Capítulo Quatro
Harry Potter se deu conta subitamente que a mão de Luna Lovegood afagava-lhe a nuca e, em seguida, os ombros. Ele se virou para ela novamente e seus olhos verdes encaram os azuis mais profundos que já vira. Luna moveu sua face ao encontro da face dele e Harry a observou de perto, sentindo o calor que emanava da pele dela abranger-lhe inteiramente. A garota entreabriu os lábios sem dizer nada e Harry soube exatamente o que fazer. Beijou-a, o começo era delicado e transpassava confiança, para depois se intensificar e aumentar o ritmo, duas bocas cálidas em um beijo combinado, quase gêmeo.
Harry resvalou sua mão ao rosto de Luna e a acariciou. Sentia a lua em sua palma, com todo o seu brilho e imponência. Afagou os ombros da garota e, quando o beijo tornou-se absolutamente intenso e mais abrasador que nunca, Harry soube que poderia descer-lhe a mão e assim o fez, tocando levemente os pequenos seios dela. Pareciam trechos desconhecidos daquela lua; trechos que ele queria conhecer. Luna cessou o beijo e sorriu delicada, segura e importante. Desabotoou seu próprio pijama e revelou o que ele queria ver. Harry novamente beijou-a na boca, para logo beijar-lhe o pescoço e, por fim, seus níveos seios, que palpitavam rapidamente. Luna abriu um novo sorriso, porém este Harry não viu. Ele via apenas a imensidão clara, lunar, dentro de seus olhos fechados. Luna era maravilhosa demais para ser verdade.
— Continue, Harry – ela sussurrou ao pé do ouvido dele.
O rapaz abdicou dos beijos naqueles seios para tornar a beijá-la na boca. Sentiu as mãos da garota deslizarem em suas costas e Luna retirou a camiseta que ele vestia, deixando à mostra seu peito quase sem pêlos, local onde ela rapidamente beijou. Harry sentiu-se queimar por dentro. Aos poucos eles foram se despindo, entre beijos, revelando o que possuíam sempre tão oculto sob as vestes. Luna tinha um corpo branco e róseo, com curvas femininas delicadas. Harry era magro dentro dos padrões, com cada trecho definido e terminantemente bonito.
Antes de prosseguirem o que pretendiam, eles se entreolharam gentilmente, como se permitissem mutuamente o que seria feito a seguir. Tão breve eles fizeram amor docemente, sorrindo e suando, com frêmitos por todo o corpo e a sensação de segurança que jamais haviam sentido antes. Ele era dela e sentia-a como uma certeza dentro de si. Ela era forte, segura e feliz, embora Harry sentisse que havia algo mais, uma angústia oculta, um medo, uma queda. Luna era um retrato dele mesmo.
Após atingirem o clímax, desabaram lado a lado na cama e se olharam nos olhos. Harry arfava silenciosamente, sentindo o peito palpitante dela junto ao seu próprio. Tão breve eles pegaram no sono, Luna sonhando com olhos verdes; Harry com aqueles olhos azulados que tanto adorava. O cheiro dela estava em seus sonhos, fazia-o flutuar sobre a cama. Ele acordou na manhã seguinte e não levantou imediatamente; pôs-se a observar aquela garota em um sono tranqüilo. Luna era um anjo.
Quando ela acordou, viu-se sozinha na cama e o local onde Harry adormecera estava ainda com a marca de seu corpo. Luna olhou em volta coma visão um pouco ofuscada pela sonolência e levantou-se, os pés descalços no carpete azul do quarto dele. Ela saiu, sentindo a madeira fresca sob seus pés e encontrou Monstro, o elfo-doméstico, nas escadas.
— Bom dia, Monstro – cumprimentou-o, com sua voz alegre e um sorriso sustentado nos lábios.
— Bom dia, bela senhorita Luna Lovegood – o elfo fez uma reverência.
— Chame-me apenas de Luna, se preferir – ela falou. — Onde Harry está?
— Na cozinha.
— Obrigada, Monstro.
E Luna desceu as escadas de madeira antiga perfeitamente polida. Caminhou sorrateiramente até o local desejado e avistou Harry dentro de um avental verde na cozinha. Ele sorriu e pareceu um pouco envergonhado, pois em instantes desamarrou o nó que o prendia à vestimenta.
— Não precisa tirar, Harry – disse Luna. — Você está muito bonito assim.
— Se você acha... – e ele permaneceu como estava.
Harry a recebeu com um beijo demorado nos lábios e um afago na nuca dela, sendo correspondido com uma carícia nas costas.
— O que está preparando? – ela perguntou, pondo-se na ponta dos pés para enxergar o conteúdo do enorme caldeirão que Harry mexia.
— Algo que chamo de "creme púrpura" – disse ele.
— E é feito do quê? – indagou ela, interessada.
— De muitas, muitas coisas – Harry sorriu. — Aprendi a fazê-lo durante meus primeiros dias como proprietário desta casa. Nunca fui bom na cozinha, a não ser, infelizmente, quando tinha de preparar panquecas para os meus tios em todas as manhãs.
— O que são panquecas? – ela perguntou.
— Comida trouxa – disse ele, parecendo indiferente.
Ela arregalou os olhos e abriu sorriso, em seguida balançou-se para frente e para trás.
— Acho que eu vou gostar desse "creme púrpura", pois o cheiro está me deixando faminta!
— Eu sinceramente espero que você goste, pois é a única coisa que eu sei fazer sem o auxílio de Monstro e eu realmente não gostaria de parecer tão insuficiente aos seus olhos.
Luna soltou uma gargalhada animada e o abraçou rapidamente.
— Você é tão... fofo!
— Fofo? – Harry simulou indignação. — Fofo como flácido, composto de geléia ou algo assim?
Luna gargalhou novamente.
— Fofo como agradável e amável – ela sorriu. — Posso ajudá-lo em alguma coisa?
— Bem – Harry cheirou o conteúdo do caldeirão. — Pode trazer um pouco de mel para mim? Está naquele armário, segunda porta à esquerda – ele indicou.
— É claro! – e Luna foi até lá, encontrando um pote de mel e levando-o até Harry.
Antes, porém, de entregá-lo, ela abriu o pote e passou o dedo no lá dentro, lambuzando-o de mel. Harry ergueu as sobrancelhas sem entender, mas logo compreendeu quando Luna deslizou o creme na face dele, rindo bastante para em seguida lambê-lo. Harry imitou a atitude, sujando o rosto dela também, para lambê-la tão rapidamente.
— Ei, assim eu vou ficar melada! – ela riu.
— Está ainda mais doce – Harry disse ao lambê-la.
Desta maneira eles brincaram um com o ombro e acabaram com quase todo o pote de mel. Eles gargalhavam e corriam pela cozinha, comprimiam-se contra a parede enquanto se beijavam e tornavam a correr, fugindo e atacando com o mel. No fim, o Creme Púrpura queimou absolutamente e Harry teve de chamar Monstro para preparar-lhes algo que pudessem comer. Enquanto isto, eles se apressaram pra m banho, uma vez que jaziam completamente sujos de mel.
— Venha, Luna, a água sta ótima – Harry chamou-a, já dentro da banheira.
Luna despiu-se e Harry viu-a nua pela segunda vez. Jamais esqueceria o quão bonita ela era. Luna entrou na banheira e sentou-se unida a ele. Eles permaneceram em silêncio por algum tempo, sentindo as bolhas na água fazerem-lhe cócegas e acariciando-se reciprocamente.
— É ótimo tê-la aqui – Harry falou em voz baixa.
— É ótimo estar aqui com você – ela disse.
— Obrigado por haver confiado em mim.
— Harry – ela olhou-o nos olhos verdes. — Você não faz idéia de quantas coisas eu já confiei a você.
— O que quer dizer?
— Desde o início, quando estávamos na escola, eu confiei em você e lutei pelo bem e sempre soube que deveria apoiar você – ela fez uma pausa, mas não sorriu. — Enfrentei tantas coisas e pessoas por você e ontem você me fez ultrapassar muitos limites.
— Luna, eu não estou entendendo... Você está arrependida?
— Nunca, Harry – ela finalmente sorriu, tranqüilizando-o. — O que eu quero dizer é que confiei a você dois fatos muito importantes.
— Diga quais, Luna.
— Eu sempre tive medo de muitas coisas, Harry. Sempre ouvi as meninas dizerem determinadas... Bem, eu nunca confiei em rapazes. Nunca me senti capaz de permitir que alguém me tocasse, pois sempre tive a mim mesma como um talismã – ela manteve os olhos abertos e fixos nos dele. — Você foi o primeiro homem a saber como eu sou de verdade.
— Então aquela foi sua primeira vez?
— Sim, e aquele foi meu primeiro beijo.
Harry sentiu-se surpreendido e extenuado. Jamais pôde imaginar que ela nunca havia sido beijada, uma vez que lhe parecera tão segura a todo tempo. Compreendia, porém, o que ela dizia e concordava absolutamente. Luna não era como as garotas que conhecera e Harry sentiu-se orgulhoso por ela ter-se guardado em si mesma e nunca haver cedido a ninguém. Será que ele era tão importante assim?
— Por que concedeu a mim este grande feito? – ele perguntou.
— Porque eu sempre confiei em você, Harry. Não está claro?
Nada ele disse naquele instante e apenas a abraçou fortemente. Ambos os corações estavam acelerados e ambos os cérebros pensavam sofregamente. Harry estava honrado e Luna ainda mais segura.
— Muito obrigado – ele sibilou sem largá-la, mantendo-a contra seu peito.
Eles permaneceram desta forma por alguns minutos, sem dizerem nada, até que Luna falou:
— Está tudo bem comigo, Harry – e então olhou-o. — E, bem, saiba que eu não irei cobrar nada de você – sorriu. — Não estou esperando que me peça em casamento.
— Luna, eu... Eu não sei o que dizer.
— Harry, isto é mais simples do que você imagina – disse ela. — Eu permiti que isso acontecesse e estou plenamente consciente de que não estamos-nos vendo obrigados a definir uma situação entre nós. Somos maiores de idade agora, Harry, e eu simplesmente decidi que o melhor seria que acontecesse com você.
— Eu não sei o que você está esperando de mim, Luna. Eu estou confuso...
— Então não fique, Harry – ela acariciou o rosto dele. — Eu não poderia querer algo melhor para mim, sabe? Você é uma excelente pessoa, das melhores que eu já conheci. É um grande amigo também. O que mais eu poderia almejar?
— Eu não sei, Luna...
— Harry, está tudo bem – ela afirmou encarando-o.
Olhando dentro daqueles olhos azulados ele pôde ver a verdade e a beleza. Luna era franca demais para ele duvidar dela e eles sentiam o mesmo naquele momento.
— Sorria, por favor – ela pediu, com uma nova animação na voz.
Harry não pôde conter um sorriso e beijou-a nos lábios novamente. Radiantes como outrora, eles tomaram banho, brincando com a espuma e lavando um ao outro. Ao terminarem, retornaram à cozinha e comeram o que Monstro os havia preparado. Além disto, o elfo-doméstico havia recuperado o Creme Púrpura queimado e Harry fez questão de que Luna experimentasse. Ela pareceu gostar demasiadamente. Quando concluíram a refeição, ele guiou-a a sala de leitura, onde acomodaram-se no sofá e conversaram demoradamente por toda a tarde e princípio da noite.
— Harry... – Luna começou, com a voz fraca. Pelo pouco que Harry conhecia dela, já sabia que ela queria saber alguma coisa. — O que exatamente aconteceu no baile?
— Entre nós?
— Não. Quando você, Rony e Mione saíram às pressas, o que houve?
Harry fechou os olhos e Luna, encostada no peito dele, não o viu fazendo isso. Ele sabia que deveria ser verdadeiro com ela naquele instante. Luna estivera sendo tão clara com ele, que não deveria receber o oposto.
— Eu vi Gina com Malfoy.
— O QUE? – ela voltou-se para ele. Os olhos enormemente assustados. — Gina e Draco? Fazendo o que?
— Eles estavam, digo, estão, juntos.
— Isto é incabível! Gina pode realmente agir como uma criança às vezes, mas ficar com Draco Malfoy é totalmente insano!
— Que seja insano – Harry sacudiu os ombros. — Eu não me importo.
— E... Vocês dois... Como ficaram?
Harry respirou fundo antes de contá-la toda a verdade.
— Assim que tudo se restabeleceu após a guerra, eu conversei com Gina e a pedi em namoro novamente – ele disse. Luna prestava atenção em cada sílaba. — Ela começou a gritar, dizendo que eu estava pensando que a vida era simples – ele deu uma risadinha sem achar a menor graça. — Disse que eu não poderia tê-la quando achasse conveniente para mim e que eu a havia magoado muito. Disse, então, que não mais queria me ver e eu a deixei onde estava.
Luna piscou ainda umas duas ou três vezes.
— E quando você acha que a feriu desta forma?
— Luna, eu já gastei duzentas noites tentando compreender, porém não consegui enxergar!
— Sabe, eu acho que ela gosta de você.
— Se gosta, é maluca!
— Não é loucura gostar de você, Harry – Luna franziu o cenho. — Olhe-se no espelho e veja, pela primeira vez em sua vida, o grande homem no qual você se tornou.
— Luna, é claro que...
— Não discuta – ela interpôs de modo tranqüilo. — No fundo você sabe que é verdade.
Harry encostou-se no espaldar do sofá e encarou o teto demoradamente. Gina não gostava dele, isto era óbvio.
— Se quer saber – disse Luna. — Eu pressinto que nós dois ainda teremos muitas histórias para contar um ao outro.
— Não falemos disso agora, Luna – disse Harry. — Estamos juntos neste momento e eu não quero pensar em nada a não ser... Você.
Ela abriu um largo sorriso e o beijou.
— Vamos para o quarto? – ele indagou.
— Sim – Luna pôs-se de pé imediatamente. Uma expressão faceira percorria o rosto dela. — Quem chegar por último terá de dar um beijo de língua no Monstro!
E Luna desatou a correr, seus longos cabelos loiros ondulando atrás de si, os pés descalços fazendo barulho por onde quer que passava e sua risada animada ecoando por toda a casa. Harry correu atrás dela, puxando-a pelo leve vestido que usava enquanto subiam as escadas. Ela gritava e ria, libertava-se dele e continuava subindo. Luna chegou antes dele no quarto e pulou na cama, arfando e retirando os cabelos da face extrovertida. Harry chegou em seguida, apoiando as mãos no joelho e retomando fôlego.
— Você foi o último! – ela disse. — Terá de beijar o Monstro! – e riu.
— E você irá me obrigar?
— É claro que sim! – ela ficou de joelhos sobre os lençóis. — Irei chamá-lo agora! Monstro!
Harry ergueu-se completamente e jogou-se sobre ela na cama, tentando calá-la com as mãos. Ela ria e tentava se livrar dele para continuar chamando o elfo. Harry ria demasiadamente e acaba, vez por outra, perdendo as forças e livrando-a, permitindo que Luna gritasse. Em pouco tempo o elfo-doméstico surgiu à porta, parecendo confuso.
— Em quê posso lhe ser útil, mestre Harry?
— Ele quer beijar você, Monstro! – Luna contou em uma gargalhada.
O elfo abaixou as orelhas e arregalou os olhos.
— É mentira, Monstro! – Harry defendeu-se. — Pode ir embora – e tapou a boca da garota, silenciando-a. — Feche a porta, por favor.
E Monstro saiu ainda mais perturbado, fechando a porta do quarto atrás de si.
— Você merece ser punida! – Harry brincou, ameaçando a garota.
Luna, que já ria, não mais conseguiu se conter: Harry iniciara intermináveis cócegas na cintura dela e ria também, vendo-a contorcer-se em gargalhadas e tentativas de fuga. Luna se debatia, rindo alto e implorando para que ele a deixasse livre, pois estava ficando sem ar. Lágrimas saíam de seus olhos azulados e ela ainda lutava, agora sem forças por tanta risada. Finalmente Harry largou-a e Luna caiu sobre ele, respirando rápida e profundamente, risadas ainda se libertavam dela e ele a afagou a nuca até que se acalmasse, o que não demorou.
— Ah! – ela largou-o de repente, olhando para algum ponto no criado-mudo dele. — Este é um daqueles espelhos comunicadores? – Luna tomou o objeto nas mãos. Era um espelho redondo de prata lustrosa.
— Sim, é isso mesmo – disse Harry.
— Com quem está o outro? – indagou ela.
— Gina – ele falou pesarosa e simplesmente. Luna disfarçou por um tempo antes de deixar o artefato onde encontrara. — Ela me deu outro quando soube que o meu quebrara. Sirius havia me dado um desses antes de morrer.
— Oh...
— Ei, venha cá – Harry a puxou para mais próximo de si. — Quando foi a última vez em que eu disse que você é linda?
— Ah, eu não sei...
— Então – ele tomou o rosto dela entre as mãos, olhando-a profundamente nos olhos. — Saiba que você é linda, Luna Lovegood.
— Muita gentileza sua, Harry Potter – ela sorriu.
Harry a beijou na testa, na ponta do nariz, na face, no queixo e, finalmente, na boca. Neste ponto ele demorou bastante, deliciando-se com o sabor de esperança que ela possuía. Luna sentia o coração dele batendo através daquele beijo e sabia que ele era um grande homem, um excelente amigo. Ambos deixaram-se levar por estímulos novamente, Harry, então mais sóbrio que antes, sentiu o quão real Luna era, o quão inteligente e rara. Gradativamente as carícias aconteceram, cada vez mais cálidas, entorpecidas entre os beijos e íntimas, quase ritmadas e gêmeas.
Despiram um ao outro lentamente, apreciando cada pedaço de pele exposto. Eles eram belos em suas particularidades e ainda mais belos quando unidos. Eram amigos, leais, compreensivos e pacientes. Eram parecidos em detalhes, sofreram pela morte no passado, mantiveram-se solitários, embora com amigos ao lado, foram mal-vistos por pessoas, acusados de loucos, excêntricos, radicais. Foram desacreditados e provaram, igualmente, o quão capazes eram e, ainda tão iguais, sequer se importaram com isto.
Harry percebera que Luna era um motivo para entender a si próprio, devido ao esclarecimento que ela tinha de si mesma. Durante o dia que passara, ele aprendera coisas que jamais lhe haviam passado pela cabeça e percebeu o quão calma a vida pode ser quando se tem segurança. Luna era especial, tranqüila e certa do que fazia e Harry sentia-se firme também, sabendo onde pisar e o que dizer a ela. Luna era linda e ele tinha plena consciência disso naquele momento, quando a via nua diante de si e pronta para qualquer coisa.
Ele a deitou na cama e debruçou-se sobre ela – também estava nu – e a beijou delicadamente, olhando-a. Uma voz conhecida fez seus pensamentos se movimentarem, tão rápidos e confusos, que Harry cessou o que fazia e em seguida tentou concentrar-se, mas a voz retornara, chorando e implorando, clamando seu nome. Luna parecia ouvir também, pois empalidecera violentamente e erguera a cabeça, olhando para o lado. Harry entendeu o que era aquilo: a voz de Gina se libertava do espelho comunicador.
— Ela está chamando você – Luna disse.
Harry pôs-se sentado, porém não olhou para o espelho, ainda depositado sobre o criado-mudo. Luna sentou-se diante dele e acariciou seu rosto.
"Eu estou péssima, Harry", lamentava a voz de Gina. "Eu me arrependo por tudo o que fiz. Me arrependo sobre o baile... Eu pretendia enciumá-lo, Harry, apenas isso. Eu juro..." , ela soluçava. "Eu gostaria de voltar atrás, de aceitar seu pedido, de ser sua para sempre, como nós tanto sonhamos... Eu quero que me desculpe... Ainda amo você, agora mais do que nunca", prosseguiu a voz. "Poderei conversar quando você quiser e estarei disposta a retomar nossa vida de onde paramos... É tudo o que posso fazer, Harry. Eu te amo", e a voz se calou.
Harry manteve o olhar fixo na parede da outra extremidade do quarto. Estava confuso, estava ficando louco.
— Harry – desta vez, a voz de Luna foi a que o despertou dos pensamentos. — Procure por ela em uma última vez. Vocês se amam e precisam estar juntos.
— Mas nós dois...
— Somos adultos, Harry – disse ela. — Foi maravilhoso enquanto estive aqui. Esclareci coisas ao meu respeito e me senti feliz como há muito tempo não me sentia.
— Eu digo o mesmo, Luna – Harry a olhou. — Eu não quero magoar você...
— A única pessoa magoada aqui é você – ela falou, segurando as mãos dele. — E não é por minha causa. Harry, você precisa perceber que Gina é para você e você é para Gina.
— Gina... Gina só consegue me deixar maluco!
— Sim, é assim que ela faz as pessoas gostarem dela – Luna acariciou o rosto dele. — Gina ainda é um pouco infantil, Harry, e se você a ama, precisará estar disposto a enfrentar isto e fazê-la ser mais justa consigo mesma e com os outros. Gina é uma excelente pessoa, entretanto possui algo que a torna peculiar e cruel.
Harry assentiu com a cabeça, enxergando novamente a verdade naquela garota.
— Eu acredito que você a tenha ferido de alguma maneira – Luna opinou. — Deve ter ferido seu orgulho de alguma maneira, porém isto caberá aos dois uma longa conversa. Cuidado, pois ela é orgulhosa demais e...
— Luna – Harry a encarou. — Obrigado pela pessoa que você é. Às vezes eu penso que, se pudesse escolher alguém, a escolheria.
— Estaria sendo tolo – ela falou de modo doce. — Somos parecidos demais, Harry. Juntos, parecemos duas pinturas idênticas e sem novidades. Aprendemos, neste dia, mais do que poderíamos aprender em duzentos anos juntos.
— Mas Luna... Você é como uma Lua para mim...
— E você, Harry, é o meu mundo – ela sorriu. — E como nós dois sabemos, não existe vida no mundo sem a luz do Sol. O Sol, Harry, para você, é...
— Gina – ele completou.
— Exato – Luna afirmou e manteve-se quieta.
— Eu amo você, Luna, por ser a pessoa mais impressionante e sábia que eu já conheci e por haver me presenteado com um dos melhores dias em que eu já vivi.
— E eu amo você, Harry, por ser o maior homem que eu conheci e por haver me mostrado o quão bonita a vida pode ser ao lado de outra pessoa.
Prontamente eles uniram mutuamente as mãos e beijaram-se na boca, como dois amigos que se amam, como duas pessoas que se admiram e apóiam. Harry seria grato por tudo o que aprendeu com ela e pela vida que lhe trouxera novamente. Luna seria grata por ter passado a permitir-se compartilhar algo com alguém e não temer o desconhecido. Harry Potter e Luna Lovegood estavam livres de seus próprios medos e agonias, pois haviam compartilhado a alegria de uma breve convivência e adaptado uma noite e um dia à mais grandiosa aula de suas vidas.
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