A Escola Pública de Magia
A Escola Pública de Ensino Mágico Paulo Coelho foi fundada em 1970 pelo próprio Paulo Coelho. No início, ela era particular e bem-cuidada. O sr. Coelho manteve-a impecável por uma semana, mas acabou desistindo dela, por achar que os jovens bruxos aprendiam melhor sozinhos. Então a escola tornou-se pública. Desde aquele momento, começou a decadência.
Atualmente, o Ministério da Magia brasileiro fica quinhentos metros abaixo do Ministério da Educação, e ele fornece algum dinheiro para a E.P.E.M. Paulo Coelho.
A escola fica em algum ponto desconhecido de alguma floresta, e é protegida por Feitiços Antitrouxa. Nas principais cidades brasileiras, em locais determinados previamente por cartas, os estudantes pegam Chaves de Portal para lá.
As varinhas custam 100 reais, só compra quem pode. Quem não pode tem que se virar para conseguir uma, seja roubando ou guardando as economias.
Um exemplo de pessoa que precisou guardar economias era Júlio Ferreira. Seus avôs eram portugueses que imigraram para o Brasil, mas creio que eles acabaram se arrependendo mais tarde.
Júlio tinha 11 anos, a idade-padrão para o início da educação mágica, de acordo com a Confederação Internacional dos Bruxos, e estava prestes a entrar na escola. Morava em Porto Alegre tinha cabelos negros e olhos idem, e estava na fila em frente a um albergue, às 2 da madrugada, para conseguir um lugar na Chave de Portal, que segundo alguém lá na frente informou, era uma grande e velha geladeira. Havia 10 pessoas na frente de Júlio e mais 4 atrás dele.
Nisso, um garoto loiro e um pouco mais alto que Júlio furou a fila sem cerimônia.
— Saia daí! — gritavam os que estavam atrás dele.
O menino loiro que furara a fila perguntou a Júlio, apontando para o lugar em frente ao garoto:
— Posso ficar aqui?
Júlio concordou, pois estava muito sonolento para fazer objeção. Os que saíram prejudicados começaram a protestar, chamando o coitado de inúmeros palavrões.
Após diversos contratempos, todas as 15 pessoas estavam tocando de alguma forma na geladeira. Quando o relógio de Júlio indicava 22:30, ele sentiu que um gancho o puxava pelo umbigo.
Ele estava girando em um redemoinho de cor e som, quase vomitando, e, de repente, estava numa floresta, sendo atirado para longe.
Quando se recuperou da tontura, viu a escola pela primeira vez.
Era feia, muito feia, embora ainda tivesse traços de austeridade, pois fora fundada em tempos de ditadura militar. As paredes eram feitas de pedra, e não havia um centímetro que não fosse gravitado ou pichado. Tinha quatro prédios de quatro andares, cada andar com quatro salas de aula, cada uma com quatro janelas. A predominância do número quatro nunca fora explicada por Paulo Coelho, de modo que se achava que o fato era uma coincidência sem nenhum significado.
Todos se levantaram e foram guiados por um monitor até uma pesada porta de aço, no prédio 3. Nela, estavam escritas as seguintes palavras:
PORTA DOADA PELOS FORMANDOS DE 1977, DA SUNSERONA
CARLOS SOLAR
HUMILDINA DE OJE
JANETH BERTRAM
JULIUS CAESAR
KOKUGI ATSUGI
PIETRO RETORICUS
TONY M.
WILLIAN GOLÍFICO
AGRADECIMENTOS AO SÉTIMO, POR COMPRAR A PORTA.
Sorte que o meu sobrenome não é “Golífico”, Júlio pensou.
Os calouros, e foram guiados por um corredor igualmente de pedra, e igualmente pichado, que fedia a urina. Então o monitor mandou-os parar.
— Este é o refeitório — disse, apontando para a porta. — Aqui vocês vão comer a merenda de todo dia. O café da manhã é pão com doce de leite e café preto com duas colheres de açúcar, o almoço é arroz, feijão, ovo e alface, com um copo de suco de laranja, o café da tarde é igual ao café da manhã, e o jantar é a mesma coisa que o almoço. Alguma pergunta?
Todos levantaram as mãos.
— Alguma pergunta que não seja “Vamos ter sobremesa?”
Todos abaixaram as mãos.
— Muito bem. Agora, mais algumas coisinhas.
“Primeiro, o esquema aqui não é nada parecido com o da escola britânica de magia, Hogwarts. São quatro casas: Grofindar, a dos corajosos, Sunserona, a casa dos espertos e astutos, Cornomau, a casa dos inteligentes, e Bufa-Bufa, a casa dos restantes, em outras palavras, os que não são inteligentes, espertos, nem corajosos. Cada casa tem o seu prédio, e o prédio em que vocês estão agora pertence à Sunserona.
“Em segundo lugar, vocês estão presos aqui desde o momento em que vocês chegaram. Não poderão sair daqui, exceto em excursões.
“Em terceiro e último lugar, vocês comerão agora o banquete de inauguração, ou seja, um Big-Mac com Coca-Cola, e ouvirão o discurso do diretor Astonigildo Minador, ex-diretor da Sunserona, 44 anos de idade, bruxo mais poderoso do Brasil, o que não é grande coisa, gosta de ouvir funk e música sertaneja, é sobrevivente de 42 facadas no tórax, foi o primeiro bruxo a matricular-se em nossa escola, tocador de stradivarius nas horas vagas.”
Júlio ficou impressionado com o homem ter sobrevivido a 42 facadas, e mais impressionado ainda com o fato de gostar de funk e música sertaneja ao mesmo tempo, o que ele achava impossível.
Aliás, ele perdera a noção do que era possível e impossível nas vinte e quatro horas anteriores.
4 de março de 2003. Aniversário de onze anos. Um uirapuru aparecera do nada em sua casa. Trazia no bico uma carta. Ela dizia que Júlio era bruxo. Tinha também um aviso dizendo exatamente quando a Chave de Portal partiria para a escola. A princípio, o garoto não acreditou no que a carta dizia, mas certas coisas estranhas que haviam acontecido, desde os seus sete anos de idade, não podiam ser mera coincidência. Seus pais relutaram a deixar que o filho fosse para um lugar que eles nem sabiam onde ficava, mas eles não eram tão ruins a ponto de um gigante ter que arrombar a porta e pegar o futuro aluno a força, que nem CERTAS PESSOAS.
No dia seguinte, no local e hora combinados, ele pegara a chave de portal. E agora esperava que o monitor destrancasse a porta do refeitório.
Os calouros de Porto Alegre entraram lá.
Ele tinha dez metros por dez metros, e, depois que os calouros porto-alegrenses e o monitor entraram, nele havia sessenta e quatro alunos, mais dez professores. Eram cinco mesas, uma para cada casa, mais a dos professores, que ficava na frente. Entre a mesa dos professores e as mesas das casas, estava um banquinho com um chapéu velho.
— Eu quero que vocês, calouros, enfileirem-se — disse o homem que estava na cadeira do meio da mesa dos professores.
Era um homem de meia-idade, alto, careca e com uma barba longa e negra. Tinha olheiras profundas e um nariz longo e pontudo. Era pálido e tinha algumas rugas no rosto. Uma cicatriz diagonal riscava a sua bochecha direita. Emanava um ar de uma segura autoridade que Júlio jamais vira.
Quando o diretor deu a ordem, os que estavam em pé na sala, aproximadamente trinta calouros, formaram uma fila desajeitada.
— Quando eu der a ordem, quero que o primeiro da fila vá e experimente o chapéu. Ele foi emprestado pela atual diretora da Escola de Hogwarts, Minerva McGonnagall. O Chapéu Seletor irá dizer a qual casa vocês pertencem. Vocês deverão sentar-se na mesa dos que estiverem aplaudindo loucamente.
Júlio era especialista em ficar no meio de filas, e dessa vez o número de pessoas que estava na frente dele era igual ao número de pessoas atrás dele. Ninguém notou isso, nem mesmo Júlio.
A fila foi prosseguindo devagar, como se o Universo estivesse conspirando contra a vontade de dormir de Júlio Ferreira. Quando chegou a vez dele, o Chapéu Seletor foi colocado em sua cabeça, e, como o rapaz era magro, ele afundou até os ombros.
Júlio ouviu uma voz em sua cabeça, como se usasse fones de ouvido.
“Eu estou vendo aqui que você é um garoto permissivo, que não gosta de brigas. Nada de Grofindar para você. Também não é lá essas coisas em inteligência, então você não serviria para Cornomau. Espere... Eu estou vendo alguma esperteza em você... Você pode ser grande, e a Sunserona o ajudaria a alcançar essa grandeza... huh? Sunserona não? Então...”
“Eu não disse ‘Sunserona não’”, pensou Júlio.
“Ah, tudo bem. É que, da última vez em que eu disse isso, Harry pensou ‘Slytherin não.’ A Sunserona está bem para você?”
“Sim.”
— SUNSERONA!!! — gritou o Chapéu Seletor.
O pessoal da mesa da Sunserona aplaudiu entusiasticamente, e Júlio tirou o chapéu e saiu correndo para arrumar um lugar lá.
Quando a Seleção acabou, o diretor não fez discurso nenhum, apenas mandou cada um comer seu Big Mac com Coca-Cola e ir se deitar.
Júlio não conversou com ninguém naquele dia, de tão sonolento que estava. Apenas comeu e foi ao dormitório com os outros alunos da Sunserona, o monitor guiando.
A Sala Comunal da Sunserona ficava atrás de um quadro representando um coelhinho fofinho, e para poder entrar, você devia dizer a senha, que naquela semana era “Pé de pato mangalô trêis vêis”. Lá dentro, havia um monte de camas. Não eram separadas por cortinas, e não havia dormitório separado para as meninas, nem uma janela mostrando um lago. Havia camas, e, abaixo delas, o material escolar, transportado magicamente para lá.
Júlio se deitou, na cama em que estava escrito o seu nome, incorretamente. Estava escrito JULHO PHERREIRA.
Quando o garoto bateu com a cabeça no travesseiro, sentiu uma coisa dura abaixo dele. Levantou-se, irritado, e removeu o travesseiro. Ali, havia um livro. Nele, estava escrito: SECRETS OF THE IMMORTALITY — HOW TO MAKE HORCRUXES.
Um livro em inglês, pensou Júlio. Seus conhecimentos de inglês eram parcos, mas ele entendeu que na capa estava escrito: SEGREDOS DA IMORTALIDADE — COMO FAZER HORCRUXES.
Imortalidade?, impressionou-se o garoto. É isso que ensinam aqui, no primeiro ano?
Trêmulo, abriu o livro.
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