Promovida a amiga



- Sério? – perguntou uma Vicky surpresa demais com o que acabara de ouvir.
- Sério. – confirmou Mary.
- Ela parece ser uma pessoa incrível! – a garota comentou sentando ao lado da amiga na mesa da estufa, mas acrescentou assim que recebeu um olhar mortal pelo comentário – Digo, a personalidade dela, não?
- Mas não foi só isso! – continuou Mary.
- O que mais ela fez?
- A noite, quando eu estava estudando...


***


Mary tentava ao máximo se concentrar no seu trabalho de poções, mas por mais que tentasse, sua letra era um borrão tremido. Desde o que acontecera no almoço, ela estava tão alterada que não se lembrava de mais nada que havia feito durante o resto do dia. E agora ali, trancada em seu quarto sem os ruídos do resto da escola, as palavras de Summer Vanderbilt podiam reboar livremente por sua cabeça.
Cansada de se esforçar em vão, ela procurou um meio para se acalmar bem ao seu estilo: se levantou em um impulso, pegou a primeira coisa que estava ao alcance de sua mão e jogou na parede. O som de algo batendo, caindo no chão e se abrindo a fez perceber que havia jogado o presente de aniversário de Doumajyd. Os biscoitos de chocolate em forma de dragões estavam todos espalhados pelo seu quarto.
Depois de alguns instantes olhando para a cena, Mary suspirou e se ajoelhou pacientemente para juntá-los e colocá-los novamente na caixa.
Foi então que ela ouviu uma batida no vidro da sua janela e se levantou mal humorada para a abrir para que a coruja entrasse. Mas quase teve um ataque com o susto que levara ao ver que, ao invés de uma coruja, quem estava batendo na sua janela era uma garota de cabelo roxo.


***


- O que ela foi fazer lá?! – perguntou Vicky surpresa pela audácia da americana.
- Bom... na verdade, ela simplesmente apareceu lá, só isso.
- E?
- E...


***


- Por que você ia jogá-los fora? – perguntou Summer Vanderbilt com a boca cheia de biscoito de chocolate – Está uma delícia! Você deve saber cozinhar muito bem!
- Ainda não me respondeu o que veio fazer aqui! O que quer? – Mary exigiu saber, já impacientemente.
- Bom... é que... é meio sem graça ficar naquele hotel sozinha, sabe? Daí eu pensei: por que não ir lá com a pianista fracassada? Ela parece ser bem legal! – explicou ela com um sorriso repleto de biscoito.
Mary revirou os olhos e suspirou.
Depois de ter praticamente invadido o seu quarto pela janela, a metamorfomaga vasculhara cada canto do lugar fazendo comentários e falando sobre outras coisas ao mesmo tempo. Quando viu os biscoitos no chão fez questão de juntá-los novamente na caixa e, depois de experimentar um, não deixou que Mary os jogasse fora. Então pulou em cima da cama, sem cerimônia alguma, e começou a conversar com ela enquanto comia os biscoitos.
- Mas não é um problema você ficar aqui? – perguntou Mary tentando achar uma forma educada de se livrar dela.
- Não se você não contar! Mas, sabe, eu não gostei dessas alunas de Hogwarts. Você não acha que elas são um saco?
Mary teve que concordar.
- Então, você foi a única que eu gostei de conhecer! E você também é amiga do Chris e pode me falar sobre ele!
Ela chegara no ponto que Mary não queria chegar.
- Você é bem amiga dele, não? Eu vi vocês conversando naquela hora na escada. O que acha dele?
- Na verdade, eu-
- Eu pensei que vocês tinham alguma relação. Vocês têm?
- Agora não temos nada! – disse Mary rapidamente, mas só percebeu o que havia dito quando já era tarde de mais.
- Agora?... mas antes tinham?
- É, mais ou menos... Mas agora, definitivamente não.
- Ah, que bom! – a garota deixou os biscoitos de lado – Você pode falar sobre ele, não? Tipo, eu só conheço ele pela fama, não por pessoa...


***


- E aí você falou tudo sobre o Doumajyd?! – perguntou Vicky mais surpresa ainda.
- Um pouco...
- E ela não se importa com o passado?
- Estranhamente não.
- Mary... você não falou que iria ajudá-la, falou?
Ela não respondeu e passou a se concentrar em um buraco na madeira da mesa.


***


- Que bom que você vai me ajudar! – exclamou Summer contente – Isso me deixa feliz! Eu não tenho muitas amigas, sabe? Esse negócio de ser a jovem bruxa mais rica faz as pessoas terem uma idéia errada de quem eu sou, e eu não gosto disso. Mas gostei de conversar com você, Mary!... Posso te chamar assim agora? Pode me chamar só de Summer também! – ela apontou para si mesma feliz.
Mary a encarou por um tempo, pensando seriamente em encontrar um vira-tempo e voltar ao momento antes de abrir a sua janela, para fazer com que Summer Vanderbilt tivesse ficado pendurada pelo lado de fora ao invés de deixá-la entrar.


***


- Ok, ela não é mais incrível, é irritante. – concluiu Vicky – E eu acho que você está em sérios problemas.
- Mais um...
- Com licença, é aqui que... MARY!
As duas quase caíram das cadeiras em que estavam ao se virarem para ver quem havia invadido a estufa sem se anunciar.
- Ah, não. – resmungou Mary ao ver Summer Vanderbilt.
- Que horas você pode sair, Mary? – perguntou ela empolgada, sentando na mesa em frente a elas sem pedir permissão – Quer ir para Hogsmeade fazer compras comigo? Sabe, pensei em comprar essas roupas bruxas que vocês usam, mas não sei o que o Chris poderia gostar. Você me ajuda?
- É ela? – murmurou Vicky discretamente.
- Ah, você deve ser a melhor amiga da Mary, não? – perguntou a garota a encarando com um imenso sorriso.
- Sou. Desde pequena.
- Certo! Você é melhor amiga da minha melhor amiga... Então isso faz de nós melhores amigas também! – depois de chegar a essa conclusão, ela pegou a mão de Vicky e a cumprimentou exageradamente – Muito prazer, meu nome é Summer e pode me chamar só assim!
- Vi-Victory... mas pode me chamar só de Vicky.
- Prazer em conhecê-la, Vicky! Você quer vir também?
As duas se entreolharam e então olharam para a metamorfomaga que ainda esperava sorridente por uma resposta ao seu convite.


***


- O que você pretende, velha? – exigiu saber Doumajyd assim que invadiu a sala de jantar da mansão da sua família, onde sua mãe estava almoçando.
- O que quer que seja que você queira me questionar, Christopher, faça depois da refeição. Use pelo menos um pouco das boas maneiras que eu sei que um dia tentaram lhe ensinar.
- Aquela história de entretenimento! – bufou ele.
- Era entretenimento. – confirmou a senhora Doumajyd – A apresentação da sua noiva. Seu casamento já era algo decidido então achei o seu aniversário o melhor momento para tornar essa decisão pública.
- Não pode brincar assim comigo! – ele avançou para a mesa, mas foi segurado pelo secretário.
- Acalma-se, por favor, senhor Christopher. – pediu ele, que assistia a tudo pacientemente aguardando caso houvesse necessidade de interferir, como naquele momento.
- Richardson. – chamou a bruxa.
- Sim, senhora. – ele respondeu prontamente.
- Pode informar ao herdeiro Doumajyd qual é a nossa atual situação e o que pode salvar a nossa reputação?
- Sim, senhora... Senhor Christopher, devido aos vários problemas com os negócios da família, dos quais o senhor ficou ciente na sua estadia em Nova York, somente uma aliança com os Vanderbilt pode impedir a ruína do nome Doumajyd.
- Seria uma aliança única entre uma família tradicional na sociedade bruxa e uma ascendente, sendo que as duas são poderosas. – explicou calmamente a bruxa – Com o seu casamento, o poder se unificará, assim como as nossas fortunas e nossos negócios. Lembre-se, Christopher, o nome Doumajyd não pode ser mantido somente com fama e um brasão antigo, precisamos sempre de mais dinheiro para o nosso status. Será que você não é capaz de entender a importância desse casamento? Os Doumajyd estarão no topo prestigiado novamente, assim como na época de glória do seu avô.
Ela terminou a sua refeição e se levantou da mesa com a intenção de sair, mas parou ao lado do filho, que havia se perdido em pensamentos, e perguntou:
- Algum problema com isso, Christopher? – não recebendo uma resposta, ela acrescentou – Ou será que depois de ter encontrado aquela sangue-ruim após tanto tempo você quer insistir nela?
- Não é nada disso! – ele se apressou em responder.
- Excelente! – ela exclamou antes de dar as costas para ele e sair dizendo – Então fique aqui na Inglaterra por um tempo.


***


Depois de terem sido arrastadas por quase todas as lojas caras de roupas de Hogsmeade, Summer Vanderbilt decidiu que precisava de um colar novo e levou Mary e Vicky para a joalheria de peças de luxo bem no centro da cidade. E era onde as duas estavam praticamente grudando os narizes na vitrine que cercava um expositor com pulseiras:
- Que lindas! – exclamava Vicky.
- Verdade! – concordava Mary admirada – Olha aquela ali...
As duas começaram a contar os zeros na plaquinha mínima que indicava o preço e tiveram que recuar. Nem mesmo Vicky poderia arcar com uma pulseira daquelas. Então, sem graça, as duas se limitaram a continuar olhando sonhadoras para o expositor.
- O que acha desse... – a pergunta, que Summer iria fazer, ao surgir por detrás de uma estante segurando um colar, morreu na metade ao perceber que não era ouvida pelas novas amigas. Então começou a espiar curiosa – ...O que elas estão olhando?


***


Quando finalmente Summer Vanderbilt decidiu que tinha concluído suas compras em Hogsmeade, ela levou Mary e Vicky para um restaurante não muito caro, para que as duas ficassem mais a vontade usando os uniformes de Hogwarts. Assim como durante todo o dia, a metamorfomaga só tinha um assunto:
- Eu acho que o Chris está realmente sofrendo.
- Sofrendo? – perguntaram a outras duas confusas.
- Tipo, ele é o herdeiro da maior família bruxa da Inglaterra.
- Eu não acho que ele sofra por isso. – disse Mary – Talvez ele nem perceba isso por ser tão egoísta.
- Eu acho que ele realmente agüenta muita coisa sem poder reclamar. – adicionou Summer – É muita responsabilidade, não acham?
Mary ficou pensando. Enquanto Doumajyd estava em Hogwarts, ele era o herdeiro, o filho mimado e repleto de privilégios. O conhecendo como conhecia, ela não conseguia ter uma visão dele no comando dos negócios da família... Bom, talvez tivesse tido um pequeno vislumbre quando o encontrara em Nova York.
Percebendo que Mary se calara de repente e se perdera em seus próprios pensamentos, Vicky tentou salvar a amiga antes que Summer percebesse, perguntando:
- O que você gostou nele, Summer?
- O que eu gostei no Chris? – ela se empolgou e começou a dizer feliz – Ele é cheio de energia, não acham? Ele tem uma personalidade única!
- Basicamente ele é egocêntrico. – deixou escapar Mary e, ao perceber o que tinha feito, voltou toda a sua atenção para o suco que estava tomando.
Summer deu um sorriso amarelo e começou a procurar as melhores palavras para explicar a sua opinião sobre ele:
- Sabe, no meu caso, o casamento seria arranjado de qualquer forma. Se esqueceram que eu sou considerada a garota mais rica da América? Dificilmente alguém se aproxima de mim sem estar interessado nesse dinheiro. Então eu nunca tive esperança de me apaixonar. Sempre pensei que eu casaria com um cara fracote e sem graça. Mas o Doumajyd não é assim! Agora, depois de me encontrar com ele, eu acho que eu ainda posso ter uma chance de ter uma vida feliz!
Mary a encarou sem saber o que fazer. Como poderia dizer alguma coisa depois de ter ouvido aquilo?
- Você não gosta de alguém agora, Mary? – perguntou Summer.
Mesmo sabendo que a pergunta fora feita sem nenhuma má intenção, mas por pura curiosidade, Mary quase se engasgou com o suco.
- A-agora, na-não. Eu tenho os meus NIEMs e tudo mais.
- Que desperdício... – suspirou a metamorfomaga e acrescentou na tentativa de alegrá-la – Mas tenho certeza que você encontrará alguém legal!
- Obrigada. – ela agradeceu com outro meio sorriso e procurou se mostrar novamente distraída com o suco.
- E você, Vicky? Não gosta de ninguém?
- Eu? Ah, eu... na verdade...


***


- Então você não vai voltar para Nova York? – perguntou Nissenson surpreso para Doumajyd.
- Parece que vou ficar por um bom tempo... – respondeu o dragão.
Os quatro estavam reunidos em um bar bruxo perto da Academia, onde os Dragões costumavam se encontrar depois das aulas, e que havia sido eleito um substituto para a Ala de Hogwarts. Ali eles também poderiam fazer o que quisessem, com o pequeno acréscimo de não serem mais estudantes.
- E o que essas feiosas estão fazendo aqui?! Não falei que era um assunto sério?
As garotas que sentavam em volta de Nissenson e MacGilleain olharam escandalizadas para o líder do D4, mas receberam a mesma ordem de se retirarem dos outros dois dragões e tiveram que sair.
- Não me diga que você tem que ficar por causa desse casamento arranjado? – perguntou MacGilleain ao mesmo tempo em que fazia um sinal para Hainault indicando que agora haviam mais lugares na mesa e que ele poderia deixar de ler o seu livro sozinho em uma poltrona.
- Não! – rosnou Doumajyd – Não vou me casar com aquela macaca!
- Bom, achei que ela é uma garota engraçada, não acha? – comentou Nissenson.
- Não podemos compará-la com a Crowley, mas até que não está mal para um casamento arranjado. – ajudou MacGilleain.
- É claro que não! Ela não tem... tem... ‘arquitibus’.
Os outros três o encararam por um tempo sem entenderem e então se entreolharam, tentando chegar a uma conclusão sobre o que ouviram:
- Nossa, essa é difícil... Arquivos? – tentou Nissenson.
- Artigos, sei lá. – chutou MacGilleain.
- Pelo contexto do que ele estava falando antes, acho que ele quis dizer algo como qualidades... – filosofou Hainault e então sugeriu – Atributos?
- Do que estão falando? – perguntou Doumajyd.
- Isso já não é mais um diálogo. – suspirou Nissenson.
- Está como sempre ou piorou? – perguntou MacGilleain rindo.
Enquanto os dois riam, Hainault tentou fazer a conversa voltar ao pé que estava antes de Doumajyd fazê-la perder totalmente o sentido, perguntando algo que já o incomodava há algum tempo:
- Chris? Você já desistiu da Mary?
Foi a vez de Doumajyd encará-lo sem responder. Mas, apesar dele não falar nada, Hainault podia perceber que uma avalanche de pensamentos passavam pela sua cabeça como resultado daquela pergunta aparentemente simples.
- Eu queria saber... – continuou Hainault com a sua calma de sempre – Se você não se importa mais com a Mary.
O líder do D4 parecia querer dizer algo, mas não encontrava um jeito de começar. Então ele respirou fundo e tentou:
- Ryan, você sabe como a minha família tem influência em praticamente toda a sociedade bruxa do mundo, não? Logo, eu vou estar no comando dessas influências. Enquanto estava em Hogwarts, eu ainda não tinha uma noção muito clara disso, mas depois que eu fui para Nova York... Enfim, eu conheci como funcionam nossos negócios e como nós apoiamos milhares de pessoas. Elas dependem de nós... Você me entendem, não? Também são herdeiros, também vão assumir o lugar dos pais de vocês!
- Você está dizendo algo sério? – perguntou MacGilleain franzindo a testa.
- Para falar a verdade, procuro não pensar nisso ainda. – comentou Nissenson.
- Por isso vocês, mesmo com toda essa pose, ainda são pirralhos! – reclamou Doumajyd cruzando os braços e demonstrando seu total mau humor.
- Chris, esse seu discurso sobre ‘pessoas que dependem de você’, quer dizer que você vai aceitar o casamento com a Vanderbilt? – perguntou Hainault.
- Não! Quer dizer, sei que meu casamento é algo que vai decidir o futuro dos Doumajyd, mas... Aquela macaca não!
- Eu acho que ele é o quem está mais confuso sobre tudo. – concluiu Nissenson.
- Se você não quer isso então é melhor resolver logo, Chris. – aconselhou MacGilleain – Sua mãe parece já estar muito a frente da sua vontade.
- Ela está... – sibilou Doumajyd se levantando irritado.


***


- Sério, eu posso levá-las até Hogwarts sem ninguém vê-las entrando!
- Tudo bem, não precisa! – Mary tentava recusar aducadamente o oferecimento da metamorfomaga.
Ainda tinha a imagem de uma Summer Vanderbilt pendurada pelo lado de fora da sua janela muito viva para pensar em fazer uma loucura semelhante.
- Então... Pra vocês! – ela fez com que dois embrulhos surgissem na frente de cada uma e acrescentou com um imenso sorriso – É um agradecimento por vocês terem perdido o resto do seu dia comigo!
- Agradecimento? – Vicky pegou o embrulho curiosa.
- NãAh! – Mary teve que pegar o seu embrulho antes que ele caísse no chão – Não precisava!
- Mais uma vez obrigada e até mais! – e ela desaparatou sem dar mais chances para Mary recusar.
Mas ao ouvir a exclamação de Vicky ao abrir o seu embrulho, Mary não resistiu a curiosidade e abriu o seu também.
Lá estava uma das pulseiras de vários zeros, de ouro brilhante e reluzente.
- Ah, meu Merlin! – exclamou Mary não acreditando no presente.
- Está tudo bem aceitar isso dela, Mary? – comentou Vicky, fazendo o seu bom senso prevalecer sobre o encantamento da jóia – É muito caro e ela acabou de nos conhecer...
- É realmente um problema enorme, não? – suspirou Mary sem conseguir tirar os olhos do presente.
- Mas... eu não achei que ela é uma pessoa ruim. Ela parece ser alguém séria... Um pouco estranha, mas séria.
- Eu diria que ela é complexa, e por isso um problema... Vamos voltar para o castelo antes que fique muito tarde...

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