A menina-folha
- Samantha?
Escutou a irmã chamar seu nome de muito longe. “Eu não acredito que eu fiz aquilo. Não acredito.”
- Samantha! Sai dessa cama! É sábado... – Estava deitada, na verdade, escondida sob os cobertores. Segundos depois escutou a cortina de sua cama ser aberta.
- Samara, vai embora! – resmungou debaixo do travesseiro. – Eu disse para Ayasha que estou sem fome.
Sentiu a irmã se sentar na cama, ao seu lado. Ela estava mexendo os cobertores, tentando achá-la. Mas ela não queria sair dali.
- Achei! – Samara disse sorrindo. Vestia uma calça rosa e uma blusinha branca. – Vamos, dorminhoca, é sábado! O Chad está lá fora, querendo saber porque você não foi tomar café! – depois de alguns segundos olhando para a irmã mais velha Samara notou que ela andara chorando. Havia marcas de lágrimas nas bochechas e os olhos estavam vermelhos – Você chorou, Sam?
Samantha não respondeu com palavras, apenas fungou, tentando segurar mais lágrimas. Samara realmente se assustou, Samantha não era de chorar, na verdade a única vez que lembrava de ter visto a irmã chorar foi quando ela brigou com Guilherme, ano passo, depois do baile.
- Guilherme? – Samantha sentou-se de frente para a irmã, e balançou a cabeça, confirmando. – Sam! Vocês estão cumprindo detenção porque brigaram, e vocês brigam justamente na detenção!
- A culpa não foi minha! E nós não brigamos... quer dizer... depende muito do ponto de vista. – disse encabulada.
- Como assim? – Samara não entendera. Arrumou carinhosamente os cabelos da irmã mais velha, apesar de ver que Samantha estava sofrendo muito, estava feliz. Pelo menos a irmã estava se abrindo com ela. E estavam conversando como costumavam fazer antes de Hogwarts.
- Ele começou! Está bem? Toda vez que estamos naquela sala, ele não perde nenhuma oportunidade de olhar para as minhas pernas!
Samara fez uma expressão engraçada. Uma mistura de satisfação com incredulidade.
- Sabe aquele sorrisinho dele? Aquele que ele fica dando para as meninas do quarto ano para baixo? – Samara confirmou com um revirar de olhos. – Ele estava dando para mim! – depois disso Samantha ficou em silêncio. Cruzou as pernas e ficou mexendo nos cobertores.
- Foi só isso, Samantha? Porque se foi, vai para o topo da lista das brigas mais sem noção de Samantha Warren versus Guilherme Weasley.
- Não foi só isso... Ele parece que ficou com raiva com algo que eu disse e... – ela não apenas balbuciou, Samara não conseguiu entender. Ao ver o rosto de dúvida da irmã, Samantha simplesmente abriu a boca e contou. Desde o primeiro beijo forçado, ao fato dela não saber como foi parar no colo dele no segundo seguinte... E contou o que aconteceu na sala comunal, depois que ficaram a sós novamente.
- ... a minha intenção não era beijá-lo, Samara, eu juro... Era para jogar um feitiço cola-pernas nele. Aí, ele ia ficar lá a noite toda. Mas eu não sei o que houve. – Lágrimas voltaram a rolar pelo rosto de Samantha. – Eu sou um monstro! E o Chad? Onde fica Chad nisso tudo? Eu nem pensei nele, eu nem lembrei que ele existia! – Samara estava tentando assimilar todas as novas informações. – Eu sou pior do que a King! Jezabel! É isso o que eu sou!
- Hey! Pára! Assim você me assusta! Pior do que a King? Por Merlin, Sam! Nada é pior do que ela! – ficou um tempo pensando no que dizer a irmã mais velha, mas não encontrou nada melhor do que isso: Por Merlin, você beijou o Gui!
- Eu sei! – disse se jogando na cama. – Não tenho coragem de olhar para o Chad! Eu não sei o que fazer.
Samara deitou-se ao lado da irmã. Como faziam quando eram pequenas e esperavam a mãe voltar de suas missões para a Ordem.
O pior de tudo o que aconteceu entre a sexta-feira e o sábado foi o fato de não conseguir se arrepender de ter beijado Samantha. Martirizava-se perguntando o que o levou a fazer aquilo. “Ok! Porque eu queria!” Pensou encabulado. “Mas não assim... assim não foi legal... Bom, quer dizer, foi! Foi decididamente ótimo!” “O que será que ela achou?”
Perguntar decididamente, não seria uma boa idéia, nem possível, já que ele não a encontrou pela manhã. Tentou levar uma manhã normal com os amigos, jogou quadribol, fez tarefas, tentou evitar ao máximo Electra ou até mesmo Allyssa. Porque, do nada, pensamentos como, “nossa ela beija bem... e tem um gosto bom”, sempre surgiam na sua mente.
Não foi um dia normal. Troy perguntou se estava tudo bem, ele apenas disse que sim. A toda hora ele ficava olhando para ver se Samantha ia sair do dormitório feminino, mas até para o almoço, ela não veio.
Quando Guilherme saiu da Sala Comunal, deu de cara com Chad encostado numa parede, impacientemente esperando. Só aí ele se deu conta: Samantha tem namorado! Ficou o resto da tarde de muito mau humor, Troy novamente perguntou se estava tudo bem, o que ele mais uma vez respondeu que sim.
Sentou-se a mesa da grifinória, e minutos depois ela finalmente apareceu. teve raiva ao vê-la ao lado do namorado. Ela estava lá estranha, calada, mas mesmo assim estava lá.
Xingou-se mentalmente por pensar nela. E quando olhou para Chad, viu-o com um sorriso nos lábios.
- Babaca!
- Quem? – perguntou Gus e Theo, que estavam perto do ruivo , com curiosidade.
- Murray! Um grande babaca! Anda como se fosse dono do mundo! Um ser superior! – Todos olharam para ele e não entenderam o surto, Troy foi o único que sabia o porquê dele detestar tanto Chad, mas não entendeu o motivo imediato do surto.
- Bom, pelo menos ele pode, pois namora a garota mais linda da grifinória, Gui! – Gus disse despreocupadamente. A sorte foi que Guilherme não escutou esse comentário. Pois sua mente foi invadida novamente: “Como será a partir de agora? E as aulas de Aritmancia? E as detenções? Por que a gente não termina logo aquela catalogação!?”
Guilherme notou que Samantha o evitou durante toda a semana. O que tranqüilizava-o muito, mas eles não iam se evitar tão bem assim na sexta-feira, dia de detenção.
As aulas foram normais. Encontrava-se com Samantha em quase todas elas, mas sempre que ele olhava-a, ela estava concentrada na aula ou nos exercícios. No intervalo do almoço, Alyssa perguntou porque ele não estava falando com ela. Disse que estava com problemas com uma matéria complicada e a menina se conformou. O jantar estava indo bem até que Gustavo se dirigiu a Guilherme e a Samantha:
- Vocês ainda estão cumprindo detenção? – Pela primeira vez o olhar dos dois se cruzaram, Samantha desviou imediatamente, constrangida. Mas algo fez Guilherme ter certeza que ela gostou do que aconteceu.
- Sim. Eu nunca vi tanta coisa num escritório tão pequeno. Mas acho que mais algumas semanas e acaba... – Guilherme respondeu.
- É... Se houver mais trabalho e menos conversa. E sem certas interrupções... – Samantha completou em tom de censura. Guilherme não entendeu o que ela disse. “Então ela não gostou?”
- Bom, crianças. Acho que em menos de um mês terminamos isso. – A profa. Vector disse enquanto Samantha estava sentada no sofá e Guilherme estava ao lado da estante de livros – Acho que podemos ir dormir mais cedo...
- Não, professora! – Samantha disse. Guilherme parou para olhá-la. – Quanto mais tarde ficarmos, menos dias teremos que voltar aqui. – Aquilo foi o fim para Guilherme.
- Bom, se Guilherme concordar... – A professora disse ao encarar o aluno.
- Está ótimo para mim! – falou tentando ser indiferente.
Samantha sorriu para ele, o que o fez ter muita raiva.
Diferentemente da semana passada, a professora Vector ficou toda a noite com eles. Reclamou duas vezes com Samantha, pois esta estava muito devagar e aérea.
Quando já era meia-noite ela os levou até a torre da Grifinória. Samantha foi a primeira a passar pelo buraco do retrato. Constatou que não tinha mais ninguém àquela hora. Deu alguns passos e se virou a tempo de ver o retrato fechando-se e Guilherme também parado olhando-a.
- A gente precisa conversar. – disse encabulada.
- Sobre o que você quer conversar? – Guilherme perguntou. “Ah, Gui facilita as coisas, por favor!” Sabia que ia se arrepender, mas parecia ser a única coisa certa a fazer. Gui sentiu um solavanco na barriga quando a mão pequena da menina segurou a sua e o puxou para um sofá. Sentaram-se ali e ficaram um bom tempo se olhando. Guilherme criou coragem.
- Eu, realmente, sinto muito se eu te chateei, Sam... – ela olhou para ele – Eu até entendo que você queira que as detenções acabem logo.
- Mas eu não quero. – O ruivo continuou sem entender, mas algo fez seu coração acelerar – Eu só disse aquilo para quando voltássemos para a torre não tivesse ninguém na sala...
Samantha foi diminuindo o tom da voz até terminar a frase, ao mesmo tempo em que formava-se um sorriso no rosto de Guilherme. Ele viu a menina suspirar resignada e tomar a iniciativa. Se apoio numa das mãos e beijou-lhe os lábios. Foi um beijo rápido, apenas para deixar com vontade. Samantha se levantou andou de um lado a outro na frente do sofá.
- Eu sei que é errado o que estamos fazendo, mas eu simplesmente não consegui parar de pensar nisso a semana toda! – disse desesperada, parando a frente dele. Ele olhou-a encantado. “Ela ficou tão linda!” Puxou-a para o sofá,sentando-a. Ainda a olhava admirado. Agora começava a entender porque ela o irritava tanto. Só o fato de vê-la conversar com outro garoto já o incomodava. Desejava-a só para ele e mais ninguém. Levantou o seu rosto, tocou levemente seus lábios com os dedos, notou que ela ainda estava triste, mas mesmo assim pedia um beijo com o olhar.
- Pois para mim não parece errado! Errado é justamente não te beijar, Sam! – Pontuou a frase com um selinho nos lábios da garota. – O que acha de hoje ser sem brigas? – perguntou, o nariz encostado na bochecha dela, respirando o aroma dela. Ela apenas fechou os olhos e balançou a cabeça enquanto ele buscava seus lábios.
- Você é um... Irresponsável! – berrou para o garoto a sua frente. Os cabelos presos num rabo de cavalo longo, começavam a escapulir da presilha. – Você tem idéia do que poderia ter acontecido?
- Eu não o obriguei a nada, Samantha! – Guilherme respondeu tentando chegar perto de um garoto deitado na grama.
- Claro que não! Apostar com um menino do primeiro ano para ele tocar no Salgueiro Lutador, Guilherme Weasley, significa nada. – disse abaixada tentando ver se o garoto respirava. – E não se aproxime dele! – berrou como se o garoto fosse tentar matá-lo.
- O que aconteceu, Samantha? – olhou para cima. Era Chad. Se dissesse ao um monitor o que Guilherme e seus amigos, Troy, Gus, Theo, Sigfreud fizeram, todos estariam enrascados. Como apenas ela e seus amigos e amigas viram, ela respondeu:
- Acho que ele não sabia que não é um salgueiro comum, Chad. – Olhou para Guilherme que olhava com raiva para o moreno. – Ele só está desacordado...
- Ah, só... – falou com sarcasmo. – Sai daí, Samantha. – pediu impaciente. Ela olhou com raiva para ele. Chad conjurou uma maca e ergueu o garoto. Este levantou a cabeça e falou para um arbusto ao lado.
- Te devo dois galeões... – todos riram menos Samantha, Guilherme e Chad.
A maca continuou o seu caminho, mas Chad parou a frente da namorada.
- Vou levá-lo para enfermaria, e depois vou estudar na biblioteca, se incomoda de passar hoje e amanhã sozinha?
- Olá! Eu fiquei transparente agora? Ou todos nós ficamos? – Ayasha falou de modo irritante para o irmão, que fingiu não ouvi-la.
- Eu vou ver se estudo mais tarde também... – Samantha respondeu desanimada. Chad deu um beijo de leve em seus lábios e seguiu atrás da maca.
- Bom, o espetáculo acabou! – só ficaram agora os quartanistas. – Tivemos direito até a ceninha de romance. – Gui olhou fuzilando Samantha.
- Não lembro de te dever satisfação, Guilherme. – Nem parecia que quando estavam sozinhos eles simplesmente não conseguiam parar de se beijar. As detenções com a professora de Aritmancia já tinham acabado, mas eles se acostumaram a se encontrarem toda sexta-feira de madrugada. No entanto, de dia na presença de outras pessoas, continuavam sendo a Sam e o Gui de sempre.
- Bom, eu vou indo! Sabia que essas brigas de vocês cansam? – Ayasha disse caminhando. – Samara e Carlinhos deveriam ganhar um prêmio, por agüentarem vocês até nas férias. - Samantha seguiu a amiga também, entraram no castelo. Praticamente todos os alunos estavam lá fora, refrescando-se no lago. Apenas os quintanistas estavam estudando na biblioteca, acompanhados dos setimanistas e sextanistas mais aplicados, como Chad.
Ayasha queria a ajuda de Samantha com algo “super-hiper-secreto”. Já estavam no segundo lance de escadas quando Guilherme as alcançou.
- Posso falar com você, Samantha? – Ayasha olhou sorrindo para os dois.
- Sam, não demora, ok? Eu estou te esperando no nosso dormitório! – E desapareceu antes mesmo de Samantha poder responder.
- O que é que você quer? – disse mantendo uma distância saudável dele, mas foi muito infeliz ao se se encostar ao corrimão da escada. Pois era muito fácil ele se aproximar sem ter por onde ela escapar.
- Conversar, apenas conversar... – já estavam bem próximos quando Samantha o empurrou.
– Você está louco, Gui? Aqui não... – Ele não fez por menos e puxou-a escada acima para um corredor no terceiro andar.
- As pessoas nunca passam por aqui. – Havia uma portinha aberta. Um armário com vassouras e caixas com material de limpeza. A menina olhou para a bagunça e a sujeira. Tia Stockard jamais permitiria que os elfos deixassem um armário ficar naquele estado. Assustou-se quando sentiu beijos em seu pescoço. Virou-se dando um olhar de censura para o garoto.
- Por favor, Sam... Você não faz idéia do quanto eu tive que me conter para não te beijar lá fora... – disse caminhando com a menina para trás. – E quebrar a cara do babaca...
- Não chame-o assim. Você sabe o quanto eu me sinto culpada... - Abafou um gritinho na garganta quando ele a ergueu e colocou sentada numa caixa de madeira.
- Então termine com ele, é tão simples...
- Não, não é simples... Se eu terminar com ele, você vai deixar as suas duas namoradas? E todas as outras?
- Quando você fala todas as outras parece que tenho um harém – disse passando os dedos no rosto da menina.
- Não muda de assunto. Você terminaria com elas? – Samantha insistiu.
- Você diria para a sua tia Stockard que é minha namorada? – Ao ouvir o nome da tia, Samantha baixou o olhar. Sabia que de algum modo a tia descobriria que ela e Guilherme tinham algo antes. Não sabia como, mas a tia descobriria. Bom, era isso que ela pensava. – Então estamos quites, senhorita Warren. Por enquanto, fiquemos com os beijos. Depois nós vemos o que faremos. Agora, vou saciar a minha vontade de te beijar! Só isso. Já que por enquanto eu não seria imprudente de bater num cara mais alto, mais velho e monitor. – E segurando as mãos dela na caixa para que ela não o empurrasse, ele começou. Primeiro com beijos curtos e estalados. Toda vez que ele parava Samantha reclamava, para então ele recomeçar. Um desses beijos se transformou num mais exigente. Gui soltou um das mãos dela para tentar achar uma brecha em suas vestes, “a pele dela é tão macia”, com a mão livre Samantha segurava em seu pescoço, arrepiando-lhe os pelinhos da nuca.
Samantha só foi ao encontro com Ayasha meia hora depois.
- O que está fazendo? – Samantha perguntou ao encontrar a amiga parada no meio do dormitório com uma revista nas mãos. Era melhor desviar a atenção da amiga da sua demora.
- Eu estou a meses criando coragem para tentar este feitiço... O que Guilherme queria? Você demorou... – Acrescentou, virando a revista de cabeça para baixo.
- Nada de mais... Que feitiço é esse?
- Adivinhe! – Ayasha pediu colocando a revista no chão.
Samantha ficou olhando a amiga alguns segundos, até que algo veio subitamente a sua cabeça.
- Ayasha, não! Você não sabe se isso vai funcionar ou não! – disse caminhando até a menina, e pegando a revista do chão.
- Vai, sim! Ai, diz que com esse feitiço ficamos magras e mais finas, “finas como folhas de papel”.
- Ah, sim... Quem disse? A própria revista! Ayasha e se algo acontecer com você?!
- É por isso que preciso de você! Se algo der errado você me leva para a ala hospitalar! Por favor, Samantha! Você sabe que eu já fiz todos os regimes possíveis e impossíveis, e nada! Continuo como um bombom rechonchudo! E não me olhe com esse seu olhar!
- Qual olhar? – perguntou surpresa.
- Esse olhar de reprovação! Reprovação e superioridade, você sempre o lança... Principalmente para o Gui...
Samantha não pode deixar de rir nessa hora.
- Ayasha, por favor! Não faz isso! – Olhou a revista e viu algumas fotos de modelos magras e bonitas, mas antes de ler o feitiço Ayasha puxou a revista de suas mãos.
- O feitiço é muito simples, Sam. Se afasta um pouco, por favor?
Samantha deu dois passos para trás, olhava o perfil da amiga, muito apreensiva. Ayasha segurou a varinha na mão direita e a revista na outra. Apontou a varinha para o topo de sua cabeça e pronunciou o feitiço.
Folhetus leafim
Folheus fims
Leafins delgum
Levilim delgatums
Uma luminosidade verde brilhante saiu da ponta da varinha. O feitiço contornou todo o corpo da jovem e fez Samantha piscar seus olhos violetas. Mas no momento seguinte a amiga não estava mais lá. A única coisa que Samantha via era a revista que caiu no chão.
Antes de se recuperar do choque e poder chamar pela amiga, ela escutou:
- Droga! Não sinto nada diferente. – a voz de Ayasha Murray resmungou.
- Ayasha! Onde você está? Como não há nada de diferente?
- Como assim, onde eu estou? Estou onde eu sempre estive. Aqui! Não está me vendo, cega! – se virou para a amiga.
Nesse segundo, Samantha deu um grito. Ela conseguia ver a amiga agora. Mais de uma forma totalmente diferente. O que era uma menina alta, gordinha e normal, agora, era apenas uma folha de papel. Uma folha-menina ou uma menina-folha.
- Por que você está gritando? – Ayasha perguntou começando a ficar assustada.
- Por quê? Por quê? – falou em tom alto – Olhe para você, Ayasha. Está parecendo uma... uma ... uma folha de papel! – Samantha caminhou até a amiga, pensou em levá-la até o espelho. Mas antes de fazê-lo, teve medo de amassá-la se por acaso pegasse em sua mão. – É melhor você se olhar no espelho. – a menina-folha caminhou lentamente até um espelho pendurado na parede do aposento. No momento em que se viu, teve a mesma reação de Samantha. Um grito alto e agudo.
- E agora? O que eu faço? – choramingou a menina. Em poucos segundos, lágrimas rolavam pela sua face. – O que eu faço?
- Você tem que ir a enfermaria!
- Não! As pessoas vão me ver!
- Ayasha, é melhor ir agora, antes da hora do jantar. Assim, aproveitamos que todos estão lá fora, nos jardins. – lágrimas começaram a rolar pela face da menina gordinha – Não, Ayasha. Não chore. Você tem que se controlar e se você se borrar?
- Senhorita Murray, essa foi definitivamente a coisa mais irresponsável que você já fez! – Madame Pomfrey ajudava Ayasha a se sentar numa das camas da enfermaria. Samantha também ajudava, tentando fazer com que a amiga literalmente não se amassasse.
- Eu sei, Madame Pomfrey, mas por favor não comunique isso aos meus pais. – pediu a garota, que aparentemente já estava mais calma.
- Sinto muito, mas isso será impossível! Já falei com Minerva e ela já está escrevendo para seus pais. A sua sorte mocinha é que você não terá que ser internada em Saint Mungus. – Novamente a expressão de desolação voltou ao rostoy da garota. Por mais durona e exigente que Papoula Pomfrey fosse, ela não poderia deixar de lamentar por tudo aquilo. Quantos problemas de adlescentes ela mesma já não teve que resolver naquela mesma enfermaria? – Senhorita Murray, a coisa mais importante para ser um grande mago, ou maga, é entender que nem tudo nós podemos resolver com magia. A magia é um meio, um caminho, mas não o único. Entendeu?
- Eu sei... A minha mãe vive dizendo isso! Mas eu já fiz de tudo! Regime, esportes, tudo! E continuo gorda!
- Gorda? Gorda? Mocinha, eu sou a enfermeira aqui e eu digo que você não é gorda! Você só tem 14 anos. Você é alta, e a julgar pelos seu irmão e, principalmente, pela sua irmã, você será mais alta ainda. Então... – Ela olhou para Samantha, parecia está calculando algo. – Se você seguir as minhas instruções não será muito difícil.
- Quais instruções?! – Ayasha perguntou curiosa.
- Primeiro vamos fazer você voltar a ser de carne e osso. E depois eu passarei uma lista de coisas que deve comer e deve evitar. E exercícios. Eu sei que fazer exercícios em Hogwarts é difícil, exceto Quadribol, mas uma caminhada pelos jardins e... – Olhou para Samantha como se estivesse vendo-a ali pela primeira vez. – Senhorita Warren! A senhorita vai perder o jantar acho bom correr!
Samantha achou melhor jantar com Chad. Se fosse para Grifinória teria que explicar para muitos o que aconteceu com Ayasha. Mas para o namorado apenas disse que a irmã estava na enfermaria com problemas “femininos”, isso foi o suficiente.
Em alguns dias, Ayasha saiu da ala hospitalar. E depois do incidente, seguiu as recomendações da enfermeira.
Os dias foram ficando mais quentes, a medida que os exames de final de ano se aproximavam. Hogwarts seguiu tranqüilamente com as suas atividades, os encontros entre Guilherme e Samantha diminuiram até todos embarcarem no Expresso Hogwarts. O trem vermelho que os levou até Londres. E de lá cada um seguiu para as suas casas.
Era noite. O jantar já tinha sido servido n’A Toca. Agora alguns Weasley estavam na sala. Os pais conversavam sobre a ida de mais um filho para Hogwarts. A pequena Gina e o gordinho Ronald brincavam com bloquinhos no tapete chamuscado. Percy, os gêmeos e Carlinhos jogavam um tipo de quadribol sem vassouras do lado de fora da casa. Guilherme que estava no andar de cima da casa, desceu as escadas, tinha um envelope nas mãos.
- Mãe?! O Enrol pode levar uma carta para mim?
- Claro, meu bem. Ele deve está no quintal. Só espero que não demore, pois seu pai pode precisar a qualquer momento para o Ministério.
- Ah, não vai demorar. Troy está em Londres. Ele sempre passa as férias lá, na casa de um primo do pai dele. – E com essas palavras se retirou para a cozinha. O envelope tremia em suas mãos. Estava mentindo para mãe. Bom, Errol realmente não demoraria pois a carta era para Samantha, cuja casa ficava há alguns quilômetros dali.
Estava em seu quarto. Tentava escrever, sem muito sucesso, para seu namorado. Aquela situação estava ficando a cada dia menos possível de se sustentar. Pensava que em pouco tempo ela e Guilherme cansariam um do outro, mas nada acontecia. Apenas, todas as vezes que surgia a oportunidade de se encontrarem o coração batia mais acelerado do que o normal. Uma felicidade tola e sem sentido se abatia sobre ela. Quando finalmente conseguira escrever um “Querido Chad...” uma coruja bateu levemente na janela de seu quarto.
Ao reconhecê-la todos sintomas se abateram sobre ela. Um aceleramento nos batimentos e uma inundação de felicidade, como se aquele simples e único beijo que compartilhariam faria tudo melhor...
A carta era simples e direta. Se comparados, Gui perderia para Chad na questão romantismo. Já que o rapaz mais velho sempre mandava cartas e bilhetes, às vezes poemas, chocolates... e aquela rosa vermelha encantada que agora mesmo estava no delgado jarro de cristal na escrivaninha em seu quarto. Mas se comparados no quesito coração acelerado e pernas bambas, o ruivo ganhava de disparada. Mas, apesar de toda aquela situação confusa, ela nunca os comparou. Na carta ele apenas perguntava se podiam se encontrar no pequeno píer de madeira que tinha no Rio Ottery, na propriedade das Warren.
Aquilo seria uma loucura, ela não saberia que desculpa arrumaria para as tias para ir de dia, sozinha até o píer, ou até a qualquer outro lugar. Seria um risco muito grande. Tia Stockard já não gostava muito do fato dela namorar Chad Murray, que além de ser meio-bruxo e meio-trouxa, não possuía nenhum tipo de riqueza bruxa. Mas sem pensar muito apenas escreveu no final da carta.
Estarei lá na hora marcada.
S.E.G.D.W.
O café estava bastante silencioso no lar das Warren. Samara geralmente a que fala mais. Só que Sally Warren estava se sentindo e se comportando muito bem naquele dia. Então ela estava ali, tomando seu chá com mel e gotinhas de limão. E na presença dela, a filha mais nova simplesmente não falava, não se não fosse estritamente necessário.
Samantha estava pensando em como chegar em uma hora ao rio. A torrada com mel estava particularmente deliciosa quando Stockard Warren perguntou:
- Você recebeu carta de seu namorado, Samantha?
- Sim, e respondi ontem mesmo... – disse tentando articular algo, mas nada vinha a sua mente, sempre tão criativa.
- O que é que ele quer mesmo fazer quando deixar Hogwarts, querida? – disse passando um pouco de geléia de amora na torrada.
- Ele quer ser medi-bruxo. O pai dele é médico trouxa, então ele quer ser também, mas no nosso mundo. É o que ele diz...
- E as notas dele, meu bem? – disse, antes dos lábios tocarem a xícara de chá.
- São mais do que suficientes... Bom, as do NOM’s, já que ele vai prestar os NIEM’s nesse ano letivo.
- Sinceramente, Samantha? Não sei como sustentará essa situação. Quando ele se formar, você ainda terá o sexto e sétimo ano. Quer dizer, são dois anos. Dois anos de possibilidades. E se você encontrar... hum... alguém que você julgue ser melhor para você?
- No momento, eu julgo que Chad é o melhor para mim, tia. Se assim não o fosse já teríamos terminado. – aquilo soava tão falso dentro de si – Se a senhora acha que eu pretendo terminar com Chad só porque não a sua conta bancária digna o suficiente dos luxos e caprichos de uma Warren...
- Olhe, como fala comigo, mocinha! Se falo, se argumento, se questiono é porque sou sua tutora e responsável pelo seu futuro...
- Pelo o que eu saiba o que você tem que assegurar é a minha educação deixe que do meu futuro marido cuido eu! Se é que eu me casarei algum dia!
O tom da voz das duas já estava bastante irritado, mas o volume nunca se excedia numa discussão Warren. Não além do socialmente aceitável.
- Stockard, deixe a menina em paz, ela namora quem quer. E Samantha, respeite sua tia. Se ela se mete é... – Morgan tentou interromper a briga.
Nesse momento, Samantha teve a idéia de como chegar até Guilherme. Os conceitos morais das Warren que explodisse, e Chad também. Levantou bruscamente se apoiando na mesa.
- Vocês não entendem?! É justamente esse o problema! Eu não quero que se metam. Eu simplesmente não quero que se metam. A única pessoa que se meteria está nessa mesa, colocando mais de dez colheres de açúcar em cima dos ovos mexidos! – nesse momento, quatro cabeças se voltaram para o lado de Sally Warren que realmente estava fazendo isso. Morgan se levantou para ajudar. E Samantha aproveitou o movimento. Pegou a sua capa e as botas que estavam na saída da cozinha, onde costumavam tomar o desjejum. – Sabem de uma coisa? Eu vou caminhar... Preciso de ar... E não se atrevam a vir atrás ou até mesmo mandar um elfo!!!
Caminhou durante quase meia hora. Sempre iam ao rio de vassoura, mas aquilo foi tudo que conseguiu improvisar...
Não improvisou exatamente. Uma briga a mais ou a menos com a tia não faria diferença. Elas até se pareciam fisicamente. Os cabelos intensamente pretos e a pele alva. Os olhos eram diferentes, é claro. Mas não era a única diferença. Parecia que desde que a menina entrou na dita adolescência a diferença dos olhos passou para outras áreas. O modo de pensar e agir perante os grandes problemas de sua sociedade. A menina, puro sangue,filha de comensal não existia mais. Ter amigas tão diferentes a fez entender em quantas mentiras ela acreditou.
Por outro lado, Stockard Warren apesar de não ter exatamente preconceito contra trouxas e meio-sangues achava que as Warren era uma família antiga demais, que apesar de estar resumida a três mulheres perto da meia idade e duas garotinhas beirando a adolescência, nunca precisou se misturar a trouxas para garantir a continuação de seus dons especias...
Isso começava a irritar a adolescente. O fato da tia está sempre impecável, também. O fato de ter tantas regras na casa, horário para tudo, também. E aqueles malditos exercícios de francês que pareciam que nunca acabariam.
Aquela caminhada foi muito boa. Primeiro, porque fazia tempos que ela não se exercitava, estava começando a gostar de acompanhar Ayasha quatro vezes por semana para caminhar pela propriedade. Em um mês quando voltassem iam pensar em correr. Segundo, porque as palavras da tia, apesar de irritantes aos ouvidos e a moral, não eram de todas erradas. Ela não conseguiria sustentar aquilo por muito tempo, é claro, que ela não estava se referindo a mesma situação que a tia.
Já tinha até passado a hora de terminar com Chad. Faria isso assim que conseguisse. Mas e quanto a Guilherme?
- Eu me recuso terminantemente a me tornar mais uma de suas... – suspirou fundo, não fora exatamente naquilo que ela se tornara? Apesar de sentir que havia algo diferente, novo, estranho, confuso e doloroso em relação a ele e ela, mas às vezes era assim que se sentia, mais uma.
Ele já estava lá. Estava sentado na ponta do píer. O rio não era fundo, mas o píer era extremamente útil para quem quisesse pescar. Jogava pedras na água. Algumas saiam batendo na água, outras apenas afundavam. Ele a viu. Ficou esperando que ela se aproximasse.
- Por um momento pensei que não viria...
- Quase... Quase não consegui me livrar das minhas tias. Mas eu consegui...
- Você está triste? – Samantha não respondeu, era irritante como ele sempre sabia quando ela estava triste, aborrecida ou qualquer outra coisa. Se limitou a sentar.
- Minhas tias me disseram umas coisas... Acabei brigando com Stockard, foi assim que eu consegui sair de casa sozinha.
- Que coisas? – Perguntou sentando-se ao lado dela.
- Ora, as coisas de sempre... – O problema era que “as coisas” tinham feito com que ela pensasse muito - ...aquele mesmo papo super cansativo. A idéia fixa dela de que Hogwarts não passa de uma grande agência matrimonial. – Uma gostosa gargalhada escapou da boca de Guilherme. – Não ria! Você sabe que ela pensa assim. E, claro, se você não conseguir em Hogwarts, ainda há Bordeaux!
- Pensei que quisesse ir para lá... – falou mudando a posição da cabeça, mirando o calmo rio.
- E quero! – Samantha se levantou. Ficar sentada estava deixando-a impaciente. – Mas não para arrumar um marido!
Guilherme levantou-se de um pulo. E, ajoelhando-se aos pés de Samantha, disse:
- Não precisa batalhar por um. Aqui estou! – E depois se desatou a rir.
- Você é muito idiota, sabia? Quando penso que possso falar sério com você. E eu preciso fa... – Um beijo doce e suave. Como a água para quem tem sede. Por alguns miutos Samantha esqueceu a decisão que tomara no meio do caminho.
Guilherme sempre a segurava na cintura e no rosto. Não como um cavalheiro temeroso de que sua dama desfalecesse em seus braços. Tinha, na verdade, medo que ela o empurrasse ou algo assim. Então, aquela mão na cintura sempre se perdia nas costas da menina, procurando por algo que ele ainda nem imaginava. Mas no fim, ela acabava entrelaçada na pequena mão da garota.
- Não ia agüentar as férias todas sem isso. - Disse intercalando palavras com beijos. – Não vejo a hora das aulas começarem para... –Samantha o interrompeu com um beijo longo. Um beijo diferente, angustiante.
- Hey! O que foi? – perguntou. Samantha saiu de seus braços.
- Apesar de tudo, há algo correto que a minha tia falou: que eu não vou sustentar essa situação por muito tempo. – as sardas do rosto do garoto sumiram de tão pálido que ele ficou. As mãos ficaram geladas. – Não, ela não sabe de nada. Ela estava se referindo a outra coisa. O que não vem ao caso... – Samantha andou um pouco. O ruivo ficou preocupado, sabia que ela não estava bem.
- Vou acabar o meu namoro – Ela falou aquilo de supetão, de uma só vez. E ao mesmo tempo um sorriso, uma felicidade se apoderou dele. Guilherme a abraçou e rodopiou com ela. Dava beijos em toda a sua face, mas ela o afastou. – Ainda não terminei de falar, Guilherme.
- Não precisa. Não precisa falar mais nada. Está tudo perfeito...
- Não! Não está! – Samantha falou um pouco mais alto. – Você acha que eu me sinto bem com o que estamos fazendo? Não, não me sinto. É claro, que eu me sinto bem ao seu lado, mas não com o fato de que eu sei que, não só o Chad como outras pessoas, vão se sentir muito decepcionadas se descobrirem o que tenho feito.
Ir do céu ao inferno não foi fácil.
- Se se sente tão mal, por que veio? – falou cheio de mágoa.
- Porque eu queria te ver! Mas dói, sabia? Dói saber que você e eu nunca poderemos ter nada sério. Dói saber que sou apenas mais uma...
- Por que nunca poderemos ter nada sério? Me diz, Samantha? Um pobre Weasley não está há atura da nobreza e do brilho da srta. Warren? – Estava tão magoado que queria magoá-la também, queria e não queria ao mesmo tempo.
- Não é nada disso! – falou tremendo um pouco.
- Se for por causa da maldição... – falou preocupado para ela.
- Quanto a isso não precisa perder o sono. Só te afetaria se você casasse comigo.
- Ou você me amasse... – falou pensativo. Samantha pensou rápido no diagnóstico. A dor, a angústia, a felicidade e as malditas borboletas no estômago. Estava confirmado.
Não pensou em mais nada. A não ser correr. Correu muito. Só sentiu o quão rápido correu quando entrou desembestada na cozinha de sua casa. A sorte é que lá só havia elfos trabalhando no almoço.
Quando entrou na sala lá estavam quase todas as suas tias. Stockard, Morgan e Minerva, que tinha um envelope nas mãos. Todas pareciam estar muito felizes. Até mesmo Stockard parecia ter esquecido a briga da manhã.
Aconteceu tudo muito rápido. Há pouco ela estava brigando com o garoto Weasley, e agora ela recebia da diretora da sua casa, vice-diretora de Hogwarts, não menos importante, sua ta, o distintivo de monitora do quinto ano da Grifinória.
- Os monitores sempre recebem junto com a lista do material scolar. Mas fiquei tão feliz com a decisão de Dumbledore que euis vir entregar eu mesmo. – disse Minerva bebericando o chá – Ele estava com receio... Vocês sabem...
- É, nós sabemos. – disse Morgan com um tom estranho de deboche.
- Mas o fato de ser neta dele não deve prejudicá-la se ela mereceu, ponto final! – emendou Stockard.
Samantha olhava sem saber o que fazer com aquele distintivo. Aquilo lhe traria problemas, ah, sim! Uma pontinha de felicidade se apoderava dela. Quer dizer, seus esforços e estudos valeram a pena. As boas notas e o bom comportamento e agora um distintivo.
- Ah, finalmente, Minerva, quem ficou com a monitoria-chefe masculina e quem é o parceiro de Samantha? Dumbledore estava indeciso – comentou Morgan para Stockard.
- Chad Murray e Guilherme Weasley.
Nota da Autora -> bom, como Lila pediu, tá... Um capítulo novo... mas eu não sei quando poderei terminar.... mas não deseminem...
Eu também gostaria de fazer uma idéia de quantas pessoas leêm a minha fic, quem acompanha mesmo, bem que poderia comentar, assim eu tinha uma idéia e me animava mais, e separava um tempo para escrever, já que ando muito ocupada.... bom, beijos e obrigada para quem acompanha...
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