Segredos da Imortalidade
Os conhecimentos de inglês de Júlio não eram lá essas coisas, mas ele entendeu por cima o que estava escrito:
CAPÍTULO UM — INTRODUÇÃO
Desde o início da Humanidade, temos buscado a vida eterna. Lendas sobre a Pedra Filosofal correram os séculos, atravessando todas as culturas e religiões, expondo o mais antigo desejo da raça humana: Viver para sempre.
Poucas pessoas conseguiram realizar esse desejo: Relatos confiáveis mostram que apenas 10 pessoas, em toda a história da Humanidade, conseguiram ser imortais, embora eles estejam mortos.
Você pode estar se perguntando: “Como eles eram imortais, se estão mortos”?
A resposta é a seguinte: A imortalidade é um estado. Você não É imortal, você ESTÁ imortal. Sempre há maneiras de anular a imortalidade.
Vejamos o exemplo de Nicolau Flamel, o único que conseguiu produzir uma Pedra Filosofal. Ele não era um imortal verdadeiro. Os imortais verdadeiros não podem morrer, e o Elixir da Vida não tornava quem o bebia imortal. Ele era apenas uma panacéia, ou a cura para todas as doenças. Como todos nós sabemos, ninguém morre de velhice: Morre de doenças provocadas pela velhice. O Elixir da Vida garantia uma saúde por um tempo determinado, passado esse tempo, se você não tomar outra dose, você estará suscetível a doenças como qualquer outra pessoa.
Outro poder do Elixir da Vida é evitar que você morra de fome ou sede, pois ele age como suprimento alimentar: Você só precisa comer e beber se você quiser.
Mas, é claro, o Elixir não previne a morte por causas que não-patológicas, como: afogamento; enforcamento; decapitação; choque elétrico (raro em bruxos, mas pode acontecer); Maldição da Morte; entre outros.
Conclusão: A Pedra Filosofal não o torna imortal.
Então, como se tornar um?
A resposta é: Horcruxes.
Pesquisas recentes do Departamento de Mistérios da Inglaterra mostram que, uma vez que você comete um ato supremamente maligno*, matar alguém com o intuito de ficar imortal, um pedacinho de sua alma é rasgado, embora permaneça ligado à alma. Com o tempo, o pedaço de alma acaba voltando naturalmente a se unir com ela.
Embora seja um ato completamente contra a natureza, existem, usando magia negra avançadíssima, maneiras de expulsar o pedaço de alma que se destacou para sempre. Isso, normalmente, seria como machucar você mesmo, pois, uma vez que a alma é solta, quando você morre, ela é impulsionada invariavelmente para cima.
O mesmo aconteceria com o pedacinho de alma: Expulsando-o de seu corpo, ele sairia da ponta de sua varinha, e subiria em linha reta, para um destino desconhecido. (Veja como fazer isso no próximo capítulo.)
Mas, se você enfeitiçar algum objeto com um Feitiço Receptor de Alma (mais detalhes no capítulo 3), apontar a varinha para a parte inferior do objeto, e soltar o pedacinho de alma, ele levitará para cima, passará pelo objeto, e ele o prenderá dentro dele próprio. Quando fizer isso, você será imortal enquanto o objeto (considerado uma “Horcrux”) estiver inteiro, resguardando a alma lá dentro.
Você deve estar se perguntando: “Por que separar a alma me tornaria imortal?”
Isso é um pouco complexo, mas tente raciocinar da seguinte forma:
A Horcrux é um segundo corpo. Como a alma só pode se separar do corpo-matriz se ela for a única que existe, se você for atingido por uma Maldição da Morte, por exemplo, a alma não irá separar-se do corpo se a Horcrux estiver inteira. O corpo só morre se a alma que há nele for a única.
Com a Horcrux é diferente. Se ela for destruída, não importa se ela não for a única, o pedaço de alma desaparecerá invariavelmente para sempre, sem chances de recuperação. (Entretanto, se a Horcrux estiver intacta, você poderá reuni-la à alma sentindo remorso pelo que fez. Entretanto, a dor do processo acabaria matando-o.)
Conclusão: Se o pedaço de alma continuar protegido pela Horcrux, você não poderá morrer.
Isso, como dito anteriormente, é absolutamente contra as leis da natureza. Se você planeja voltar como fantasma, e você morrer com a alma mutilada, esqueça: A alma mutilada não poderá voltar.
Para a vida após a morte, ocorreriam coisas horríveis: Você estaria atrofiado irrecuperavelmente, e jamais voltaria a falar, ou mesmo pensar: Seria como um espectador apenas, nunca mais interagiria.
Por isso, se quiser continuar vivo, teria que tomar cuidado, colocando todos os feitiços de proteção e recuperação na Horcrux, e escondendo-a excepcionalmente bem.
Quem faz uma Horcrux acaba atraindo uma maldição para si: Acabarão, mais cedo ou mais tarde, surgindo um inimigo mortal da Horcrux, e um inimigo mortal seu.
A definição de “inimigo mortal”, aqui, significa que alguém acabará descobrindo, e tentará destruir a Horcrux.
Vejamos o exemplo de Tom Servolo Riddle, falecido bruxo das trevas, conhecido como Lord Voldemort. Ele teve nada menos do que OITO Horcruxes, sendo uma ele mesmo. Cada Horcrux ganhou um, ou mais de um, inimigo mortal, veja:
Medalhão de Salazar Slytherin — Ronald Weasley (que a destruiu) e Régulo Black (que a roubou)
Diário de Riddle — Harry Potter
Anel de Servolo — Alvo Dumbledore
Caneca de Helga Hufflepuff — Hermione Granger
Nagini (um animal usado como Horcrux) — Neville Longbottom
Diadema de Rawenclaw — Possivelmente Harry Potter, mas destruída acidentalmente por Vincent Crabbe
Harry Potter (Caso excepcional, em que uma pessoa vira Horcrux acidentalmente) — O próprio Voldemort
Lord Voldemort — Harry Potter
Note que o próprio Voldemort tornou-se Inimigo Mortal de uma Horcrux (Harry Potter). Isso aconteceu porque ela foi criada acidentalmente, sob circunstâncias desconhecidas, mas Voldemort era inimigo dessa pessoa.
Ele chegou ao limite da magia conhecida, mas acabou morto. Serve de exemplo para os próximos bruxos que quiserem criar uma Horcrux, para que eles cuidem bem dela.
O capítulo terminava ali. Júlio estava com sono, mas também chocado com o que lera.
Voldemort fora um tolo... para que criar Horcruxes? Para atrair seus Inimigos Mortais? Se eu fosse um bruxo das trevas, pensou Júlio, eu confiaria apenas em minha capacidade mágica.
O que o chocou mais não era o que estava escrito no livro, mas o que estava na contracapa dele:
"Propriedade de Astonigildo Minador, diretor da E. P. E. M. Paulo Coelho."
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