Nostalgia em King's Cross
Capítulo 3 – Nostalgia em King’s Cross
- Teddy Lupin! Quantas vezes tenho que te dizer que não quero que você use tons estranhos no seu cabelo?- Andrômeda exclamou, com veemência. Veemência até de mais, na opinião de Ted, já que todos os trouxas olharam de maneira estranha para eles.
- Ai, vovó! Quantas vezes eu tenho que dizer para você falar mais baixo?- o garotinho de 11 anos disse, com ironia.
Não era surpresa o fato de estarem sendo o centro das atenções. Carregar um malão e uma coruja não é um comportamento muito normal, segundo os trouxas. Um garotinho de onze anos baixinho, magro e de cabelo azul-celeste também. Ainda mais na visão dos habitantes de Blyth Valley, que não gostavam muito das excentricidades dos Tonks.
Para poupar todos esses olhares enviesados que lhe eram enviados, bem que Andrômeda Tonks poderia ter aparatado ali mesmo da sua casa. Mas, segundo ela, usar meios de transportes trouxas era uma forma de interação. Uma bobagem, na opinião de Teddy, que achava bem mais fácil aparatar em vez de andar e ainda pegar um trem às 7 horas da
manhã.
- E você sabe muito bem que nós vamos nos encontrar com o Harry, a Gina, a Hermione, o Rony, a Fleur, o Gui, o George e a Angelina lá na estação.- Ela disse quando os dois cruzaram a praça principal e entraram na estação em estilo gótico.
Teddy ficou calado, pensando. Se George e Angelina iam para a estação vê-lo ir para Hogwarts, isso significava que Fred também iria. E depois que ele descobriu o beijo entre Vicky e Ted, a amizade entre os garotos nunca mais fora a mesma. Passaram a disputar tudo: a atenção de Victoire, escolheram times de quadribol muito diferentes. Apesar de o “namoro”com a ruiva tenha durado somente um mês, eles nunca tinham feito as pazes.
Enquanto pensava dentro do trem, o cabelo de Ted mudava há cada minuto. Roxo, azul, vermelho, amarelo, laranja, preto. Em uma ocasião normal, Andrômeda já teria chamado a atenção do menino; mas ela percebia que estava acontecendo algo com o garoto.
Duas horas depois, o trem finalmente chegou a Londres. Ted foi obrigado a voltar seu cabelo pra a cor natural, castanho claro. Apesar de Londres ser uma cidade garnde, um garotinho de 11 anos de cabelo azul é uma visão meio estranha.
- Sabe, vovó, eu vou sentir muita falta das suas esquisitices.- ele riu, com sinceridade, enquanto atravessavam a estação de metrô.
- Eu também vou sentir muita falta de você, meu filho. Mas tenho certeza que você vai fazer grandes amigos!- ela afirmou.
Uma pequena lágrima escorreu dos olhos de Andrômeda. Ted já tinha virado um rapazinho! Como passara rápido o tempo... A saudade de Ninfadora e de Ted pai era muito grandes. Mas o amor pelo neto era maior. Durante a sua vida, ela havia aprendido que nada dura pra sempre. Por isso se dedicava a tudo com o maior amor possível.
Quando enfim chegaram a King’s Cross, Andrômeda sentiu uma coisa que a tempos estava adormecida. Era nostalgia. Todos os lados lembravam Ted e Ninfadora. Todos os momentos bons que passaram juntos. Todas as idas para Hogwarts. Esses sentimentos doíam e até entorpeciam. Foi com muito esforço que ela conseguiu balbuciar um “vamos sentar” e se encaminhar para o banco mais próximo antes que as lembranças tomassem conta dela.
Era outono. Por toda a Inglaterra os cidadãos se preparavam para o inverno que estava por vir. Diziam que o inverno de 1964 seria o mais frio do século. A Estação King’s Cross estava abarrotada de pessoas muito agasalhadas. Próximo a Plataforma 10 estava uma família muito numerosa. Talvez os trouxas não os reconhecessem, mas todos os bruxos que ali passavam sabiam. Sabiam também que era melhor não ficar muito tempo fitando-os. Alberthony Muffrey Black não era famoso por sua paciência.Ainda mais quando o alvo dos olhares era Catherinna Nadine Black, sua esposa famosa pela beleza.Tinha cabelos pretos e olhos extremamentes azuis. Suas filhas, Bellatrix, Andrômeda e Narcisa, haviam herdado a sua beleza. Bellatrix tinha cabelos pretos como o da mãe, mas olhos escuros como o do pai. Já Narcisa havia herdado os olhos azuis da mãe, mas seu cabelo era loiro como o do pai. Andrômeda era completamente diferente. Apesar de lembrar bastante sua irmã Bellatrix, tinha cabelos castanhos e olhos cor de mel.
- Andrômeda Fyrane Black! Não te disse para não usar essas roupas de trouxa horríveis?- o Sr. Black indagou, com raiva, o que fez Narcisa e Bellatrix debocharem da irmã.
-Mas não é isso que deveríamos fazer? Fingir ser trouxas?-a garota perguntou, incerta.
-Nós somos os Blacks. Não precisamos disso.- a Sra. Black exclamou.
- Agora nós vamos embora, não é Catherinna? Venha, Narcisa. Você só entrará em Hogwarts ano que vem.- o Sr Black disse, e sem sequer se despedir das filhas, foi acompanhado pela mulher e pela filha mais nova.
Andrômeda fitou os pais até desaparecerem na multidão. Por que eles não podiam ser como os outros pais, pensou ela. Ela tentou se recordar a última vez que havia recebido um beijo ou abraço, ou até mesmo uma palavra de afeto dos pais. Foi em vão. Não se lembrava. Foi interrompida de seus pensamentos pela irmã.
- Oi, esquisitinha. Vou me juntar aos meus amigos, ok? Tente achar o caminho até a plataforma.- Bellatrix debochou e passou pela plataforma, desaparecendo.
Andrômeda resolveu fazer o mesmo. Tomou coragem e correu até alcançar o lugar onde a sua irmã havia passado. Ou pelo menos tentou, porque quando estava prestes a passar, foi atingida por um garoto que parecia estar tentando fazer o mesmo.
Os dois caíram no chão e suas coisas se espalharam pelo chão.
-Por onde você pensa que esta andando? Preste mais atenção! Você me derrubou no chão! – ela gritou, com raiva, e começou a juntar suas roupas que tinham caído do malão.
- Desculpe. Mas foi você que me derrubou! Tudo o que eu queria era achar essa plataforma nove e meia! O que você estava fazendo? Ia bater a cabeça na parede?- Ela prestou mais atenção no garoto. Aparentava ter onze anos e tinha cabelos loiros escuros e olhos verdes. Nesse momento Andrômeda começou a achá-lo bonito.
- Plataforma nove e meia? É por aqui. Na parede!- ela exclamou, com veemência.- Você é trouxa, não é?
- O que?- balbuciou ele, com raiva.- Eu não sou um trouxa!
- Não é nesse sentido..- explicou ela.- Quis dizer que você não é bruxo.
- Não sou mesmo. Qual é o seu nome?- ele perguntou.
- Andrômeda Black
- Prazer. Ted Tonks.
***
Uma garota morena de cabelos castanhos lia um livro, embaixo de uma árvore. Era Primavera e todas as árvores de Hogwarts estavam bem floridas. Tentou imaginar como se sentiria ao deixar a escola. Faltavam dois anos. Somente dois. Estava tão pensativa que nem notou a chegada de um garoto magro e loiro de olhos verdes.
- Olá, Andie! – ele cumprimentou, e a puxou para um beijo. Como sempre, ela se sentia nas nuvens quando era beijada por Teddy, mas dessa vez notou que havia algo errado.
- O que houve, Ted? Algum problema?- ela inquiriu, preocupada.
Ele balançou a cabeça, mas Andrômeda sabia que havia algo errado.
- Foi a Bellatrix? Não acredito, o que ela fez?- Andrômeda perguntou, indignada.
- Não foi a Bellatrix, Andie. Eu só.. eu só estou com medo.
O rapaz se deitou no colo de Andrômeda, que começou a fazer carinho no cabelo dele.
- Medo do quê, Ted? Eu te amo! Nada que a minha família faça mudará o meu sentimento! – ela disse.
-Eu estou com medo de te perder. Ouvi uma conversa entre suas irmãs falando que o seu pais estão querendo que você noive Rabastan Lestrange.
Andrômeda riu. Ela tinha certeza desde o começo que ficaria com Ted para a vida inteira. Nenhuma decisão a sua família faria ela mudar de idéia.
- Não se preocupe, Ted. Nós ficaremos pra sempre juntos!
-Promete?- Ted indagou, e fez um carinho em sua namorada.
-Prometo.
***
Uma garota de cabelos roxos e olhos azuis corria pela plataforma, carregando um malão e uma coruja. Depois de escapar por um triz de um esbarrão com um guarda, chegou ao seu destino, entre as plataformas 9 e 10. Os seus pais vinham no seu encalço.
- Ninfadora Tonks! Troque logo a sua cor de cabelo, mocinha! – Andrômeda exclamou, e fingiu raiva.
- Ai, mamãe.. essa cor está boa, não é papai?- ela perguntou.
- Está, Ninfadora. Mas eu prefiro a sua cor natural. Castanho claro! – Ted disse, e fez um cafuné na cabeça da menina.
- E por favor não em chama de Ninfadora! Meu nome é Dora...
Os dois pais se olharam. A filha nunca havia gostado do nome. Era até engraçado ouvir todas as reclamações, que sempre eram acompanhadas de muitas mudanças na cor dos olhos e do cabelo.
- Ok, filhinha. Agora vamos, Dora, porque já são quase onze horas!- Ted respondeu e os três atravessaram a plataforma.
A Locomotiva estava prestes a partir. Ninfadora se apressou a colocar seu malão dentro.
- Tchau mãe. Tchau pai! Amo vocês- ela exclamou e deu um abraço em cada um deles.
- Tchau Dora. Amamamos você.
***
Andrômeda olhou para o lado de fora da casa. Kingsley Shacklebolt se aproximava da casa em passos largos. Ela sabia que havia algo errado; fazia uma semana que Ted, seu marido, não mandava notícias. Seus olhos se encheram de lágrimas pois no íntimo sentia que Ted não estava mais entre os vivos.
O bruxo passou pela sebe e bateu a porta. Andrômeda, depois de verificar que era ele mesmo, deixou-o entrar.
- É sobre o Ted, não é? – ela perguntou e as lágrimas desceram de sua face.
- É sim.- Kingsley exclamou, com sua voz grave.- Ele morreu, Andrômeda, sinto muito. Ele foi um herói até o final, protegendo todos ao seu redor.
As lágrimas encheram a face de Andrômeda. E ela apagou.
***
Andrômeda Tonks despertou de seus devaneios. Um choro de bebê ecoou pela casa. Teddy deve estar com fome, pensou ela e foi ao quarto do bebê.
Ela sorriu ao abrir a porta. Não podia ter acertado mais. Ela mesma tinha decorado o quarto em tons de azul e branco. Foi até o berço, onde seu neto chorava escandalosamente. Meu neto. Como sentia orgulho daquele garotinho! O segundo metamorfomago de sua família! Andrômeda sorriu ao perceber que o cabelo de Teddy estava cor-de-cenoura.
Segurou o bebê bem junto do peito. Ele não chorava mais, e fitava Andrômeda com interesse. Após colocá-lo em seu cercadinho na sala, ela pegou uma mamadeira na geladeira e ligou a televisão para distrai-lo um pouco.
Teddy olhava atentamente para o Pingu da tela e tomou a mamadeira em pequenos goles. Sua avó olhou para o menino. Cada dia mais achava que ele se parecia com sua Ninfadora quando criança...
Estava tão absolvida em seus pensamentos que nem percebeu a chegada de algo volumoso e prateado. Andrômeda ergueu os olhos ao ouvir o choro de Ted, que agora apontava para o falcão pousado no meio da sala. O Patrono abriu a boca e disse, na voz que ela reconheceu como sendo de Gui Weasley, o primogênito dos Weasleys:
- Sinto muito, Sra. Tonks, mas tenho uma triste notícia para lhe dar. Dora e Remo estão... estão mortos.
Andrômeda Tonks despertou de seus devaneios. Do seu lado, Ted olhava para ela com um cara de pura preocupação. Ele logo perguntou:
-O que houve, vovó?
- Eu me lembrei, Teddy. Me lembrei de todo o sofrimento.- ela disse, e limpou as lágrimas que escorriam pela face.
-Está falando dos meus pais e do vovô?- ele perguntou, também com lágrimas nos olhos.
- Sim. Eu sinto muita falta deles. Eu queria que eles voltassem!- Parecia que o papel havia se invertido. Eram um neto consolando um avó.
- Mas eles não vão voltar, vovó. Por favor, eu quero que você não fique tão triste assim. Eu não quero te perder, você é a última pessoa que tenho nesse mundo.
- Eu te amo, Teddy. E eu sempre estarei aqui.- ela exclamou.
Ted envolveu a avó em um abraço. Os dois choraram sem se importar com as pessoas na Estação que olhavam para eles, sem se importar com o horário, sem se importar com nada. Só pensavam em três pessoas: Ted, Ninfadora e Remo.
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