A parede que precisam atravess
- Também veio se despedir? – perguntou Doumajyd desafiador, não parecendo nem um pouco assustando ao ver a mãe no aeroporto.
- Venha falar comigo amanhã. – sentenciou ela, mantendo o tom cruel na voz, não conseguindo olhar diretamente para o filho e parecendo não suportar a visão de Mary ao lado dele.
- Se tiver algo para me falar, pode falar aqui! – reclamou o dragão.
Em um impulso, Mary, pensando que não adiantava mais se esconder de agora em diante, reuniu toda a coragem que tinha e disse:
- Eu também quero falar com-
- Amanhã, herdeiro Doumajyd e futuro administrador do maior nome da sociedade mágica, venha até o meu escritório. – a senhora Doumajyd a cortou e acrescentou em tom de ponto final – É uma ordem!
Então, não dando chance alguma para o filho responder ou confirmar, ela saiu. Richardson ainda se deteve um tempo, como quem queria dizer alguma coisa, mas pesou melhor e seguiu a bruxa.
***
- A senhora descobriu... – Nana suspirou, depois de ter ouvido sobre tudo o que acontecera no aeroporto por Mary, quando ela voltou escondida para a mansão – Está arrependida, sangue-ruim?
Mary pensou um pouco para definir o que ela estava sentido no momento, e respondeu:
- Com medo, mas não arrependida.
- Isso. Sem Medo não há coragem. – concordou a elfa – Essa é a sangue-ruim do mestre Christopher.
- Mas, agora eu não posso mais ficar aqui. – Mary chegou ao ponto onde queria chegar quando viera falar com a Nana.
- A senhora disse que precisaria ficar em Londres essa noite. – disse a elfa – Por mais uma noite, estará tudo bem.
Uma noite. Era tudo o que Mary tinha para pensar no que fazer de agora em diante.
***
- Não podiam ter agido mais cuidadosamente? – pediu Ryan Hainault para Doumajyd, quando o D4 se reuniu naquela tarde na saída da Academia.
- Não deu para evitar. – respondeu o líder.
- E ela sabe que a Cogumelo está morando lá? – perguntou Nissenson.
- Ainda não.
- Mas com certeza ela pensa que vocês estão se encontrando, não? – disse MacGilleain.
Doumajyd pensou e disse, olhando para a própria mão sorrindo:
- Bom, nós estávamos de mãos dadas e-
- Não é hora de ficar feliz por estarem de mãos dadas! – reclamou Nissenson, enquanto os outros dois riam.
- Não estou feliz! – replicou o dragão sem jeito – Não fiquei com o coração disparado e essas coisas só porque nos demos as mãos!
- Você ficou com o coração disparado, sim. – disse Hainault com o seu sorriso calmo, fazendo o dragão não ter como negar.
- Tem noção da situação em que está agora, Chris? – perguntou MacGilleain – Sua mãe deve estar furiosa.
- Ela pode fazer coisas piores do que já fez. – acrescentou Nissenson.
Doumajyd não respondeu, mas a sua expressão sorridente foi trocada por uma de preocupado.
- Mas... É como uma parede, não é? – explicou Hainault – Sua mãe é uma parede que um dia você teria que atravessar. Você e a Mary.
Tanto Doumajyd quanto os outros dois pensaram nisso e concordaram com o amigo.
- Se esconder e fugir não vai mais adiantar. – concluiu o Hainault.
***
No dia seguinte, quando estava começando a amanhecer, Mary vestiu seu uniforme de Hogwarts, reuniu o mínimo necessário para ficar fora alguns dias, e saiu da mansão Doumajyd para voltar para a escola. Apesar de não precisar freqüentar o último mês de aulas, ela poderia ficar ajudando a professora Karoline na estufa, e teria um lugar.
No castelo, a meio caminho de chegar nas estufas, ela foi parada por um chamado de vozes estridentes que não ouvia há muito tempo:
- Maryyyy!
Ela se virou e se deparou com as três alunas implicantes da Sonserina vindo correndo até ela, acenando e parecendo estarem extremamente felizes por a verem ali.
- O que foi? – questionou Mary, já na defensiva.
- A festa de formatura! – falou a líder loira, como se fosse algo de conhecimento universal.
- ...O que tem? – perguntou ela sem dar importância, já que o lugar que a sua formatura ocupava em suas preocupações era praticamente o último.
- Você vai dançar com o Doumajyd no baile, não é? – perguntou a ruiva.
- Eu-
- Eu quero dançar com o Nissenson! – exclamou a terceira, não agüentando ficar calada, dando um passo a frente.
- Eu com o Hainault! – a ruiva seguiu a amiga.
- E eu com o MacGilleain! – disse a líder loira em tom sonhador, também dando um passo a frente.
- ... E daí? – Mary ainda tentava entender onde elas queriam chegar.
- Repare que nenhuma de nós pediu pelo Doumajyd. – acrescentou a líder – Isso quer dizer que você pode ficar com ele. Mas... não custa nada você pedir para os outros dragões dançarem conosco!
- Você sendo a namorada do Doumajyd, é claro que eles vão aceitar! – a ruiva explicou a lógica que elas estavam usando.
Mary encarou cada uma delas, que esperavam esperançosas por uma resposta afirmativa, e deu um suspiro cansado.
- Ok. – respondeu por fim, pensando que, no momento, seria melhor fazer de tudo para manter uma boa relação com as suas colegas, e assim não ter mais problemas.
As três quase pularam de felicidade e se despiram alegremente, voltando para as suas aulas, deixando Mary continuar o seu caminho.
***
Christopher Doumajyd entrou sem cerimônias no escritório da mãe. Esta já o aguardava, limpando cuidadosamente, com um lenço de seda, as lentes do seu óculos.
- Summer Vanderbilt se deu conta daquela sangue-ruim ou vocês a convenceram a se afastar? – a bruxa perguntou, sem dar chances para o filho começar.
- Se a convencemos ou não, o que tem? – perguntou ele.
- Pare de ser arrogante e pense na sua situação! – exigiu ela – Está mesmo falando sério?
- Estou! – disse o dragão, assumindo uma pose de certeza absoluta – Para mim só existe a Mary.
Ela o encarou por um tempo, como se estivesse usando oclumência para confirmar o que se passava dentro da cabeça do filho, e então perguntou:
- Essa é uma palavra como futuro representante do maior poder econômico da sociedade mágica?
- A aliança com os Vanderbilt não foi cancelada, não é? – ele rebateu a pergunta com outras – Então qual é o problema? Já não está tudo resolvido? Por que não volta para Nova York e acerta todos os detalhes?
- Você realmente está estudando administração, Christopher? – perguntou ela, com um quase imperceptível tom de preocupação misturado com o de arrogância na voz – Essas relações não são tão simples quanto ordenar que um objeto venha até você.
- Eu tenho uma própria teoria sobre administração e sobre como devo manter os negócios da nossa família! E, junto com a Mary, vou reconstruir o nosso nome e os Doumajyd vão ser mais fortes! Tão fortes que não vão depender de alianças para conseguirem se manter como está acontecendo agora!
Aquilo foi demais para a senhora Doumajyd. Ela podia estar aparentemente calma, mas o aro do delicado óculos que ela segurava caiu de suas mãos, partido ao meio.
- Afinal, sou o Dragão Doumajyd, não sou? – finalizou ele, e saiu do escritório.
No mesmo instante, Richardson entrou, e logo reparou no óculos partido.
- Acredito que haja muitos problemas, – comentou ele, consertando o objeto com um aceno rápido de varinha – mas também acredito que o senhor Christopher se mostrará competente.
Em resposta, a senhora Doumajyd o encarou por um tempo, e então sibilou:
- Dizem que o cão mais fiel ainda é capaz de morder a mão do dono... Nunca imaginei que isso aconteceria comigo.
Richardson engoliu em seco, entendendo perfeitamente o que a bruxa queria dizer com aquilo.
***
Mary entrou devagar na sua torre do desabafo, com uma sensação de saudades que ela não sentia com nenhum outro lugar do castelo. Onde haveria outro lugar no mundo para o qual ela poderia correr e gritar com toda a sua força?
Então, com uma vontade repentina, ela correu até a janela e gritou o mais alto que pôde:
- SE ESFORCE, DOUMAJYD!!!
E isso fez com que se sentisse melhor a respeito do que o dragão estava fazendo. Desde que saíra da mansão, estava pensando em como ele deveria estar se saindo com a conversa com a sua mãe.
- Está tudo bem.
Mary quase caiu para trás com o susto que levou e olhou em volta para conferir se estava tento uma alucinação ou coisa parecida. Mas lá estava Ryan Hainault, sentado ao lado da estátua, segurando um livro aberto nas mãos.
- Agora só resta acreditar no Chris. – acrescentou ele.
- O-o que está fazendo aqui?! – perguntou ela surpresa.
Sorrindo, ele se levantou calmamente e foi até o lado dela.
- Aqui é o melhor lugar para ler. – explicou ele – E o Chris falou que você viria para Hogwarts.
- Ah... – disse ela como se tivesse entendido, o que não era bem verdade, mas no momento ela não iria se preocupar com a educação acadêmica do amigo quando ele era o menos interessado.
- Não faça essa cara de triste. – pediu ele.
- O quê?
- Se você estiver com um sorriso no rosto, já é o suficiente para mim. Se não for assim, não vou conseguir desistir de você.
Mary o encarou preocupada, pois achava que já havia resolvido essa questão com o dragão. Mas ele começou a rir com a preocupação dela, o que a fez entender que ele estava apenas tentando a animar.
- Certo. – ela concordou, rindo também.
***
Depois de receber um chamado de Doumajyd pela esfera pedindo para que ela o esperasse em Hogsmeade, Mary se apressou em deixar o castelo para saber o resultado da conversar do dragão com a mãe. Assim que chegou ao lugar marcado, o avistou esperando por ela.
- Como foi? – ela perguntou ainda meio ofegando por ter corrido na pressa de chegar ali.
- Não sei. – disse ele rindo.
- Como assim ‘não sei’?! – perguntou ela indignada.
- Talvez eu possa estar sendo vigiado agora ou coisa assim, mas... Estamos juntos e ficar se escondendo é um saco!
- Ma-mas ela não vai causar problemas para os outros como fez antes?
- Apesar de tudo, ela é minha mãe. Se eu insistir ela vai entender, não é?
Mary o encarou demonstrando que não achava possível isso acontecer em um futuro próximo. Porém, pensou melhor e não disse nada para o filho esperançoso que havia falado com um tom tão confiante.
- Mas não devemos nos preocupar agora que a poção foi esvaziada!
Mary tentou processar o que ele dissera.
- Não é ‘agora que a poção foi derramada’?
- Para que eu derrubaria minha própria poção?!
- A poção é sua?
- Que poção?
- ...Do que você está falando? – Mary começou a rir.
- De qualquer forma, – ele tentou fazer a conversa voltar para um nível entendível – Temos que aproveitar esses momentos, não é? Vamos! – ele a pegou pela mão e a puxou pela rua.
- Ei! Onde vamos – ela protestou, mas o seguiu mesmo assim.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!