Capítulo XX
Capítulo XX – O novo Sr. Sedução
- Volte pra cá, querida! O que pensa que está fazendo?
- Não consigo, Pierre...
- Está fugindo dos seus problemas.
- Claro que não... estou só...
- Fugindo dos problemas. – Pierre completou. – Ele estará aí...
- Quem?
- James! Seu queridinho.
- Como você sabe? Intuição feminina?
- Experiência, querida. Ele vai atrás de você...
- Mas só você e meus pais sabem que eu vim pra cá. Não contou a ele, contou?
- Não. Mas ele vai descobrir. Hoje em dia ninguém some do mapa, Anne. Não se pode mais se esconder.
- Ele não vai vir, Jean. Está com Julie.
Ele suspirou.
- Quer apostar com seu cabeleireiro? Está louca?
- Se ele vier, eu vou para outro lugar.
- Vai fugir de novo. Vai ficar assim pra sempre é? Gastando o dinheiro que você ainda não ganhou viajando e fugindo da realidade?
- Essa doeu.
- Acorda, queridinha. Tem que por um fim nisso, para a sua felicidade ou não.
- Eu tenho que desligar.
- Ei, tenho uma notícia boa pra você... Nathalie veio cortar o cabelo comigo.
- E...
- Bem, ela pediu o cabelo abaixo dos ombros, como sempre. Mas eu estava com problemas visuais no dia...
- JEAN!
- Ficou curto...
- Muito curto?
- Uma verdadeira Posh Spice... E eu desidratei o cabelo dela.
- O que ela fez?
- Bem, ela não me pagou... – Pierre riu. – E disse que iria me processar.
- O que você fez?
- Nada. Todo mundo quer me processar...
- Minha nossa!
- Agora eu é que tenho que ir, querida. Beijo.
- Tchau.
A campainha do antigo apartamento de Lorainne tocava. Um arrepio instantâneo percorreu-a. Nunca aparecia ninguém tão tarde.
Abriu a porta. Havia um pacote sobre o tapete. Snow farejou e pareceu gostar do que sentiu, pois arranhou de leve o papel de embrulho.
- Calma, Snow.
Eram chocolates com cerejas dentro. Os favoritos da loira. Havia um bilhete.
Espero que goste...
Do homem que te ama, agora mais do que nunca.
Carter
Carter? Como ele sabia. Lorainne havia chegado aquela mesma tarde. “Mas ele vai descobrir.” Lembrou o que Pierre disse. Se James saberia, Carter também. Anne resolveu ligar no dia seguinte para agradecer. Não sabia se de fato deveria fazer isso. O que ele estava querendo? Uma oportunidade de voltar aos tempos antigos?
Snow adorou, pelo menos. Anne dava-lhe parte do chocolate, que ele pedia feito uma criança. Ela perdeu a fome quando relembrou os natais de Hogwarts, quando ela e James comiam aqueles bombons até passarem mal.
*******************
No dia seguinte, sobre o tapete, havia outro embrulho.
“Mas que...”
Pensei em você quando li o título, espero que goste...
Te amo...
Carter
Lorainne pegou o livro de tamanho médio com os dizeres: “100 poemas de amor para amigos e amantes”...
Desistiu na décima poesia, pois essa dizia respeito a um rapaz que se apaixonara pela melhor amiga. A loira telefonou para Carter. Deixou mensagem na caixa postal. Agradecendo de qualquer forma e desligando em seguida.
À noite, resolveu passear. O tempo estava frio e ela foi atraída para um festival que acontecia perto do rio Main. Havia pequenas lojinhas montadas e várias crianças corriam em todas as direções, jogando pipoca umas nas outras. Anne afastou-se um pouco e encostou-se a uma árvore grossa. Sentiu uma leve brisa em seu ouvido, fazendo o barulho distanciar-se. Abriu os olhos ao perceber que a brisa era contra o vento.
- Olá, Lorainne. – a voz agradável a fez pular.
- James! O que está fazendo aqui? Como me descobriu?! – ela se afastava lentamente de perto dele. James estava vestido de uma cor só, e estava sério, diferente do habitual.
- Eu tive ajuda.
- Detetives? Interpol? Exército? Guarda-costeira?
Ele manteve-se austero.
- Não, Lorainne, algo bem mais original... Seu pai me disse onde estava. – ele alinhou o sobretudo negro com um gesto veloz.
- Impossível. Meu pai poderia te matar agora.
- A princípio sim, mas ele contou, apesar de demonstrar todo o seu desdém ao afirmar que Carter vai fazê-la feliz aqui. – ele olhou para cima, como se procurasse algo na copa da árvore.
Ela sorriu.
- Isso é...
- Aceitável. – ele interferiu, olhando para ela novamente. Não dava sequer um passo para se aproximar e isso intrigava Lorainne. O que diabos estaria fazendo ali então?
- O que quer?
- Você não sabe? Surpreendente. – ele deu um passo à frente, o que Loren respondeu com um passo atrás. Ele esboçou um sorriso.
- Eu estava passando por aqui e vim te ver.
- Coincidência me encontrar aqui, não é? – ela sorriu irônica, esforçando-se para esconder o tremor na voz.
- Na verdade, eu queria dizer que você está debaixo de um carvalho místico. Você conhece a lenda, se duas pessoas de sexos diferentes pararem debaixo dessa árvore, devem se beijar. Daí veio a tradição do visgo, que deveria ser na verdade feito com landes, ou bolotas, como queira. – ele olhou para cima de novo.
- É só tradição. – ela cortou.
Ele caminhou em volta dela, fazendo-a recuar. Antes que Anne percebesse, já estava encurralada entre a árvore e James.
- Tem razão. Além do mais, Tem crianças aqui. Não seria apropriado que você se desmanchasse. – ele não estava brincando.
- O que te faz achar que é tão bom?
James se aproximou, mas não como fazia antes. Tomou suas mãos e deslizou-as pelos braços de Anne, até os ombros, afastando seus cabelos. Continuaram a subir, tomando seu pescoço lentamente, numa massagem deliciosa e atordoante. Colou sua testa à dela.
- Suas pernas estão vacilando.
- Claro que não estão. Acha que só porque pôs as mãos em mim vai me fazer cair aos seus pés?
- Eu nem precisei tocá-la, Anne. Elas estão tremendo desde que eu cheguei.
- Então saia daqui.
Ele consultou o relógio.
- Tenho que ir mesmo. – ele se virou e simplesmente saiu. – Hum, ia esquecendo. É tradição. – ele lhe deu um selinho, piscando o olho em seguida. – Não se deve desrespeitar.
- Não existe essa história de carvalho místico, James!
- Mas você me beijou, não beijou?!
Ela desferia-lhe uma tapa, que ele não se importou em receber.
- Eu levo uma do outro lado se eu te beijar de novo?
Anne estreitou os olhos e caminhou em outra direção. Ele sorriu vagamente e desaparatou.
Anne chegou a sua casa contrariada. Ergueu a sobrancelha quando viu um enorme buquê de rosas sobre o móvel da sala.
Meu amor está mais forte. Quero te ver, te ter de novo. O que passou não foi suficiente.
Seu apaixonado...
Carter
Anne respirou pesadamente. Deixou uma nova mensagem em sua secretária, pois seu ex-namorado não atendia.
“Oi, eu preciso te ver. Obrigada pelas flores, são lindas, mas temos que conversar”.
Onde ele se metera?
Após receber enorme cesta na manhã de segunda-feira, Anne foi visitar Carter. Tocou a campainha e esperou vários minutos.
- Lorainne? – Carter apareceu no final do corredor, arrastando uma mala.
- Adam. Está vindo de algum lugar?
- Cheguei de viagem agora. O que você está fazendo aqui?
- Como assim?
Ele deu de ombros.
- Não andou me mandando presentes ultimamente?
- Anne... você está legal? Eu soube que você se separou, mas daí a te mandar presentes. – ele negou com veemência.
Ela fechou os olhos: POTTER!
- Desculpa. Eu tenho que ir. – ela o abraçou de qualquer jeito.
- Você está mesmo bem? – ele a via correr até o elevador.
- Tô ótima. Valeu.
James discou o número presente no pequeno cartão amarelo.
- Loja Sonhos Enamorados. Boa noite. – ele ouviu uma voz agradável.
- Boa noite. Eu queria enviar um urso de pelúcia enorme para minha namorada, para ser entregue amanhã.
- Como o senhor se chama?
- Carter.
- Sr. Carter, aguarde enquanto a ligação é transferida.
“Mais uma espera de séculos...”. Ele suspirou pesadamente. “Mandarei uns pães de mel, ela está magra demais.”
Ele pegava o casaco e uma mala quando ouviu batidas insistentes na porta.
- Já vai.
- Olá, Carter! – Anne acenou freneticamente, empurrando James porta adentro. Ele aproveitou para fechá-la.
- Hum, oi.
- O que pensou que estava fazendo?
- Bem. Funcionou, não é. Você veio me visitar. – ele lançou um sorriso encantador. – Como soube que eu est...?
- Não mude o assunto! O que pensou que estava fazendo???
- Era o único jeito de conseguir te mandar flores e não as ver sendo queimadas no meio da rua.
- Você é louco.
- Isso nós temos em comum. – ele acenou.
- Eu te odeio. - ela falou entre dentes.
- Se eu fosse você não faria acusações tão categóricas. Talvez eu me sinta tentando a provar que está errada. Admita que gostou das flores e nós pularemos essa fase.
Ele manipulava a conversa calmamente. Anne estava boquiaberta.
- Se fizer algo assim de novo, eu mando te prender.
Ele segurou o riso.
- Não manda, não.
- O que você acha hein? Que todo mundo é caído aos seus pés e que é amado por todos?!
- Não vou responder se já sabe. Se já tem uma opinião formada sobre mim, isso diz respeito unicamente a você.
- Quer saber... Meu pai tem razão. Carter é um homem dez vezes melhor do que você. Ele jamais faria isso!
Ele ergueu as sobrancelhas divertidamente.
- Se está tão impaciente em me pôr “no meu devido lugar”, empolgue-se, mas não coloque terceiros na conversa. Seu amiguinho Adam é precipitado e excessivamente ciumento. Você teria terminado tudo com ele naquele dia que eu vim te visitar aqui.
- Mas não terminamos. Ele se desculpou por ter agido daquela forma.
- Ele não teria feito isso... É imaturo, mas não vamos falar do Carter.
- Já começamos. Termine!
- Eu fui atrás dele.
- Quê?
- Eu fui convencê-lo que não tínhamos um caso.
- Você realmente tem tendências suicidas.
- Eu só não temo as pessoas em geral.
- Como descobriu onde ele...?
- Não mude de assunto.
- Porque fez isso?
- Pra te fazer feliz. Você gostava dele. Iria sofrer.
- Mas não foi você que disse que eu não o amava?
- Eu disse gostava, são palavras diferentes, significados diferentes... – ele suspirou.
- Por que ele acreditaria em você?
- Porque nós dois somos, éramos, melhores amigos.
- E por que eu acreditaria em você agora? Isso pode ser invenção sua. Como tudo o mais.
- Não se esforce em não acreditar. Por mais que seja orgulhosa e teimosa, você me ama. – ele tirava um embrulhinho de uma mala que estava no sofá.
- Eu ia entregar isto a você essa tarde. Eu estou de partida. Vou sair do quadribol e me dedicar a minha profissão verdadeira. – ele lhe entregou de qualquer jeito o embrulho. – A propósito... – ele abraçou uma Anne surpresa e inerte, para se despedir. – eu quero meu cachorro de volta.
- Eu não o amo. – ela falou, voltando a si.
- Eu ainda quero meu cachorro, fujona. – ele não lhe deu ouvidos.
- Eu não sou fujona.
Ele soltou as malas e tomou-a em seus braços, beijando-a delicadamente.
- Prometo que é o último. – ele a soltou, caminhando até o final do corredor. – Devia ter me dado outro tapa, srta. Malfoy – ele fez uma reverência. – Teria valido a pena.
“Não faça promessas que não pode cumprir.” Um deles pensava.
Lorainne desembrulhou o presente.
“Esse é o legítimo, sem casamentos de mentira nem ninguém pra nos ver! Caso você ainda me ame, basta me ligar e responder que sim. Se não me amar, não precisa dizer nada (sua mentirosa).”
Havia um anel de ouro branco, com pedrinhas incrustadas. Um anel de noivado.
Anne limpou uma lágrima ao vê-lo entrar no elevador, ele não voltaria atrás. Nunca foi de voltar.
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