▪ Brigas e Decepções
Severus Snape acordou muito cedo naquele dia, com os gritos enfurecidos de seu pai.
– Mulher imprestável... IMPRESTÁVEL. É o que você é. – gritava Tobias.
– Por favor, des...culpe, desculpe, meu amor. Eu... eu não queria. Desculpe. – dizia uma Eileen soluçante que chorava copiosamente.
– Cala... a... boca. – Tobias deu um tapa na cara de Eileen – Me diz no que você estava pensando. VOCÊ É ALGUM TIPO DE IDIOTA? – Eileen deu um grito porque Tobias tinha acabado de puxar seus cabelos.
– N-ão... Tob, não foi por querer. – Eileen estava aos prantos quando Severus entrou na sala.
– TIRA... AS... MÃOS... DA... MINHA... MÃE! – Severus gritou.
– Não se mete, moleque. Isso entre essa idiota imprestável e eu. – disse Tobias, ainda segurando os cabelos de Eileen.
– EU DISSE PARA TIRAR AS MÃOS DA MINHA MÃE. – Severus gritou de novo. Um copo perto dele explodiu e um caco de vidro cortou a mão de Tobias, fazendo-o soltar Eileen.
– Fi-filho, vai pro... pro seu quarto. Tá tudo bem. – Eileen falou entre um soluço e outro.
– NÂO. Eu não vou paro o meu quarto até esse SANGUE-RUIM aprender a parar de te maltratar.
Tobias Snape soltou o cabelo de sua mulher e foi em direção a Severus. Parou na frente dele e os dois ficaram se olhando por pouco mais de um minuto, então Tobias empurrou Severus para o lado e saiu de casa batendo a porta ao passar.
Severus correu até onde estava sua mãe, que chorava desesperadamente.
– Eu não devia ter feito isso. Não devia ter deixado acontecer. – sussurrava Eileen, mais pra si mesma do que para o filho.
– Ter feito o que? O que aconteceu dessa vez?
– Eu estou... – Eileen colocou as mãos no rosto porque começara a chorar novamente – Eu... grávida... Eu estou grávida, Sev.
– Como? – Severus estava surpreso – Mamãe, não pode ser. Aquele trouxa sangue-ruim não pode mais ter filhos.
– Eu sei... – Eileen chorava – Mas o filho... não é dele.
– Quê!? – Severus parecia não ter entendido – Como é que...? Você não... Ah! – Então, o rosto chocado de Severus parecia ter ficado mais pálido do que de costume – Foi aquele cara da Rua do Mangusto, não?
Eileen parara de chorar; olhava para o filho com uma mescla de surpresa e pânico. Quando falou, sua voz saiu tremida e rouca:
– Como... como você sabe do Tim?
– Eu segui a senhora na semana retrasada – Severus ficou muito vermelho. – A senhora estava diferente e saia toda hora dando desculpas que só aquele sangue-ruim...
– Não fale assim do Tob! – interpôs Eileen.
– ...desculpas que só aquele SANGUE-RUIM acreditaria. E eu vou continuar chamando-o de sangue-ruim porque é o que ele é. – Severus falou olhando muito sério para a mãe.
– Você quebrou o copo de propósito? – Eileen perguntou tentando mudar de assunto.
– Não, deve ter sido a raiva. Eu só tenho nove anos, não sei como se faz. Mas não mude de assunto. Quem é esse tal de Tim?
– Timmy é um bruxo que mora na Rua do Mangusto. Um dia eu estava no mercadinho comprando as lingüiças que o Tob gosta e ele me ajudou com o dinheiro trouxa. Desde esse dia a gente tem se encontrado escondido para conversar. Ele é gentil e atraente... No mês passado nós nos encontramos, eu tinha brigado com o Tob e tinha bebido muito. Então,... – Eileen não conseguia mais falar, porém a continuação da história já não era necessária. Severus tinha entendido muito bem o que acontecera em seguida.
Severus fechou os olhos, deu as costas à mãe, limpou a bagunça na sala, e saiu.
Severus andou pelas ruas sem saber exatamente onde estava indo. Pensando nas palavras da mãe. Severus sempre acreditara, embora não gostasse disso, que Eileen nunca trocaria Tobias por nenhum outro. Sempre acreditara que sua mãe fosse uma pessoa infelizmente correta. A simples idéia de que seu pai tivera razão pelo menos nesta briga o atordoava.
O garoto já estava andando havia pouco mais de dez minutos quando, enfim, chegara à praçinha. Sentou-se no balanço e ficou ali, ainda pensando no que tinha acontecido. Ele tinha gritado com o pai e até xingado o pai, mas dessa vez, somente dessa vez, ele estava certo.
Ficou na praçinha o dia todo. Estava começando a ficar com fome, mas não queria voltar para casa. Não queria ver o pai, com quem fora injusto, e não queria ver a mãe, tampouco. As horas se passaram sem ele perceber. Quando era lá pelas duas horas da tarde duas meninas vinham caminhando pela ruazinha que dava no parquinho. Severus reconheceu uma delas e apressou-se em se esconder.
As duas meninas sentaram-se nos balanços e estavam se balançando para frente e para trás, enquanto Severus as observava de trás de alguns arbustos. Seus cabelos negros estavam compridos demais e suas roupas tão descombinadas que parecia intencional: calças jeans curtas demais, um casaco velho e roto, grande demais que poderia ter pertencido a um homem adulto e uma camiseta muito estranha que mais parecia um jaleco.
Havia uma inveja não disfarçada no rosto magro de Snape enquanto ele observava a mais nova das duas meninas, balançando mais e mais alto que sua irmã.
– Lily, não faça isso! – gritou a mais velha das duas.
Mas a menina havia se soltado do balanço justamente no ponto mais alto do arco que este fazia e voado pelo ar, literalmente voado, se lançando em direção ao céu com uma enorme gargalhada, e em vez de se esborrachar no asfalto do parque, ela flutuou como uma trapezista pelo ar, ficando em pé muito tempo, e aterrissando com muita leveza.
– A mamãe disse pra você não fazer isso!
A mais velha parou seu balanço pelo atrito dos saltos de suas sandálias no chão, fazendo um som quebrado e arranhado, e se levantou num salto, com as mãos nos quadris.
– Mamãe disse que não é pra você fazer isso, Lily!
– Mas eu estou bem, – disse Lily, ainda rindo. – Tunia, olha isso. Vê só o que eu posso fazer.
Petunia olhou à sua volta. O parque estava deserto, tirando as duas e, ainda que as meninas não soubessem, Snape. Lílian havia pegado uma flor caída de um arbusto atrás do qual Severus espionava. Petunia avançou, evidentemente dividida entre a curiosidade e a reprovação. Lily esperou até Petunia estar próxima o suficiente para ver claramente, e então estendeu a palma da mão. A flor estava ali, abrindo e fechando suas pétalas, como uma ostra bizarra com muitos lábios.
– Pare com isso! – choramingou Petunia.
– Não está machucando. – disse Lily, mas fechou sua mão no botão e o jogou de volta ao chão.
– Isso não está certo – disse Petunia, mas seus olhos seguiram as flores que voavam para o chão e pousaram sobre elas. – Como você faz isso? – ela completou, e definitivamente havia um quê de súplica em sua voz
– Isso é óbvio, não é? – Severus não conseguiu se controlar: pulou fora de trás dos arbustos. Petunia choramingou e correu de volta para perto do balanço, mas Lily, apesar de claramente assustada, permaneceu onde estava. Severus pareceu arrependido de ter se mostrado. Um rubor incômodo tomou conta das bochechas pálidas enquanto ele olhava para Lily.
– O que é óbvio? – perguntou Lily.
Snape tinha um ar de ansiedade e nervosismo. Com uma olhada para a distante Petunia, que agora pairava ao lado dos balanços, ele baixou sua voz e disse: – Eu sei o que você é.
– O que você quer dizer? – perguntou Lily.
– Você é... você é uma bruxa – sussurrou Snape.
– Não é muito educado dizer isso para alguém, sabe? – Lily disse, visivelmente ofendida.
Ela se virou, com o nariz em pé e marchou para o lado de sua irmã.
– Não – disse Severus. Ele estava corado agora.
Ele seguiu as meninas num salto, de uma forma ridiculamente parecida com um morcego. As irmãs o analisaram, unidas em reprovação, as duas se segurando em uma das barras do balanço, como se fosse o pique.
– Você é! – disse Severus para Lily – Você é uma bruxa, eu estive te observando por um tempo. Mas não há nada de errado com isso. Minha mãe é uma, e eu também sou um bruxo. – a risada de Petunia foi como água gelada.
– Bruxo? – ela ganiu, sua coragem havia voltado agora que ela havia se recomposto do choque da inesperada aparição do jovem – Eu sei quem você é. Você é o menino Snape! Eles moram lá na Rua da Fiação, perto do rio. – ela disse a Lily, e estava evidente em seu tom que ela considerou o endereço uma fraca recomendação. – Porque você estava nos espiando?
– Não estava espiando. – disse Snape, vermelho e constrangido, seus cabelos sujos iluminados pela luz do sol. – Não espiaria você, de qualquer forma. – emendou quase cuspindo – Você é uma trouxa.
Ainda que Petunia evidentemente não tivesse entendido a palavra, o tom de Severus não deixava dúvida.
– Lily, vamos! Vamos embora! – ela disse rispidamente. Lily obedeceu a sua irmã na hora, encarando Severus enquanto ia embora. Ele ficou ali, em pé, observando enquanto elas passavam pelo portão do parque, amargamente decepcionado. Estivera planejando esse momento por muito tempo, e tudo tinha saído errado...
N/A: Peço a vocês que não comentem dizendo algo como "Nossa! PARABÉNS, que imaginação. Acho que nunca tinha lido essa conversa entre o Snape e a Lily!". Como eu disse, quero basear a fic na história que a tia Jô deixou "incompleta". Por exemplo, no livro, ela escreveu que Severus estava no parque, mas não disse COMO nem POR QUE ele estava lá. Então, eu completei essa parte.
Obrigado, Rafael Kaleray!
anúncio
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!