Encontro e Descoberta
Acordou sentindo-se moída. O corpo doía e o rosto estava todo seco e repuxado, pelas lágrimas que haviam caído até quando adormeceu. Respirou fundo e prometeu para si mesma tentar não chorar mais. Tentar, pois depois do que havia escutado de Ron, era uma vontade enorme que ela tinha: deitar na cama e chorar, até que alguém a acordasse, dizendo: Hermione, é só um pesadelo!
Não, não era um pesadelo. Na realidade era um pesadelo, mas não era irreal, infelizmente. Ela terminou o banho e pela primeira vez viu as horas no relógio da parede: uma e meia. Ela tinha perdido o café da manhã e um tempo valioso para encontrar seus pais. Saiu do quarto rapidamente e foi até o saguão da pousada, reparando pela primeira vez ao sair do quarto fechado, o mar que se estendia ao seu redor. Era extremamente lindo. A visão daquele mar tão azul a acalmou um pouco. Observou-o ao longe por alguns segundos e então sentiu uma mão tocar seu ombro. Virou-se e viu Philip, que sorria.
_Não conseguiu levantar para o nosso café, foi?
_Ah... – ela baixou a cabeça – Desculpe, Philip, eu não estava muito bem e...
_Sem problemas! Você comeu alguma coisa?
“Se eu tivesse me atrasado para o café com Ronald ele teria no máximo ficado falando mal de mim pra Gina e quando eu acordasse ia ficar com aquela cara de emburrado... Porque o Philip tem que ser tão gentil comigo? Ainda mais agora?” – ela ficava pensando enquanto o garoto ainda a encarava sorrindo.
_Vamos? Algumas torradas com geléia pra enganar o estômago? Já está mais que na hora do almoço, mas eu estava te esperando!
_Nem sei como agradecer, Philip... Desde ontem você tem se preocupado tanto comigo...
_É o mínimo que eu posso fazer! Você acabou de sair de uma guerra, Hermione! Deve estar completamente abalada... Venha... – ele a pegou pelo pulso levemente – Vamos pegar umas torradas pra você enganar o estômago e vamos almoçar n’O Pescador hoje...
_Vamos onde?
_O Pescador... É um restaurante muito bom de frutos do mar que tem mais pro centro da cidade... Abriu faz apenas alguns meses, mas é extremamente gostoso... Os donos são trouxas, mas eu tenho dinheiro trouxa aqui também... Vamos... Tenho certeza que você vai gostar... E você finalmente poderá me contar tudo!
Hermione concordou um pouco relutantemente; queria procurar os pais. Philip, no entanto, disse que ela teria um mês inteiro para a busca e que com a ajuda dele provavelmente eles não teriam problemas para encontrá-los rápido. Disse também que de barriga vazia ela não conseguiria pensar direito e ela teve que concordar. Estava até tonta de fome quando chegaram ao restaurante, que tinha uma decoração simples de redes e peixes de gesso pelas paredes.
Sentaram, comeram e conversaram. Philip queria saber tudo sobre a guerra, sobre os feitiços que ela havia lançado, sobre as maldições, sobre o castelo, sobre os bruxos da ordem e sobre os comensais. Philip parecia absorver cada palavra de Hermione como ela mesma fazia enquanto lia um livro. Ele a ouvia atentamente, tentava não interrompê-la, mas não conseguia, tamanha era sua euforia com as aventuras que Hermione contava. Sussurrava vários ‘uaus’ e ‘nossa’ quando ela falava mesmo das coisas mais banais. Algumas coisas ela preferia não contar, tanto porque essas coisas não lhe diziam respeito como porque não conhecia Philip, afinal das contas. Conversaram a tarde inteira; depois do restaurante sentaram na praia por algum tempo tomando um sorvete.
_Mas você é mesmo amiga do Potter? Eu não acredito! Você ta mentindo pra mim!
_Sou ué... – ela ria; ele não acreditava que ela era [b]mesmo[/b] amiga de Harry Potter. – Ele é meu melhor amigo desde os onze anos.
_Mas... Ele não é metido? A fama não sobe na cabeça dele? Como é?
_Nunca! Harry é uma das pessoas mais simples que eu conheço... Também é uma das mais leais e legais... Eu, ele e Ron, nós... – ela hesitou um pouco ao falar de Ron, mas prosseguiu. – Nós sempre nos aventuramos juntos... É pra vida inteira.
Era isso. Era algo pra vida inteira. Não importava o que tivesse acontecido, Harry, Ron e ela mesma estariam juntos pra sempre. Aquela amizade (e no caso de Ron um sentimento maior) não podia ser sobreposta, não havia como acabar. Eles haviam convivido juntos e tinham tido muitas histórias juntos pra acabar assim. A relação deles era forte demais pra simplesmente não existir mais. A garota ficou quieta por alguns segundos e Philip interrompeu os pensamentos dela com uma pergunta:
_E esse outro amigo seu... Ron? É isso?
_É. – ela olhou pra baixo. – O Ron é um... Amigo. Assim como o Harry.
_Só um amigo? – Philip perguntou com um sorriso de canto e uma sobrancelha levantada.
_É... Por que?
_Eu tenho a impressão que você evita falar dele, e quando você fala, olha pra qualquer lugar, menos pra mim... Seus olhos brilham e sua bochecha cora. Ah, sua voz falha um pouco também.
_É... Talvez haja, talvez não... Não sei na verdade... – ela sentiu que estava começando a ter vontade de chorar. – E prefiro não falar no assunto.
_Sem problemas. – ele pegou a mão dela e a ajudou a levantar da areia. – Não falaremos nisso. Vamos dar um passeio pela beira da praia e voltar para a pousada depois...
_Mas... Philip, eu não posso voltar para a pousada. Eu preciso encontrar meus pais... Eu preciso saber o que...
Antes de terminar o que estava falando Hermione viu, ao longe, a um homem na praia. Ele estava sentado em uma cadeira, sozinho, lendo um jornal. Ela reconheceu aquele homem na hora; reconheceria aquela feição em qualquer lugar. Seu pai estava ali e parecia extremamente triste. Os olhos encaravam o jornal, mas não corriam através das linhas, o olhar estava focado e marejado. Hermione virou-se para Philip, atônita:
_Philip... Philip, é... É o meu... – ela sorriu – É o meu pai!
_Aquele ali? Você deve estar de brincadeira... – ele disse, o olhar preocupado.
_Não Philip! É ele! Meu pai! Eu... Nossa, que saudade... Eu vou até lá!
Hermione virou-se para correr até o pai. Tinha que perguntar sobre a mãe; tinha que encontrá-la também e então desfazer o feitiço, para que eles pudessem voltar logo a Londres. No entanto, Philip a segurou pelo braço e a encarou firmemente.
_Wendell e Monica Wilkins se mudaram pra cá não faz muito tempo...
_Eu sei! Fui eu que os mandei! Eles...
_Escute, Hermione! – Philip estava sério e Hermione achou melhor escutar. – Eles se mudaram pra cá no começo do ano e conheceram todo mundo... Todos aqui se conhecem, nem que seja de vista, afinal... Eles viveram os primeiros meses com tranqüilidade, abriram uma clínica dentária mais pro centro e viviam numa boa... Até eu uma vez fui na clínica deles fazer uma consulta...
_Certo Philip, eu estou perdendo um tempo valioso! Eu tenho que ir lá e... – ela tentou, mais uma vez, correr até o pai, mas Philip a segurou firmemente.
_Eu não terminei, Hermione!
_Então vai logo! Depois você pode me contar como foi a vida boa deles por aqui, mas agora...
_Hermione, não é nada fácil isso que eu vou te falar, mas...
_Philip, eu não os vejo há meses, eu preciso abraçá-los, vai logo!
_Hermione... Sua mãe... Ela... – ele não conseguiu completar a frase.
Ela se soltou dele e o encarou com uma expressão de medo. Um choque absurdo tomou conta de todas as partes que ela tinha consciência que fazia parte do corpo. Ela não sabia o que falar... Ele a puxou para seus braços e deu um abraço superficial, do qual ela saiu rapidamente.
_O que aconteceu com a minha mãe, Philip?
_Eu não sei, Hermione... Ela adoeceu, seu pai fechou a clínica por algum tempo e depois quando ele reabriu... Só ele estava trabalhando... Não soubemos mais nada e ele nunca comenta... Ela sumiu. Ninguém soube o que aconteceu com ela. Só sabemos que ele ficou muito triste depois disso.
_Eu... – ela chorava abertamente. – Eu não posso acreditar... Eu...Minha... – ela respirou fundo. – Eu vou falar com ele.
_Hermione, cuidado, ok?
_Ele é meu pai! Ele não vai fazer nada comigo!
_Ele não sabe que é seu pai! – ele a encarou e continuou: - De qualquer forma eu vou ficar por aqui...
_Está bem... Obrigada, Philip. – disse, virando-se e encarando o pai, que continuava na mesma posição de minutos antes.
Caminhou até ele com alguma dificuldade em conter o choro, mas precisava contê-lo. Ela tinha que saber o que havia acontecido com sua mãe e também precisava desenfeitiçar o pai. Ele não desviou o olhar daquele jornal nem mesmo quando ela sentou ao lado dele.
_Erm... Olá. – ela disse, a voz um pouco falhada.
_B-boa tarde. – ele disse, ainda sem encará-la.
_O... O senhor é Wendell Wilkins?
_S-sim, s-sou eu mesmo.
_Eu... Sou Hermione Granger. – ela disse, sem muita certeza do que estava fazendo. – Prazer.
Pela primeira vez ele a encarou. A feição do homem passou de desolada para raivosa e a garota se assustou.
_O QUE VOCÊ SABE SOBRE ISSO? ESTÁ QUERENDO BRINCAR COMIGO GAROTA?
_Eu... Não... O senhor... – ela não compreendia o que estava acontecendo.
_ELA NÃO ERA LOUCA! SE VOCÊ QUER FAZER PIADA COM ISSO EU ACHO BOM VOCÊ SAIR DAQUI, MENINA!
_Senhor Wilkins! – Philip chegara. – Como está?
_Estava bem até essa garota vir zombar de mim, Rowl! Você a conhece?
_Sim... Hermione é uma amiga minha que veio de muito longe e...
_Então você quem contou a ela essa história, não foi? Foi você que fez com que ela viesse aqui apenas para... – ele parou de falar abruptamente, encarando Hermione. – Você tem os olhos dela.
_O senhor sempre me dizia isso. – ela disse, os olhos já molhados.
_O que você quer dizer com... – ele a encarou e arregalou os olhos. – É... É verdade?
_O que é verdade, senhor Wilkins?
O homem balançou a cabeça e secou uma lágrima que caia do olho. Se levantou, encarou Hermione mais uma vez e sorriu.
_Você realmente me lembra ela.
_Eu...
O homem virou de costas e saiu caminhando pela praia. Hermione encarou Philip sem entender nada. Ele respondeu com o mesmo olhar indagador. O que ela devia fazer? Segui-lo? Tentar falar com ele mais uma vez? Era a chance de desenfeitiçar o pai de uma vez e poder voltar à vida sem guerra, à tranqüilidade... Puxou a varinha e decidiu o que fazer. Apontando-a para ele disfarçadamente, lançou contra-feitiços silenciosos. No momento em que ela lançou o último, pôde ver o homem virar-se novamente e encará-la com ternura.
_Hermione! – ele gritou.
_Papai! – ela sorriu e chorou ao mesmo tempo, enquanto corria até ele e abraçava-o com força.
_Ah, minha pequena... – ele beijava o topo da cabeça filha com ternura e a abraçava com saudade. – Você está bem! Eu nem acredito!
_Papai, eu... – ela chorava abertamente. – Eu senti tanto a sua falta... A da mamãe... Só de imaginar que eu podia nunca mais... Nunca mais vê-los... – ela soluçava enquanto falava.
_Ah, Hermione... – ela sentiu o abraço do pai estreitar-se e sentiu que ele também tremia e soluçava. – Nós... Nós vamos ter que conversar.
_Claro, pai... – eles haviam se soltado e ela enxugava as lágrimas. – Preciso saber tudo sobre... A mamãe.
_Sim, sim... Você saberá. Venha, sente-se aqui comigo... Eu vou lhe contar o que aconteceu...
Sentaram-se na areia e então Hermione escutou atentamente tudo o que o pai dizia:
_Bem... – ele começou. – É muito difícil, Hermione... É realmente... Complicado. Eu ainda me sinto confuso e agora também... Também me sinto culpado. – ele parou de falar por alguns momentos. – Ah, sua mãe tinha razão... Como... Como eu pude esquecer?
Ela sentia lágrimas brotarem nos olhos e soluços irromperem dos lábios, mas tinha que ser forte. Tinha que saber o que havia acontecido com sua mãe.
_Mas o que aconteceu, papai? Esquecer o que, ela tinha razão sobre o que?
_Nós nos mudamos pra cá... Você sabe, você quem nos mandou, com esses feitiços de memória e... Nós nos esquecemos de tudo... Eu pelo menos... E começamos vida nova... Estávamos felizes, sim... Mas então... Então aconteceu.
_O q-que aconteceu, p-papai? P-por favor, f-fale logo.
_Bem... Uma noite nós estávamos em casa e sua mãe estava mexendo nas bagagens que ainda não tínhamos desempacotado. – ele pausou a fala por alguns instantes. – Eu estava terminando de ler uns papéis do consultório, não estava prestando muita atenção... Ela... Ela veio correndo e chorando até mim, dizendo que tínhamos uma filha...
Hermione sentiu o estômago revirar. Ela tinha feito o feitiço errado? Seria sua culpa?
_Eu... Eu disse que... Eu disse... – ele baixou a cabeça e respirou fundo. – Eu disse que não. Claro, eu não sabia que... Eu não me lembrava... Mas como eu pude me esquecer, como... Ah... A culpa é toda minha, Hermione.
A garota soluçou baixo e chegou mais perto do pai, abraçando-o.
_Papai, o senhor não tem culpa... Eu fiz o feitiço para que não se lembrassem de mim... Eu... Eu tinha certeza que não se lembrariam...
_Mas sua mãe se lembrou. – ele olhou-a carinhosamente. – E agora eu me sinto tão sujo por não ter lembrado... Por não ter acreditado nela...
_Mas o que... O que aconteceu depois que ela lembrou?
_Eu tentei ouvi-la... E ela disse que tínhamos uma filha, uma filha que estava lutando na guerra... Que não éramos nós mesmos, que éramos os Granger. Que nossa filha chamava-se Hermione, e que era uma bruxa. Que estava na guerra bruxa.
_E o senhor... ?
_Eu? Bem... – ele baixou a cabeça, envergonhado – Eu achei que sua mãe estava louca. Ela me mostrou o que a havia feito lembrar de você... – os olhos dele brilharam. – Uma fita que você usava no cabelo quando era pequena... Talvez você nem se lembre da existência dessa fita, mas você nunca queria tirá-la... E quando você nos disse que era mocinha e que não precisava mais daquela fita... Ah... Sua mãe pegou a fita e guardou dentro de um livro... Dentro de um livro que era especial pra ela...
_O Rei Lear. – Hermione disse.
_Exatamente. E a fita marcava a página onde seu nome estava escrito e grifado. Agora me lembro de quando sua mãe escolheu seu nome... Assim que ela terminou o livro estava decidida. – ele riu fraco e um pouco da água que estava sendo contida nos olhos acabou por se derramar. – Bem... Isso aconteceu e eu não me lembrava, achava que ela estava louca... Achei que sua mãe estava louca, veja bem... O louco era eu, afinal. Como não lembrar da minha própria filha? – ele a encarou carinhosamente. – Me desculpe, filha.
_Pai, a minha intenção era exatamente essa... Não era pra ela se lembrar...
_Hermione, a relação entre mãe e filhos é algo que eu nunca vou poder compreender, mas sei agora que é mais forte que eu imaginava...
_Mas... Papai, o que aconteceu? Onde ela está... Ela está... – ela sentiu o coração gelado ao ouvir a pergunta sair de sua própria boca: - Ela está morta?
_Não! – ele exclamou com veemência. – Quer dizer... Eu não sei. – e ele baixou a cabeça, desolado.
_O que o senhor quer dizer?
_Sua mãe ficou doente, Hermione. Não doente, mas eu achava que ela estava. Achava que ela estava louca, ela afirmava coisas de uma vida que não era a minha, ela falava de você todos os dias, brigava quando eu não acreditava, agia de forma estranha... Preocupada... Ela começou a se recolher, a se afastar depois de algum tempo... Nem trabalhar ela conseguia mais, eu achava que porque ela estava doente da cabeça, mas na verdade era porque ela é quem estava bem da cabeça, mas eu não a ouvia... E então eu... – ele parou de falar.
_O senhor...?
_Eu a internei, Hermione. A internei num sanatório. – ele começou a chorar. O choque foi tanto, que a garota não conseguiu falar nada. Ele prosseguiu: – Ela ficou internada por algum tempo, e eu fechei a clínica, fingi que ela estava doente, e então... Então... – ele gaguejava. – Então um dia eu fui visitá-la, Hermione... E ela simplesmente... Ela... Sua mãe... Ela não estava mais lá... Ela tinha fugido.
A garota ficou boquiaberta. Era informação demais pra um dia só, pra uma seqüência de dias, na verdade. Ela não podia ter um momento de paz? Ela não conseguiria ficar bem nem por um dia, afinal? A mãe havia ido parar em um sanatório porque seu feitiço dera errado, e Hermione ficou se sentindo mais culpada ainda por isso. Ela havia falhado na missão de esconder os pais... E se ela tivesse sido apanhada por algum bruxo das trevas? E se ela estivesse, agora... Morta?
Hermione sentiu o estômago afundar ao repensar essa possibilidade. O pai não falava nada, provavelmente tentando respeitar o momento de choque da filha, mas não soltava a mão dela nem por um segundo. Hermione sentiu uma imensa sensação de vazio, uma sensação de dor como ela nunca havia imaginado que fosse capaz de sentir e, de repente, sem mais nem menos, sentiu também falta de uma pessoa, de ser acolhida pela única pessoa que ela tinha certeza absoluta que conseguiria confortar-lhe como ela precisava naquela situação. Sentiu uma falta inexplicável do abraço, do cheiro e do carinho de Ron.
_P-pai... Mas e o senhor não... Não teve mais notícias? Não soube mais... Mais nada?
_Não minha filha. – ele disse, a cabeça baixa. – Eu contratei um detetive particular, e ele não descobriu nada ainda... Eu estou tentando recuperá-la, mas nem sei por onde começar...
_Nós vamos encontrá-la, papai... Vamos sim.
Eles se abraçaram e ficaram ali, ela chorando e ele tentando consolá-la. Depois de algum tempo Philip chegou perto deles.
_Erm... Hermione? – ele chamou hesitantemente. Ela levantou os olhos lentamente pra ele e ele continuou. – Desculpe, eu não queria... Não queria atrapalhar, mas... Já está começando a anoitecer... Eu preciso realmente voltar pra pousada... Erm... Você vai pra lá?
_Claro que não, rapaz! – o Sr. Granger respondeu prontamente. – Ela vai com o pai dela!
_Me... Me desculpe, Sr. Granger. Eu só queria confirmar antes de ir embora simplesmente...
Hermione interferiu:
_Papai, eu vou amanhã para a sua casa sim, mas eu preciso passar na pousada primeiro. Tenho que agradecer ao Sr. Rowl, tenho que pegar minhas coisas... Philip, você disse que sabe onde ele mora, não disse?
O garoto pareceu sem graça, mas respondeu mesmo assim:
_Sim... Eu sei.
_Você me leva lá mais tarde?
_Claro.
_Então combinado. – ela voltou-se pro pai e o abraçou mais uma vez. – Mais tarde eu vou pra lá, papai. Vá, tome um banho, descanse que eu chego em pouco tempo.
Despediram-se e ela começou a caminhar com Philip pela praia. Ainda estava sem cabeça nenhuma pra nada. As notícias e os acontecimentos estavam ocorrendo tão rapidamente que ela ficava perdida... Ela sentia o coração apertado, e não sabia o que fazer a respeito; não sabia o que deixar de lado pra enfrentar outra parte do problema. Não reparou quando dois garotos se aproximavam dela e de Philip rapidamente.
Um deles, o mais alto, segurou Hermione pelos braços e o outro tentava segurar Philip, que corria, se desviando dele.
_ME SOLTA! – ela gritava – ME LARGA!
_Calma menina... – ele dizia no ouvido dela, deixando-a enojada. – Nós não vamos fazer nada, só queremos dinheiro... Mas se o seu amigo ali não colaborar, vamos querer alguma coisa...
_PHILIP! – ela gritava, mas o garoto não fazia nada. Ele nem sequer puxou a varinha para ajudá-la.
Ela, desesperada, tentou um chute no garoto que a segurava, o que funcionou parcialmente. Ele soltou uma das mãos dela, fazendo com que ela conseguisse puxar a varinha. Ela lançou um “Estupefaça” não-verbal e o garoto que antes a segurava caiu na areia, desacordado. Ela observou ao redor e viu que ninguém estava ali, então apontou a varinha para o outro garoto e lançou outro feitiço estuporante. Assim que o garoto caiu no chão, Philip correu até ela e a abraçou. Ela se desviou do abraço dele e o encarou com raiva.
_POR QUE VOCÊ NÃO FEZ NADA, PHILIP?
Ele a encarou e logo depois baixou os olhos. Provavelmente ele não sabia o que dizer. Ela virou de costas pra ele e então juntou os dois garotos que haviam tentado assaltá-los, prendendo-os com cordas conjuradas. Depois disso os amordaçou, deixando-os ali mesmo. Ligaria para a polícia assim que estivesse em segurança. Virou-se novamente para Philip e perguntou mais uma vez:
_Por que você não fez nada?
_Eu... – ele gaguejava. – Hermione, eu... Eu... – ele baixou os olhos. – Eu...
_Por que? Você é um bruxo, Philip! Você tem uma varinha! Você não precisava machucá-los, era apenas estuporá-los e... – ela não conseguiu terminar o que estava dizendo pois Philip gritou:
_EU NÃO PODIA ESTUPORÁ-LOS, ESTÁ BEM? EU NÃO PODIA FAZER NADA! – ela viu os olhos dele ficarem vermelhos. – EU SOU UM ABORTO, OK? EU NÃO SOU BRUXO, NÃO TENHO VARINHA, NEM... NEM NADA QUE VOCÊ TENHA!
Ela não soube o que dizer. Philip era um aborto, por isso se interessara tanto na guerra, por isso queria saber tudo sobre tudo... E por isso ele não fizera nada. Ela se sentiu culpada.
_Desculpe. – ela pediu baixo. – Eu... Eu não sabia.
_Tudo bem. – ele disse. – Já estou acostumado a isso quando as pessoas não sabem sobre... Sobre a minha situação... Vamos... Temos que chegar à pousada e ligar para a polícia.
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