Aqueles Olhos Verdes



CAPÍTULO 11

AQUELES OLHOS VERDES








Neve, frio, patinação no Lago Negro, visitas a Hogsmeade, para aqueles que já estavam do terceiro ano em diante e, enfim, chegou o recesso de Natal e Ano Novo. E nossos amigos estavam prontos para aproveitá-lo. A fim de transportar os alunos até Hogsmeade, para que pegassem o trem, várias Troykas, trenós puxados por cavalos brancos, estavam enfileiradas à frente do castelo, prontas para atravessarem a superfície congelada do lago. Um pensamento que sempre passava pelas cabeças dos alunos era: “O que faz a lula-gigante, quando chega o inverno?”. E em uma das Troykas estavam nossos Inseparáveis, à exceção de Nereida, que viajaria com os pais para Yorkshire, onde ainda haviam remanescentes dos Snape, inclusive parentes paralelos, descendentes das segundas núpcias do avô de Severo, Christopher, que casara-se com a cantora e atriz trouxa, Melina Prince, depois de separar-se da avó de Severo, Pandora.
Dividiam o trenó Harry, Rony, Hermione, Soraya e, meio a contragosto, Millicent Bulstrode, que não encontrara lugar em outro deles, para tristeza de sua amicíssima Blaise Zabini.
_Non preoccuparsi, cara mia. Presto saremo insieme, nel treno (“Não se preocupe, minha querida. Logo estaremos juntas, no trem”) _ disse Blaise, em Italiano, com sua voz suave. Ela gostava de falar com a amiga no idioma de origem de sua família. Seus avós haviam sido Partigiani, nos dias da II Guerra e, também, elementos de ligação com a FEB, em cujos efetivos também haviam bruxos.
Os trenós deslizavam pela superfície congelada do lago, Millicent sem dizer uma palavra.
_Está tão quieta, Bulstrode. _ disse Soraya _ O que foi.
_A companhia, Black. Traidores do sangue e “Sang...”
_SRTA. MILLICENT BULSTRODE! _ exclamou Rony, olhando feio para a loira reforçada.
_OK, OK, Weasley. Digamos que vocês não são a minha companhia preferida, sinto-me pouco à vontade, como um elefante em uma loja de cristais.
_Falando em cristais, Bulstrode, sua família trabalha com cristais e vidraria artística, não é? _ perguntou Harry.
_Sim, Potter. Estatuetas, miniaturas estáticas e animadas, frascos para perfumes e poções, etc.
_Viu só? _ perguntou Harry, com uma expressão marota _ Não tira pedaço de ninguém falar com grifinórios.
_Me pegou, Potter. _ disse Milly, com um meio sorriso _ Sonserinos e grifinórios passam tanto tempo se estranhando, que a gente até fica espantado quando os vê conversando.
_Fala de Nereida? _ perguntou Rony.
_Sim, Weasley. _ respondeu a garota _ Ainda mais sendo ela filha de quem é.
_O Prof. Snape? Por quê? _ perguntou Hermione.
_Talvez você não saiba de algumas coisas, Granger, por ter origem trouxa. Mas Severo Snape não é apenas um professor mal-humorado.
_Bem, sabemos que ele foi um Death Eater, no passado. Mas, com o desaparecimento de Voldemort... pára de tremer, Bulstrode! _ disse Neville, ao ver a reação da garota _ Bem, muitas pessoas tiveram ligações com as Trevas, naquele tempo.
_Sim, mas o Prof. Snape era o conselheiro preferido do Lorde, gozando do máximo de confiança que ele podia depositar em alguém.
_É, eis um vínculo bastante forte. _ comentou Soraya _ Mas as coisas andam tranqüilas, desde que aquele demônio desapareceu.
_Acha que ele pode estar morto, Black?
_Muitos diziam que ele não tinha humanidade suficiente para morrer, Bulstrode. Se ele está desaparecido, que continue assim. _ disse Soraya, não querendo repartir os conhecimentos que haviam tido nas últimas semanas.
Logo chegavam a Hogsmeade e as Troykas pararam, junto ao ancoradouro, para que os alunos pudessem desembarcar e, subindo as escadas, chegarem à estação ferroviária, onde o Expresso de Hogwarts esperava por eles, rumo a Londres. Localizando Blaise, Millicent despediu-se dos Inseparáveis.
_Bem, até a volta.
_Até, Bulstrode. _ disse Harry _ Não foi tão ruim assim viajar com grifinórios, foi?
_Digamos que não foi desagradável como eu imaginava que seria, Potter. Mas não é algo para repetir-se com freqüência. _ e a loira encaminhou-se em direção à amiga, abraçando-a e embarcando com ela no trem.
_Ali tem coisa. _ murmurou Harry.
Algo também havia sido notado por Hermione, embora não fosse o que Harry desconfiava. Ela havia percebido que, em vários momentos, Millicent Bulstrode olhava para Ronald Weasley de um jeito meio diferente.
E não sabia responder por que aquilo a incomodava tanto.

A viagem até Londres correu placidamente. Hermione, como sempre, com a cara enfiada em um livro, Rony e Neville entretidos em partidas de Xadrez de Bruxo, Soraya aproveitando para tirar um bom cochilo e Harry ouvindo um CD do Duran Duran no seu Discman tecnomagizado, pensando em como seriam os próximos dias. Conhecendo Rony, Percy e os gêmeos, já gostava da família Weasley e estava certo de que iria apreciar bastante conhecer os outros. Mas ficava meio inseguro quando pensava em Gina, não sabia por qual razão. Só havia visto a irmã de Rony uma única vez, na Plataforma 9 ½ e, assim mesmo, por pouco tempo. Então, por que é que sentia seu coração acelerar, todas as vezes em que lembrava-se daqueles cabelos cor de cobre e daqueles olhos verdes? Jamais tivera sensações daquele tipo antes. Será que era assim que um rapaz sentia-se, quando estava atraído por uma garota? Seu pai jamais conversara com ele sobre aquilo. Bem, ele também nunca levantara o assunto para Tiago, aquela era a primeira vez em que sentia-se assim. E, de qualquer forma, sentia-se meio sem jeito para ter uma conversa daquelas com o pai. Talvez a pessoa mais indicada fosse... e então lembrou-se de que o espelho de duas faces estava no bolso da Parka Columbia que usava. Desligou o aparelho e pediu licença aos amigos, encaminhando-se para o banheiro. Entrou em um dos boxes e fechou a porta, tirando o espelho do bolso e torcendo para que o par estivesse com Sirius e não com Tiago.
_Sirius Black. _ chamou ele.
_Oi, Harry. _ respondeu o padrinho, espantado com a cara de alívio do afilhado, ao vê-lo _ Aconteceu alguma coisa, depois daquela tentativa de seqüestro por parte dos Death Eaters?
_Sim e não, Sirius. _ e Harry mais ou menos explicou como estava se sentindo, somente omitindo o nome da garota.
_Hmmm, eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, esse dia acabaria por chegar. É a coisa mais natural do mundo um rapaz atrair-se por uma garota bonita e isso pode acontecer desde a infância.
_Nada de estranho, então?
_Não, Harry. Nada de estranho. Aconteceu comigo, com seu pai e com todo rapaz normal.
_Soube que vocês tinham fama de namoradores, na escola.
_Bem, haviam pessoas que nos chamavam de outra coisa, dotada de penas e que costuma ser utilizada para fazer canja, mas eu acho que era inveja de alguns, tipo Lucius, Severo e outros. Mas Severo está feliz com Rosmerta e Lucius conheceu Narcisa, acabando por namorá-la e acabar com certas coisas maldosas que diziam sobre a masculinidade da “Loira-Fru-Fru”. Mesmo seu pai e eu, quando começamos a namorar Lílian e Ayesha, sossegamos o facho. Quando chega a pessoa certa, a vida da gente muda.
_E como você sabe?
_Não existe uma fórmula pré-estabelecida, Harry. Quando chega a hora, você simplesmente sabe que aquela é a pessoa com quem você quer pasar o resto de seus dias. Mas, por que você preferiu falar comigo e não com o seu pai?
_Bem, você pode até achar engraçado, Sirius, mas eu não me sinto à vontade para falar com meu pai sobre isso.
_Entendo, Harry. _ disse Sirius, com um sorriso _ Pode contar comigo, sempre que quiser falar sobre assuntos dessa natureza. Afinal de contas, é para isso que servem os padrinhos.
_Obrigado, Sirius. Bem, acho que o pessoal vai estranhar se eu ficar muito mais por aqui. Até a próxima e Feliz Natal.
_Para você também, Harry. Aproveite os dias em Devon, os Weasley são gente muito boa, uma das melhores famílias bruxas da Inglaterra, de origem humilde, sempre foram contra as Trevas e nunca tiveram preconceito algum em relação a trouxas. Talvez por isso algumas famílias mais pedantes e aristocráticas torçam o nariz para eles, chamando-os de “Pobretões-Traidores-do-Sangue”. Mas as aparências enganam, Harry. Os Weasley são muito mais do que os outros pensam.

Harry encerrou a comunicação e guardou o espelho no bolso. Saiu do banheiro e retornou à cabine, sem perceber que, pouco depois, a porta do box ao lado abriu-se e dele saiu Draco Malfoy, balançando a cabeça e sorrindo, levemente.
Chegando à cabine, Harry ainda teve tempo de pegar alguma coisa no carrinho de lanches e, então, surgiu um fator a mais nas suas preocupações. Percebeu o Ki um instante antes de ouvir a voz da garota, pedindo uma tortinha de abóbora.
Uma vez mais, a aluna do segundo ano da Corvinal, Chang Cho-Yen, cruzava seu caminho.
_Oh! olá, Potter! Não via você desde o jogo de Quadribol.
_Chang, eu também não a via há algum tempo. Vai passar o Natal em Londres?
_Não, pegarei uma Chave de Portal para Hong Kong. Minha família é de lá. Bem, até depois, então.
_Até.
Cho Chang retornou para a sua cabine e Rony perguntou, zombeteiro:
_Ué, Harry, e a minha irmã?
_Rony! _ exclamou Hermione _ No que está pensando?
_Brincadeira, Mione. Mas parece que Harry está começando a atrair a atenção da população feminina de Hogwarts. E Cho Chang é bastante bonita.
_Nem notei. _ disse Hermione, com um tom de voz que fez Rony calar-se e Harry segurar uma risada. E segurar bem, pois a amiga parecia não estar para brincadeiras. Contentou-se em fazer um comentário.
_Mas, de qualquer modo, é certo que verei a Srta. Chang de novo.
_???
_Você se esqueceu de que o próximo jogo da Grifinória será contra a Corvinal?
_É mesmo, mas que cabeça a minha! Cho Chang é a Apanhadora do time de Quadribol da Corvinal!
_É isso aí, cara. De qualquer forma, mal a conheço (“Mas o Ki dela parecia tentar alinhar-se com o meu. Algo me diz que ela conhece disciplinas do corpo e da mente. Bem, meus pensamentos estão em outra direção, neste momento”, pensou o bruxinho).
À noite, o trem chegou à Plataforma 9 ½ e os amigos desembarcaram.
_E você, Mione, vai mesmo para a França?
_Sim, Rony. Meus pais já estão planejando essa viagem há algum tempo. Uma excursão pelo Vale do Loire, passando o Natal em um castelo e fazendo um passeio pelos vinhedos, com uma série de pequenos cursos e palestras. Papai é um enólogo amador e estava esperando por essa oportunidade de unir um Natal em família e o aprimoramento de seus conhecimentos. Ah, eu estou com o folheto aqui comigo. Eu ainda não vi quem vai ministrar o curso principal... vejamos, aqui está. O nome dele é René... Malfoy?!
_Meu tio, Srta. Granger. _ ouviu-se a voz de Draco. Os amigos voltaram-se e viram a figura do loiro, ladeado por Crabbe e Goyle _ Ele é um grande vinicultor no Vale do Loire.
_Não sabia que Lucius tinha mais irmãos. _ comentou Harry.
_São quatro ao todo. Papai foi o único que estudou em Hogwarts, todos os outros formaram-se em Beauxbatons. Onde vai passar o Natal, Harry?
_Vou para a casa dos Weasley. Meus pais e Algie vão encontrar-se comigo lá. E você?
_Vou para Portugal, para a casa de outro tio, Jacques. Será que vocês não vão ficar apertados lá em Devon? _ Draco quis fazer um comentário pedante, mas calou-se ao ver o olhar de Harry e as caras de Rony, Percy, Fred e Jorge, que não eram nada simpáticas _ OK, já não está aqui quem falou, sei que não fui feliz no comentário.
_Não foi mesmo, Malfoy. _ disse Jorge. Nossa família é humilde, porém honrada. Algo que muitas não podem dizer delas mesmas.
_Tá bom. Retiro o que eu disse. Bem, eu já vou indo. _ disse Draco, ao ver que seus pais estavam chegando _ Um bom Natal a todos e até a volta.
Draco acompanhou os pais, rumo à barreira que separava o lado bruxo do lado trouxa. Harry notou uma coisa um pouco estranha: Lucius Malfoy mancava levemente, como se tivesse sofrido uma contusão há pouco tempo, umas duas ou três semanas atrás, no máximo.
_Falando em pais, os meus estão me esperando, ali perto da barreira, vejam. _ disse Hermione, vendo que Edward e Elaine Granger já haviam chegado e acenavam para ela _ Feliz Natal e Ano Novo. A gente se vê no retorno a Hogwarts. Até.
_Até a volta, Mione. _ disseram os amigos.

Soraya havia pego um táxi-bruxo e a avó de Neville já saíra com o neto. Mas os Weasley ainda não haviam chegado.
_Estranho, eles já deveriam estar aqui. _ comentou Percy.
Naquele momento, Cho Chang e uma outra garota aproximaram-se.
_Boa noite, Percy, tenho um recado de minha mãe. _ disse a amiga de Cho.
_Boa noite, Marieta. _ respondeu Percy, que conhecia a garota _ O que ela lhe pediu para dizer?
_Seu pai pediu para que ela avisasse que o carro teve problemas e eles não poderão vir buscá-los. Vocês deverão ir de Chave de Portal. Mamãe franqueou uma como cortesia, ela gosta bastante de sua família.
_Obrigado, Marieta. Vamos indo, então. _ os amigos acompanharam as duas garotas até a Estação de Transportes Mágicos.
_Mas é claro! _ lembrou-se Rony _ A mãe de Marieta é Madame Edgecombe, chefe do Departamento de Transportes Mágicos.
Os amigos juntaram-se à volta de uma lista telefônica, tocando-a todos ao mesmo tempo.
_Preparados? _ perguntou o funcionário _ Então, vamos lá. Um, dois e... TRÊS!!
_Lá vai o “Expresso Redemoinho”! _ disse Fred, antes do grupo desaparecer, em um clarão.
_Os gêmeos Weasley, sempre gozadores. _ comentou Cho.
_É, mas eu notei que você não tirava os olhos de outro membro daquele simpático grupinho, querida.
_Hein? O quê? _ Cho Chang tentou fazer-se de desentendida.
_Você quase devorava Harry Potter com os olhos, Cho. Que bandeira, amiga!
_É difícil não tirar os olhos de Harry Potter, Marieta. Ele, além de ser um gato e estar em excelente forma, é uma das pessoas mais famosas da Bruxidade, mas não está nem aí para isso, vive a vida dele normalmente e você vê que não é fingimento ou pose. Eu sempre pensei que, devido à fama por ter escapado de um atentado por parte de Você-Sabe-Quem, ele fosse um cara pedante e intragável, tipo “Bonito-mas-Ordinário”...
_... Tipo Draco Malfoy? _ perguntou Marieta.
_Exatamente. _ respondeu Cho.
_Está ficando apaixonada, garota. _ brincou Marieta.
_Marieta! Eu só tenho doze anos! _ respondeu Cho, fazendo uma cara de espanto.
_E tem idade mínima para essas coisas?
_É, mas ele parece estar focado em outras coisas, tipo os estudos e manter a forma. O garoto é um gato sarado, torno a dizer. _ comentou Cho, uma expressão sonhadora no olhar.
_Se eu fosse uma pessoa jurada de morte por Você-Sabe-Quem, não colocaria paixonites e namoros em primeiro lugar na minha lista de prioridades, Cho.
_É, você tem razão. Bem, Marieta, eu já vou indo. Feliz Natal.
_Feliz Natal, Cho. _ as amigas abraçaram-se e Cho segurou uma calota de Land Rover, desaparecendo logo em seguida, rumo a Hong Kong.
_Decididamente, está apaixonada. _ disse Marieta para si mesma, sorrindo, antes de dirigir-se para a barreira.

A Chave de Portal deixou-os na Estação de Transportes Mágicos de Ottery St. Catchpole, no Condado de Devon. Saíram, com suas bagagens, para a estalagem que servia de fachada e, de lá, para a rua. Na calçada, um senhor alto e ruivo, com os cabelos meio ralos no topo da cabeça, aguardava por eles.
_Papai! _ exclamou Rony.
_Meus filhos! Que saudades! _ disse Arthur Weasley, abraçando os rapazes. Tinha um rosto bastante simpático e um sorriso franco. Era o chefe do Departamento de Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas, cuja missão era localizar objetos trouxas que tivessem sido enfeitiçados para prejudicar alguém ou mesmo como brincadeiras de mau gosto, tipo chaves que encolhiam até desaparecer, conjuntos de chá cujo bule espirrava seu conteúdo no rosto do dono e as pinças de pegar cubos de açúcar apertavam seus narizes, coisas assim, além de investigar, descobrir e providenciar a punição dos responsáveis _ E você só pode ser Harry Potter. A semelhança com Tiago é mais do que evidente. Já os seus olhos são os de Lílian.
_Conhece meus pais, então, Sr. Weasley?
_Sim. Conheço Tiago do trabalho, cruzamo-nos com certa freqüência, lá no Ministério. Vi sua mãe algumas vezes, inclusive quando ela estava grávida de seu irmão, Algie. Creio que a última vez foi uns dez dias antes de Você-Sabe-Quem...
_... Voldemort... _ e Harry parou de falar, ao ver Arthur Weasley estremecer à menção do nome do Lorde _ ... Desculpe, Sr. Weasley. Acontece que eu nunca tive medo de dizer o nome dele.
_São poucos os que não têm medo, Harry. E o restante da Bruxidade vai demorar para acostumar-se. Mesmo que hajam alguns que incentivem a população a não temê-lo e até o ridicularizem com caricaturas.
_???
_Ora, você já deve ter ouvido falar do Pasquim, não é?
_Aquela revista que muitos chamam de sensacionalista e que tem artigos que a maior parte da Bruxidade acha fantásticos demais? Sim, já cheguei a ver alguns exemplares.
_O proprietário e Editor vive aqui, é Nigel Xenophillus Lovegood. E grande parte das caricaturas era de autoria de Dumbledore.
Enquanto conversavam, saíram da cidade e tomaram uma estrada vicinal, logo chegando a uma grande fazenda.
_Não temos muitas posses, restaram poucas coisas aos Weasley além desta fazenda. Mas orgulhamo-nos dela. Estou certo de que vai gostar.
_Já estou gostando, Sr. Weasley. _ disse Harry, sinceramente. Aquela família ganhava cada vez mais e sua estima.
Dali a pouco, chegavam a uma grande casa, de arquitetura irregular, como se um antigo abrigo de pastores tivesse sido reformado e ampliado em vários sentidos, inclusive para cima, dando a impressão de um pequeno castelo, cuja estabilidade desafiaria até mesmo o arquiteto mais vanguardista. Em seu tempo, Frank Lloyd Wright teria gostado bastante de conhecer a casa dos Weasley.
_Harry Potter, seja bem-vindo à Toca. _ disse Rony _ A casa é humilde, mas feliz e harmoniosa, como eu já lhe disse.
_Achei o máximo! _ disse Harry, ao mesmo tempo em que Rony enrubescia e a porta abria-se,por ela saindo uma senhora ruiva, meio gorducha, trajando vestes de casa em cor azul, que logo abraçou Harry de forma afetuosa, como se fosse seu próprio filho.
_Harry, que bom tê-lo aqui. Tiago, Lílian e Algie chegarão dentro de alguns dias, na véspera de Natal. Sinta-se em casa, meu querido.
_Não há como ser de outra maneira. É bom vê-la de novo, Sra. Weasley.
Molly Weasley apenas sorriu e conduziu Harry para dentro. Na sala da casa, uma agradável cena familiar: um rapaz bastante forte, obviamente ruivo, ajeitava o fogo da lareira, enquanto que outro, mais esbelto, com longos cabelos cor de cobre e um brinco com algo que parecia um dente de algum animal, provavelmente a primeira dentição de um dragão, estava sentado em uma poltrona. E, em outra poltrona, com uma xícara de chá nas mãos, alguém que fez com que Harry não visse mais nada à sua volta.
Um pouco mais baixa do que ele, com os cabelos um pouco mais longos do que da primeira e única vez em que viram-se na Plataforma 9 ½, soltos a emoldurar um rosto de pele clara, com sardas a decorar os malares e, encimando um nariz finamente cinzelado, aqueles olhos verdes, brilhantes e felinos, dos quais Harry não se esquecera, ainda que os tivesse visto apenas uma vez. E, quando ela sorriu para ele, o que ele viu foram dentes brancos e perfeitos, como duas fileiras de pérolas, que abriram-se para que ele ouvisse as palavras de sua dona, dita com aquela voz doce e sincera, enquanto ela o cumprimentava e lhe dava um beijo no rosto.
_Harry! Que bom que você veio! O que achou do lugar?
_Muito bonito, Gina. Gostei bastante (e, em um tom mais baixo, para que somente ela ouvisse). E agora, ainda mais.
As palavras saíram de sua boca de maneira natural, sem a menor entonação de discurso ensaiado. Tanto tempo ele pensara no que diria a ela e agora, contrariando sua já conhecida timidez, tudo fluía tranqüilamente.
_Isso me deixa muito contente. Sabe, eu esperava tanto reencontrá-lo, desde aquele dia, em Londres.
_Eu também, Gina. Tivemos pouco tempo para conversar, o trem já ia sair.
_Mal posso esperar para que chegue a minha vez, no ano que vem. Como é Hogwarts? Você e Rony me mandaram fotos, mas gostaria que você dissesse algo mais.
_O lugar é lindo, aquelas montanhas e o lago são uma verdadeira maravilha da Natureza. Agora, por exemplo, o lago está congelado e excelente para patinar.
_Soube que alguns Death Eaters tentaram te pegar. _ disse a ruiva, em voz baixa, para que ninguém ouvisse _ Mas parece que vocês se saíram bem.
_Como você sabe disso, Gina? É informação sigilosa, tanto que o Prof. Dumbledore e o Prof. Mason disseram para que não abríssemos a boca.
_Ouvi outro dia, sem querer. Acabei surpreendendo um pedaço de uma conversa de papai com Dumbledore. Ele dizia que você mandou bem um feitiço que muitos bruxos adultos têm dificuldade para dominar.
_Ah, o “Nocaute Siberiano? Aprendi com o meu pai. Aquele Death Eater deve ter tomado um susto danado, pois não esperava que uma criança o atingisse com aquele punho de gelo gigantesco. Mas o que eu mais admirei foi o feitiço de Dumbledore, o “Machado de Zeus”.
_Como é ele?
_Um Feitiço Elétrico poderosíssimo, invocado em Grego Arcaico. Sua fórmula é “Kenoteis Astrapsato De Temeto... Dios Tukos”. E eu estou certo de que quem o recebeu deve estar meio doído até hoje.
_Como assim? _ perguntou Gina.
_Palpite. _ disse Harry, não querendo compartilhar suas suspeitas. Falaria sobre aquilo com seu pai, quando ele chegasse. Então, tratou de desviar o assunto para outro rumo _ Adorei a fazenda de seus pais, Gina. O Condado de Devon já é bastante bonito e esta é uma das partes mais belas, por diversas razões.
Lendo nas entrelinhas das frases de Harry, Gina corou levemente.
_Acredito que Chelsea também deve ter seu charme... também por diversas razões. E creio que sei de algumas. _ disse a ruiva, fixando nele aqueles olhos felinos. Foi a vez de Harry corar.
_Que segredinhos são esses com a minha maninha, Sr. Harry Potter? O que está pensando? _ disse, em tom de brincadeira, o rapaz ruivo e musculoso que estivera a ajeitar as achas de lenha da lareira. Pego de surpresa, Harry quase deu um pulo.
_Carlinhos! _ exclamou Gina, corando agora ao ponto de sua pele quase confundir-se com o cabelo, ao ouvir as palavras de seu irmão, que vivia na Romênia e trabalhava com dragões _ Eu é que pergunto o que está pensando!
_Brincadeirinha, mana. Foi só para te ver corar. _ disse Carlinhos, abraçando a irmã e, em seguida, apertando a mão de Harry, que viu uma grande queimadura no braço do ruivo _ Um dos riscos aos quais estamos expostos, trabalhando com dragões. É um prazer te conhecer, Harry. Ao que parece, é você quem irá devolver à Grifinória os seus dias gloriosos no Quadribol, como seu pai já fez...
_... E você também, como todos sabemos. Também é um prazer te conhecer, Carlinhos. Pretendo fazer o possível para tal.
_E parece que ele já teve um bom começo. _ disse Gina _ No jogo de estréia, contra a Sonserina, ele capturou o pomo e derrotou Draco Malfoy.
_É, eu acho que agora a coisa vai e nós vamos quebrar os sete anos de jejum. Boa sorte, Harry. _ e Carlinhos foi juntar-se ao pai. Foi a vez do outro irmão apresentar-se.
_Olá, Harry. Pode me chamar de Gui. Sabe, eu e sua mãe temos algo em comum. Também fui Monitor da Grifinória e cheguei a Monitor-Chefe. _ as palavras de Gui foram ditas em um tom bastante casual, bem diferente do jeito pomposo de Percy.
_Muito prazer, Gui. Rony me falou de você e do tempo em que você era aluno em Hogwarts. _ Harry olhou bem para Gui e viu que ele tinha um jeito bem descolado, podendo também passar despercebido entre os trouxas.
Usava uma calça jeans com os desbotados e puídos nos lugares certos, um par de botas que ficaria bem em qualquer show de Rock, ainda que fossem feitas de couro de dragão. Uma camiseta preta, com o texto “As Esquisitonas: Vida é Magia”, escrito em roxo. Os cabelos ruivos estavam presos em um rabo de cavalo e, na orelha esquerda, aquele brinco, para o qual a Sra. Weasley dava olhares desesperados. Trabalhava como Desfazedor de Feitiços para o Banco Gringotes, desempenhando suas tarefas ao redor do mundo. Atualmente, estava em Sri Lanka, mas a sua transferência para o Egito já era certa, para o próximo ano.
_Deixem de monopolizar o Harry. Também queremos conversar um pouquinho com ele. Venha aqui, Harry. _ disse o Sr. Weasley.
Harry foi até onde estava o patriarca dos Weasley, não sem antes notar o brasão sobre a lareira, o que não pasou despercebido.
_Sim, Sr. Weasley. Gostei bastante de conhecer Carlinhos e Gui.
_E eu não deixei de notar que você viu o brasão.
_É, eu já o conhecia. Eu o vi em uma carta de Rony.
_Foi uma das poucas coisas que sobraram aos Weasley, Harry. O brasão, o suficiente para adquirirmos esta fazenda e muita honra.
_Creio que isso é algo que não há fortuna que pague, Sr. Weasley.
_Estou gostando ainda mais de você, Harry. É exatamente como Tiago me falou.
_Espero que papai tenha falado bem de mim.
_Com certeza, Harry. Tiago sempre foi uma das pessoas que mais lutaram contra o Você-Sabe-Quem no passado. E folgo em saber que a fama que vocês têm de “A-Família-Que-Sobreviveu” nunca lhes subiu à cabeça.
_Não acreditamos em ficar nos mostrando, Sr. Weasley. Meu pai sempre disse que devemos apenas ser nós mesmos e o resto vem em conseqüência.
_Entendo. É como eu vi certa vez, em um filme: “Não tente ser um grande homem. Seja apenas um homem e deixe que a História o julgue”.
_ “Star Trek: Primeiro Contato”, eu também vi esse filme. Gosta do cinema trouxa, Sr. Weasley?
_Muito, Harry. E Gina também gosta. Aliás, todos aqui em casa gostamos. _ disse o Sr. Weasley, com um sorriso _ Um dos meus passatempos é desmontar equipamentos trouxas, a fim de descobrir como funcionam. E, depois, ver como podem ser melhorados com magia.
_Como assim?
_Eu e muitos outros bruxos acreditamos na convivência com os trouxas e lutamos para restabelecer a harmonia que já existiu entre os dois povos, que perdeu-se por culpa de ambos. Os bruxos começaram a considerar os trouxas como gente de segunda categoria e os trouxas começaram a supervalorizar a tecnologia que começavam a desenvolver, em detrimento da magia, que tanto os havia auxiliado.
_E as conseqüências vieram séculos depois, com a desconfiança dos trouxas em relação à magia, a retração dos bruxos e sua segregação, o medo desenvolvido, considerando-a como algo maléfico, demoníaco, culminando na Inquisição, os Tribunais do Santo Ofício, onde somente morreram trouxas falsamente acusados, já que qualquer bruxo pode, facilmente, fingir ser afetado pela tortura ou sofrer os efeitos da execução, enquanto não sofria absolutamente nada. _ disse Harry.
_Sim. E nós tentamos, também, aproximar os povos através da familiarização dos bruxos com utensílios e artefatos trouxas, ainda que inclua um pouco de magia para isso.
_Feitiços Tecnomágicos? _ perguntou Harry.
_Exatamente. E esse ramo é uma especialidade recente, cuja aprovação pelo Ministério ocorreu há cerca de meio ano atrás. Eu estou participando da regulamentação da Tecnomagia para artefatos mais complexos...
_... Tipo carros, Sr. Arthur Weasley? _ disse a Sra. Weasley, cujo olhar lançava chispas para o marido.
_Como é, Molly?
_Sabe, Harry, qual foi a razão do carro ter dado problemas? Os Feitiços Tecnomágicos Experimentais não deram muito certo, ainda necessitam de alguns ajustes e haveria perigo em usar o carro agora. _ disse Molly Weasley, abraçando o marido e dando um beijo no rosto dele _ Ele está instalando um Feitiço de vôo e um Multiplicador de Invisibilidade, para começar.
_Quer ver o carro? _ perguntou Arthur.
_Sim, vamos. _ disse Harry.
Os dois saíram e atravessaram o terreno nevado até a garagem, onde um velho carro azul-claro estava parado, com o capô aberto e o motor semidesmontado, vendo-se a placa de fundo preto, com o dístico “893-VPA”.
_Uau, Sr. Weasley! Um Ford Anglia 1961! Este carro é uma verdadeira relíquia!
_Sim, sei que esses modelos já participaram de muitas corridas e, apesar de sua aparência pouco esportiva, tiveram bom desempenho. Veja, este é o Comando de Vôo e aqui está o botão que aciona o Multiplicador de Invisibilidade. Entre nele, para ver.
Harry entrou e ficou admirado. O carro era bem maior por dentro.
_Os Feitiços de Ampliação Interna foram bem aplicados, Sr. Weasley.
_E também foram aplicados no porta-malas, Harry. Afinal, com uma família grande, temos de tomar nossas providências, não é?
Os dois riram e retornaram para a casa. Consolidava-se uma poderosa e importante amizade que, futuramente, iria fazer uma grande diferença na Bruxidade: Weasley e Potter.

Mas o mal não descansava, jamais.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.