Muitas Perguntas, Poucas Respo




CAPÍTULO 5




 




MUITAS PERGUNTAS, POUCAS RESPOSTAS




 




 




 




 




 




 




 




 




Sentado na cama, com a ardência na cicatriz agora reduzida a um leve formigamento, Harry tentava lembrar-se dos detalhes do sonho, antes que eles se perdessem. Jamais tivera aquela sensação antes, sua cicatriz nunca apresentara nenhum tipo de dor, pelo menos até onde se lembrava. O que mais marcara sua lembrança e provocara o choque que o fizera despertar bruscamente havia sido a figura de rosto serpentino, semi-encapuzado e com filetes prateados de sangue de unicórnio a escorrer dos cantos da boca. Ele ainda não tinha certeza, mas fazia uma idéia de quem poderia ser aquele homem.




_Seria Voldemort? _ murmurou Harry, em uma semi-certeza. Teria de conversar com alguém, mas sabia que iria demorar se mandasse uma coruja para seu pai ou Sirius. Então, lembrou-se do espelho de duas faces que ganhara. Procurando não fazer barulho, pegou-o no baú e olhou para ele _ Tiago Potter! _ mas não foi o rosto de seu pai que apareceu.




_Harry?! O que houve? _ o rosto de Sirius surgiu no espelho, sussurrando e com cara sonolenta _ Algo de grave?




_Sirius? Me desculpe por estar entrando em contato às... três da manhã. _ disse Harry, após consultar o relógio _ Acontece que há algo que eu preciso lhe dizer e tem de ser logo, antes que eu me esqueça dos detalhes.




Após Harry descrever tudo o que lembrava-se do sonho, Sirius olhou para ele, com uma expressão séria.




_Pode ser que não tenha sido um simples sonho, Harry. Dumbledore desconfiava que algo assim poderia acontecer.




_Como é?




_Sinto não poder te dar detalhes, Harry, mas acontece que eu mesmo não sei muito bem. Mas se há alguém que poderá te ajudar, esse alguém é Dumbledore. Ah, acredito que Derek também poderá ser bem útil. Aconselho você a falar com eles, amanhã. Mesmo que você não se lembre de detalhes do sonho, ele está guardado no seu subconsciente, como se fosse uma memória e um ou outro deles poderá acessá-la.




_OK, Sirius. Falarei com Dumbledore. E, novamente, me desculpe por chamá-lo a esta hora da madrugada.




_Não tem problema, Harry. Foi muito bom você ter me avisado. Falarei com seu pai, pela manhã. Não se preocupe, não direi nada a Lílian, para não preocupá-la. Boa noite.




_Boa noite, Sirius. _ e, após desativar o espelho, Harry guardou-o e procurou voltar a dormir, agora conseguindo-o sem dificuldade.




 




Na manhã seguinte, após o café, Harry procurou pelo Prof. Dumbledore, encontrando-o no pórtico.




_Prof. Dumbledore, bom dia.




_Bom dia, Harry. Há algo que queira me perguntar?




_Não sei como, mas acho que o senhor já sabe.




_Sirius entrou em contato comigo. Vamos ao meu gabinete, pois vamos precisar de algo que tenho lá.




Dirigiram-se ao gabinete do Diretor, parando em frente a uma gárgula que parecia guardar um nicho da parede.




_ “Varinha de Alcaçuz”. _ disse Dumbledore para a gárgula e ela abriu espaço para uma escada em espiral que começou a subir. Dumbledore e Harry seguiram por ela até o lugar onde localizavam-se o gabinete e os aposentos do Diretor de Hogwarts. A toda a volta da parede viam-se os quadros-bruxos, representando os antigos Diretores da escola, que cumprimentaram os recém-chegados.




_Belo lugar, Prof. Dumbledore. _ comentou Harry.




_Obrigado, Harry. Procuro mantê-lo em ordem, embora não seja muito fácil. Bem, vejamos o que aconteceu. Sirius me disse que você teve um sonho diferente à noite passada, não foi?




_Exato, Prof. Dumbledore. Ainda me lembro de alguma coisa, não muito. Sirius lhe contou como eu o descrevi para ele?




_Sim, Harry, ele me contou. Chá? Hmm, não. Pelo que já me contaram, você gosta mais é de outra coisa. _ e Dumbledore conjurou uma xícara de chá para si e uma de Espresso forte para Harry _ Você se sentiu voando pela Europa, até chegar a um local no sopé de uma montanha?




_Foi, Prof. Dumbledore. E deu para sentir que o local possuía proteções mágicas contra localização e rastreamento.




_Vamos tentar rever tudo? Você compartilharia comigo essa memória?




_Sim, Prof. Dumbledore. Como o senhor irá fazê-lo?




_Não é muito difícil. _ Dumbledore abriu um armário e expôs uma bela peça de pedra polida, semelhante a uma pia batismal, com runas decorando suas bordas. No seu interior, uma substância prateada, nem líquida nem gasosa, repousava placidamente, vez por outra sendo cruzada por imagens.




_Uma Penseira! _ exclamou Harry _ eu já havia visto algumas, mas jamais as havia usado. Pode começar, professor.




Dumbledore pegou sua varinha e tocou a têmpora de Harry, puxando-a suavemente. Um brilhante fio prateado veio pendurado nela e Dumbledore deixou-o cair na Penseira. No mesmo instante, a imagem mudou e passou a apresentar os detalhes do sonho de Harry. Os dois tocaram a superfície ao mesmo tempo e foram sugados para a memória, podendo ver tudo como se fossem protagonistas de um filme. Depois que voltaram, Harry perguntou:




_Tem idéia do que possa ser, Prof. Dumbledore?




_Sonhos podem ser apenas sonhos, mas o seu parece ser algo mais.




_E aquele lugar, onde poderia ser?




_Pela vegetação e pelo relevo, poderia ser algum lugar da Albânia, Sérvia ou Macedônia, mas aquela montanha me pareceu ser o Monte Korab.




_Na fronteira entre a Albânia e a Macedônia?




_Exatamente, Harry. Há rumores de que Voldemort poderia ter ido para lá, pois aquelas florestas eram conhecidas como refúgio de bruxos das Trevas, já desde a época de Grindelwald.




_Já tentaram procurá-lo?




_Sim, mas o local é protegido, como você já sabe.




_É verdade. Poderiam passar pela entrada da caverna e não o encontrariam. Então, aquele lá era mesmo Voldemort, professor? Eu não me lembro da cara dele, pois ele estava encapuzado e eu tinha apenas um ano, quando ele nos atacou.




_Sim, Harry. Aquele era Voldemort. Eu já vi aquela face serpentina algumas vezes e seria capaz de reconhecê-la, facilmente.




_Ele estava sugando o sangue de um unicórnio, tal como um vampiro. Por quê?




_Bem, você sabe quais as propriedades do sangue de unicórnio, não sabe?




_Sim, eu sei que o sangue de unicórnio é capaz de manter a pessoa viva, ainda que esteja às portas da morte. Mas a pureza do animal é tão grande, que quem o faz fica condenado à “Maldição da Semivida”, uma condição na qual sua existência é amaldiçoada e seu corpo é pouco mais do que um espectro, somente mantendo-se vivo à custa de continuar ingerindo o sangue do animal ou se obtiver um outro meio para recuperar um corpo verdadeiro. O que eu quis dizer é que Voldemort deve estar desesperado para recorrer a algo assim. E ainda não fica bem explicada a razão dele não ter morrido quando a Avada Kedavra voltou para ele. Como ele teria sobrevivido?




_Ainda não sei muito bem, Harry. Talvez uma conjunção de fatores, tipo a misteriosa causa que provocou a deflexão do feitiço tê-lo atenuado. Você sabe que, se a magia não for bem poderosa, a maldição não atinge potência letal.




_Então a Avada Kedavra retornou mais fraca. Mesmo assim, foi a uma distância muito curta. Deve ter havido outra razão, associada.




_Creio que sim, Harry. Mas não posso dizer nada, no momento. Ainda preciso investigar mais. Sabe, isso reforça o fato dele estar vivo, ao contrário do que Cornelius pensa.




_O Ministro acha que ele está morto? Como ele pode ser tão crédulo?




_Cornelius tem medo de que algo possa vir a perturbar o Status quo. Creio que ele prefere uma paz mentirosa do que a verdade.




_Outra coisa, Prof. Dumbledore. Senti uma forte ardência na minha cicatriz, que coincidiu com o término do sonho. O senhor pode me explicar algo a respeito disso?




_Creio que essa será outra resposta que eu ficarei devendo a você, Harry. Há coisas que ainda não é o momento de dizer e outras que eu não sei, com certeza. Só lhe digo que deve levar a sério os sinais que ela lhe der e, se chegar a sentir uma dor mais forte, avise a mim ou ao Derek, assim que puder, OK?




_Avisarei, Prof. Dumbledore. Uma outra coisa. Sei que, em parte, o Prof. Snape pega no meu pé devido à rixa que tinha com o meu pai, até aí eu compreendo. Mas, às vezes, ele parece ter raiva do mundo, disfarçar uma amargura interior. Sei que ele passou por muita coisa e que o amor de Madame Rosmerta e ter uma filha tão legal como Nereida deveria diminuir tal fato. Mas parece que ele vive assombrado por coisas do passado. Isso tem a ver com a história dele ter feito parte dos Death Eaters? E, se fez, o senhor realmente confia nele? _ perguntou Harry, meio que arrependendo-se de ter entrado em um assunto tão delicado. Mas Dumbledore respondeu:




_Esse é um assunto bastante sério, Harry. Mas, se isso servir para que você tenha menos reservas a respeito dele, eu vou lhe dizer. Sim, Severo Snape foi um Death Eater, mas espionava para a Ordem da Fênix, correndo grande perigo e só se salvando devido à sua habilidade em Oclumência. Quando Voldemort desapareceu, todos aqueles sob os quais pesava alguma suspeita foram indiciados em inquéritos, inclusive ele. Muitos foram condenados, tais como Evan Rosier, Augustus Rookwood, os Lestrange, Igor Karkaroff, que hoje é Diretor de Durmstrang, Crouch, Jr. e outros mais. Mas outros foram absolvidos.




_Tipo, Crabbe, Goyle, Nott, Mulciber, Malfoy e vários outros?




_Sim. E Karkaroff recebeu um perdão especial por delação premiada. Quando Severo foi indiciado, eu testemunhei pessoalmente sobre sua inocência e ele também foi absolvido. A verdade, Harry, é que todos nós temos horrores em nosso passado, uns mais, outros menos. Você teve os seus, eu tive os meus e Severo também teve os dele, que foram bem grandes.




_A morte da irmã dele, Nereida, deve ter sido um deles.




_Sim, as circunstâncias foram muito trágicas. Não sei se isso lhe ajudará a detestá-lo menos, mas você pode dar um desconto a ele.




_Na verdade eu não o detesto, mas também não gosto muito do jeito como ele me trata. _ disse Harry, sorrindo, meio sem jeito _ Talvez eu venha a entendê-lo... um dia.




_Certo, Harry. Há algo mais que você queira perguntar?




_Não, professor. Acho que já vou indo. Prometo que aviso, caso aconteça alguma coisa. Bom dia.




_Bom dia, Harry. _ despediu-se Dumbledore.




 




Quando o eco dos passos de Harry perdeu-se na distância, uma figura saiu de trás de uma coluna, limpando os óculos com uma flanela.




_Pensei que o senhor fosse contar a ele mais do que ele deveria saber por enquanto, Diretor.




_Confesso que me senti tentado, Derek. Embora tenha tido pouco contato com Harry, sempre fui amigo de Tiago e Lílian e sempre gostei dele e de Algie como se fossem meus netos. Mas consegui segurar-me a tempo. Não posso dar a ele todas as respostas, pelo menos não agora. Cada coisa a seu tempo.




_Igual a todos nós. O senhor não nos diz mais do que aquilo que devemos saber.




_Porque nem mesmo eu tenho todas as respostas, Derek. Confesso que sei um pouco mais, mas é porque tenho acesso a uma biblioteca privada, na qual posso realizar estudos e formular teorias.




_Que quase todas as vezes resultam em realidade. _ comentou Mason.




_Não sei se digo “Felizmente” ou “Infelizmente”, Derek.




_Acho que, no cômputo geral, deve ser “Felizmente”. O senhor foi dos poucos que tiveram a coragem de dar um voto de confiança para Severo.




_Graças a você, Derek. Você era um dos poucos com quem ele se dava, fora da Sonserina. Por isso pôde atestar sobre o caráter de Severo e, mesmo quando ele aderiu aos Death Eaters, nunca deixou de confiar nele.




_Por isso, quando foi preciso, eu estava aqui para aquela missão. E foi graças a tudo aquilo que ganhamos um grande aliado.




_E a outra pessoa era Lílian. É melhor que, por enquanto, Harry não saiba que a mãe dele, mais Severo e Nereida eram grandes amigos, na infância. Mesmo Tiago mantém sigilo sobre isso.




_O senhor arrisca-se muito, Diretor.




_É em nome de um bem maior, Derek.




_Cuidado com essa expressão, Alvo (por respeito, Mason raramente tratava Dumbledore pelo seu primeiro nome). Lembra-se de quem usava esse lema?




_Atualmente estou mais maduro, Derek. Não cometerei os erros do passado, pois sei quantos atos de tirania foram cometidos em nome de “Um Bem Maior”.




_E isso tem muito a ver com o que o senhor enxerga quando olha para o Espelho de Ojesed, não é, Prof. Dumbledore?




_Ah, nunca mais tomo aquele saquê feito na propriedade do seu avô, Derek, eu prometo. _ disse Alvo Dumbledore, brincando e colocando a mão na testa, como se sentisse a dor de cabeça causada por uma enorme ressaca _ Ele provoca reações inesperadas, tipo a língua da gente soltar-se bastante e a gente falar mais do que deveria.




_É, são os tais dos horrores do passado. O senhor gostaria de ter a certeza de que não foi o responsável, não é?




_Sim, Derek. _ concordou Dumbledore _ Infelizmente, apenas duas pessoas poderiam me dar as respostas de que preciso. Uma delas matou-se na minha frente, para não ser levada com vida para Churchill e a outra, bem... a outra me fraturou o nariz com um soco e não fala comigo até hoje. Mas você também viu coisas no Espelho de Ojesed, não foi?




_Mais uma do saquê do vovô Ryusaku. _ brincou Derek, também colocando a mão na cabeça _ Minha língua também se soltou um pouco. É verdade, Diretor. Quando olho para o Espelho de Ojesed eu me vejo descobrindo as razões pelas quais Voldemort matou meus pais, pessoalmente.




_Você estava com cinco anos, pelo que eu me lembro.




_Isso. Meu avô adotivo, Ryusaku Komori, havia vindo nos visitar e estávamos voltando do cinema. Jamais me esquecerei daquela cena: Meus pais, caídos no meio da sala de casa, mortos por uma Avada Kedavra, em meio a três Death Eaters que eles haviam matado, enquanto Voldemort desaparatava, acompanhado por mais cinco. O mais estranho era que o cara-de-cobra não parecia estar satisfeito. Pelo contrário, a expressão dele era de... tristeza.




_Acho que só saberemos disso no dia em que pegarmos Voldemort.




_E ele não irá cair de boa vontade em nossos braços, isso eu garanto, Diretor.




_Bem, acho que mais um pouquinho daquele saquê não irá fazer mal. O que você acha, Derek? _ perguntou Dumbledore, acendendo um fogareiro com a varinha e colocando sobre ele uma vasilha de saquê, até que a bebida chegasse à temperatura correta de 35°C. _ “Kampai”, Derek.




_Uma taça não fará mal. _ disse Mason, servindo-se _ “Kampai”, Prof. Dumbledore. Outra coisa, Diretor, é que eu tenho andado de olho no garoto Malfoy.




_Draco? E o que descobriu?




_Não muito. Ele sabe usar a Oclumência, deve ter sido treinado desde criança. Por isso é meio difícil perceber o Ki dele. Nas vezes em que percebi, a freqüência vibracional oscilava. Ele parecia demonstrar um comportamento arrogante e atitudes malvadas, implicando principalmente com os nascidos trouxas e sempre liderando uma galerinha de filhos de Death Eaters, com a garota Parkinson dependurada nele. Mas em outros momentos, não percebo maldade alguma. E há uma outra coisa estranha.




_E o que é? _ perguntou Dumbledore, depois de um gole de saquê.




_De vez em quando o guri desaparece e eu não consigo detectar seu Ki, ele parece até não estar em Hogwarts. Muito esquisito. E isso coincide com períodos depois dele aprontar com alguém.




_De fato, isso é bem estranho. Bem, continue de olho. E quanto a Harry, comece a avançar no treinamento de artes marciais. Ele precisa desenvolver a expansão e o controle do Ki o mais depressa possível. Só assim estará preparado para enfrentar os perigos que virão.




_Terei de treiná-lo de forma mais radical. É, acho que terei de torná-lo um Mestre Ninja. Espero que ele esteja à altura. Tiago e Sirius aprenderam bem.




_Ele estará, eu sei que estará. _ disse Dumbledore.




_E eu farei o possível para prepará-lo bem. _ disse Mason, tomando o último gole de sua taça e despedindo-se, com uma reverência respeitosa a Dumbledore _ Sayonara, Diretor-san.




_Sayonara, Derek-san. _ Mason saiu da sala e Dumbledore terminou seu saquê. Fez com que as taças e a vasilha flutuassem até a pia, onde foram lavadas.




O sonho de Harry, se é que havia sido um sonho, acrescentava novos dados às teorias de Dumbledore. A referência do garoto à ardência na cicatriz confirmava seus piores temores. Harry deveria ser treinado em Oclumência e não por apenas um mestre, mas por três: Derek Mason, ele mesmo e outra pessoa, que ele iria chamar naquele momento. Jogou um punhado de Pó de Flu na lareira e, quando as chamas ficaram verdes, falou com a pessoa do outro lado, que o encarava com uma certa surpresa.




_Diretor? Precisa de mim, agora? Houve algo com Nereida?




_Não, Severo. Não vou atrapalhar seu fim de semana em casa e sua filha está muito bem. Conversaremos na segunda-feira, após o desjejum. Diga a Rosmerta que mandei um abraço e que, assim que possível, darei uma passada no Três Vassouras.




 




Harry saiu do gabinete de Dumbledore com quase tantas perguntas quantas tinha ao entrar. Mas uma coisa era fato: ele deduzira que havia uma espécie de ligação entre Voldemort e ele e que a cicatriz tinha algo a ver com aquilo. Jamais acontecera antes, mas agora ele iria procurar estar mais preparado, pois uma sensação como aquela só poderia significar uma coisa: perigo por parte das Trevas. Encontrou-se nos jardins com Rony e Hermione. A bruxinha ensinava ao ruivo a posição correta para lançar o Feitiço “Lumus Maxima” e parecia que ele estava aprendendo bem. Quando viram Harry chegar, pararam com o que estavam fazendo e cumprimentaram-no.




_Bom dia, Harry. _ disse Hermione _ Mas que expressão mais preocupada! O que houve?




Relutantemente, pois não sabia se deveria contar a eles, descreveu seu sonho à amiga.




_Bem, Harry, por tudo o que você me descreveu, é óbvio que há uma ligação entre vocês. _ disse Hermione.




_E ela só pode ter sido estabelecida quando ele tentou matá-los, há dez anos atrás. _ comentou Rony _ Meu pai me disse que, em alguns casos especiais, um feitiço poderoso pode fazer uma espécie de “ponte” entre quem lança e quem recebe, transferindo algumas características de parte a parte.




_Está sugerindo que eu possa ter recebido algumas características de Voldemort? _ perguntou Harry.




_E ele pode, em contrapartida, ter recebido algumas suas, mas isso é apenas uma suposição, é claro. _ disse Rony.




_Mas, de qualquer forma, conte conosco para o que precisar. Estaremos sempre com você, para ajudá-lo a descobrir o que se passa e também para o caso de alguma necessidade. _ disse Hermione.




_Obrigado a vocês dois, mas não posso obrigá-los a envolverem-se em algo perigoso, embora eu ainda não tenha a menor idéia do que pode tratar-se tudo isso.




_Somos amigos, Harry. _ disse Rony _ Uma amizade iniciada como a nossa, parecendo que conhecíamo-nos há vários anos, embora nós tivéssemos nos visto pela primeira vez lá no Expresso de Hogwarts, não pode ser por acaso. Alguma razão importante deve haver.




_Rony está certo, Harry. Eu li que muitas das amizades mais sólidas começaram assim.




_Hermione e seus livros. _ gracejou Rony, enquanto a garota murmurava: “Mas o que ele tem contra livros?” _ Ela tem razão, Harry. Sabemos que você é um prêmio tentador para os bruxos das Trevas, só não sabemos a razão. E nessas horas é que se sabe quem são os verdadeiros amigos.




_Nós nunca iremos deixá-lo sozinho, Harry. Embora tenha nascido trouxa, sei do perigo que as Trevas representam e detesto-as tanto quanto qualquer bruxo de bem. _ disse Hermione _ Lembre-se, nada poderá nos separar.




_Acho que passaremos a ser conhecidos como “Os Inseparáveis”, de agora em diante. _ disse Harry _ Mas você tem razão, Mione. Nesses momentos não se deve ficar sozinho, somente juntos podemos ser fortes.




_Não pudemos deixar de ouvir parte da conversa, gente. E, se vocês não se importarem, creio que os Inseparáveis não precisam ser apenas três, podem contar conosco também. _ disse Neville, enquanto Soraya concordava com ele e abraçava o “Primo” (Tiago e Sirius eram como irmãos, por isso Harry e Soraya tratavam-se como primos, desde a mais tenra infância) _ Afinal, acho que todo aquele que tiver perdido um parente ou amigo nas mãos dos esbirros de Voldemort deve unir-se a outros.




_Certíssimo, Neville. _ disse Soraya _ Ei, acabo de me lembrar. Hagrid nos convidou para um chá. Vamos?




_Vamos, Soraya. _ disse Hermione e todos levantaram-se para irem à cabana do Guarda-Caça _ Harry, você não nos falou nada sobre a carta que recebeu.




Naquele momento era difícil saber quem estava mais vermelho: Harry ou Rony. Ambos possuíam suas razões para tal.




_A carta era da irmã caçula de Rony, Gina. Você deve lembrar-se dela, Mione. Eu estava conversando com ela na Plataforma 9 ½, pouco antes de te ajudar quando seus livros caíram.




_Ah, sim, eu me lembro. Uma ruivinha, bastante bonita. _ Harry ficou vermelho, enquanto que Rony começava a fazer cara feia.




_Ei, cara, não vá começar a ter “ciúmes-de-irmão-mais velho em-relação-à-irmã-caçula. _ brincou Neville.




_Não sou ciumento. _ disse Rony, laconicamente, seu rosto rubro contradizendo suas palavras.




_Fica frio, cara. Ela só me escreveu.




_Por que mandar uma carta lacrada, dentro da minha, pedindo para ser discreto?




_Ela sequer sabia meu nome nem eu o dela. Apenas respondi à carta. Aliás, ela sugeria que você me convidasse para o Natal.




_Pois era exatamente isso que eu estava pensando em fazer. Aliás, convidar todos vocês. _ disse Rony.




_Se meus pais concordarem, tudo bem. _ disse Hermione e todos os outros concordaram. Saíram dos jardins e foram para a cabana de Hagrid, sem notarem que mais alguém ouvia sua conversa. Draco Malfoy saiu de trás de uma moita, com uma expressão enigmática no rosto.




 




Depois de uma agradável tarde na qual Hagrid contou várias histórias envolvendo os pais dos garotos, todos retornaram ao castelo. No caminho, cruzaram com uma dupla de sonserinas: a bela morena, Blaise Zabini e sua inseparável amiga, a loira reforçada Millicent Bulstrode. Esta última vinha carregando uma bandeja com alguns frascos de poções. Quando as duas cruzaram com o grupo, Millicent escorregou em uma laje do piso que estava meio úmida e começou a cair.




Imediatamente, sem pensar no que fazia, Rony Weasley pegou a bandeja de frascos, evitando que caíssem. Ao mesmo tempo, segurou Millicent com o seu braço livre, amparando-a.




_Ei, Weasley, o que pensa que está fazendo? _ perguntou Millicent, olhando-o com seus olhos azuis e uma expressão meio indignada _ Acha que pode ficar me agarrando?




_Bulstrode, se você vai brigar comigo ou me agradecer decida-se logo, pois a coisa aqui está meio pesada. _ gemeu Rony, que segurava Millicent com uma mão e a bandeja com a outra.




Naquele momento, Blaise começou a rir e Millicent perguntou:




_Por que está rindo, Blaise?




_Per il ridicolo de questa situazione, cara mia. Você está a uno piccolo passo de agredir o cara que está a dare lei un aiuto. Isso não se faz, Milly, mesmo que ele seja um grifinório.




Foi quando Millicent se deu conta do papelão que estava prestes a fazer. Equilibrou-se e pegou sua bandeja das mãos de Rony.




_Obrigada, Weasley. Mas não espalhe, OK?




_Tudo bem, Bulstrode. Não espalharei. _ e seguiram seus caminhos.




_Millicent Bulstrode... o pai dela não é dono de uma vidraria artística? _ perguntou Neville.




_Sim. Oscar Bulstrode é um famoso fabricante de objetos de vidro e seus frascos para poções são dos mais valorizados. _ comentou Harry.




_Mas eles também fabricam miniaturas e estatuetas, não é? _ foi a pergunta de Hermione.




_Sim, fabricam. _ disse Soraya _ E os trouxas também as compram. Só que para os bruxos eles vendem as animadas. E são bastante apreciadas.




_Mas os Bulstrode foram indiciados e submetidos a interrogatórios, depois do desaparecimento de Voldemort, não foi assim? _ perguntou Rony.




_Foram. _ disse Harry _ Oscar e Karine Bulstrode foram interrogados, mas nada foi provado contra eles.




_E a Marca Negra? _ perguntou Hermione _ Não é uma identificação de Death Eaters?




_Sim, mas nem todos eles eram obrigados ao “Sacrifício do Cordeiro”, somente os de escalão mais alto ou aqueles de quem Voldemort exigia alguma prova de lealdade. _ disse Soraya _ Meu tio, Regulus, foi morto por ordem de Voldemort, porque recusou-se ao sacrifício. Ele aderiu aos Death Eaters no último ano de escola e desempenhava tarefas menores, tipo informações e pequenas missões de cópia de documentos sigilosos, já que começou a trabalhar no Ministério, depois de formado.




_E quem seria o cordeiro de Regulus, Soraya? _ perguntou Rony.




_Meu pai. Embora eles tivessem lá suas diferenças, muito pelo fato de Sirius Black não raciocinar como o restante da família, ele disse que não mataria seu próprio irmão. Então, cerca de uma semana depois, Regulus Black foi emboscado e assassinado, embora não tivesse se entregado sem lutar. Dois Death Eaters nunca mais se levantaram. Já se tivesse sido Bellatrix, eu creio que ela teria atendido à ordem de Voldemort com todo o prazer.




_É, eu sei do que aquela louca é capaz. Por causa dela, meus pais estão até hoje no St. Mungus. _ disse Neville.




_Por isso que, como você disse, todos os bruxos de bem devem unir-se contra as Trevas, não importando a idade. _ disse Hermione _ Pena que muitos têm medo até mesmo de pronunciar o nome daquele louco.




_Acho que nós somos exceções a essa regra, Mione. Eu tinha medo, assim como toda a minha família, mas vi que a língua não cai se eu chamá-lo pelo seu nome. _ comentou Rony.




_Aliás, quem teria sido Voldemort, antes de tornar-se um bruxo das Trevas? Teria sido aluno de Hogwarts? _ perguntou Soraya.




_Provavelmente. _ disse Harry _ Mas pessoas que tiveram a sorte de sobreviverem a atentados de Death Eaters disseram que sua voz era pavorosa, sibilante como se fosse uma serpente e com uma risada gélida, mas o acento não era totalmente britânico, tendo algum acento estrangeiro. Mesmo assim, as opções não são muitas. Para ser tão poderoso, ele teria de ser egresso de uma grande escola de magia e sabemos que, na Europa, existem apenas três que são referência.




_Hogwarts, na Grã-Bretanha, Beauxbatons na França e Durmstrang, em algum lugar da Europa Oriental. _ disse Hermione _ Há outras muito boas, mas essas três são as maiores.




_Outros continentes também as têm. _ comentou Neville _ Em algum lugar da África existe a Tenda de Xangô. Nos EUA, há a Desert Stone. No Brasil, há duas das quais ouvi falar: a Sepé Tiaraju, no Rio Grande do Sul e a Mãe D’Água, no Planalto Central, perto de Brasília. O Japão tem uma escola nas montanhas de Kôga, chamada Dojo de Magia Shinobi. E há outras, como disse Hermione.




_E eu estou tendo uma idéia. _ disse Hermione _ Acho que deveríamos pesquisar sobre as origens de Lord Voldemort.




_???




_Ora, gente, não há certeza se ele morreu mesmo. E agora Harry teve esse sonho que eu acho que não foi sonho. Ele pode mesmo ainda estar vivo e recuperando-se para voltar e quanto mais se souber sobre um inimigo, melhor se pode combatê-lo. O que acham?




_Faz sentido, Mione. _ disse Soraya _ O Ministério e os Aurores somente combateram os efeitos, não pesquisaram a causa. Ninguém nunca se preocupou em investigar o passado de Voldemort e como ele veio a ser o que é. Mesmo porque não devem haver muitas pistas.




_Mas alguma coisa deve existir. _ disse Neville _ E uma pista leva a outra e a outra e a outras mais.




_E o que pudesse ser descoberto, poderia ser repassado aos Aurores, mas não diretamente. _ disse Harry _ Eles poderiam não dar crédito a uma investigação conduzida por crianças de onze anos.




_E a quem passaríamos o que pudéssemos descobrir? _ perguntou Rony.




_Creio que o Prof. Dumbledore seria a pesoa mais indicada. Ele confia na capacidade de cada um, independente de sua idade ou origem e podemos confiar nele. _ comentou Soraya.




_E eu acho que assim também poderei ligar muitas pontas soltas, encontrar respostas para muitas perguntas que ficaram no ar. _ disse Harry, pensativo.




_Então, começaremos nossa pesquisa? _ perguntou Hermione.




_Com certeza, Mione. _ disse Neville _ Mas, por onde?




_Acho que o acervo de jornais da Biblioteca de Hogwarts pode ser um bom começo. _ disse Harry _ Lá existem várias edições antigas do Profeta Diário e poderemos encontrar algo. Além disso, posso ver se meu pai consegue informações no QG dos Aurores. Alguma coisa eles devem saber.




_Boa idéia. _ disse Soraya _ Quando começaremos?




_Acho que hoje mesmo está bom. _ disse Hermione _ A Biblioteca está aberta e podemos pedir a Madame Pince que selecione algum material para nós.




_Então, vamos indo. Quanto mais cedo chegarmos, mais poderemos pesquisar. _ disse Rony.




_Sun Tzu _ disse Harry.




_O que é isso? É de comer? _ perguntou Rony, logo desfazendo a brincadeira, a um olhar feiíssimo de Hermione _ Calma, Mione. É brincadeira. Eu também li “A Arte da Guerra”. “Se você se conhece e ao seu inimigo, se entrar em cem batalhas obterá cem vitórias. Se você se conhece, mas não ao seu inimigo, para cada vitória uma derrota. Se você não se conhece e nem ao seu inimigo, sua derrota é inevitável.”




_Então, vamos conhecer o inimigo. _ disse Hermione, sorrindo para o ruivo.




_Sim, Inseparáveis. _ disse Soraya _ Vamos para a Biblioteca.




_Claro... _ disse Neville _ Inseparáveis.




_Para sempre! _ exclamaram os outros, entre risos, indo para a Biblioteca de Hogwarts.


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