Chocolate suíço



14º capítulo – Chocolate suíço

Acordamos cedo pra viajar, mas paramos no rio Aare. Bern não seria Bern sem ele. Compramos café expresso e bebemos ali, olhando o lindo rio, pra só então começar a viagem. Paramos em Solothurn e depois Aaran, pra dormir. As nove horas da seguinte estávamos a alguns quilômetros de Zurique. Provavelmente a cidade mais cara da Europa. Ou pelo menos da Suíça.

-Não sei se meu alemão está muito bom – Draco falou para Blaise, que dirigia.

-O meu está meio ruim também – ele falou. Deu uma olhada pelo retrovisor e viu que Gina estava escrevendo sem parar – O que você tá fazendo Gina?

-Só umas anotações – ela falou distraída.

-Você não vai aprender a dirigir Gina? – Star perguntou de repente.

Gina parou de escrever e olhou para a amiga.

-É mesmo – Draco falou, olhando de esguela pra ela – Você é a única folgada que não se preocupa em dirigir. Já estamos quase saindo da Suíça, Weasley.

-Você me ensina Star? – Gina perguntou esperançosa – Ou você Blaise?

-Que isso Gina – Blaise riu – Draco vai te ensinar. Ele é ótimo professor.

***

-Malfoy porque não seguimos viagem? – Gina perguntou emburrada – Faltam vinte quilômetros pra Zurique.

-Tá com medo né? – ele zombou – Coloca o cinto e ajeita o retrovisor.

-Mas que droga... – ela murmurou. Deu uma olhada pra rua completamente vazia. Blaise parou em uma cidade pequena, antes de Zurique, pra que Gina pudesse ter aulas de direção.

Mas agora, Blaise e Star estavam dentro de um pequeno café. Comendo e se aquecendo, enquanto ela estava ali. Aguentando as exigências de Draco.

-E nem pense – ele disse quando a viu correr os dedos na direção do rádio – Eu não vou ouvir a porcaria do cd da Hilary Duff.

-Mas eu comprei e nem ouvi ainda – ela reclamou, depois revirou os olhos.

***

-FREIA SUA DOENTE! – Draco gritou enquanto a via fazer uma curva perigosa. Ela freio, mas Draco fou abruptamente lançado pra frente. Se não estivesse usando cinto provavelmente teria batido a cabeça no vidro.

-Isso é pelo mercado em Bern – Gina disse divertida – Você deixou que meu carrinho batesse na estante e todas aquelas latas de alumínio caíram em mim.

-Você não se machucou, então deixe de ser dramática – ele falou, tentando se recompor.

-Mas aquele segurança ficou super estressado – ela disse vermelha – E você fingiu que não me conhecia. Ainda bem que não tive que pagar nem arrumar nada.

-Acabou? – Draco olhou impaciente pra ela, depois se virou pra frente. Arregalou os olhos – OLHA A ESTRADA!

***

Gina fez uma trança no cabelo e observou a estrada. Agora estava no banco do passageiro, esperando os últimos minutos até Zurique. Já eram onze e meia, ela pensou horrorizada. Tinha dirigido muito bem, por mais que Draco negasse.

-A comida aqui também é cara Gina? – Blaise perguntou do banco de trás.

-Muito mais que em Bern – ela respondeu – O bonde aqui é cinco euros. Mas em compensação tem...

-Chocolate suíço! – Star gritou animada – Nós vamos comprar muito chocolate.

-Eu queria mesmo é um relógio – Draco disse sonhador.

-Ou um canivete – Blaise completou.

-A única coisa que vai dar pra comprar é chocolate – Gina falou, mas só pra acabar com a alegria deles – Já disse que a cidade é cara.

-E onde vamos ficar? – Blaise perguntou.

-Bem – Gina falou – Tem o Guesthouse, que tem café da manhã, lavanderia...E várias outras coisas. Mas nós não precisamos ir na lavanderia e o lugar é meio caro. Vamos ficar no Hotel Otter que tem café da manhã e fica bem no centro.

-A estação de trem é bem agitada, não é? – Star perguntou.

-É sim. Tem restaurante, café, livraria e lojas.

-Vamos fazer o registro no hotel – Draco falou – E depois vamos pra estação. Mas é melhor ir de carro, porque pelo visto as coisas aqui são bem mais caras – ele avistou a entrada da cidade – E parece que chegamos em Zurique.

***

-O que é rõsti? – Gina sussurrou para Blaise.

-Não me diga que A Guia não sabe de alguma coisa – Draco zombou, falando alto – Isso, Weasley, é batata gratinada e batata frita.

-Obrigada por responder – ela respondeu cínica – Já que eu perguntei pra você. FDB.

-Tá, eu realmente cansei disso – ele disse, ficando vermelho – Mas que caramba Weasley. Fala de uma vez que porra é essa.

-Não vou dizer – ela lançou um sorrisinho vitorioso pra ele e pegou o cardápio.

-Nós vamos dar uma volta aqui depois né? – Star perguntou – Aqui na estação. Vocês viram quantas lojas?

-Claro que vamos – Blaise sorriu pra ela – O que você quiser.

Gina e Draco reviraram os olhos ao mesmo tempo.

***

-St. Peters Kirche – Gina disse aos três – Esse é o maior relógio da Europa – e bateu uma foto.

***

-Lindenhof é o nome dessa praça – Draco falou enquanto eles caminhavam pelo calmo lugar – Aqui é bem vazio, e sossegado – Gina olhou curiosa pra ele – Só sei disso – ele suspirou – Porque quando minha mãe vinha fazer compras eu ficava aqui esperando.

***

-Outra igreja? – Blaise perguntou – A Europa está cheia delas hein?

-Não é uma igreja qualquer – riu – É Fraumunster. Ela é famosa – Gina olhou a bonita construção – Muito famosa.

***

-Graphische Sammlung – Gina explicou enquanto entravam no museu – Nesse museu tem quadros de Goya, Picasso, Rembrandt...Os quadros valem milhões.

***

-Altstadt é bem mais divertida que os outros lugares – Gina falou enquanto passeavam. O lugar era um labirinto de ruas medievais e casas antigas.

-Vamos apostar uma corrida – Blaise disse – Nós estamos no meio, quem sair por último vai ter que lavar as roupas de todo mundo na próxima vez que precisar.

-Fechado – Star sorriu.

Os quatro se prepararam e dispararam pelo caminho de pedra. Gina pegou uma passagem a direito e Draco pegou uma passagem a esquerda. Blaise e Star continuaram correndo em frente. O problema foi que Gina e Draco pegaram o mesmo caminho.

-Ai! – ela gritou enquanto seu corpo se chocava contra o dele.

-Weasley! – Draco gritou também.

-Meu braço – ela resmungou, caída no chão – Você machucou meu braço Malfoy...Tá saindo sangue. Olha só.

-Não aconteceu nada – ele falou irritado. Odiava conversar com pessoas exageradas – Foi só um arranhão.

-Pra você talvez – ela levantou irritada, olhando o ralado em seu cotovelo. A ruazinha de pedra não era um lugar nem um pouco agradável pra se cair.

Draco olhou divertido pra ela. Gina e seu cabelo vermelho escuro com olhos verdes. Ele nunca imaginou essas duas cores juntas...Vermelho e verde. Mas elas ficavam incrivelmente bem unidas. Não chegou a pensar tão longe, mas talvez tenha tido o lampejo de duas coisas que também pareciam erradas juntas, mas que bem no fundo combinavam, Grifinória e Sonserina.

-Hei vocês – Blaise gritou enquanto andava até eles – Eu e Star ganhamos, vocês perderam.

-Eu me machuquei – Gina falou, começando a andar na frente.

-O que? – Blaise sussurrou pra Draco.

-Esquece – ele disse – Ela é dramática, você sabe.

***

-Eu nunca fiquei com o braço ralado por mais de um dia – Gina disse pra Star.

-É, magia realmente faz falta não é? – ela disse, passando mais maquiagem – Vamos pra uma boate ou o que hoje?

-É – Gina falou enquanto se olhava no espelho do banheiro. Ela usava uma calça preta e uma blusa prateada. Estava frio então pegou também uma delicada blusa de frio cinza – Fica em Niederdorf, a parte mais agitada da cidade.

-Vão demorar? – Draco bateu impaciente na porta. Ele e Blaise tinham sido expulsos do quarto a quase uma hora – Já são onze e meia.

-Estamos prontas – Gina disse, abrindo a porta.

Draco a observou por um segundo. Ela parecia bem mais sofisticada que de costume. Sofisticada e bonita. Ele balançou levemente a cabeça, lançando um olhar irritado para Star.

-Vamos? – perguntou – Blaise já está lá embaixo, esperando no carro.

-Então vamos lá – Gina passou por ele. Uma nuvem de perfume e sorrisos.

***

Gina dançou com o segundo cara bonitinho da noite. Ele era loiro e quase tão alto quanto Dracos, se chamava Zantry e assim que ela disse que era inglesa, ele começou a falar em inglês também. Carregado de sotaque, mas ainda assim dava pra entender direitinho.

-Você é muito bonita – ele disse no ouvido dela.

Gina sorriu e deixou que ele a beijasse.

***

-Chega de agarração – Draco falou enquanto se sentava. Star e Blaise tinham pegado uma ótima mesa, com cadeiras confortáveis e área fechada – Como foi que vocês conseguiram isso?

-Blaise fingiu que era o dono do lugar – Star riu – Olha só o que pedimos...Muita champanhe. E tudo por conta da casa.

-Isso foi realmente inteligente da sua parte – Draco comentou, pegando uma taça e bebendo – Mas o cara é parecido com você ou não?

-Muito parecido – Blaise disse divertido – Quase um clone Draco, você precisa ver. Tinha uma foto do dono com o filho, perto do bar, e o barman já chegou falando comigo em francês e tal.

-E Blaise entendeu rapidinho, e já disse que ele era Anthony-Charles Persand – Star falou – O pai dele é dono de vários lugares pela Europa.

-Isso é uma coisa pra se tirar proveito – Draco falou pensativo – É só acharmos os lugares em que ele tem clubes e essas coisas. Na Alemanha deve ter, com certeza.

-Champanhe? – Gina perguntou agradavelmente surpresa enquanto se sentava do lado de Draco – Ganharam?

-Pode-se dizer que sim – Star respondeu – Mas e aí? Como foi com o loiro?

-Zantry – Gina sorriu – Lindo, lindo e lindo – ela olhou divertida para Draco – Vi você e aquela coroa nas escadas.

-Coroa? – Draco perguntou ultrajado – Ela é cinco anos mais velha só, não é uma coroa. Pelo menos eu não estava deixando o suíço ali passar a mão em todos os lugares possíveis.

-Babaca – ela revirou os olhos, depois se virou pra Blaise e Star – Bonito aqui não é?

-Muito – Blaise concordou – Hei a champanhe acabou – ele ergueu a mão e um instante depois um garçom apareceu – Mais champanhe – pediu.

-Só um segundo senhor Persand.

Os quatro riram.

***

Gina se despediu de Zantry, que pegaria um avião pra Grécia logo cedo, e olhou seu relógio. Quatro e meia da manhã. Draco estava se agarrando com outra pessoa, mas a mulher parecia mais nova dessa vez. Blaise e Star estavam se agarrando no camarote. Ela riu sozinha e andou até o bar.
Assim que Blaise deixou bem claro que estava com três amigos, ela começou a receber tratamento VIP. Já estava pedindo uma bebida quando viu algo que fez seu sangue gelar. Ela se perguntou como não tinha visto os dois ainda.
Corinne e Daniel estava ali, se beijando em uma mesa escondida. Sentiu os olhos se enchendo de lágrimos no mesmo instante, mas segurando-se, deu meia volta e foi até Star e Blaise.

-Precisamos ir – disse séria.

-O que houve? – Star perguntou preocupada – Porque está assim.

-Daniel e Corinne estão aqui – Gina disse rapidamente, vendo Draco se aproximar.

-Draco temos que ir – Blaise levantou – Parece que dois amigos da Gina estão aqui na boate. Eles não podem nos ver.

-Amigos? – Draco perguntou curioso. Desde quando Gina Weasley tinha amigos que frequentavam boates em Zurique?

-Daniel e Corinne – Gina suspirou impaciente – Só vamos cair fora logo tá?

-Então vamos cair fora – Blaise e Star levantaram.

Dois minutos depois estavam no carro, indo para o hotel. Blaise parou na entrada do apertado estacionamento.

-É melhor vocês irem na frente – falou – Porque lá embaixo é apertado.

Gina abriu a porta e saiu. Draco, que estava no banco do passageiro, saiu também. Star continuou no carro, porque tinha outros planos para o fim da noite. Draco olhou para a frente e viu que Gina já estava pegando a chave com a recepcionista. Ele a seguiu, sabendo que ela estava chorando.

-Qual o problema? – ele tocou gentilmente no cotovelo dela.

Gina passou rapidamente a mão no rosto, mas não se virou pra ele.

-Só me deixe em paz – murmurou – Nós precisamos dormir e sair da cidade amanhã bem cedo tá? Eu não quero correr o risco de encontrá-los por aí.

-Tá certo – Draco a soltou – Hei Weasley – chamou – Você e Star não iam comprar chocolate amanhã cedo?

-Nós passamos umas cinco horas naquela estação – Gina falou, ainda sem se virar pra ele – Já vimos vários lojas...Deixa os chocolates pra lá.

Draco não se virou e a seguiu. Ao invés disso, deu meia volta e conseguiu pegar um táxi. Foi direto para a agitada estação de trem. A estação devia ter quase cinquenta lojas, restaurantes, bancas de revista...Ele podia comprar qualquer coisa ali. Andou por quase meia hora até achar uma loja que vendia chocolate. Ele nem sabia porque estava querendo ser tão legal, mas também não pode evitar.
Ele olhou as prateleiras, vendo alguns adolescentes bêbados andando por ali.

-Chocolate senhor? – um homem perguntou em alemão.

-Sim – Draco respondeu.

Dez minutos depois saiu da loja com uma sacola cheia de chocolate. O melhor deles, já que era o suíço. Viu um diferente grupo andando por lá. Usando compridas e coloridas capas e falando em inglês.
Rapidamente, se escondeu atrás de uma pilastra e esperou eles passarem.

-Parece que já procuraram pela menina de Arthur até na América – um dos homens ia dizendo – Esses jovens não têm mais juízo.

-O menino Malfoy também fugiu – outro disse – Eles podem estar em qualquer lugar.

-É verdade – outro concordou.

E continuaram andando, até sumirem em uma virada. Draco respirou aliviado e saiu da estação. Já devia ter imaginado que de madrugada os bruxos aproveitavam a baixa circulação de trouxas para saírem.
Chegou no hotel e encontrou a porta do quarto destrancada. O quarto tinha uma cama grande, que Blaise e Star dividiam, e duas pequenas. Gina estava na cama perto da janela, então ele ficou com a outra. Trocou de roupa no banheiro e dormiu. No mesmo instante em que os primeiros raios de sol despontavam.

***

-Qual seu problema? – Blaise perguntou divertido enquanto Draco colocava seu óculos de sol e parava na porta do hotel – Não gostou do café da manhã do hotel alteza?

-Não é isso – ele reclamou, morrendo de sono – Só estou cansado.

-Onde você foi ontem a noite? Nós ficamos te procurando pelo hotel, mas depois desistimos – Blaise balançou a cabeça – Foi se enfiar no quarto de alguma hóspede é Draco?

-Nada disso – ele revirou os olhos, por mais que seu óculos de sol impedissem Blaise de vê-lo fazer isso – Só fui andar.

-As cinco da manhã? Conta outra vai – Blaise olhou Star, que estava no balcão, acertando tudo – O hotel foi barato, não acha?

-Todos os hotéis que nós pegamos são baratos – Draco falou – Eu sempre me hospedei em cinco estrelas e agora acho um hotelzinho qualquer caro...Ah meu Deus que saudade do meu dinheiro.

-Você não me engana – Blaise falou – Eu sei que você trocaria os hotéis cinco estrelas pela nossa viagem.

Draco nem mesmo se deu ao trabalho de responder.

-Paguei a conta – Star falou animada, pulando em Blaise e o abraçando – Draco você tira o carro da garagem?

-Tiro – ele pegou as chaves na mão de Blaise – Cadê a Weasley? – perguntou.

-Estava ajeitando as malas no carro – ela respondeu.

Draco fechou a blusa preta de frio, porque a manhã era sempre congelante, e andou até o estacionamento. Alguns lugares da Suíça variavam a temperatura de zero para trinta graus negativos. Em Zurique, naquele momento, a temperatura era de seis graus. Draco viu Gina, colocando coisas no porta mala. Ela ainda parecia deprimida.

-Vamos sair – ele disse pra ela – Blaise e Star estão nos esperando lá em cima.

-Tudo bem – ela suspirou, olhando seriamente para Draco – Olha, para de me olhar assim entendeu? Como se dissesse...Nossa como a Weasley foi idiota, caindo na conversa de um garoto qualquer.

-Eu não disse nada – ele falou com um pequeno sorrisinho, porque era divertido ver como ela estava sempre na defensiva – E você precisa se desarmar um pouco Weasley.

Ela revirou os olhos, deu meia volta e abriu a porta da trás.

-Espera – Draco a chamou – Tem uma coisa que – ele andou até o porta malas e o abriu. Pegou sua mochila e de lá tirou uma enfeitada sacola – Eu comprei isso ontem.

-Como é? – ela olhou surpresa pra sacola que ele havia acabado de entregar pra ela – Comprou chocolate suíço ontem de madrugada?

-Não pareça tão surpresa Weasley – ele disse dando de ombros – Eu tive uma boa criação. Sei ser cavalheiro.

-Mas, em seis anos, é a primeira vez que demonstra – ela riu levemente. De alguma forma Daniel e Corinne correram para o passado. Ela simplesmente se esqueceu de pensar neles – Estou surpresa sim.

-Certo, agora já pode ficar quieta – ele entrou no carro.

-Você foi na estação de madrugada só pra comprar isso? – ela perguntou, também entrando no carro. Mas dessa vez no banco da frente – Preciso de mais aulas.

-Sim, eu comprei na estação de madrugada – ele falou – E até vi um grupo de bruxos, mas eles não me viram. E sobre aulas de direção...Até chegarmos em Luxemburgo você já vai saber dirigir.

-Obrigada Malfoy – ela sorriu, pegando um chocolate e começando a comer.

-Não se acostume Foguinho – ele disse divertido, tirando o carro da garagem.

-Pode deixar – ela riu também – Eu não vou FDB.

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