Capitulo 11



CAPITULO ONZE


—Muito bem, agora que já se deslumbrou com o tom abacate de meus cabelos, diga de uma vez. Que você tinha de tão urgente para discutir comigo?
Harry afundou-se na poltrona embaraçado. Não tanto pela aparência espalhafatosa de Joan ou sua maneira incisiva de abordar os assuntos, mas por se encontrar na constrangedora situação de quem está em busca de aconselhamento. E convenhamos, estar diante de uma mulher cujo o nome era dra. Joan Baez Granger não inspirava muita confiança em sua capacidade de resolver o problema.
—Não é que eu esteja querendo investigar Mione, ou coisa assim... — ele vacilou.
Joan sorriu com a superioridade de quem sabe das coisas e tamborilou as unhas pintadas de verde na fórmica preta da escrivaninha.
—Você só está querendo saber como ela é.
Harry enrugou a testa. Não queria ser insistente. Na última vez em que vira Mione, dez dias antes, ela havia prometido telefonar quando tivesse colocado as ideias no lugar. Precisava de tempo. E aquelas palavras lhe pareceram sensatas. Mas quanto tempo uma mulher demorava para pôr as ideias em ordem? Principalmente agora que o relacionamento entre ela e Will havia terminado. Harry esperava que ela percebesse que sentia falta dele. Mas, aparentemente, não era bem assim.
—Eu fiquei esperando o telefonema de Mione, mas ela não telefonou. — Harry suspirou. Francamente não sabia o que estava fazendo ali. Levantou-se. — Mas, contanto que ela esteja bem... — Voltou-se e fez menção de ir para a porta.
—Ela não está nada bem — disse Joan, detendo-o. Harry deu meia-volta. — Ela não está nada bem, nada sadia, nada normal. Na verdade, minha irmã está péssima.
Nesse momento, quem se sentiu péssimo foi ele.
—O que Mione tem? — perguntou já preparado para sair correndo procurar por ela.
Joan espalmou as mãos em um gesto de impotência.
—Na minha opinião profissional, ela ficou maluca... Não passa de uma caricatura do que era. Ontem esteve em meu apartamento e passou três horas suspirando e tomando chá. No fim, tive de mandá-la embora antes que meus nervos e, provavelmente meus rins, pedissem socorro.
Harry esfregou o maxilar.
—Isso pode ser grave...
—Já aconteceu com outros pacientes meus. A falta de interesse, de concentração, o sofrimento. Ela virou uma sonâmbula.
—O que você acha que está provocando isso?
—O amor — Joan proferiu o diagnóstico como se fosse um fato científico irrefutável. — A doença dela é amor, em sua forma mais grave. E a culpa é toda sua.
Harry tornou a sentar-se e esboçou um sorriso.
—Será que devo procurá-la hoje? Talvez se eu falasse com ela...
Joan sacudiu a cabeça verde com toda veemência.
—Pode fazer o que quiser, menos falar. Falar com Mione não adianta. Eu passei anos tentando convencê-la de que Will não era homem para ela. Consegui alguma coisa? — Tornou a sacudir a cabeça em um gesto de negação. — Mas você conseguiu em poucos dias o que não consegui. Sabe como?
—Como?
—Agindo. Ela precisava muito que lhe dessem um safanão para sair da inércia... E agora está precisando de você, novamente.
—Compreendo...
Joan enrugou a testa em uma expressão típica de irmã mais velha.
—Mas Mione quer uma coisa permanente. Sempre quis isso.
Ele ficou chocado.
—Mas é isso que eu quero — protestou. — Ela pensa que sou um cafajeste só porque moro em um apartamento mal decorado e não ando de terno e gravata como Will e porque tive um monte de namoradas e... — Sua voz falhou. Aquelas palavras não eram confiáveis nem a seus próprios ouvidos. — Mas tudo mudou para mim quando conheci Mione.
Era tão ruim assim que ele tivesse demorado um pouco para perceber que queria uma relação permanente na vida? Com Mione, por exemplo, e com muitos filhos? Afinal de contas ter sido criado na casa do pai deixara-o refratário à vida doméstica. Mas agora ele se dava conta de que a vida familiar não era necessariamente rígida e severa como fora em sua infância. Mione e ele construiriam um futuro cheio de amor, carinho e compromisso.
—Eu não vou decepcioná-la — prometeu.
Joan se levantou.
—Muito bem. Então vou ajudá-lo.
Ele inclinou a cabeça e a examinou. Havia um brilho diabólico no olhar daquela mulher.
—Que pretende fazer?
Ela riu.
—Bom, tenho um namorado chamado Duke... E ouvi dizer que você tem um pai enérgico que pode vir a ajudar...


—Comida chinesa? — Mione olhou para o grupo de colegas à porta do escritório que antes pertencera a Bernie Morton, mas que agora era todo dela. Forçou um sorriso, embora estivesse com vontade de chorar. Como tudo mais naqueles dias, a comida chinesa a fazia lembrar-se de Harry. — Obrigada, mas estou sem apetite.
—Como quiser — eles disseram e seguiram pelo corredor.
Mione ouviu-os rir enquanto esperavam o elevador e invejou o clima de camaradagem que os envolvia.
Aquela camaradagem a fazia lembrar-se de Harry.
Depois de passar meia hora suspirando com uma xícara de café na mão, ela concluiu que era melhor comer alguma coisa. Desligou o computador e desceu. No saguão do prédio, viu seu próprio retrato na parede junto à entrada. Sua atuação na descoberta do esquema de desfalque de Max Herbert lhe valera uma promoção, além da honra de ser eleita a funcionária do mês.
No entanto, vendo-se, ainda que de relance, a sorrir tolamente naquela moldura, ela notou que sua aparência doentia e atordoada correspondia exatamente a seu estado de espírito.
Sua vida parecia prestes a sofrer uma grande mudança, no entanto ela não era capaz de sair do atoleiro em que vinha patinando havia décadas. Só que agora já não contava com Will e ainda não tivera coragem para telefonar para Harry. Embarcar em um relacionamento com ele era como mergulhar no desconhecido.
Ela saiu pela porta giratória do banco, virou a esquina e por pouco não colidiu com o peito largo de um homem.
—Muito bem, senhorita, venha comigo!
Mione conteve a respiração quando ele lhe segurou fortemente o braço.
—Solte-me! Que significa isto?
O desconhecido a empurrou na direção de um táxi que aparentemente os esperava. Olhando para o veículo amarelo parado no meio-fio, Mione fincou os calcanhares no chão.
—Pare com isso, seu bandido! — gritou com raiva. O homem lhe deu um safanão bastante efetivo. Ela avançou alguns passos trôpegos. — Eu estou avisando: você não vai conseguir! Os últimos que tentaram me sequestrar estão na cadeia! — Então lhe ocorreu: seriam capangas de Max Herbert? O medo lhe congelou o coração. Imaginava que, com Herbert na prisão, aguardando julgamento, ela estaria a salvo. Mas o que o impedia ou a Swithin de mandar seus cúmplices pegá-la?
Mione calçou o pé na porta aberta do automóvel, recusando-se a entrar.
—Diga a seu chefe que estou muito contente porque ele está na cadeia, e se ele pensa que pode continuar sequestrando as pessoas...
—Isso você mesma poderá dizer a ele — rosnou o homem, empurrando-a para dentro do táxi.
Ela caiu no escorregadio estofamento de vinil do banco traseiro, e o grandalhão se sentou a seu lado.
Havia uma pessoa sentada entre ela e a outra porta. Quando o táxi arrancou, Mione olhou para o homem e quase deixou escapar um grito de surpresa. James Potter!
—Eu devia saber que você estava metido nisso! — gritou ela com raiva.
Talvez o brutamontes que a empurrara para dentro do táxi fosse o seu novo mordomo. O rosto barbudo do velho ficou tão vermelho quanto o dela, o que lhe deu uma aparência de papai Noel depois de um banho de sol.
—Não me venha com suas reclamações, mocinha!
—Ora, por que você não me deixa em paz? — perguntou ela. — Eu estava cuidando de minha vida, só queria ir comer um sanduíche...
—Ora, ora, cuidando da vida? E também estava só cuidando de sua vida quando rompeu o compromisso?
Mione ficou boquiaberta.
—Eu rompi o compromisso? — repetiu assombrada.
—Isso mesmo.
—Mas eu não rompi compromisso algum!
—O que sei é que meu filho pensava que ia se casar com você e agora não vai mais. E quero entender por quê.
Era como se Will não tivesse responsabilidade alguma por aquela decisão!
—Por que o senhor não pergunta para ele?
—Esses jovens nunca dão respostas objetivas!
Ela revirou os olhos. Com certeza Will já lhe havia contado umas vinte vezes o que acontecera. O velho era incapaz de dar ouvidos ao que não lhe convinha.
Mas talvez ela conseguisse obrigá-lo a ouvi-la.
—Escute aqui, sr... — disse com raiva. — Will rompeu o noivado há mais de uma semana. Foi ele quem o rompeu. Mas, se não o tivesse rompido, eu teria feito isso.
—Oh, você teria rompido o noivado? E mesmo?
—Sim... E quer saber por quê?
O velho grunhiu com desprezo:
—Você não tem nada a dizer que possa me interessar.
Tudo bem! Ela diria assim mesmo.
—Porque estou apaixonada por seu outro filho, seu bruxo... Pelo que o senhor deserdou por ser da polícia! O que me sequestrou e me ajudou a descobrir quem roubou seu maldito dinheiro!
Estavam seguindo a toda velocidade por uma estrada na região de Queens e parecia que se dirigiam ao Aeroporto de La Guardiã. Fantástico. Ela bem que estava precisando de umas férias!
James a encarou.
—Veja lá como fala! Você está se dirigindo a seu futuro sogro.
Mione teve vontade de arrancar os cabelos. Ou melhor, de arrancar os cabelos dele.
—Eu não vou me casar.
—Vai sim.
—Não há mais nada entre mim e Will. Tudo está acabado entre nós. Entenda!
James se pôs a olhar obstinadamente para a frente, dando a ela vontade de gritar de frustração.
—Eu não entendo como alguém pode querer se casar com você — resmungou ele.
Ela também ficou olhando para a frente, convencida de que o melhor era ficar calada e tentar pedir socorro à polícia ao chegar ao aeroporto. Pelo pára-brisa, viu Queens passar. Conseguiu ler o nome do motorista do táxi na ficha de identificação afixada no painel: Duke Rafferty. Onde tinha ouvido falar nesse nome? Tentou ver-lhe o rosto pelo espelho retrovisor, mas ele estava de óculos escuros, a cabeça coberta por um boné de beisebol. Quem seria aquele sujeito? O táxi entrou no aeroporto, parou no setor de embarque, e Mione foi levada ao terminal. James Potter à frente, o peito inflado como se estivesse comandando uma parada. Mione ia olhando fixamente para o detector de metais mais adiante e para os policiais que o controlavam. Se pedisse socorro, provavelmente interfeririam.
—Pode parar aí mesmo, ‘Tyson’ — gritou uma voz familiar.
Harry saiu de uma loja, seguido de Joan e Will. Mione quase desmaiou de alívio ao vê-lo. Gente semi-normal enfim!
—Harry! — ela gritou atirando-se em seus braços. Pouco importava que a vissem. Sentira tanta saudade dele, sofrera tanta solidão durante mais de uma semana.
Ele a envolveu e a beijou com ternura. Seus lábios cálidos diziam que ele também sentira muito a falta dela. Quando finalmente pararam para respirar, Harry lhe segurou as mãos.
—Mione, me perdoe... Aquela noite na delegacia eram tantas coisas que eu queria lhe dizer, mas não achei as palavras. E agora...
—Não faz mal. Não precisa dizer nada.
—Preciso sim — disse ele, ajoelhando-se e segurando-lhe as mãos com mais força. — Você quer se casar comigo, Mione?
Com lágrimas nos olhos e completamente esquecida da insistência com que James Potter dizia que ela seria sua futura nora, Mione balbuciou:
—Você quer que eu me case com você? Oh, sim, eu quero! Quando? Vai demorar?
Em resposta, Joan se acercou com duas malas e duas passagens nas mãos.
—Foi o que imaginei — disse. — Vocês vão para Las Vegas e é bom se apressarem... O casamento está marcado para às cinco na capelinha de Elvis Presley.
Ainda com lágrimas nos olhos, Mione pegou a valise e a passagem. Abraçou Joan, Will e Duke, depois, hesitante, voltou-se para James Potter.
—Para seu governo, eu me reconciliei com seus dois filhos — disse ela. — Mas confesso que não entendo como um homem tão extraordinário como Harry pode ser seu filho. — E, rindo, avançou um passo para lhe beijar o rosto barbado.
Sorrindo, ele respondeu:
—Se eu tivesse uma filha, queria que fosse como você.
Enxugando as lágrimas, Mione se voltou para Harry, fitou-o nos olhos verdes e sentiu o coração transbordante de felicidade. Ele lhe segurou a mão e sorriu, embora com certa preocupação no olhar.
—Nós poderemos morar onde você quiser, Mione. É sério. Poderemos procurar uma casa assim que voltarmos.
Ela o abraçou mal acreditando que seus sonhos tinham se tornado realidade.
—Por que não ficamos em Manhattan, por enquanto, para ver o que acontece?
Harry sorriu.
—Você está se sentindo bem, Mione?
—Nunca me senti melhor!
Acenaram uma vez mais para os que os acompanhavam e entraram na fila para passar pelo detector de metais.
—Eu quase enlouqueci sem você — confessou Harry quando estavam a sós.
Mione sentiu um arrepio.
—Que bom! Pensei que só eu estivesse sofrendo.
—Não, você não estava sozinha nisso. Ah! Ia me esquecendo... --- disse ele, pondo a mão no bolso. — Isto é para você. — Entregou-lhe um lindo diamante incrustado em um anel de ouro. – Eu sei que você gosta de fazer as coisas à moda tradicional.
—Isso era antigamente — sorriu ela. — Depois de ser raptada três vezes e descobrir a alegria de usar perucas, vestidos colantes e pular de aviões...
Mione o abraçou e lhe deu um beijo muito sensual em público que só se interrompeu quando os que estavam na fila começaram a dar mostras de inquietação e os guardas os chamaram para que passassem pelo detector de metais.
— Vamos — disse ela, piscando para o noivo. --- Precisamos estar na capela às cinco horas.


FIM




Obs:Oiiiii pessoal!!!!Surpresaaaaa!!!!!Gostaram das atualizações??? "Noiva em Perigo" terminada, 3 capitulos de "Receita de Amor" e 4 de "Seqüestro de Amor"!!!!Resolvi recompensar vocês pela demora na atualização como uma 'super atualização'...hehehe....Mais uma vez me desculpem pela demora!!!Espero que tenham curtido a fic como eu curti em adaptá-la e prometo que até o final da semana tem mais e quem sabe ainda um presente de natal para vocês, hum?Que acham???Bjux!!!Adoro vocês!!!!

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