As Duas Faces
Dura, fria e cruel é a escolha entra o caos e a escuridão, porém para os corajosos há o terceiro caminho, aquele que devastador que destrói para reconstruir, que consome suas forças e lhe revela o pior lado da humanidade: O caminho da esperança.
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As Duas Faces
O céu brilhava intensamente naquela parte do mundo, o que fez Hermione ter certeza de que não estava mais na Inglaterra. Queria saber como fora parar ali, já que há alguns instantes estava em Hogwarts, quando sentiu uma fisgada abaixo do umbigo e um turbilhão azul se formou ao seu redor, desaparecendo em seguida e a fazendo cair em pé. Agora estava em um extenso vale de grama verde que parecia brilhar perante o sol e o céu azul límpido, uma brisa refrescante cortava o ar e ela pode jurar que sentiu o cheiro do oceano.
-Que lugar calmo. -Murmurou ela distraída, esquecendo por momentos que tinha alguém ao seu lado.
-Normalmente pessoas não caem em pé em sua primeira viagem via chave de portal. -Falou Harry em tom indiferente, mas não frio. Ela o olhou longamente.
-Chaves de portais não são usadas há quase uma década. -Ela falou com um tom levemente curioso, pelo que soubera poucos conseguiam criar chaves de portais. –Onde estamos?
-No paraíso. -Disse ele começando a andar despreocupado pelo campo verdejante, fazendo ela o seguir para não ficar para trás.
Andaram por mais de meia hora sem trocar uma palavra, o passo acelerado do rapaz fazia Hermione praticamente correr atrás dele e isso se tornou mais difícil quando notou que pareciam subir uma colina. Estava a ponto de pedir um descanso, quando ele parou aos pés de uma grande árvore, ela se apoiou nos joelhos tentando recuperar o fôlego, depois de um minuto assim ela o olhou e estranhou ao notar que ele agora estava vestindo uma máscara negra, onde só tinha buracos para os olhos.
-Veja. -Disse apontando para baixo da colina. A garota seguiu o olhar para aquela direção e viu uma cena no mínimo bonita.
Havia uma pequena vila, como as de contos de fadas, à beira mar. Pessoas andavam na rua despreocupadas e sorrindo, crianças corriam pelas ruas brincando de qualquer coisa, sendo seguidas por mulheres mais velhas que pareciam vigiá-las.
–Bonito, não é? -O tom incrivelmente sarcástico do seu companheiro incomodou profundamente Hermione, que achava sim o lugar perfeito e em paz.
-Sim, a aliança sabe cuidar dor seus. -Falou Hermione de forma lenta e confiante, mas a curta risada vinda de Harry a sobressaltou.
-Antes de prosseguirmos, ditarei três regras. -Falou o rapaz de forma rápida. –Primeira: nunca me chamar pelo nome Harry Potter, me chame apenas de Black. -Ela confirmou com um aceno da cabeça. –Segunda: não quero que ao menos pense em mencionar Hogwarts ou sua casa, muito menos seu nome. -Ela estranhou aquilo. Ele parecia estar sendo muito cuidadoso. –E terceira: caso perguntem o que você é minha, apenas se cale e abaixe a cabeça.
-Por que tudo isso? -Perguntou a morena desconfiada.
-Apenas faça. -Foi tudo que ele disse antes de descer a colina em direção a vila, a fazendo pensar duas vezes antes de segui-lo mesmo a contra gosto. Não demoraram muito e já estavam entrando pela vila, muitos moradores olharam desconfiados para eles e paravam para ver aonde eles iam. Hermione aproveitava o silêncio para apreciar o ar aconchegante do lugar, que parecia um ótimo lugar para criar uma família.
Eles passaram por algumas crianças que corriam despreocupadas e nem pareceram notá-los, logo atrás das crianças veio uma garota pouco mais nova que Hermione, as roupas eram boas, mas estavam rasgadas e sujas, ela passou de olhos baixos por eles, mas Hermione pode notar certa melancolia na jovem. Ela quase trombou em Harry, quando este parou em frente a uma porta, batendo três vezes. Alguns segundos depois alguém abre a porta, Hermione pôde notar que era uma mulher por volta de seus trinta anos, cabelos longos castanhos claros e pele meio bronzeada, os olhos eram incrivelmente azuis.
-Pois não. -Falou a mulher em tom fraco, fazendo Hermione notar que esta chorara há algum tempo, mas parecia se manter firme diante das visitas.
-Me desculpe incomodá-la. -Falou Potter de forma cortês, a senhora se curvando levemente. –Eu conhecia seu marido e vim prestar minhas condolências. -A mulher tremeu levemente com o tom frio do homem máscarado que ela via.
-Entrem, por favor. -Pediu a mulher abrindo caminho para que Harry e Hermione entrassem, ela se perguntando quem era o marido da mulher e o porquê diabos o Potter ter a levado ali.
Ao entrar na casa, Hermione pôde sentir um clima familiar aconchegante, mas tinha um ar de tristeza no local, algumas flores estavam na entrada. A mulher guiou os dois até uma pequena sala, sentaram-se e Hermione viu uma foto onde havia um homem perto dos quarenta anos, cabelos negros e olhos castanhos opacos, trajado totalmente de negro, jurara já ter visto aquele homem antes.
-Desculpe fazê-los esperar. -Disse a mulher aparecendo com uma bandeja onde havia bule de chá e alguns petiscos para as visitas, depositando numa mesinha em frente aos dois. Harry aceitou uma xícara de chá oferecida pela mulher, mas Hermione rejeitou educadamente. –Desculpe não poder oferecer mais, mas a escrava esta cuidando de nossos filhos. -O coração de Hermione bateu rápido quando ela ouviu aquilo, em nenhum lugar da aliança deveria haver escravos.
-Nós entendemos, senhora. -Disse Harry em tom educado, notando que a mulher olhava intensamente para ele enquanto se sentava num sofá a frente dos dois, do outro lado da mesinha. –Peço desculpas por não revelar meu rosto, mas é por segurança.
-Entendo. Os dias de hoje têm sido difíceis. -Falou a mulher calmamente, mesmo assim deixando transparecer curiosidade em sua voz.
-Principalmente para mim, que faço certos serviços para o Lorde que requerem discrição. -Disse o moreno em tom calmo, a garota ao seu lado ficou extremamente pálida quando ouviu aquilo e pôde jurar que todo seu sangue escapara do corpo. –Soube diretamente de Bellatrix sobre seu marido, ele lutou bravamente e morreu nas mãos de um cão da aliança.
-Aquilo não era um cão e sim um demônio. -Falou a mulher com voz embargada. Hermione começou a olhar para os lados como se esperasse que algo caísse em cima dela. –Tirou meu marido de mim e me deixou sozinho com meus três filhos.
-Soube que ano que vem o mais velho entra para a escola. -Falou Harry em tom calmo e cordial, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo, enquanto Hermione parecia suar firo.
-Sim. -Falou a mulher sorrindo levemente. –Ele se dispõem a pagar pela educação dos órfãos da guerra com prazer, por isso muitos o seguem. O lorde se preocupa com os puros-sangues, seus subordinados. -Diz a mulher com uma convicção verdadeira na voz e aquilo intrigou Hermione. A maioria dos seguidores de Voldemort pareciam quase sempre insanos, meio perturbados, frios e cruéis, mas aquela mulher que falava sobre o lorde das trevas parecia carregar certa paixão pelo líder das trevas, algo sincero que quase a fez duvidar se estava do lado certo.
-Creio que seu filho, quando crescer, seguirá os passos do pai. -Falou Harry com falso orgulho na voz.
-Claro que sim, todos nos aqui na vila queremos que o mundo tenha o mesmo estilo de vida pacifico daqui. É um sonho e acreditamos fielmente que o lorde pode nos proporcionar um mundo assim, eu mesma já vi as maravilhas que ele pode fazer. -Disse a mulher com calma, ela falou mais alguma coisa, mas Hermione não ouviu. –Inclusive meu filho já diz que quer ser um comensal como o pai.
-Fico feliz em ouvir isso senhora. -Disse Harry remexendo em algo dentro do sobretudo onde tira uma sacola que tilintava com barulhos de moedas e colocou sobre a mesinha de centro, depois olhou para mulher que estava atônita. –Esta é uma contribuição minha para que você possa criar seus filhos bem e não dependam só da pensão de seu marido.
-Muito obrigado, senhor, mas eu não posso... -A mulher foi interrompida pela porta da frente que abriu rapidamente e logo três crianças de diferentes idades entraram na sala sorrindo e ofegantes.
-Você tem que aceitar, senhora Anderson. -Diz Harry em tom de lamento, mesmo não lamentando nada daquilo. –Mantenha o que eu vou dizer em segredo. -Falou o moreno em tom baixo, as crianças saíram correndo para outro canto da sala sem nem darem bola, enquanto a mulher pareceu muito curiosa sobre o que ele diria. –Quem matou seu marido não foi Hades e sim Bellatrix, que por pura ambição fez seu marido lutar, mesmo quando este já estava mutilado e havia perdido muito sangue. -O moreno se levantou do sofá deixando a mulher estática. Hermione também se levantou. –Desculpe o incômodo e espero que nos encontremos de novo em outras circunstâncias. -Diz ele já saindo da sala.
-Espere. -Falou a mulher o fazendo parar. –Pelo menos me diga o seu nome.
-Sou apenas uma sombra. -Disse o rapaz saindo da casa seguido da garota, a mulher se levantou rapidamente e foi até a porta da frente, mas não havia ninguém que não conhecesse.
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-Como chegamos aqui? -Perguntou Hermione se vendo novamente sobre a colina da grande árvore. O que a preocupava era o enjôo que sentia no momento.
-Aparatando. –Responde como se fosse óbvio. –Vocês não fazem mais isso?
-Aparatar se tornou perigoso depois da guerra, afinal qualquer um que aparecesse do nada poderia ser considerado inimigo. Por isso hoje em dia há pontos de aparatação. -Explicou a garota com seu velho tom sabichão. –Mas você é louco mesmo, nós estamos em território inimigo!
-Você achou, em algum momento, que aquela casa ou aquela vila era perigosa? -Perguntou o moreno, que não retirara a máscara ainda, enquanto viu a garota negar com a cabeça. –Esse, Hermione, é o domínio de Voldemort e de seus comensais, nem só caos existe. Ele montou seu reinado inicialmente com um sonho de criar um mundo assim só para os bruxos, sem a interferência dos trouxas, essa inicialmente seria sua visão do mundo...
-Inicialmente? -Perguntou Hermione, não deixando de perceber que o rapaz falava do lorde negro de uma forma quase íntima, como se o conhecesse há décadas.
-O poder senhorita Granger, o mesmo poder que você pediu para que eu usasse em prol da aliança, o mesmo que usei para salvar e matar, é algo viciante e perigoso. Voldemort, ou melhor, Tom Riddle, se corrompeu com esse poder e ficou insano. -As palavras dele pareciam como as de alguém que vivera por muito tempo. –Essa sede por poder perturbou seus ideais, inicialmente era só separar o mundo bruxo do trouxa, agora é conquistar e destruir aos poucos os trouxas até que só restem os bruxos, para isso ele usa todos os artifícios do medo e até mesmo uma generosidade falsa.
-Então essa é uma falsa paz, sustentada para manter os servos fiéis. -Falou Hermione entendendo.
-Essa é a mesma paz que você sente em sua casa, em sua escola e em seu próprio mundo. Uma paz frágil que logo se estilhaçará. -Ele encarou a garota com intensidade. –Você viu os filhos do homem que eu matei, a esposa dele, quanto mais poder você tem, não importa o lado, não importa os ideais, sempre haverão conseqüências. Os filhos daquele comensal crescerão me odiando e quem sabe o que eles farão por esse ódio!
-E você é mais um fruto desse ódio? –Ela pareceu entender um pouco mais de Harry, o surpreendendo levemente por ela ter enxergado uma dor que ele ocultava tão profundamente.
-Sim. O ódio que beira a insanidade, o qual não me deixará parar até ter a cabeça de Voldemort, não importando o que eu tenha que fazer. Qualquer um que se interponha entre mim e Voldemort será destruído sem misericórdia. –Confessa olhando para o horizonte, como se pudesse vislumbrar o dia em que triunfaria. –Mas por hora esqueça isso, tenho que lhe mostrar o outro lado da sua adorada aliança.
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Hermione mais uma vez se viu jogada no turbilhão azul, girando a toda velocidade. Olhou para o moreno ao seu lado que ainda usava a máscara, fechou os olhos com força para evitar o enjôo, então, ainda com olhos fechados, sentiu o chão debaixo de seus pés e desequilibrou-se. Ao abrir os olhos rapidamente vê que estava na beirada de um prédio, uma mão forte a segurava pelo braço a impedindo de cair. Seu coração batia forte pelo susto, olhou em volta meio perdida, sentiu o vento frio e notou o contraste do céu de agora com o da vila comensal.
O céu ali era cinzento, mas não parecia que ia chover, a visão era melancólica. Olhou para baixo e viu estar a somente três ou quatro andares do chão, notou uma rua movimentada que parecia remeter ao início do século passado. Pessoas passavam andando com casacos pesados ao lado de ruas sujas, cheias de mendigos pedindo esmola e grandes grupos de crianças mal vestidas, pequenas barracas e estabelecimentos eram visto vendendo coisas das mais habituais às mais sinistras.
-Onde estamos? -Perguntou Hermione meio perdida.
-Em algum lugar da Europa. -Respondeu Harry, retirando de dentro do sobretudo uma máscara inteiramente branca e entregou à garota. –Estamos em território da aliança, você provavelmente seria identificada por algum cavaleiro. Hermione não sabia o porquê dessa cautela toda, afinal na aliança não havia tanto perigo assim. Colocou a máscara e notou que ela não era abafada, até parecia que não a estava usando. –Vamos dar uma volta.
Quando o rapaz disse isso, foi em direção a uma pequena porta e Hermione o seguiu de perto. Passando rapidamente pela porta, pôde notar uma de madeira provavelmente velha e mal cuidada, que rangia quando alguém pisava. Ambos desceram devagar e ela teve tempo para notar as paredes nuas, que demonstravam todo o revestimento do prédio, que parecia tão frio quando do lado de fora. Passou por algumas portas fechadas onde ouvia choros ou gritos, provavelmente alguém brigando, passou por uma porta aberta onde viu uma criança que não devia ter dez anos ao lado da cama, onde uma mulher estava deitada, branca e sem vida, a criança chorava desesperadamente em quanto um homem, provavelmente o pai dela, estava em um canto com o rosto coberto pelas mãos e tossindo muito.
-Tuberculose. -Falou Potter quando a viu olhar aquela cena. –Aparentemente bem comum por aqui.
-Mas tem tratamento para isso hoje em dia. -Argumentou a garota tentando não olhar para mais nenhuma porta aberta.
-Aqui parece um lugar onde o mais básico seja realmente prioridade? -Perguntou o rapaz de forma despreocupada. Apontou para uma porta. –Atrás dessa porta uma mãe de família se vende para conseguir comida para os filhos e ópio para ela. -Eles passaram por outra porta onde haviam gritos fortes. –Atrás dessa porta um homem briga com a mulher, pois não tem dinheiro nem vontade de cuidar da família. -E a última porta antes de saírem do prédio. –Nessa porta os pais pegaram dinheiro emprestado para se salvarem da fome e alimentarem seus vícios de jogo e álcool e, como garantia, deram a vida dos filhos para os agiotas.
-Uma esmola, por favor. -Foi à primeira coisa que Hermione ouviu ao sair do prédio. Olhou para o lado onde um homem maltrapilho e com claros sinais de desnutrição pedia algum dinheiro.
-Tome. -Disse Harry jogando uma moeda de ouro ao mendigo, mas seus olhos verdes estavam frios. –Onde poderei ir para beber e talvez comer algo?
-A taberna do velho Igor, um pouco mais a frente. -Disse o mendigo saindo rapidamente com sua moeda de ouro, lançando olhares maldosos para qualquer um que se aproximasse dele.
-Vamos. -Disse o moreno caminhando na direção que o homem lhe indicara.
Eles chamavam a atenção das pessoas que estavam na rua, às vestes eram diferentes das dos demais e isso intrigou Hermione, pois via que muitos ali se vestiam com roupas velhas, salvo alguns que vestiam vestes bruxas de linho e caminhavam altivamente. Ela viu pelo canto dos olhos um grupo rindo alto e com cara de grande problema.
-Ei gracinha, que tal tirar essa máscara e nos divertimos um pouco? -Perguntou um rapaz de seus vinte anos, se pondo entre Hermione e Harry. Ela tentou desviar, mas o homem a cerca sorrindo, logo mais três rapazes se juntaram a ele. –Vamos, eu tenho muito dinheiro para pagar seu serviço. -Os amigos dele riram alto, enquanto Harry apenas observava para ver o que acontecia.
-Não faço serviços . -Disse Hermione mais uma vez, tentando sair de perto do rapaz, mas agora se viu cercada pelos outros amigos dele.
-Eu não admito recusas. -Falou o rapaz que a abordara.
-Mas dessa vez creio que devera aceitar uma recusa. -Interveio Harry, não estava com paciência e nem tempo. –Ela está comigo.
-Ninguém falou com você, esquisitão. -Falou um dos rapazes do grupo, se aproximando de Harry e colocando um dedo em seu peito. –É melhor você ficar quietinho enquanto nos divertimos com ela.
-Não. -Falou Harry em um tom tão frio que fizera o rapaz se arrepiar. –Creio ter sido bem claro. -Disse o rapaz de forma lenta e venenosa. –Tire esse dedo do meu peito, pegue seus amigos de meia tigela e suma daqui. A não ser que queiram ter seus corações arrancados e dados aos lobos.
-Quem acha que é? -Perguntou o rapaz loiro que agora se virara para Harry, deixando de lado Hermione, que não sabia o que fazer no momento. –Nós mandamos nessa cidade e se você não se mandar, nós te mataremos e ninguém irá fazer nada.
-Eu já matei comensais por muito menos que isso. -Falou Harry se desvencilhando, pegando o homem, que ainda estava com o dedo em seu peito, pelo pescoço e o levantando no ar com facilidade. O loiro que até agora bancava o valente ficara apreensivo ao ver a força do mascarado. –Então aproveitem que eu estou sendo generoso e sumam, antes que eu quebre seus pescoços. -Falou Harry apertando mais ainda o pescoço do homem que segurava até ouvir um estalo forte e seco, deixando que caísse mole no chão com o pescoço quebrado. –Sumam. -Ordenou pela última vez e o resto do grupo saiu correndo ao sentir a intenção fria e assassina que se desprendeu de Harry.
-Obrigada. -Agradeceu Hermione ao rapaz, mas este apenas se virou e recomeçou a andar como se nada tivesse acontecido, logo ela estava do seu lado.
Logo avistaram um estabelecimento um pouco maior que os demais, onde pessoas entravam e saíam, algumas bêbadas outras sendo jogadas pela porta. Acima do estabelecimento havia uma placa escrita em uma língua desconhecida pela garota. –Vamos rápido. -Ordenou Harry, indo até o estabelecimento e entrando nele. Hermione notou a luz fraca de dentro da taberna e o cheiro forte de bebida e mofo.
-O que querem? -Perguntou um homem de meia idade e olhar tão desprezível quanto a voz.
-Mesa para dois, afastada das demais. -Falou Harry demonstrando uma grande frieza na voz.
-Escolham qualquer lugar. -Falou o homem de meia idade saindo de perto, correndo para uma mesa onde os ocupantes se levantavam e começavam a lançar feitiços uns nos outros.
Harry ignorou e Hermione, que não sabia como alguém podia ser tão mal criado com seus clientes, seguiu o moreno. que se sentou em uma mesa no canto mais escuro da taberna.
-Algum pedido? -Perguntou uma voz feminina e delicada, que contrastava com o lugar rude. Harry se virou para responder, mas paralisou, conhecia aquela pessoa apesar de estar um pouco diferente, nunca imaginara encontrá-la ali. –Alguma coisa, senhor?
-Traga-me uma garrafa de Whisky doze anos e uma cerveja amanteigada. -Pediu ainda olhando aqueles olhos intensamente azuis, o rosto branco meio escondido pela sujeira reluzia a fraca luz, os cabelos loiros longos e sujos e o corpo bem feito. Mesmo debaixo daquela sujeira, a beleza de uma meia-veela não era ofuscada. –Diga-me seu nome.
-Fleur, meu senhor. -Disse a jovem mulher. –Já trarei os pedidos.
-Você a conhece? -Perguntou Hermione, que observara atentamente o rapaz e notara certo brilho em seus olhos. Observando ao redor viu vários homens olhando para a atendente como se enfeitiçados.
-De muito tempo atrás. -Falou o rapaz com voz distante. –Ela é meia-veela, deve ser uma mercadoria, por isso o dono da taberna a deixa aqui.
-Não se tem escravos na aliança. -Falou Hermione respirando forte.
-Existem coisas diferentes na aliança senhorita Granger. -Dizia Harry despreocupado. –Em lugares da aliança existe uma tradição, até lei seguida, que em outros lugares não existem.
-E a lei seria? -Pergunta a jovem impaciente.
-Se você deve muito dinheiro a alguém e não pode pagá-lo, você terá que trabalhar para quem está devendo até que pague a sua dívida. -Explicou Harry de forma lenta e calma. –Mas a dívida dificilmente é paga visto que você faz mais dívidas com moradia e comida, que seu “patrão” lhe dá de “bom grado”.
-Em outras palavras, você é um escravo. -Falou Hermione, chocada, a aliança como ela vira, não era o que pensava.
-Veja, o homem que nos atendeu, ele é o dono da taberna. -Falou Harry apontando para um canto, onde Hermione viu o homem com alguém vestindo uma capa vermelha com o brasão da fênix grande no centro das costas. –Cavaleiros da Fênix, soldados que agem em campo de batalha fora do território da aliança e aproveitam seu prestígio e cobram proteção, já que também controlam os guerreiros da fênix que só agem dentro das fronteiras da aliança. -Ela viu o homem de capa vermelha pegar uma bolsa provavelmente cheia de ouro e sair.
-Quer me dar um choque de realidade? Me mostrar que existe paraíso nas linhas inimigas e inferno dentro de nossas linhas? –Hermione tinha um tom cansado, sentia um misto de nojo, frustração e a raiva de quem é feito de bobo.
-O mundo é grande e a humanidade cheia de vícios. Por mais que a aliança tenha gente muito bem intencionada, não pode vigiar todos os territórios e ainda se preocupar com a guerra. –Harry se cala quando Fleur se aproxima para deixar as bebidas, saindo rapidamente sem olhá-los. –A corrupção, a ganância e o domínio do mais forte são coisas que existem desde que o homem formou as primeiras vilas e não vão desaparecer, pelo menos enquanto existirem lugares esquecidos por todos como este aqui.
-E o que quer que faça agora? Fique como você e passe a odiar tudo e todos, achando que as pessoas não passam de lixo e não resta nada a fazer, além de destruir tudo e todos? –Havia amargura no tom de voz da garota, os olhos estavam inexpressivos, prova do quanto estava perdida.
-Não. Eu quis te mostrar a realidade, o mundo nu e cru como ele o é. Você precisava saber que a imagem perfeita que os veículos de informação promovem é uma maquiagem para ocultar os problemas que a guerra traz. Agora cabe a você decidir se vai desistir do mundo ou se acredita que essa imagem perfeita e imaculada pode ser o futuro do mundo e lutar por ela. –Harry tinha um tom indecifrável, os olhos pareciam desafiá-la, instigá-la.
-Você é muito estranho. -Murmurou Hermione fazendo Harry rir alto. A risada era um tanto sombria e muitos que estavam no bar e a ouviram, juraram que ela era ou deveria ser igual à de Voldemort.
-O mundo inteiro é estranho, Hermione. -Falou Harry em tom divertido. –Se você vier comigo eu te mostrarei todas as faces do mundo e te ensinarei tudo que aprendi, das coisas mais puras às mais sombrias e cruéis...
-E o que pretende com isso? -Perguntou Hermione curiosa.
-Eu quero a cabeça de Voldemort. -Falou Harry em tom alto, o silêncio reinou no bar quando aquelas palavras saíram de seus lábios num tom absolutamente calmo e normal, o frio passou pela espinha de todos, era como se a voz dele tivesse sido amplificada. –O que estão olhando? -Perguntou o moreno em tom mortal. Todos desviaram os olhos e aos poucos voltaram a conversar, mas tentando ficar atentos ao que aqueles dois falavam. Perceberam que a máscara do rapaz estava na mesa, mas a escuridão do canto do bar impedia de verem seu rosto. –O problema de querer isso, é que a cada território que eu limpar , lugares como esse surgirão ou novos confrontos se formarão para decidir quem o ocupará. Para evitar essa corrida gananciosa preciso de pessoas de confiança que possam fazer do mundo um lugar melhor, talvez não tão perfeito quanto à maquiagem da aliança, mas algo oposto a isto aqui. E você é minha primeira escolhida.
-E se eu não aceitar ou não acreditar nisso? -Pergunta Hermione e o rapaz pôde ver um brilho decidido em seus olhos, brilho que só vira em seu mundo.
-Então receio que terei que procurar outra pessoa. -Falou o rapaz de forma mansa e breve. –Afinal quero pessoas de convicções fortes, que queiram proteger o que acreditam.
-Quer dizer que eu não tenho escolha. -Falou Hermione quase indignada.
-Pelo contrário. -Responde o rapaz. –Você pode escolher e, se quiser, posso fazê-la esquecer que eu te levei para fora de sua gaiola de vidro e de toda a sujeira e corrupção que testemunhou. -O coração de Hermione pareceu falhar, perguntas corriam loucamente por sua mente.
-O quanto eu irei saber? -Perguntou Hermione com a voz baixa, achando que o rapaz não conseguira ouvi-la.
-O quanto você desejar, tudo que eu sei. Mostrarei todos os caminhos, as alegrias e as dores, o melhor e o pior do mundo. Se você quiser saber como matar eu te ensinarei, se quiser saber como trazer alguém de volta a vida eu te ensinarei. -Ele fez uma pausa e bebeu mais um pouco do whisky. –Embora não aconselhe fazer o último... -Mais uma pausa. Ele percebeu que Fleur se aproximava. –Mas quero a resposta agora. Fleur chegou e ficou ao lado da mesa, olhando interessada para o rosto de Harry como se o conhecesse. –Você quer ver além do que você conhece, do que eu te mostrei, ou quer voltar para sua gaiola de vidro?
-Quero saber mais. -Respondeu Hermione, lembrando sua amiga na decisão em seus olhos, o tom de sua voz, a vontade de mergulhar no desconhecido.
-Ótimo. -O rapaz se levantou assustando Fleur, que parecia hipnotizada com a conversa de ambos. –E você, Fleur Delacour, qual o seu desejo? -Perguntou o moreno a encarando bem fundo nos olhos, verde e azul se encaravam e analisavam. –Não importa qual seja o seu desejo, eu poderei realizá-lo desde que o preço adequado seja pago.
-Eu não tenho dinheiro para pagá-lo. -Falou Fleur com um leve sotaque francês, quase imperceptível.
-Existem coisas mais valiosas que dinheiro. -Falou Harry ignorando o olhar curioso de Hermione. -Apenas me diga qual é o seu desejo...
-Quero ser livre, junto com minha irmãzinha. -Falou a jovem francesa, derramando uma lágrima. –Quero sair daqui, quero fugir de todo esse sofrimento.
-A liberdade nem sempre é boa. -Falou Harry, mas sorriu. –Venha comigo e eu lhe tirarei desse lugar e cuidarei de sua irmã. -Ele estendeu a mão para a loira que parecia confusa, levantando a própria mão tremeluzente de forma quase inconsciente. O rapaz a sua frente sorriu gentilmente como se soubesse tudo o que ela havia sofrido e não se importava, não a julgaria pelo que fizera.
-Você acha que a deixarão ir conosco? -Perguntou Hermione.
-Se não deixarem... -Falou Harry, seus olhos brilharam na pouca luz em uma intensidade insana. –Eu os mato. – Hermione, por alguma razão, não temeu isso, não que a idéia de ver mais alguém morrendo fosse agradável, muito pelo contrário. Viu pelo canto dos olhos o dono da taberna se aproximar a passos rápidos, olhando fortemente para a loira, que parecia hipnotizada pelo moreno a sua frente.
-Sua desgraçada, quem mandou ficar vadiando por ai?! -Fala o dono da taberna, puxando Fleur com força pelo braço livre, fazendo a mão dela se separar com a de Harry e a derrubando no chão. –Você tem que trabalhar muito para pagar sua dívida, então não vadie. Se continuar inútil assim, também irei cobrar pessoalmente de sua irmã. -O medo passou pelos olhos da loira e o rapaz entendera o jeito que aquele porco cobrava suas dívidas. –E você, quem pensa que é para tocar minha propriedade?
-Eu sou o deus da morte. -Falou Harry e a voz dele saiu fria como o ártico e o seu sorriso bondoso pareceu se transformar em algo maníaco. –E vim buscar a sua alma. -As palavras foram seguidas de um movimento rápido, logo alguém estava ao lado de Harry, um homem alto de seus trinta anos que carregava nas costas uma capa vermelha com o brasão da fênix.
-Acho que você deve se controlar um pouco, senhor. -Falou o cavaleiro da fênix em tom sério. –Usar tais palavras num lugar como esse não é muito bom. -Falou sorrindo e levando a mão lentamente até o ombro do rapaz.
-Tem certeza que quer me tocar? -Uma energia sombria começou a sair do rapaz, era algo diferente, assustador e frio, que lembrou o cavaleiro da fênix sua estadia no campo de batalha. Somente os mais fortes comensais tinham aquela intenção assassina tão amostra. –Afinal todos que tocam no deus da morte têm suas almas levadas. -O cavaleiro da fênix ouviu aquilo achando que o rapaz estava tremendo, mas estava enganado, era ele que tremia fortemente, então ele reconheceu aquele rosto jovem.
-Hades. –Murmurou. Foi o suficiente para que muitos ouvissem e simplesmente saíssem da taberna às pressas, outros desaparecendo, ao final poucas pessoas ficaram. –O que fazes aqui?
-Tem certeza que quer ir contra mim? -Perguntou Harry ignorando a pergunta do cavaleiro da fênix, este pareceu pensar, estava suando fortemente. Recolheu a mão que ainda estava estendida no ar, olhou para o dono do bar com pesar e deu as costas, desaparecendo em um leve brilho azulado. –Onde esta sua irmã? -Pergunta o rapaz olhando para Fleur, que nesse meio tempo havia se levantado e olhava alarmada pra ele.
-Eu te levo até ela. -Responde em tom baixo, mas não com medo, tinha certa gratidão. Nunca imaginara que um ser chamado de deus da morte poderia ajudá-la.
-Muito bem, vamos indo. -Falou Harry fazendo sinal para que Hermione levantasse. Os três saiam da taberna sem se importar com o dono, que ficara quieto até ver a garçonete ir com o rapaz.
-Você não vai a lugar nenhum. -Falou o dono apontando uma varinha para as costas de Harry, o rapaz que já estava à porta da taberna.
Bastou um gesto discreto com a mão e o dono do bar voou para trás, caindo sobre a mesa que Harry havia ocupado. Rapidamente Harry pegara uma pequena esfera em seu sobretudo e lançara para o alto, saindo de perto do bar com as garotas. A esfera, do tamanho de uma bolinha de gude vermelha, caiu sob o olhar do dono da taberna, que atônito não entendeu nada quando a esfera tocou o chão e se estilhaçou como vidro. Chegou a pensar que nada havia acontecido e suspirou aliviado, achando que fora só um blefe, porém fora seu último pensamento, pois em seguia uma explosão de chamas tomou conta da taberna, a pulverizando em menos de cinco minutos, assim como tudo que havia dentro.
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Hermione nada disse quando ouviu a explosão, apenas seguia Harry. Ouviu algumas pessoas falarem sobre fogo e passarem pelos três, mas não olhou para trás, não perguntou o que acontecia, apenas andava pelas ruelas e becos seguindo Fleur.
Chegarem a uma pequena casa, que parecia um pequeno barraco de madeira podre. Ao redor havia outros como aquele, sujos, crianças com rostos sujos e tremendo pelo frio. Adentraram no barraco que estava fechado, notou que não havia muito espaço para se mexer, era apenas um quarto tão frio quanto o lado de fora, com uma cama velha e improvisada, onde alguém estava deitado sob vários cobertores.
-O que ela tem? -Perguntou Hermione para Fleur.
-Ela foi amaldiçoada. -Falou Harry não esperando uma resposta. –Lançaram uma maldição de fogo sobre ela, mas parece que não deu muito certo.
-Maldição de fogo? -Perguntou Hermione curiosa com o fato.
-Uma maldição lenta, provavelmente chamada Fuego Escarlate. É espanhola e faz a pessoa atingida queimar lentamente de dentro para fora, causando grande dor e desespero. A pessoa não morre até o último órgão vital ser consumido. -Explicou Harry de maneira lenta para que Hermione entendesse.
-Aconteceu um pouco antes de sairmos de Paris. Fugíamos de comensais que faziam experiências com alguns prisioneiros. Testaram essa maldição para ver quanto tempo demoraria para eles serem consumidos. -Falou Fleur preocupada com a irmã.
-Se sua irmã não fosse meio-veela, provavelmente teria morrido dois dias depois. -Diz Harry calmamente, indo até a garota deitada na cama. Abaixando-se, toca sua testa e a garota abre os olhos e o encara. –As veelas tem forte ligação com o fogo, por isso elas seriam imunes a esta maldição, mas por Gabrielle ser meio-bruxa, sofre com a febre e dor intensa, dentro de si seus órgãos não estão queimados, mas bastante prejudicados.
-Como sabe o nome dela? -Perguntou Fleur tentando entender aquilo. –E como sabe tanto sobre isso?
-Eu costumava lançar essa maldição em alguns comensais. -Falou Harry em tom vago e Hermione mais uma vez viu seus olhos encarando o vazio como se olhasse para um passado sombrio. –Você tentou manter o estado dela estável com poções congelantes, elas são bem raras e caras por aqui, poderiam manter a temperatura de sua irmã mais baixa, mas não curá-la por completo.
-O curandeiro diz que não tem cura. -Falou Fleur em tom triste.
-Pelo que sei sobre essa maldição, só de nome. -Falou Hermione em tom vago estava fazendo matérias precisas para medicina e o nome da maldição não era estranho. –Ela não foi criada para ter uma cura é um milagre ela ainda estar viva.
-Sim um grande milagre. -Diz o moreno encarando os olhos azuis de Gabrielle, que não dizia nada, não parecia ter forças para tal. –Precisamos levá-la o mais rápido possível para Hogwarts.
-transportá-la nesse estado por cave de portal pode ser perigoso. -Falou Hermione em tom pensativo e viu o rapaz tirar uma pena negra do bolso e esticar em sua direção.
-É uma chave de portal programada por senha, quero que vocês duas segurem e digam Retornar. -Falou Harry em tom neutro de voz, pensando rápido. –Ela levará vocês até meu quarto no castelo, chegando lá. -Fez uma pequena pausa. –Hermione quero que leve Fleur até a enfermaria e avise a nova enfermeira que chegarei em breve com uma paciente.
-Não quero deixá-la sozinha. -Falou Fleur preocupada com aquilo.
-Isso não é um pedido, mas uma ordem. -Falou Harry em tom duro. –Eu a levarei em seguida, aparatando, mas não posso aparatar dentro do castelo, então quero que façam isso para mim. -Ele parou e olhou para Fleur com calma. –Estou fazendo isso para o bem dela. -Ele olhou para Hermione e por algum motivo ela entendeu o que ele queria, notara a hesitação na francesa e a agarrou pelo pulso a assustando.
-Retornar. -Falou Hermione e ambas desapareceram deixando Harry para trás com Gabrielle, ainda quieta. Ele olhou para a pequena francesa e sorriu docemente, erguendo-a em seus braços.
-Quero que me segure com força. -Pede de forma gentil para a garota, que envolveu o pescoço dele com os braços. –Respire fundo e vamos nós. -Um estalo seco e ambos sumiram do barraco para nunca mais voltarem a aquele lugar.
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Comentários (2)
Nossa que legal! É bom mesmo a Mione ver que nem tudo na vida é flores! Estou super ansiosa para ver mais partes H/H
2013-03-18O mundinho cor de rosa da Hermione caiu agora ela vai realmente conhecer oq é a guerra ele realmente é muito leal com todos aqueles que ele conheceu.
2011-03-23