Capítulo XVI
Capítulo XVI – A estrela de Saussene
Lorainne foi quem se levantou primeiro. Observou ao espreguiçar-se que James sequer se movera. Ao manter-se em pé, seu coração disparou. Buscou a primeira peça de pano que havia em sua frente, no caso a camisa de James, para cobrir sua total nudez.
“Mas que...” Tapou os lábios com as mãos e suas pernas vacilaram ao lembrar de James... Balançou a cabeça com força e sorriu. “Eu NÃO fiz isso! Pierre vai morrer do coração... Eu dormi com meu marido!”.
Pensando bem, essa não é a coisa mais incomum de se dizer. Nem sequer soa estranho... Ela entrou no banheiro.
***************
James ergueu a cabeça, um pouco atordoado, e olhou ao redor, procurando por Lorainne. Havia apenas um bilhete avisando que fosse encontrá-la no Estrela Nívea, o único bar bruxo que havia em toda a região. James lembrava de ter ouvido o nome da própria Loren. Ela dizia que era o melhor chocolate quente do mundo.
“O que eu estou fazendo?” perguntou-se absolutamente confuso. Seu aparelho tocou.
- Bom dia!
- Bom dia, Julie. – ele ainda tinha voz de sono.
- Não queria te atrapalhar, mas tenho certeza de que não estou incomodando então eu liguei...
- Claro que não está. – ele se levantava.
- Como vão indo as coisas? Imagine só, todos estão pensando que vocês são completamente apaixonados...
- Estão é?
- Você está bem?
Ele ligou o chuveiro.
- Claro.
- Lorainne está aí?
- Não. Quer mandar um beijo? – ele sorriu, irônico.
Ela riu sem graça.
- Não, é que você parece não estar prestando atenção.
James inspirou longamente, aspirando o perfume que ele sabia ser dos cabelos de sua esposa.
- Eu estou, Julie!
- Qual foi a última coisa que eu te perguntei?
- Ah... hã...
- A gente precisa conversar.
- Manda ver.
- Você nem me ligou dando boa noite ontem...
- Eu esqueci...
- Mas você nunca deixou de fazer isso!
- Eu estava ocupado...
- Com o quê?
Ele pegou uma toalha limpa. Foi relembrando cada detalhe do que era ter Loren em seus braços...
- E-eu estava... derretendo o gelo... Tá nevando muito aqui.
- É eu soube...
- Pois é, estávamos com medo de ficarmos presos...
- Não esquece de me ligar hoje à noite então, ok?
- Ok. Prometo. Tenho que desligar.
- Te amo.
Ele hesitou por um instante.
- Eu também.
James sentiu-se grato pela água quente, porque estava realmente frio. Perguntava-se como chegaria ao tal Estrela Nívea, mas este parecia ter fácil localização, visto que Lorainne nem sequer se dera o trabalho de explicar.
E era. O caminho era um pouco longo, mas só havia ele. James se agasalhou como pôde e seguiu a trilha. Avistou o bar e apressou o passo.
- James, finalmente você acordou. – ela caminhou até a porta. – Você vai adorar conhecer o Sr. Saussere. – Ela o abraçou. – Finja que está apaixonado, por favor.
- Claro. Se você fizer o mesmo.
- Eu estou craque nessa história de fingir estar apaixonada... É fácil. – Eles ouviram um pequeno estalo.
Lorainne caminhou muito rápido até o balcão e James foi arrastado atrás dela.
- O que foi isso? – ela se virou para trás.
- Eu fui arrastado por você. – James arrumou os cabelos.
- Como?
- Não sei. Era como se eu não pudesse me afastar de você. Loren, eu acho que fomos enfeitiçados.
- O quê? Sr. Saussene! – ela gritou.
- Estou indo. - Ele falou de dentro do balcão. – O que foi, querida?
O Sr. Saussene tinha pouco mais de um metro e seus óculos deveriam ter uns dez graus, no mínimo. Encarou James com tanta intensidade que ele nem sequer se moveu.
- Eu estou aparentemente presa a James...
- Ah... – ele suspirou. – Tenho que falar com Magda. Essa estrela está nos dando problemas...
- Que estrela?
- Aquela. – ele apontou para uma estrela magicamente dourada, pendurada por uma corrente, que pairava sobre a porta.
- O que ela faz? – James interrompeu?
- Bem, vocês ficaram simultaneamente sob a estrela. Um de vocês contou uma mentira e plint! – ele fez o barulho sonoro de um estalo, fazendo James prender o riso. – Vocês estão enfeitiçados. Não podem se separar por mais de um metro um do outro.
- Por quanto tempo? – Anne estava ansiosa.
- Depende.
- De quê?
- A mentira tem que virar verdade.
Eles se entreolharam. O sr. Saussene revirou os olhos.
- Um de vocês, o que mentiu... Tem que desfazer a mentira. Se isso ocorrer, ficarão instantaneamente livres. Se não, ficarão juntos pro resto de suas vidas. Claro que, para um casal apaixonado, isso não faz muita diferença.
O sorriso de James morreu.
- E não esqueçam que o espaço diminui cada vez que vocês mentem, coisa de centímetros. Se vocês contarem umas vinte mentiras um para o outro, vocês vão praticamente se fundir.
Ele riu ao vê-los totalmente paralisados e boquiabertos.
- É brincadeira. Os espaços não diminuem. Mas eu adoro contar essa parte. As pessoas se borram.
Ele foi simultaneamente fulminado.
- Então a gente tem que descobrir quem mentiu...
- Enquanto isso, querem uma boa xícara de chocolate quente? É por conta da casa... – ele sorriu e Loren dissipou um pouco seus ímpetos assassinos.
- Sim, por favor.
- Ok, Loren. Manda ver, qual foi a mentira?
- Eu sei lá.
- Eu tenho certeza de que eu não menti hoje, então foi você.
- Mas eu disse que fingir gostar de você é fácil.
- Se isso é uma mentira... então você acha difícil.
Uma sensação gelada invadiu Anne. Essa era a mentira. Não precisava achar fácil fingir, já que não estava fingindo...
- Tá bom, você tem que dizer a frase certa.
Ela respirou fundo.
- Fingir gostar de você é difícil.
James se ergueu e não deu sequer um passo.
- Ainda estamos presos. Não era essa.
A loira estava bastante inquieta. Só se libertaria de James se admitisse que o amava, e isso significava perder sua amizade, no mínimo. Estava sem saída.
- Isso aqui é o melhor chocolate que eu já provei. – James pareceu se distrair da conversa, para o alívio de Anne.
- Esta esfriando de novo. – ela sentiu um novo tremor, mas agora tinha certeza que era nervosismo. Esquecera-se momentaneamente do que acontecera na noite anterior. James pareceu ter o mesmo pensamento, porque a observou de modo estranho. – Vamos indo...
Ele esvaziou a xícara e se despediu.
- Mande lembranças a Draco. – O senhor Saussene acenou, animadamente. – Espero que o feitiço não dure muito tempo, o último casal que veio aqui passou quase oito anos juntos.
- Não demoraremos isso tudo. – A loira acenou de volta. – Obrigada pelo chocolate.
- Você é muito simpática pra quem levou um feitiço... – James atolava suas botas na neve.
- Não é a coisa mais maligna do mundo. São só uns oito ou dez aninhos... – Ela sorriu e James fez uma cara azeda.
Eles caminharam em silêncio.
- Eu... – falaram os dois em uníssono. – Você o que? – James foi mais rápido.
- Desculpa por ter te levado lá... isso não deveria ter acontecido...
- Está desculpada. Agora me diz o que você realmente ia dizer.
- Como você sabe que eu não disse o que...?
Ele sorriu.
- Porque você ficou vermelha três vezes hoje. E está agora porque eu estou te olhando. Você ia falar sobre ontem, assim como eu. – eles passeavam pelas ruas estreitas, a caminho da praça.
- O que você ia falar?
Ele parou por um momento.
- Que... eu não me arrependo de nada do que eu fiz. Sabia que esta foi a primeira vez que eu amanheci “ao lado” de uma mulher que eu amo?
- Então você usava todas as suas namoradas, e não gostava de nenhuma?
- É por aí.
Ela revirou os olhos.
- Era pra ser romântico?
- Não sei...
Lorainne deu um pulo quando uma porta se escancarou.
- Será que não dá pra ficar sossegado nem a doze quilômetros de Zurique, numa cidade que eu nem sei o nome?! – James fez uma manobra de pernas para não cair.
O casal levantou a cabeça quando uma mulher de quase dois metros acenou da porta de sua casa.
- Anne! Por que não disse que vinha? Ia mesmo passar pela minha casa sem me visitar?
- Brigitte! – ela a abraçou. James pensou que deveria ser desconfortável abraçar alguém quase uma cabeça maior que você. – Esse é meu marido, James.
- Quando vocês casaram? Ainda estão em lua-de-mel? Entrem! – Ela falava sem parar. A loira esforçava-se para responder a todas as perguntas a tempo. - Quando vocês vão voltar? Estão gostando? Olhem! – Ela apontava para o belo husky siberiano. – Esse é o Ludovic. Eu tenho mais uma fêmea e três filhotes. – ela falou apressadamente.
- Como está Johann?
- Ele morreu ano passado. – fez-se um silêncio incômodo. – Mas ele já estava cansado... Deixou-me essa propriedade. Entrem.
A casa tinha um piso de madeira nobre, escuro. Tinha um cheiro suave de cerne de mogno.
- É linda.
- Posso mostrar-lhe o resto. Caso o Sr. Potter queira ficar aqui embaixo, nós já voltamos.
- Não tem problema, eu vou com vocês. – Jay colou em Loren.
“Maldito feitiço. Maldita casa.” James subira o terceiro lance de escadas, porque a Sra. Degen insistiu em mostrar até o sótão.
Ele espirrou instantaneamente.
- James tem alergia à poeira... – ela ruborizou. – Nós podemos descer?
- Claro. Deixe-me mostrar o retrato do velho Johann. – ela se abaixou ao passar pela porta.
- Ela é gigante?
A loira acenou negativamente.
- Ela é só uma senhora tentando mostrar sua casa, tenha paciência, James. – eles desciam as escadas, sempre de mãos dadas, pois descobriram ser o jeito mais eficaz de andarem juntos sem ninguém perceber o feitiço.
- Recém-casados. – Suspirou Brigitte. – Não conseguem nem se desgrudar um do outro. – Ela abriu a porta dos fundos. – Quero perguntar uma coisa.
“Se me der tempo de responder...”.
- Quer um cachorro?
- Hã? – Anne olhou para James. Três pequenos filhotes apareceram de uma casinha no fundo, visivelmente curiosos.
- Só posso cuidar de um filhote, pois ele irá substituir Ludovic quando ele morrer. Um filhote eu prometi a Saussene, que está precisando de um em casa. O outro não tem dono. – ela pegou um filhote, totalmente branco assim como seus pais. – Se não achar dono, terão que sacrificá-lo.
A loira engoliu em seco.
- Eles são sempre tão radicais? – Jay sussurrou-lhe.
Anne olhou para o filhote. Ele se camuflava na neve. O resultado era que seus dois olhos azuis eram o único contraste, juntamente com duas marcas negras, que eram o contorno de seus olhos. Era lindo. Mas Anne sabia o que significava um cachorro. Com quem ele ficaria quando se separassem?
- Nós queremos. – Ela olhou assustada para James, que tomou o cão em seus braços. Depois disso ele parecia pueril.
- Você é a coisa mais linda que eu já vi. - Ele coçou a orelha do cão, que o mordeu, brincando. – Vai dizer tchau pra sua mãe...
A sra. Brigitte estava encantada.
- Não sabia que gostava de cães. – Loren falou baixinho.
O filhote praticamente pulou em seus braços depois de uma volta pelo quintal.
- Quer conhecer a mamãe, quer? – ele apontava para a loira, que sorria e acompanhava a senhora até a saída. Anne tomou-o em seus braços.
– Olha o que você fez! – O casaco de James, o qual Lorainne usava, se ensopou.
- Ele fez xixi em você. – Brigitte estreitou os olhos para o cão. – É ainda muito novo...
- Não tem problema. – Anne sorriu de orelha a orelha. – Ele está marcando território.
- Cachorrinho mau. – James se emburrou.
- Ciúme, Sr. Potter? – Brigitte sorriu.
James fez que não.
- Somos uma família agora.
N/A: sem nota ;)
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