas sombras.
Os passos de Blaise chamaram-lhe a atenção. Pararam perto da porta e seu coração disparou dentro do peito como um animal assustado. Por um momento ele não falou, respirando baixo. Podia senti-lo hesitante.
— Luna. Está dormindo?
Ela fechou os olhos e não respondeu. Ouviu-o tocar na porta, sem violência, com as mãos passeando sobre a madeira num estranho som, como se estivesse silenciosamente implorando por ela.
— Luna — repetiu, num murmúrio atormentado.
Ela tremia violentamente sob as cobertas, com as mãos crispadas. O vento jogava a chuva contra a janela. Ouvia aquele som, assustada, como se fosse um grande barulho, mas, na verdade, era um suave tamborilar. Os passos de Blaise afastaram-se novamente e ela ficou mais calma. Estava começando a dormir quando ouviu-o abrir a porta da frente. Pulando da cama, pôs-se a escutar. Não ouvia vozes. Teria chegado alguém? Ou Blaise tinha saído?
Pé ante pé, encostou-se à porta para ouvir melhor. Será que saíra, achando que ela estava dormindo?
Destrancou a porta e olhou para fora. Ele a havia apanhado desprevenida antes, mas agora estaria alerta. Se ele tivesse saído, não poderia perder a oportunidade de escapar só por medo de correr um risco.
Olhou para dentro do outro quarto. Estava completamente escuro. Devia ser o quarto de Blaise. Saiu e começou a procurá-lo pelo apartamento. Não havia sinal dele. Apressadamente, Luna correu para o quarto e começou a tirar a camisola. Não tinha tempo para procurar roupas na maleta, por isso apanhou o jeans. Nesse momento, um som fez com que empalidecesse e o coração disparou.
Blaise estava de pé junto à porta, olhando-a com olhos famintos, que deslizavam sobre seu corpo nu.
Houve um segundo de pânico total. Ela não pôde sequer mover-se, paralisada pela insistência de seu olhar. Depois, apanhou uma coberta, com as mãos trêmulas. Blaise fechou a porta e trancou-a.
— Não!
— Você é tão linda! Desde aquela noite em que a vi na janela, tenho esperado como um homem enfeitiçado para vê-la novamente do mesmo jeito.
Encarou-o, insegura sob as pesadas dobras da colcha.
— Onde é que você estava?
— No meu quarto.
— Ouvi barulho na porta da frente.
— Era Pansy indo embora. Ela nos trouxe comida. Pedi-lhe isso para não precisar sair.
— Você me enganou, fingindo que tinha saído.
— Faço qualquer coisa para conseguir você — disse, com impaciência. — Não pode entender isto?
— Mesmo esconder-se num quarto escuro, como um criminoso?
— E o que importa isso? Você me enfeitiçou, está no meu sangue, como um germe que me destrói, Luna. Não poderei dormir à noite até que a tenha nos meus braços, na minha cama.
Sua voz ficava rouca e mais profunda à medida que falava. Quando finalmente calou-se, começou a desabotoar a camisa, com mãos trêmulas.
— Blaise, se você se aproximar mais um passo, eu o odiarei pelo resto da vida! — disse, afastando-se e enrolando-se mais na grossa colcha.
Ele jogou a camisa no chão, rindo.
— Isso veremos depois. Não vou ficar perseguindo você pelo quarto como num filme cômico. Por isso, não banque a tola.
Seu rosto estava iluminado por uma paixão que a aterrorizava. Os olhos moviam-se sobre ela, mas não se aproximou mais. Luna sentia uma leve esperança. Blaise estava ali com ela e tentava forçá-la, mas ainda não acreditava que ele fosse capaz disso. Estava visivelmente hesitante.
— Se você me amasse, Blaise, nem pensaria em agir assim.
— É claro que a amo — gaguejou, mas não moveu-se. Transpirava na testa.
— Como pode dizer isso?
— Luna, amo você, querida, deixe-me provar isso. Não vê que estou morrendo por sua causa? — Deu um passo, e ela recuou de novo, ansiosa. Os olhos de Blaise eram uma súplica raivosa. — Não é minha intenção forçá-la, mas sei que é o que ambos desejamos, embora você não confesse.
Luna tateou, procurando alguma coisa que pudesse usar como defesa. A única coisa que achou foi um pequeno vaso de vidro com alguns amores-perfeitos. Atirou-o em Blaise, que se desviou. O vaso espatifou-se na parede e ele praguejou. Luna correu para a porta, mas foi apanhada antes de conseguir abri-la.
— Blaise! — soluçou, em pânico.
A colcha foi arrancada e jogada para um lado; Blaise a devorava com os olhos. Num reflexo impensado, amedrontada pela expressão dele, ela escondeu o rosto em seu ombro, curvando o corpo junto ao dele, para esconder a nudez. Blaise respirou fundo e abraçou-a.
Sua pele aquecia o rosto dela e o coração de Blaise batia forte contra seus seios. Ele passou a mão pelas curvas de seu corpo; Luna sentiu-se desfalecer. Lembrou-se da noite em que apareceu na janela e foi observada, por um rápido momento, por aqueles olhos famintos. Tinha certeza de que ele também estava se lembrando daquilo. Blaise inclinou-se para beijar-lhe o pescoço, murmurando:
— Oh, Luna, até que enfim! Tenho desejado tanto você, desde aquela noite!
Blaise estava em sua mente, também. Ambos sabiam, quando se olharam, naquele silêncio febril. O desejo tomou conta dela e toda a sua capacidade de pensar desapareceu. As mãos e a boca de Blaise a estavam enlouquecendo. A armadura que a havia protegido desde que entrara naquele apartamento caía aos pedaços, e as emoções que a assaltavam roubavam a força necessária para lutar.
Blaise segurou seu queixo e, com firmeza, obrigou-a a encará-lo. Os olhos estavam iluminados pela paixão. Sem uma palavra, ele baixou a cabeça e ela ofereceu-lhe os lábios, com uma submissão infantil. O beijo transformou-se de um simples roçar de lábios numa carícia ardente. Encostou-se nele, entregando-se sem resistência.
Blaise parou de beijá-la e olhou-a novamente, com um sorriso triunfante. Luna sentiu um aperto no coração. Quando ele a tomou nos braços e a carregou para a cama, ela se debateu como alguém se afogando, tentando acordar daquele pesadelo antes que fosse tarde demais. Blaise colocou-a gentilmente na cama, ajoelhando-se ao lado e apagando o abajur. Ela tentou fugir; ele a segurou.
— Não comece tudo outra vez, Luna — disse calmamente.
— Não posso deixar você fazer isso comigo, Blaise. Não pode ser. Não vou deixar!
— Pelo amor de Deus! — ele gritou. — Quer me enlouquecer? Estamos nesse chove-não-molha há um tempão e agora que tudo parecia resolvido você vai mudar de idéia? Você está me desejando tanto quanto eu a você. Pare com essas brincadeiras idiotas, estou perdendo a paciência!
— Não estou fazendo brincadeiras idiotas — respondeu, amedrontada pelo ódio dele, mas recusando-se à submissão. — Recuso-me a ir para a cama com você e tenho certeza de que não me forçará a isso, Blaise.
— Não esteja tão certa assim — ele grunhiu, o rosto tornando-se vermelho de raiva. Olhou para ela, os dentes cerrados. — Dou-lhe mais uma oportunidade de desistir dessa ridícula teimosia. Uma só.
— Se você me tocar, eu o odiarei! — Luna afastou-se, encostando-se na cabeceira da cama e apertando fortemente os lábios.
Blaise caminhou pelo quarto, a expressão dura.
— Pode me odiar, então — disse, finalmente, puxando-a e fazendo-a deitar-se novamente.
Antes que Luna pudesse fugir, ele estava ao seu lado. Sentiu-se cega, indefesa. Blaise apertava-a com força, as mãos percorrendo seu corpo trêmulo.
— O desejo não é só meu Luna; você também me quer — sussurrou, com voz trêmula. — Você vem me seduzindo desde que nos encontramos, deixando-me louco, sem pretender me dar o que seu corpo me promete cada vez que o toco. Se você, sinceramente, nunca me desejou, deveria ser bem clara. Mas, embora proteste e me empurre para longe, quer ter sempre a certeza de que me faz correr atrás de você, não? Seu corpo a condena.
Ela via o brilho de seus olhos no escuro e sentiu a sua mão fechando-se sobre um seio.
— Oh, não! — murmurou, tentando combater a sensação de intenso prazer.
— Oh, sim — disse Blaise, colocando o rosto afogueado entre seus seios. — Meu Deus, como a desejo! Confesse que me deseja também.
Mas Luna estava por demais ocupada, tentando livrar-se daquela sensação do sangue latejando nos ouvidos, e lutando para impedir Blaise de separar suas coxas. Ele ficou zangado e passou a usar a força para vencê-la. Tensa, a moça se debatia sob o peso do corpo dele.
— Não!
A boca de Blaise interrompeu aquele grito selvagem. Um segundo depois, outro grito abafado, agora de dor. Mas nem isso fez com que ele parasse. Luna empurrou-o, desesperada, cravando as unhas em seus ombros nus. Ele pareceu não sentir. Beijava-a avidamente, segurando-a com uma força da qual não podia escapar.
Os olhos fechados de Luna encheram-se de lágrimas ardentes. Blaise percebeu e levantou a cabeça, gaguejando uma imprecação.
— O que é que há? — perguntou, impaciente, olhando seu rosto pálido na escuridão.
— Você me machucou!
— Desculpe, não foi de propósito. Por Deus, Luna, você me deixa alucinado.
— Você me machuca — repetiu, com as lágrimas rolando pelo rosto.
— Não chore — sussurrou, beijando suas faces. — Que diabo, Luna! Não quero machucá-la. Só desejo amar você.
— Amar? — soluçou, quase rindo, em meio à raiva.
Blaise beijou-a ternamente, com os lábios mornos e carinhosos.
— Luna, Luna, querida — disse, junto à sua boca. — Desejo-a loucamente.
Ela estava ali, deitada, trêmula, com a boca entreaberta e sentindo-se subjugada por aqueles beijos. Blaise acariciou-a com meiguice, como se ela fosse um animal assustado, movendo a mão dos seios para as coxas.
— Você é tão maravilhosa. Pare de lutar comigo querida.
Luna ouvia, sem se mover, dominada por aquela carícia que provocava uma estranha fraqueza. Quando ele a beijou na boca, não fez nenhum esforço para rejeitá-lo. Achou o beijo delicadamente agradável. Aos poucos, tornou-se mais intenso e apaixonado, e ela correspondeu.
— Oh, Luna — sussurrou, enrijecendo o corpo, como se sua atitude carinhosa o excitasse ainda mais.
Ela tentava não perder a cabeça, mas já estava dominada pela própria paixão. Enlaçou o pescoço dele com os braços. Seu corpo tremia e vibrava. Com os olhos fechados, entregou-se às sensações de prazer e às envolventes ondas de excitação intensa, até seus corpos se tornarem um só.
Luna continuou deitada, os olhos fechados, tremendo, e Blaise deitou-se a seu lado, ofegante. Livre agora do desejo, uma tristeza imensa começou a tomar conta dela. O que acabara de acontecer fez com que se sentisse uma traidora de si mesma. Queria estar morta, pensou, escondendo o rosto úmido de lágrimas entre as mãos.
Blaise inclinou-se e beijou seu ombro nu.
— Pensei que fosse morrer — disse ele, com voz doce. — Fantástico, não foi, querida? — Acariciou ternamente seus seios. Luna não respondeu. — Assim que perdeu o medo, percebeu que eu tinha razão, não é? Era o que você queria, também.
Não podia mais negar. O fato de achar Blaise sexualmente atraente estava fora de dúvida. Também via nele muitas outras coisas. Queria fazê-la confessar que o desejava. Pensava provar, assim, que todas as mulheres cediam, se o homem fosse suficientemente persistente e determinado. Ele a havia tomado sem a menor consideração, recusando-se a deixá-la decidir por si mesma. Nunca o perdoaria por isso. Vencendo sua resistência, Blaise a fizera sentir-se tão desprezível como achava que ela era.
— Está muito calada. Ainda surpresa por descobrir que gostou? — Riu ao dizer isso, e ela o odiou mais do que nunca.
Como Luna não respondesse, ele apoiou-se num cotovelo para olhá-la. Ficou aborrecido, ao ver as lágrimas.
— Que diabo, você está chorando de novo! Não vai se desmanchar em lágrimas, cada vez que formos para a cama, vai?
Estava tentando fazê-la rir, tentando despertar seu bom humor, já que se sentia radiante, vibrando com o prazer que havia conseguido dela. Luna não disse uma palavra; olhou-o, indiferente. O desgosto e a raiva misturavam-se à tristeza.
— E agora, o que acontece? — perguntou a Blaise, impaciente.
— Santo Deus, Luna, você sabe ser irritante! Não tente me fazer de bobo, fingindo que não sentiu prazer tanto quanto eu, porque sei que sentiu. Na primeira vez é assim, sei que dói um pouco; e eu fui um tanto rude para com você, desculpe. Acredite, não pretendia ser, só fiquei com um pouco de raiva. Mas depois foi maravilhoso, não foi?
Luna suspirou, tristonha.
— Não finja ignorar a minha presença — explodiu Blaise, segurando-a pelos cabelos. — Estou falando com você. Responda!
Luna sacudiu silenciosamente a cabeça. A alegria desapareceu dos olhos dele.
— Entendo. Esse é o tratamento que vou ter de agora em diante, não é?
Um segundo depois, levantou-se e apanhou as roupas. Ela não o olhou, enquanto se vestia rapidamente; só percebeu seus gestos bruscos, raivosos. Não se importava, seu corpo estava exausto e a mente vazia. Blaise voltou-se para olhá-la. Ela não o encarou, mas pôde sentir sua terrível impaciência.
— Se quer ficar de mau humor, problema seu. Mas, pelo menos, seja honesta. Toda esta cena é porque não somos casados? Você teve a sua oportunidade de casar e ir legalmente para a cama com um homem, mas não a quis. Não desejava esse homem e não estava preparada para assumir o casamento. Mas você me deseja, e eu só não lhe dei anel e um pedaço de papel dizendo que isso é legal... Esse é que é o ponto, não é?
Luna olhou para ele, o rosto contorcido por uma amarga ironia.
— Você não conseguiria entender, nem se esforçando, se eu lhe dissesse.
— Pois tente!
— Tenho tentado. Mas você e eu não nos comunicamos.
— Acabamos de fazer tudo — disse Blaise. — E maravilhosamente!
Ela mordeu o lábio e desviou o olhar.
— Quem precisa de palavras, se pode se comunicar dessa forma? — Estava novamente carinhoso e ria.
— Isso não foi comunicação, foi luxúria.
Blaise praguejou, furioso.
— É uma grande mentira! Tinha que fazê-la admitir a verdade sobre si mesma, e só havia esse meio. — Encaminhou-se para a porta e abriu-a. — Luna, depois que se refizer do primeiro choque, perceberá que está armando uma enorme confusão por nada.
— Vá embora! Gostaria de nunca ter saído de Atenas.
Blaise retesou o corpo.
— Sabia que era isso o que estava no seu subconsciente! Está com medo do que Arthur irá pensar, quando souber que você está morando comigo, não é? Posso lhe dizer o que ele vai pensar: ficará louco de ciúmes. Mas não há nada que ele possa fazer. — Riu, com o rosto congestionado de raiva. — Agora você me pertence e vai ficar comigo. Arthur que vá para o inferno!
Bateu a porta, e Luna ouviu-o afastar-se. Sentia-se mal. Até onde a determinação de Blaise em conquistá-la era provocada pelo ódio que tinha de seu padrasto? Cada vez que mencionava Arthur, Blaise tornava-se violento. Seu padrasto o tratara com polido desprezo na primeira vez que fora à vila; além disso, tinha sido bastante arrogante, deixando-o perceber que o considerava um inferior.
Luna imaginava se teria representado alguma forma de vingança o fato de Blaise roubá-la de Arthur. Ele era estranhamente contraditório no que se referia ao seu sangue grego. Nunca mencionava a mãe, e podia entender por quê. Seu desprezo pelas mulheres vinha do exemplo dela. O fato de Arthur ser grego e parecer possessivo em relação à Luna podia muito bem ser um incentivo para a sua insistência em persegui-la. Talvez ele nem tivesse consciência dessa motivação; a sua obsessão por ela era um duplo desejo de vingança contra as mulheres e os gregos.
Sabia que não dormiria. As horas passavam devagar. Ouviu um leve ruído e uma música baixa na sala de estar. Blaise também estava acordado. Foi só de madrugada que ela percebeu o que ele estivera fazendo. Ouviu passos inseguros vindo em direção ao quarto do lado, a porta bateu e ele soltou uma praga abafada, quando tropeçou em alguma coisa.
Blaise estava bêbado, tinha certeza. Durante alguns momentos, escutou-o andar pelo quarto; depois, finalmente, o ruído das molas do colchão. Logo após, o apartamento ficou em completo silêncio.
Luna levantou-se, vestiu-se e apanhou a maleta. Nenhum som vinha do quarto de Blaise. Foi até o hall e experimentou a maçaneta. Ainda estava trancada. Colocou a maleta no chão e, em silêncio, dirigiu-se para o quarto de Blaise. A porta rangeu ao ser aberta. O quarto estava mergulhado na semi-obscuridade da madrugada. Luna olhou rapidamente para a cama. Ele dormia profundamente, suas roupas estavam espalhadas pelo chão.
Ela começou a remexer nos bolsos, com as mãos trêmulas. Finalmente, achou um chaveiro. Tornou a olhar para Blaise, ansiosa. Tinha certeza de que ele não acordaria, pois estava completamente bêbado.
Tentou quatro chaves, antes de acertar. Carregando a maleta desceu a escada. A porta da frente da casa também estava trancada. Destrancou-a e deixou a chave na fechadura, para que Blaise a achasse ao acordar.
Londres ainda dormia; as ruas cinzentas estavam vazias, exceto pela presença de um ou outro madrugador. Luna não sabia para onde ir, nem mesmo onde, exatamente, se encontrava. Só sabia que ali era Knightsbridge. No momento, o resto não parecia importar. O principal era fugir de Blaise e de todo aquele triste episódio que a deixara sentindo-se traída e doente.
~*~
Oi meu povo!
Sei que demorei pra att, mas é que eu ando muito ocupada com os estudos, sabe? E as coisas agora só tendem a piorar. x)
Mas não se esqueçam de comentar!
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