Problema espanhol



6o capítulo – Problema espanhol

Depois do almoço em San Sebastian pegamos estrado de novo. Chegaríamos em Bilbao quase cinco e meia da tarde. O plano agora era dormir por lá e no dia seguinte ir pra Burgos. De lá seguiríamos para Zaragoza depois Lleida e por fim Barcelona.

-Nossa cara, eu to mesmo cansado – Blaise reclamou enquanto o carro chacoalhava levemente. Uma música espanhola chatinha tocava no rádio – Gina troca de lugar comigo. Aí atrás eu vou conseguir deitar direito.

-Blaise, o carro é imenso – Gina falou, deixando bem claro que não queria trocar de lugar – Você consegue esticar as pernas muito bem aí na frente. Não vou trocar.

Star cutucou Gina.

-Troca sim vai – ela pediu, quase implorando – Não seja má.

-Draco para no acostamento – Blaise falou – Vou lá pra trás.

***

-Malfoy eu quero acabar de ouvir o cd da Hilary Duff – Gina falou, procurando o cd no porta-luvas – Aonde você colocou ele hein?

-Weasley já ouvimos o cd duas vezes – ele falou, sem olhar pra ela. O sol estava forte então Draco usava os óculos de sol que tinha comprado em Paris – Deixa a porcaria da música tocar.

Gina olhou emburrada para a janela do carro. O ar condicionado estava ligado e o carro estava com um clima gostoso. Pelo menos isso e a vista bonita compensavam a péssima companhia.

***

-Roja! – Draco falou irritado.

-Cabezota! – Gina falou, fulminando Draco com o olhar. Ele era um idiota mesmo.

-Cabeza de cerilla.

-Terco.

-Aburrida.

-Agrio.

-Conejo.

-Verdugo.

-Zonza.

-Torpe.

Blaise e Star observavam a briga em silêncio. Ela tinha começado assim que Gina achou o cd da Hilary Duff e colocou. Desde então, meia hora atrás, eles estavam treinando todo o vocabulário em espanhol e se xingando dos mais diferentes nomes.

-Mas o que é que eles estão falando hein? – Star perguntou pra ele, a cabeça encostado no ombro de Blaise.

-Ele chamou ela de vermelha, ela chamou ele de cabeçudo, ele falou cabeça de fósforo, ela falou teimoso, ele falou chata, ela falou azedo, ele falou coelha, ela falou tirano, ele falou boba, ela falou lento...

-Gente daqui uma semana já estou fluento no espanhol – Star falou com uma risadinha – Quer dizer, pelo menos os xingamentos eu já vou saber.

-Vai! Chega de briga – Blais bocejou – Cara são quatro da tarde ainda. Quanto tempo de viagem nós temos.

-Pelo menos uma hora e meia – Draco falou. Completamente bravo por estar ouvindo pela terceira vez o cd da Hilary Duff.

***

Draco estacionou o carro e os quatro desceram. Balboa era uma cidade bem cuidada e ensolarada. Ele gostava disso. Londres o deprimia às vezes, por ser tão escura e fria. Eles começaram a andar pela rua, cheia de lojas abertas.

-Precisamos achar um hotel logo – Draco falou – Daqui a pouco começa a escurecer e eu estou muito cansado de dirigir.

-Deixa só as meninas verem as lojas – Blaise disse, observando Star rindo enquanto apontava uma bolsa – Quando eu ficar rico de novo vou viajar, com todo o conforto do meu dinheiro – ele suspirou – E não vou economizar dinheiro. Isso é um saco.

-É mesmo – Draco concordou.

Por mais que no fundo eles estivessem se divertindo pra caramba.

-Dá a chave Malfoy – Gina falou enquanto andava até ele – Preciso pegar dinheiro na minha mochila.

-Vai lá conejo.

-Idiota – ela resmungou. Foi no carro, pegou o dinheiro e entrou na loja. Ela e Star compraram uma camiseta cada.

-Sem compras vai – Draco falou – Vocês por acaso já viram as praças daqui? Têm vários monumentos e...

-Ele é chato assim? – Gina sussurrou para Blaise enquanto eles atravessavam a rua. Draco ainda falava dos monumentos – Quer dizer, isso tá soando meio completamente chato Blaise. E olha que eu adoro monumentos históricos.

-Daqui um mês ele melhora Gina – Blaise falou rindo – Você vai ver só.

-Eu só não queria ter saído seis da manhã de Bayonne. Nós chegamos em San Sebastian e já viemos pra cá. Bem que dava pra dar uma descansada.

-Nós vamos Star – Gina riu – Calma.

***

Já era quase nove da noite quando voltaram para o lugar em que Draco deixara o carro. Bilbao era uma cidade linda e eles haviam passado as últimas horas visitando monumentos os históricos de lá. Onde quer que se olhasse achavam algo lindo. Gina tirou várias fotos em igrejas, praças, museus. Tudo do lado de fora, é claro. As luzes da cidade a deixavam parecendo com uma Nova York mais antiga.

-Ih, problema a vista – Blaise falou. Draco olhou para Gina e Star, que estavam vendo a vitrine de uma loja já fechada. Um grupo tinha acabado de cercar as duas. Uns dez homens pelo menos – Vamos lá.

-A Weasley sabe se virar muito bem – Draco deu de ombros. Não ia se meter numa briga, em desvantagem, e ainda pra defender a coelha.

A rua não estava tão movimentada aquela hora porque as lojas já estavam fechadas e não havia restaurantes e bares por ali.

-Bonitos senos! – um deles gritou em alto e bom som para Star. Blaise ficou vermelho na mesma hora.

-Quem aquele babaca acha que é pra dizer que os peitos da Star são bonitos? – ele falou, depois começou a andar na direção deles – Podem cair fora agora mesmo seus otários – gritou – Já tem dono.

-Mas é um trouxa mesmo – Draco suspirou.

Blaise começou a gritar com os homens. Gina e Star se afastaram. No momento em que Draco resolveu que era hora de chamar Blaise, viu o amigo levar um certeiro soco no rosto. Certo...Eles tinham um problemão agora.

***

-Tenho um plano – Gina sussurrou para Star, puxando-a para longe da briga – Os dois vão morrer. Até parece que sabem brigar.

-Estão machucando o Blaise – Star falou enquanto olhava o namorado-ficante – O que quer que eu faça?

-Escuta só – Gina falou enquanto via Draco apanhar. Tá, ela podia demorar mais um pouquinho pra salvar os dois.

-Anda! – Star chamou, apressando-a.

***

-Vem babacas! – Gina gritou rindo para os dois. Pegou a câmera e tirou várias fotos. Uma mostrava Draco apanhando, na outra ele estava dando um soco. Em outra Blaise batia, apanhava, os dois apanhando. Batendo de novo – Eles não ouviram Star – ela falou divertida, tentando não deixar o carro morrer.

-Blaise! – Star gritou – Draco! Venham!

-Mas são uns idiotas mesmo – Gina balançou a cabeça, rindo.

Blaise viu o carro. Puxou Draco pela mão e os dois começaram a correr. Blaise abriu a porta de trás e se jogou lá dentro, sendo seguido por Draco. Gina pisou no acelerador, fazendo o carro engasgar duas vezes. As duas meninas, sentadas na frente, começaram a rir enquanto o carro saia cantando pneu.

-Você vai nos matar Weasley! – Draco berrou, tentando ignorar a dor que sentia no rosto – Eu vou dirigir.

-Draco eles estão vindo! – Blaise falou desesperado, vendo o grupo de homens correndo atrás do carro – Continua Gina.

-Star vem pra trás – Draco falou – Agora!

Star resmungou algo sobre a falta de educação de Draco e pulou para trás, quase caindo no colo de Blaise. Draco levantou e colocou um pé no banco do passageiro. Gina fez uma curva fechada e ele foi atirado com tudo pra frente.

-Filha da mãe – ele gritou, colocando a mão na testa – Quer me matar Weasley?

-Não seria uma má idéia – ela riu. Freiou o carro e desceu correndo. Draco sentou no banco do motorista e ela entrou do outro lado – Vamos embora.

-Bem melhor – Draco falou aliviado – É o seguinto machão – olhou Blaise pelo retrovisor – Não vamos poder ficar aqui em Bilbao por sua culpa. Vamos ter que seguir viagem.

-Falando nisso Malfoy – Gina falou enquanto pegava seu caderninho – Eu estava olhando o mapa e não compensa passarmos em Burgos. Íamos fazer um desvio de quase duas horas e meia. Ou seja, perderíamos cinco horas pra voltar pra estrada de Zaragoza.

-De quanto tempo é a viagem? – ele perguntou.

-Daqui até Zaragoza? – ela olhou o mapa – Cinco horas e meia aproximadamente. Agora são nove horas – falou olhando para o relógio – Chegamos uma duas e meia da manhã lá. É a melhor idéia.

-Mas nós não vamos pra Madri? – Star perguntou – Eu queria tanto fazer umas comprinhas lá. Dizem que é uma das capitais mundiais da mundo e...

-Star querida – Gina se virou pra ela – Nós não temos dinheiro pra gastar a toa em Madri. Se formos vamos ter que esquecer metade da Itália, porque o caminho vai ser outro.

-Mas que chato – ela resmungou.

-Não se preocupe – Blaise sorriu pra ela – Trago você de novo aqui e você vai poder comprar tudo o que quiser.

-Ah que lindo! – ela deu um beijo nele – Nossa Blaise, você está com o olho roxo. E só isso aconteceu porque foi me defender – Star pegou um creme na bolsa – Vou passar isso e daqui a pouquinho sara.

Draco e Gina reviraram os olhos.

-Weasley – Draco falou – Tira a porra do cd da Hilary Duff e coloca o que eu comprei hoje. Tá no porta-luvas.

-Mas você é um grosso mesmo – ela falou revoltada. Tirou o cd da Hilary, que estava sendo repetido pela trigésima vez, e abriu o porta-luvas – Dido? – ela olhou a capinha – Mas será que é bom?

-Não sendo Hilary Duff já está ótimo – Draco falou.

Gina colocou o cd. Uma música lenta começou a tocar. Ela encostou a cabeça no banco e fechou os olhos. Não tinha dormido muito por causa das brigas com Draco e agora estava bem cansada.

***

Gina acordou uma hora e meia depois. A música era realmente boa, ela pensou. Star e Blaise dormiam abraçados no banco de trás. Sem se mexer muito, ela olhou Draco. Ele parecia bem cansado e ela começou a se perguntar se ele conseguiria chegar em Zaragoza.

And I won't go, I won't sleep, I can't breathe,
until you're resting here with me,
And I won't leave, not I can't hide, I cannot be,
Until you're resting here with me

(Here with me – Dido)


Sentiu uma pontada no peito ao lembrar de Harry, Hermione, Luna, seus irmãos...Seus pais. Por mais que tentasse se convercer do contrário, sentia falta deles. Um carro cruzou com eles e Gina viu o enorme machucado no rosto de Draco.

-Hei Malfoy – chamou, sem falar alto pra não acordar o casal – O que você acha de darmos uma parada?

-Seria ótimo se tivesse alguma coisa por aqui – ele falou, cansado demais pra qualquer comentário sarcástico.

-Espera aí – Gina abriu o mapa que tinha – Tem uma cidade há mais ou menos vinte quilômetros daqui. Chama Logrono. Nós passamos a noite lá e depois seguimos viagem.

-Logrono então – ele falou, aumentando um pouco mais a velocidade do carro. Seu rosto estava doendo pra caramba.

Gina voltou a ficar em silêncio. Acima deles, um grupo de bruxos passou em suas vassouras. Estavam todos indo pra Andorra, um pequeno país na divisa da Espanha. Talvez até menor que Mônaco. Várias provas indicavam que os quatro fugitivos estavam lá. Informação errada claro, porque eles nem mesmo iam passar por Andorra.

***

Draco esperou Gina voltar para o carro. Eles tinham olhado mais de cinco hotéis e todos estavam ocupados. Agora estavam naquele, não era ruim e o preço ótimo.

-Tem vagas – ela avisou – Vão abrir o portão pra você guardar o carro Malfoy. Eu vou fazer o registro.

Ele estacionou, acordou Blaise e Star e entrou no hotel. Foi direto para o quarto. Um só para os quatro, mas um quarto grande e com quatro camas de solteiro.

-Anda Malfoy! – Gina bateu na porta – A Star e o Blaise já até dormiram, será que dá pra você acelerar aí?

-Mas que porra Weasley – ele destrancou a porta.

Gina entrou e viu, dentro da pia, alguns vidrinhos coloridos. Viu também dois algodões com um pouco de sangue. Draco estava parado, se olhando no espelho e decidindo qual poção tomar para cicatrizar o corte no supercílio.

-A rosa – Gina falou, ao perceber que ele estava indeciso – Ela é forte e cicatriza em umas duas horas.

Sem falar nada, Draco tomou a poção, arrumou tudo e saiu do banheiro.

***

Acordamos morrendo de fome no dia seguinte. Comemos rápido e andamos pela cidade, pra conhecer. Onze e meia já estávamos na estrada de novo. Agora, em direção a Zaragoza. No meio do caminho encontramos um vilarejo. Malfoy teve a idéia e Blaise aceitou. Ele estava cansado de dirigir e Blaise queria aprender. Eu também queria, na verdade, mas ia esperar Blaise ou Star aprenderem para poderem me ensinar.

-Você tem que olhar pro lado – Draco instruia Blaise enquanto ele acelerava – Freia Blaise! – gritou – Não sai cantando pneu.

-Acho que vou esperar lá fora – Gina falou, já abrindo a porta e pulando pra fora do carro – Não quero ficar aí de jeito nenhum.

-Boa sorte amor – Star deu um sorrisinho sem graça para Blaise e também desceu.

As duas meninas sentaram alguns metros de distância deles, na grama. Gina colocou os óculos de sol e bebeu um pouco de água. Já era hora do almoço, mas ela ainda não estava com fome.

-Barcelona vai ser a melhor cidade de todas – Star falou para Gina – Cidade grande, nós podemos até ir no teatro.

-Não acho uma boa idéia – Gina riu – Você não entende nada de espanhol Star, vai ficar completamente perdida.

-Não importa – ela sorriu – Só quero fazer alguma coisa diferente – disse, vendo o carro disparar pela rua. Como se a viagem já não fosse completamente incomum pra duas grifinórias certinhas.


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