Capitulo 5
CAPITULO V
“Seja imprevisível. Não se acomode, mantenha o homem sempre em expectativa. — Diário de Megan Madacy, Primavera de 1923”
Hermione acordou cedo na manhã seguinte e, pela primeira vez, em muito tempo, sentiu-se normal, sentiu-se ela mesma. A melhor coisa que fizera fora vir para a casa da tia na Carolina do Norte. Quatro dias haviam sido suficientes para recuperar totalmente as energias, refletiu, enquanto escutava o canto dos pássaros no jardim.
Hermione levantou-se, arrumou a cama e, depois de lavar o rosto e escovar os dentes, vestiu um dos vestidos novos de verão. Em seguida aplicou uma maquiagem leve e passou a escova nos cabelos, para deixá-los mais sedosos e com volume.
Aproximando-se da janela, ela espiou para fora, para a casa ao lado. Estava fechada, o carro de Harry não se encontrava lá. Naturalmente, sendo dia de trabalho, ele já fora para Charlotte.
O beijo da noite anterior assaltou-lhe a memória e Hermione respirou fundo, tentando acalmar-se. Era tarde demais para arrependimentos, e ela agora precisava olhar para frente e decidir o que faria de sua vida. O primeiro passo seria esquecer o vizinho sensual que um dia a fizera sonhar.
Depois de fazer café, ela sentou-se com a xícara na mão para ler o jornal. Se estivesse em Nova York, àquela hora já teria participado de pelo menos duas reuniões, atendido a uma dúzia de telefonemas e estaria enlouquecida tentando cumprir os compromissos do dia.
Por mais que o trabalho fosse gratificante, era bom não ter nada para fazer.
Ela tomou mais uma xícara de café e subiu para pegar o diário. Felizmente Harry não estava em casa, assim ela poderia sentar-se tranquilamente no jardim para ler, sem que ele viesse perturbá-la.
“Tia Dottie veio tomar chá conosco, hoje. Contei a ela sobre Frederick. Ela achou graça, e ela e mamãe trocaram olhares. Depois ela me disse para sempre deixar os rapazes na expectativa. Para fazer um pouco de mistério, não deixá-los saber o que estou pensando. Seja imprevisível, ela me disse, não se deixe acomodar. Faça alguma coisa inesperada e observe a reação. A vida é muito longa. Se seu marido não for aberto a novas idéias, sua vida será sem graça e infeliz. Mamãe concordou com ela. Disse que era um conselho sábio e que usa essa tática com papai.É bom fazer dezoito anos, as pessoas adultas começam a conversar sobre outros assuntos com você, a dar conselhos e contar suas experiências. Hoje à noite vou experimentar. Frederick vai me levar à reunião na igreja. Ainda não sei o que vou fazer, mas preciso pensar em alguma coisa que ele ache imprevisível.”
Minutos mais tarde, Hermione fechou o diário e recostou a cabeça na espreguiçadeira, contemplando o céu azul, acima. Megan devia ter sido uma pessoa interessante. Ela gostaria de tê-la conhecido. Por um momento, perguntou-se o que poderia fazer que Harry achasse imprevisível. Evitá-lo, como vinha fazendo? Não deixava de ser imprevisível, depois de seu comportamento anterior. Mas este já era um ingrediente da receita de Megan. E o fato era que, desde que ela começara a evitar Harry, ele passara a demonstrar interesse. Seria coincidência ou não?
Só tempo diria. E tempo ela tinha de sobra. Aqueles poucos dias em West Bend já haviam produzido um efeito fantástico em seu estado físico e emocional. Ela já não lamentava tanto a falta do emprego. Sentia saudade dos colegas de trabalho, mas a maioria deles também fora demitida. Alguns já haviam encontrado trabalho, outros continuavam procurando, que era o que ela deveria estar fazendo.
Antes, porém, ela precisava decidir onde. Nova York era uma cidade excitante, dinâmica, mas lá ela se sentia um pouco solitária, mesmo tendo bons amigos. Em West Bend ela tinha parentes e velhos amigos. Charlotte era uma cidade em pleno desenvolvimento, com amplas oportunidades de trabalho. E ficar perto da família era uma vantagem...
Tendo finalmente tomado a decisão, Hermione passou o restante da manhã fazendo seu curriculum. Depois do almoço, decidiu ir passar a tarde no clube. Estava manobrando o carro quando avistou os Bandeley, um casal de meia-idade que ela conhecia desde que começara a ir passar férias na casa da tia. Eles não tinham filhos, mas pareciam um casal feliz, ambos sempre alegres e bem-humorados. Aquilo era uma prova de que um casal podia ser feliz um com o outro, sem o elo dos filhos para uni-los. Mais um exemplo que ela poderia lembrar a Harry. Aliás, naquela vizinhança, os pais de Harry haviam sido o único casal que se separara. Ela não entendia por que ele era tão preconceituoso quanto ao casamento.
No clube, Hermione nadou e deitou-se ao sol durante grande parte da tarde. Aquelas férias eram merecidas e ela as aproveitaria ao máximo.
E o tempo inteiro, ela pensava de que forma poderia surpreender Harry. Teria de ser algo realmente inesperado, totalmente fora da rotina... O que poderia ser?...
Recostada numa espreguiçadeira, à sombra de um guarda-sol, Hermione estava quase adormecendo quando lhe ocorreu uma idéia genial. Abriu os olhos eufórica. Tinha certeza de que nenhuma outra coisa poderia surpreendê-lo mais. Só precisava pôr seu plano em ação.
Almoçaria com Harry, na quinta-feira, afinal.
Hermione tomou um lanche leve, sentada diante da televisão. Abusara um pouco da exposição ao sol e sua pele estava sensível ao toque. No dia seguinte a pele adquiriria um tom bronzeado, mas naquele momento sentia-se como um camarão.
Naquele horário, no começo da noite, não havia nada interessante para assistir, e ela mudou repetidamente de canal, sem se interessar por nenhum dos programas. Pensou em ler mais um pouco o diário, mas não gostava de ler muito de cada vez, senão acabaria logo. Apesar de curiosa para saber o final, gostava de saborear a leitura aos poucos, antecipando cada fase. Mas um conselhinho a mais não faria diferença.
Depois de lavar rapidamente a louça e secar a pia, ela encolheu-se num canto do sofá, com o volume encadernado nas mãos. Aquela hora Harry já deveria ter chegado, mas a casa continuava deserta e às escuras, ela podia ver, através da janela. Por que ele estaria demorando? Teria saído com alguma mulher sofisticada com quem tinha algum tipo de relacionamento profissional? Harry era um tipo solitário, mas Hermione não acreditava que levasse uma vida de monge. Ele sofrera uma grande desilusão com Selena, mas era viril e saudável demais para viver em castidade.
A idéia de Harrynos braços de uma mulher desconhecida deixava Hermione inquieta. Irritada, repreendeu a si mesma, lembrando-se que o que seu vizinho fazia nas noites em que voltava tarde para casa não era da sua conta.
Mas não pôde deixar de prestar atenção quando viu o carro dele chegar, duas horas mais tarde. Passava pouco das nove, cedo demais para estar voltando de um encontro amoroso. Talvez ele tivesse apenas ficado até mais tarde no escritório. A inquietação de Hermione desapareceu.
Harry desligou o motor do carro, contente por estar chegando em casa. Estava exausto. As sessões no tribunal sugavam-lhe a energia e a daquele dia não transcorrera como ele esperara. Mesmo depois de tantos anos de experiência na profissão, ainda se espantava com a facilidade com que os clientes mentiam. Não compreendiam que beneficiariam muito mais se contassem toda a verdade ao advogado. Não gostava de ser ludibriado na corte, como acontecera naquela tarde.
Por conta disso, em vez dê sair do escritório no horário de costume, tivera de chamar a equipe de investigação e reunir-se com eles para, juntos, encontrarem uma solução para a inesperada virada dos acontecimentos. Normalmente, Harry não se importava de ter que trabalhar até mais tarde, mas naquele dia pretendia ter voltado cedo para casa.
Assim que saiu do carro, olhou para a casa ao lado. As luzes estavam acesas na sala. Hermione ainda estava acordada. Por alguns breves segundos, ele hesitou. O que realmente gostaria de fazer era ir até lá e falar com ela. Saber o que ela fizera durante o dia e desabafar um pouco a sua frustração. Em vez disso, porém, caminhou até a porta da frente de sua casa, reprimindo o impulso. Era melhor não se arriscar. Hermione era do tipo que, se lhe dessem a mão, tomaria o braço. Se ele demonstrasse muito interesse, ela poderia interpretá-lo mal. Sempre havia a possibilidade de a antiga paixão que nutrira por ele estar adormecida e ressurgir com toda a força.
Ou não? Nos últimos dias ela o surpreendera, mas...
Um sentimento perverso, num cantinho do coração de Harry, induzia-o a provocar Hermione, a tentar reverter aquela situação.
Abriu a porta e olhou mais uma vez para a casa vizinha. Poderia ir até lã e perguntar a Hermione se queria fazer-lhe companhia durante o jantar. Não teria importância se ela já tivesse jantado, poderia apenas fazer-lhe companhia. Ele precisava anuviar a mente, parar de pensar nos acontecimentos daquele dia.
Harry entrou, colocou a pasta numa poltrona e foi direto para o telefone.
Quando Hermione atendeu, ele surpreendeu-se com o nervosismo que subitamente o acometeu. A voz dela era doce e feminina, tinha um sotaque diferente do que ele estava acostumado a ouvir.
— Hermione?
— Olá, Harry.
— O que está fazendo?
— Estou indo dormir. Por quê?
No mesmo instante, a imagem de Hermione usando uma camisola esvoaçante e transparente dançou diante dos olhos de Harry. Imaginou os braços nus, o pescoço, os ombros, os seios parcialmente visíveis, as pernas bem-feitas...
— Não é muito cedo para dormir? — ele perguntou, afrouxando o nó da gravata.
— Não. Estou de férias. Posso dormir à hora que eu quiser.
— Mesmo assim, é cedo demais. Venha até aqui, um pouco.
O silêncio do outro lado da linha durou mais tempo do que Harry esperara.
— Ir até aí?
— Acabei de chegar e gostaria de ter uma companhia para jantar.
— Obrigada, mas já jantei.
— Não tem importância. Apenas sente-se comigo à mesa.
— Estou com sono, Harry.
— O que você fez, hoje? — Se Hermione se recusava a ir até lá, conversariam pelo telefone.
— Telefonou para me interrogar?
— Telefonei para convidá-la a vir à minha casa, mas você já está pronta para dormir. Usando a camisola sensual?
— Harry, eu não acredito que você esteja me perguntando o que estou usando. Mas já que fez a pergunta, vou lhe responder. Não estou usando absolutamente nada. A noite está quente e abafada e decidi dormir sem nenhuma peça de roupa me incomodando. Gosto de sentir a pele nua, de ter liberdade de movimentos sem nenhum tecido me atrapalhando. Satisfeito?
Harry olhava para a parede a sua frente, sem enxergar, totalmente emudecido. Não só não conseguia falar, como tinha dificuldade também para respirar. E para raciocinar.
— Boa noite — acrescentou Hermione e desligou. Em seguida, escorregou até o chão, com as costas na parede, e cobriu a boca com as mãos, para abafar o riso.
Mal podia acreditar na própria sorte! Harry lhe dera a oportunidade que ela queria para fazer algo inesperado e imprevisível. Ele ficara mudo! Podia imaginá-lo ao telefone, boquiaberto, totalmente embasbacado.
Ela sobressaltou-se quando o telefone tocou.
— Alô.
— Hermione... Você está brincando com fogo.
— Foi você quem começou.
— Vou até aí para ver se é verdade.
— Não venha. Estou indo me deitar e não vou descer para abrir a porta.
— Você vai dormir a essa hora em Nova York?
— Claro que não. Mas se eu fosse, talvez não estivesse tão cansada agora.
— Como é morar na cidade mais badalada do mundo?
— Por que você quer saber?
— Curiosidade. Você me fez mil perguntas ontem. Não posso querer saber um pouco a seu respeito, também?
— Você está exagerando. Não fiz tantas perguntas assim.
— E eu estou fazendo apenas uma, agora. Fale-me sobre Nova York.
Hermione hesitou, a princípio, mas logo começou a falar sobre seu apartamento, o trabalho, os colegas e amigos. Não mencionou nenhum namorado, nenhum caso romântico, e Harry não se atreveu a perguntar, embora não soubesse exatamente porquê. Esse assunto poderia ficar para uma outra oportunidade. Ele estava gostando de ouvi-la falar sobre a cidade, sobre um estilo e ritmo de vida tão diferentes do de West Bend, e mesmo de Charlotte.
Quando se deu conta eram quase onze horas, e sentiu a consciência pesada por ter impedido Hermione de ir cedo para a cama, conforme ela pretendera. Se bem que tivera a impressão de que ela também gostara de falar. Seu tom de voz e de entusiasmo e empolgação, e ele suspeitava que o sono desaparecera enquanto ela descrevia as atrações e o carisma da cidade onde vivia.
— Ah, esqueci-me de lhe contar... Vi os Bandeley, hoje.
— Oh... bem... Isso tem alguma coisa a ver com Nova York?
— Não, nada. Só me lembrei. Eles são um casal que se dá muito bem, não acha? E já não são jovens. Já eram casados quando eu era criança.
— E?
— Nada, só estou comentando que eles são um casal feliz. É algo para você pensar. Boa noite, Harry. Agora, vou dormir mesmo.
Harry desejou-lhe boa noite e desligou o telefone, surpreso ao dar-se conta de que eram quase onze horas. Enquanto tentava decidir se comia alguma coisa ou se ia direto para a cama, ele se perguntava por que Hermione trouxera o assunto dos vizinhos do outro lado da rua. Será que ainda pensava nele sob o ponto de vista romântico? Não dera o menor sinal disso, desde que chegara, a não ser... pela maneira como reagira aos seus beijos. No entanto, não parava de lhe apontar casais felizes. O que estaria pretendendo?
As velhas barreiras se reergueram. Se Hermione achava que o faria mudar de idéia, estava muito enganada. Ele tomara uma decisão e nada mudaria isso. Nada.
Hermione apagou a luz e abriu a janela. Uma brisa amena soprou, refrescando o quarto, acariciando-lhe a pele sensível. Ela sorriu ao lembrar-se da conversa com Harry. Gostaria de ter visto a expressão dele. "Ah, vovó Megan, se você soubesse como seus conselhos têm sido úteis...", pensou. Mas um episódio apenas não era suficiente. Precisava pegá-lo desprevenido mais vezes.
A idéia que tivera à tarde continuava firme em sua mente. Ela tentaria surpreendê-lo de novo. Quantas vezes pudesse.
Até que estava sendo divertido, refletiu. Ela estava se sentindo jovem e livre, podia fazer o que quisesse, mesmo sabendo que não devia esperar nada sério de Harry. Mas provocá-lo e experimentar sua recém-adquirida sabedoria feminina com ele proporcionava-lhe um prazer que ela não imaginara. Até onde aquilo os levaria? Tinha de esperar para ver.
Assim que se deitou, pegou o diário. O que vovó Megan, por sua vez, teria feito para deixar Frederick completamente desconcertado?
Hermione planejou sua estratégia com a precisão de um general no comando de uma batalha, pesando os prós e os contras. Mas não estava preocupada. Se funcionasse, ótimo, Harry aprenderia uma boa lição. Se não desse certo, ela também não teria nada a perder.
Mas torcia para que desse.
Na quinta-feira, Hermione pegou um dos vestidos que comprara, amarelo estampado de pequenas margaridas, O corpete ajustava-se com perfeição ao seu corpo e as alcinhas finas eram um mero enfeite, uma vez que, mesmo sem elas, ele permaneceria firme no lugar. A cor alegre realçava o tom dourado de sua pele, e o novo corte dos cabelos favorecia o cacheado natural, dispensando maiores cuidados.
Deu o toque final colocando uma longa e esvoaçante echarpe ao redor do pescoço e desceu a escada. A "Operação Imprevisível" estava prestes a ter início.
Hermione não falara mais com Harry desde o último telefonema. Na noite anterior, ela tirara o telefone do gancho. Fazer-se de difícil requeria um planejamento detalhado. Ao ir deitar-se, ela não pôde deixar de imaginar se ele teria tentado ligar. Esperava que sim. O que ele teria pensado ao perceber que a linha estava ocupada?
Ela dirigiu até Charlotte e encontrou um estacionamento próximo ao escritório de Harry. Tudo indicava que a sorte estava do seu lado. Pegou a bolsa, deu uma última olhada no espelho retrovisor para checar a maquiagem e, respirando fundo, caminhou na direção do edifício.
Reparando nas outras mulheres que esperavam no hall dos elevadores, apinhado de gente, ficou feliz ao notar que nenhuma delas tinha uma aparência tão descontraída e despreocupada como a sua. As roupas sóbrias e formais pareciam pertencer a um mundo muito distante daquele em que Hermione se sentia. E pensar que poucas semanas antes ela também estaria usando aquele tipo de traje e teria criticado se tivesse visto uma mulher vestida como ela estava agora.
Os olhares mal-disfarçados não a intimidavam nem um pouco. A ansiedade e a expectativa cresciam dentro dela. Mal podia esperar para ver a reação de Harry. Mal podia esperar para vê-lo.
A firma de advocacia ocupava todo o oitavo andar. As portas do elevador se abriram para uma elegante área de recepção.
A jovem recepcionista ofereceu a Hermione um sorriso simpático. Hermione disse que viera falar com Harry, e a moça assentiu imediatamente.
— Ele me avisou que a senhorita viria, mas atrasou-se no fórum. Deve chegar logo.
— Não tem problema. Na verdade, cheguei mais cedo de propósito. E preciso da sua ajuda. — Hermione inclinou-se para frente e, baixando a voz, explicou à jovem o seu plano. Aliviada ao ver a outra rir, perguntou: — Posso contar com você?
— Claro! Eu não perderia isso por nada! Mas devo preveni-la de que ele provavelmente vai ter um ataque.
— Deixe-o comigo. Sei como lidar com Harry. Conheço-o há anos.
A recepcionista indicou a porta dá sala de Harry.
— Boa sorte. Se der certo, vou tentar também.
Hermione entrou no escritório de Harry, rezando para que desse certo. Não conseguia pensar em algo que fosse mais imprevisível para ele. Mentalmente, ela ensaiou pela centésima vez cada passo de seu plano.
Sem desviar o olhar do elevador, através da porta entreaberta, ela esperou, impaciente. Se Harry se atrasasse muito e tivesse compromissos urgentes que o levassem a cancelar o almoço, seus planos iriam por água abaixo.
Finalmente, porém, as portas do elevador se abriram e Harry saiu, acompanhado por dois outros homens. Trocou algumas palavras com eles e encaminhou-se para sua sala, mal respondendo ao cumprimento da recepcionista. Hermione deu um passo para detrás da porta e tirou a echarpe.
Harry entrou.
Hermione passou a echarpe ao redor dos olhos dele e apertou-a com força.
— O que... — Ele levou as mãos aos olhos.
— Quieto, senhor — ordenou ela, disfarçando a voz. — Isto é um seqüestro!
Harry hesitou e virou-se, desistindo de afastar a venda dos olhos.
— Seqüestro?!
— Exatamente. E não me faça ficar irritada. — Hermione tentou manter o tom de voz baixo e disfarçado.
— Hum... — Os lábios de Harry se curvaram num meio sorriso. Sem soltar a echarpe, Hermione posicionou-se atrás dele e amarrou-a firmemente atrás da cabeça de Harry.
— As coisas estão evoluindo bem — ele murmurou, virando-se e enlaçando-a pela cintura.
— Você acha?
— Sim. Nunca fui seqüestrado antes.
— Para tudo há uma primeira vez.
Então, para surpresa de Hermione, Harry puxou-a para si e cobriu-lhe os lábios com um beijo lento, porém profundo.
— É este o resgate? — ele perguntou, afastando o rosto apenas alguns centímetros do dela.
— O... quê? — Hermione estava tão atordoada que não compreendeu o significado da pergunta.
— Ficarei livre depois do beijo?
— Não. A que horas precisa voltar para o fórum?
— As duas.
Hermione deu um passo para trás assim que Harry afrouxou o abraço. Quando ele ergueu as mãos para tirar a venda, ela segurou-as e forçou-as para baixo.
— Comporte-se e estará de volta a tempo — ordenou, autoritária.
— E se eu não me comportar?
— Acompanhe-me.
Hermione conduziu-o até a área de recepção. A recepcionista cobriu a boca com uma mão para abafar o riso, enquanto eles entravam no elevador. As poucas pessoas que os observavam limitaram-se a sorrir. Felizmente, havia somente dois executivos no elevador, que olharam, curiosos, para Harry e Hermione, com certeza imaginando o que aquele homem elegantemente vestido de terno grafite, camisa branca e gravata de seda vermelho-escura fazia com uma echarpe amarela vendando-lhe os olhos, guiado por uma mulher que mal lhe chegava aos ombros.
Nenhum dos dois disse nada quando Hermione levou um dedo aos lábios. Felizmente, Harry entrara no espírito da brincadeira senão já teria arrancado a venda dos olhos e lhe passado um bom sermão.
— Vamos — ela conduziu-o para o saguão quando o elevador parou no andar térreo.
Tentando ignorar os olhares e risos, ela abriu caminho entre os grupos de pessoas até chegar à rua. Felizmente conseguira estacionar perto. Os poucos minutos que levou para guiar Harry até o carro pareceram-lhe intermináveis.
Com as faces coradas de vergonha e triunfo, ela sentou-se ao volante e, poucos segundos depois, estavam no meio do tráfego.
— Posso perguntar aonde estamos indo? — Harry indagou, relaxando no assento.
— Logo você vai saber.
— Vou poder tirar a venda?
— Eu tirarei.
— Não está mais disfarçando a voz.
— Você sabia que era eu?
— Desde o princípio.
Bem, pelo menos ele a beijara sabendo que era ela, pensou Hermione, ainda tomada pela agitação.
— Como você adivinhou?
— Seu perfume. É inconfundível.
Hermione não respondeu, conforme se aproximava da praça que estava procurando. Era bem grande, com um playground e uma extensa área gramada. Depois de estacionar, pegou a cesta de piquenique e o cobertor no banco traseiro e contornou o carro para ajudar Harry a sair.
— Leve isto — disse, colocando a mão dele ao redor da alça da cesta. Segurando-o pela outra mão, ela o conduziu até uma área deserta, sombreada por um pequeno agrupamento de árvores. — Pode tirar a venda.
— Entendi que seria você quem tiraria.
Hermione estendeu o cobertor sobre a grama e ergueu os braços para desatar o nó da echarpe.
— Pronto — murmurou, com um sorriso embaraçado. — Achei que seria uma boa idéia fazermos um piquenique.
Ela fez um gesto abrangendo o espaço ao redor deles, tentando decifrar o que Harry estava pensando pela expressão de seu olhar.
— Não teria sido mais simples telefonar e convidar-me?
Hermione sorriu, aliviada porque Harry não ficara furioso.
— Eu quis dar um senso de aventura a. coisa.
Harry fitou-a demoradamente, antes de perguntar:
— Você já seqüestrou muitas pessoas antes?
— Não — respondeu Hermione, sentando-se numa extremidade do cobertor, a saia rodada a sua volta. — Foi a primeira vez. Mas agora que sei que funciona, vou tentar de novo.
Harry colocou a cesta sobre o cobertor e tirou o paletó, sentando-se em seguida.
Hermione abriu a cesta e dispôs sobre o cobertor os pratos de porcelana, talheres de prata e copos de cristal que arrumara cuidadosamente na véspera. Depois removeu as embalagens que abrigavam a salada e o salmão, e colocou uma garrafa de vinho francês entre ambos. Satisfeita com o resultado, olhou para Harry.
— Esta é a sua idéia de um piquenique? — ele perguntou, contemplando o elegante aparato.
Hermione assentiu, rezando para que ele aprovasse.
— Você é cheia de surpresas, Hermione Granger.
— E isso é bom ou mau?
— É bom — ele respondeu, meneando a cabeça afirmativamente. — Muito bom.
Obs:Calma que tem mais....
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