A praia



O garoto acordou em seu quarto do orfanato, sonolento, ouvindo ainda o som da buzina que o acordara, a buzina para o café-da-manhã. Ele se sentou em sua cama de ferro e olhou para os lados, confuso e irritado. Por que tinham que servir o café-da-manhã tão cedo?
Olhou para o seu próprio reflexo no espelho que havia pendurado na porta de um armário, que era a única coisa, junto com a cama, que havia naquele quartinho sujo. Era um garoto de onze anos alto, pálido e de cabelos escuros.
Levantou-se da cama, abriu a porta do armário, pegou uma roupa e se vestiu. Logo, um grito veio do andar de baixo:
- ANDA LOGO, TOM! SÓ FALT... PARE, CARLINHOS. SÓ FALTA VOCÊ AQUI!
Tom Servolo Riddle, depois de se vestir, abriu a porta do quarto e desceu. A mesa da cozinha estava cheia, com todas as crianças do orfanato conversando. Aparentemente estava à sua espera para começar a comer. Quando ele se sentou à mesa um garoto o cumprimentou:
- Oi, Tom.
- Oi, Dênis - cumprimentou ele de volta.
- Ei, Tom. Olha só o que eu achei no chão do parquinho ontem - falou Dênis Bishop, mostrando um iôiô.
- Legal - admirou Tom, invejoso.
- Agora chega, vamos todos comer! - Falou a sra.Cole, com uma voz de comando.
Tom começou a tomar seu leite, olhando com nojo para as torradas mofadas no prato à sua frente.
Quando todos terminaram de comer, a sra.Cole se levantou e anunciou:
- Hoje nós vamos à praia!
- De novo? - Tom deixou escapar.
A sra.Cole lançou um olhar severo à Tom e falou:
- É, de novo, Tom. Aliás, vem um cara aí querendo falar com você no próximo fim de semana.
- O que? Quem? - Admirou-se Tom, surpreso. Em geral, nunca recebia visitas. Só conhecia a sra.Cole e as crianças do orfanato.
- É um tal de Dumbumore. Acho que é isso. - respondeu ela.
- E o que ele quer comigo?
- Eu sei lá. - Falou ela, pensativa - Fiquei tão surpresa quanto você quando soube.
- E quando vamos para a praia? - perguntou Maria Galog.
- Daqui a pouco. É por isso que eu os acordei cedo hoje. - Informou a sra. Cole.
Tom voltou para o seu quarto e se sentou na cama, pensando. Por que tinha que ter uma vida tão chata e miserável?
A porta do quarto se abriu e a sra.Cole entrou e avisou:
- É melhor arrumar suas coisas, a Emily já deve estar chegando com o transporte.
Ela fechou a porta do quarto e Tom se levantou. Pra que arrumar suas coisas, uma vez que não tinha nada para levar?
Duas horas mais tarde já haviam chegado à aldeia, de onde eles já avistavam a praia. Eles foram ao rochedo em frente ao mar, onde ficaram apenas relaxando e vendo as ondas. Tom deitado na areia, fechou os olhos, com o pretexto de dormir.
No entanto, em dois segundoa apenas, descobriu que não estava mais deitado na areia, e sim numa superfície mais dura.Abriu os olhos. Estava em frente à uma caverna, longe do rochedo em que estava deitado. Olhou para trás e viu o rochedo, muito alto, à mais ou menos um quilômetro á frente.
- O que aconteceu? - perguntou uma voz aguda ao seu lado. O coração de Tom quase saltou pela boca. Ele estava junto de Amada Benson e Dênis Bishop.
- Não faço a mínima idéia. - respondeu Tom - Vamos entrar? - perguntou ele indicando a entrada da caverna.
- Não acho que seja uma boa idéia - comentou Dênis.
- Deixa de ser covarde. Vamos!
E entrou. Amada e Dênis se entreolharam e entraram atrás dele, visivelmente temerosos.
A caverna era muito escura, não dava para ver nada. A única coisa que Tom conseguia distinguir era o som das ondas colidindo com as rochas à entrada da caverna. Quanto mais avançavam, mais estranho o lugar parecia.
- Tom, essa sua idéia de entrar foi horrível, é melhor voltarmos! - a voz de Dênis falou atrás dele.
- Você é muito amarelão, Dênis. Tem medo do escuro? - retrucou Tom Riddle.
- Não! Esse lugar é estranho! Eu não sei como, mas estou começando a achar que você nos trouxe aqui de sacanagem!
- Não fale do que você não sabe, Dênis. - Falou Tom - Eu também não sei como paramos aqui!
- Mentira! Você é um cara mentiroso, Tom. Você é esquisito! Não percebeu que todos os outros evitam você? - comentou Dênis - Eles tem medo de você. Todos sabemos que você é doido e...
- PAREM DE BRIGAR! - interrompeu-os Amada - Tom, realmente acho melhor voltarmos.
- Não! - disse Tom, estava com muita raiva.
- Por favor, Tom, va...
- CHEGA! - Tom ficou realmente muito raivoso.
- AAARRREEE! - exclamaram Amada e Dênis, juntos.
- O que foi? - perguntou Tom.
- O QUE ESTÁ ACONTECENDO? NOS LARGUE! PARE! PARE! - ordenou a voz de Dênis.
- O que houve? - Tom perguntou novamente.
- ESTOU VOANDO! DE PONTA CABEÇA. ESTÁ DOENDO! TOM, VOU CONTAR À SRA. COLE QUE VOCÊ... - começou Dênis.
PAM
Era um barulho inconfundível de corpos colidindo, logo acima de Tom.
- AAAARRREEE - exclamou Dênis novamente.
Amada começou a chorar e alguma coisa caiu. Tom se abaixou e pegou-a. Era o iôiô que Dênis o havia mostrado mais cedo naquele dia. Tom pegou-o e guardou-o no bolso. Em seguida fechou os olhos, tomado de terror e quando abriu-os, viu que estavam novamente à entrada da caverna. Olhou para Amada e Dênis ao seu lado, e viu que os dois estavam aterrorizados e muito pálidos.
Ele ouviu, bem baixinho, a voz da sra.Cole, vida do rochedo à frente:
- AMADA! DÊNIS! TOM! CADÊ VOCÊS?
- AQUI! ESTAMOS AQUI! - berrou Tom em resposta.
A sra.Cole apareceu no topo do rochedo, quase irreconhecível devido à distância.
- AI MEU DEUS! - berrou ela - ESPEREM AÍ. VOU CHAMAR ALGUÉM!
Ela saiu correndo.Tom se sentou e sentiu algo nos bolsos. Colocou as mãos para sentir. Era o iôiô que pegara. Resolveu não tirá-lo do bolso, para o caso do Dênis ver. Fechou os olhos, repassando o que acontecera dentro da caverna. Quando reabriu os olhos, porém, estava no topo do rochedo novamente, com Dênis e Amada ao seu lado.
A sra.Cole voltou com um homem grande da aldeia. Quando viu Tom, Dênis e Amada acima do rochedo, porém, desmaiou.
Momentos depois, a sra.Cole interrogou-os sobre o que aconteceram na caverna. Dênis e Amada pareciam não lembrar o que acontecera na caverna. Então, a sra.Cole perguntou para Tom:
- O que aconteceu?
- Eu, o Dênis e a Amada fomos...
Ele parou de repente.
- O que? - perguntou a sra.Cole, com uma voz um pouco agressiva.
Tom pensou se deveria ou não contar como foram parar lá. Pensou se deveria contar que fechou os olhos e, quando abriu-os, estava em outro lugar. Decidiu-se e respondeu:
- Fomos explorar a caverna.
- E o que aconteceu depois?
- Eu não sei ao certo - respondeu Tom. - Lembro que eu, Dênis e Amada estávamos caminhando pela caverna e eu ouvi um rugido. Acho que havia algum animal perigoso lá! Então o Dênis e a Amada gritaram de medo e eu os puxei para fora da caverna. Foi isso.
Tom contou todas aquelas mentiras sem ao menos corar. A sra.Cole perguntou:
- Só isso?
- É, só isso! - respondeu Tom.
- Muito bem! - falou a sra.Cole, mas parecia não ter acreditado em tudo que Tom dissera. - Vá para o seu quarto descansar. Não se esqueça que daqui a uma semana o tal do Dumbumore vem aí.
Tom foi para o seu quarto, e quando entrou abriu a porta do armário e tirou uma caixinha. Abriu-a. Havia objetos que ele roubara das outras crianças do orfanato. Um dedal de prata e uma gaita oxidada. Tirou o iôiô de Dênis do bolso e adicionou-o á sua coleção. Guardou a caixa no armário e pensou. Por que tantas coisas estranhas aconteciam com ele?

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