Seja Feliz



- O senhor Vanderbilt é famoso nos Estados Unidos pela produção das Chaves de Portais para deslocamentos transcontinentais, que são vendidas em todo o mundo. – comentava o bruxo em cima do palco, enquanto a garota era conduzida até ele – E a senhora Vanderbilt é um nome de referência na moda bruxa. A senhorita Summer Vanderbilt resplandece como a jovem bruxa mais rica da América segundo uma pesquisa realizada pela revista Magic&Life desse início de ano!
- Então tem a ver com os pais dela... – murmurou Nissenson em um tom de quem havia compreendido tudo.
- Como assim? – perguntou Mary, demonstrando uma grande ansiedade em saber quem era aquela garota.
- Mary, você entende o que o nome Doumajyd representa aqui na Inglaterra e no mundo, não? – MacGilleain perguntou para tentar explicar da melhor forma possível.
- Sim. – respondeu ela e acrescentou somente em seus pensamentos um ‘e como’.
- O nome Vanderbilt tem o mesmo poder dos Estados Unidos. A única diferença é que eles não são uma família com uma tradição de longa data.
Mary entendera perfeitamente o que os três dragões estavam pensando, bem ao contrário da pobre da moça que parecia não ter entendido nada do que estava acontecendo com ela. Logo que chegou ao palco ela perguntou ao bruxo sorridente:
- É uma pegadinha ou coisa assim? Eu estou participando de algum jogo? Desculpa, mas eu não estava prestando atenção. Eu vou ganhar algo?!


***


Enquanto Summer Vanderbilt questionava o bruxo responsável pela condução das atrações da festa em cima do palco, sem dar tempo para que ele lhe desse uma resposta, Doumajyd aproveitou a distração dos convidados para falar com a sua mãe, mas esta já saia calmamente pelo outro lado do palco.
- Ei, velha! – ele a seguiu e a segurou pelo braço antes que ela pudesse descer – Que tipo de brincadeira é essa?
- Eu quero que você retome a sua consciência de um Doumajyd. – disse ela delicadamente, soltando a mão dele com um gesto rápido de varinha.
- Eu... eu tenho consciência disso! – ele tentou soar firme.
- É mesmo? – perguntou ela com um tom de incredulidade, voltando a sair do palco – Por hora considere isso um atrativo da festa e aproveite o seu aniversário. Depois conversaremos. Volte para o palco!
Sabendo que não adiantaria discutir com a mãe naquele momento, e consciente de qual deveria ser o seu comportamento naquela festa, ele voltou para o meio do palco.


***


- A mãe do Chris pensou em tudo, não? – disse Nissenson, não acreditando que a garota em cima do palco ainda não havia entendido o motivo de estar lá.
- Mas acho que o Chris não estava sabendo de nada. E essa garota também não. – comentou MacGilleain.
- É claro que ele deveria saber! – afirmou Mary deixando transparecer como estava se sentindo a respeito daquilo.
- Mary. – Hainault usou um tom repreendedor que a fez perceber como estava agindo de uma forma ciumenta para quem não tinha mais relação alguma com o líder dos Dragões, e a fez continuar assistindo calada – A pobre moça realmente parece não saber de nada.
Procurando fazer algo a respeito da raiva que borbulhava dentro de si, Mary tratou de pegar um prato e encher com qualquer doce que estivesse ao seu alcance na mesa, e depois os devorou sem tirar os olhos do palco.
- Será que eu deveria cantar alguma coisa já que estou aqui? – a garota perguntou sorridente para os convidados que concordaram com a sugestão aplaudindo.
No mesmo instante ela correu até onde estava a orquestra e pediu licença para usar o piano.
- Ela parece ser engraçada... – comentou Nissenson, mas a cotovelada disfarçada que recebeu de MacGilleain e o fez perceber a aura assassina que Mary emanava ao arrancar grandes pedaços dos doces, e então ele tratou de guardar os seus comentários.
- É uma canção que eu mesma fiz! – disse ela sentando em frente ao piano e começando a tocar.
- Ela fez? – se perguntaram Nissenson e MacGilleain mais surpresos.
E, por mais que Mary não quisesse admitir, ela tocava e cantava incrivelmente bem. Tão bem quanto Karina Crowley no Totalmente Bruxa. Mas no estado em que estavam suas emoções, a canção somente a fizera conseguir achar um rosto para a loira cantora que acompanhava Doumajyd nas festas em Nova York. Ela pensava que poderia possivelmente ser a senhorita Summer Vanderbilt, com a sua incrível capacidade de mudar o cabelo.
- Ela está cantando mesmo... – murmurou Hainault também surpreso.
Mary mordeu o garfo com raiva e lançou um olhar mortal para ele. Por que até o dragão indiferente também se deixara surpreender por ela?
A garota terminou a sua canção, finalizou a melodia com o piano e então se levantou agradecendo os aplausos com uma grande reverência:
- Obrigada, pessoal! Aproveitem a festa e experimentem os bolinhos de abóbora! Estão ótimos! Eu garanto!
Mary olhou para o bolinho de abóbora em seu prato e desistiu totalmente de comer doces.
- Ela é uma moça corajosa, não? – perguntou a senhora Doumajyd surgindo atrás dela e quase a fazendo se engasgar com o que ainda mastigava.
- Há quanto tempo, senhora. – MacGilleain a cumprimentou educadamente e foi assim que ela percebeu a presença dos amigos do filho ali.
- Ora, os três juntos... – a bruxa comentou.
- É o aniversário do Chris, não poderíamos perder! – disse Nissenson com um grande sorriso.
- Sem vocês ao lado dele, o cérebro derretido do Christopher está se recompondo aos poucos. – retrucou ela, sem nem ao menos dignar-se a olhar diretamente para eles, e então continuou em um tom de provocação para Mary – A senhorita Vanderbilt é, com certeza, apropriada para o herdeiro dos Doumajyd, não acha?
Mary segurava o garfo e o prato com força nas mãos, se controlando para não usá-los da mesma forma que estava imaginando usar no momento para responder à senhora Doumajyd.
- Agora teremos mais uma apresentação de piano! – anunciou o bruxo em cima do palco – Pedimos que a senhorita Mary Ann Weed venha aqui nos presentear com seus dotes musicais!
Mary demorou alguns instantes para perceber que o nome que ele havia falado era realmente o seu.
- O quê?! – ela soluçou com o susto olhando do palco para os dragões ao seu lado.
E então olhou para a senhora Doumajyd e percebeu que ela lhe lançava um olhar desafiador por cima dos óculos de lentes de cristal.


***


Ao ouvir o nome de Mary, Doumajyd levou um tremendo susto. Achava que já tinha sido o suficiente sua mãe ter lhe arranjado outra noiva, mas não esperava que ela ainda planejasse mais alguma coisa para aquela noite.
Enquanto o bruxo responsável pelas apresentações falava que Mary era aluna de Hogwarts e que era amiga dele antes de se formar, que ela fora a vice-campeã na última edição do Totalmente Bruxa e que portanto era uma moça talentosa, o dragão a viu largar em uma mesa um prato cheio de doces que segurava, gaguejando alguma coisa para as pessoas a sua volta. Então Hainault se posicionou atrás dela e lhe disse algo em voz baixa. O que quer que ele tenha lhe dito, a fez respirar fundo e seguir, ainda meio insegura, pelo caminho que levava até o palco.
Ao lado dele, Summer Vanderbilt dava pulinhos e acenava para Mary, provavelmente achando que a garota era alguém realmente conhecida por seus talentos na sociedade bruxa inglesa, e estava feliz por estar tendo aquela oportunidade em conhecê-la.
Assim que pisou no palco, Mary tirou os olhos do chão e o encarou rapidamente, como se por um momento não tivesse resistido à vontade de ver que expressão que ele fazia em vê-la ali. Mas foi tão rápido que o dragão não teve a mínima chance de lhe passar algum sinal de que ele não era culpado pelo que estava acontecendo. No mesmo instante, os convidados começaram a bater palmas, e Mary seguiu para o palco, praticamente tropeçando em seus próprios pés.


***


Mary se sentou onde há pouco tempo atrás esteve a bruxa americana, colocando o seu presente ao seu lado, e olhou incerta para a partitura a sua frente. Era algo tão desconhecido para ela quanto as runas que provavelmente estariam nos seus exames de NIEMs. E ela lhe fizera o imenso favor de se esquecer completamente a melodia simples que havia aprendido no seu treino intensivo para o Totalmente Bruxa. Sem saber direito o que fazer, ela colocou os dedos sobre as teclas e olhou disfarçadamente para Doumajyd, ainda parado no meio do palco, olhando em sua direção assim como todos os convidados.
Derrotada, ela só conseguiu pensar em somente uma outra possibilidade que não fosse aparatar para bem longe dali.


***


Tanto Doumajyd quanto os convidados abaixo do palco olhavam abobados para Mary espancando as teclas do piano de qualquer jeito com as mãos. A única que parecia estar encontrando um sentido no que estava acontecendo era Summer Vanderbilt, que batia palmas e dizia para o bruxo ao seu lado:
- É um novo estilo?! Muito bom, não acha?!
Era mais do que visível que Mary estava descarregando uma raiva intensa no pobre do piano.
- Ela estourou... – comentou Nissenson boquiaberto diante do que via, assim como os amigos ao seu lado.
A senhora Doumajyd assistia a tudo, bebendo calmamente da sua taça e mantendo o seu sorriso de triunfo. Então, como se tivesse decidido que já era o bastante, ela se dirigiu ao palco.


***


- Ela continua a mesma... – comentou Doumajyd não sabendo se ria ou se arrancava Mary do piano antes que esse quebrasse o chão e levasse toda a orquestra junto com ele.
Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, sua mãe surgiu novamente no palco, paralisou Mary para que ela parasse de tocar e anunciou para os convidados:
- Senhoras e senhores, me perdoem por isso. Foi algo não premeditado. – e então ela voltou-se para Mary, lhe livrando do encanto – Por hoje é só, senhorita.
Visivelmente indignada por tudo o que acontecera, Mary levantou do piano procurando lançar o olhar mais mortal possível para todos os Doumajyd a sua frente, pegou o seu embrulho e atravessou o palco para ir embora.
Ao passar pelo dragão, ele a ouviu murmurar:
- Seja feliz.
Como se essas palavras contivessem um encanto poderoso, Doumajyd se esqueceu de toda a pose que deveria manter durante a festa e gritou:
- Eiii! – saindo correndo atrás dela logo em seguida, abrindo caminho entre os convidados e não dando chance para que sua mãe o segurasse.


***


Quando Mary já estava no hall de saída do hotel onde era realizada a festa de aniversário do herdeiro Doumajyd, ela o ouviu a chamando:
- Mary! Espera!
Mesmo estando furiosa com tudo o que acontecera, e repetindo para si mesma para não dar ouvidos a ordem, ela parou por ele a ter chamado pelo primeiro nome.
- Por que está aqui?! – perguntou Doumajyd assim que conseguiu alcançá-la.
- Fui convidada por sua mãe! – ela respondeu, se mostrando totalmente contrariada em estar falando com ele.
- Mas que droga, Weed! Se a velha a convidou era óbvio que ela ia fazer alguma coisa!
Mary se virou para ele demonstrando todo o seu estado de fúria, que havia só se intensificado por ele estar ali gritando como se a culpa fosse dela.
- É claro que ela iria aprontar alguma coisa, idiota!
- Você continua o mesmo! – ela rosnou – Mesmo tendo visto tudo o que aconteceu hoje, você só consegue ser excepcionalmente grosso!
- Eu... – ele deu um passo à frente, avançando para ela, como se tivesse a intenção de continuar em altos brandos aquela discussão, mas parou de repente.
Mary o encarou desconfiado, se preparando para o que quer que o dragão fosse rugir, mas então percebeu que ele olhava para as suas mãos. E foi quando ela lembrou que ainda segurava firmemente o embrulho com o presente.
- Isso é o meu presente? – ele perguntou baixinho – Você... mesmo sabendo que a velha iria fazer alguma coisa, você veio para me ver?
Mary escondeu o embrulho atrás dela, não sabendo o que fazer com ele, e disse:
- Cla-claro que não!
- Que tal vocês darem o fora daqui? – perguntou MacGilleain surgindo no hall, junto com os outros dois dragões.
- Quê? – perguntou Doumajyd confuso com a sugestão.
- Vocês dois precisam conversar e aqui não é um bom lugar. – ajudou Nissenson.
- Eu não tenho nada para falar com ele! – Mary declarou teimosamente.
- Exatamente. – disse uma voz fria vindo calmamente para onde eles estavam, e todos viraram para encarar a senhora Doumajyd – Uma sangue-ruim não tem nada para falar conosco. Se quiser pode ir embora, não iremos sentir a sua falta na festa. Agora você tem que estar lá, Christopher! Não haveria lógica a festa sem o aniversariante!
- Desculpa a intromissão, mas já me intrometendo...
Surpresa a senhora Doumajyd, se virou para se deparar com uma Summer Vanderbilt muito sem graça atrás dela.
- É que – começou a moça, mas foi interrompida pela bruxa.
- Me perdoe, senhorita Vanderbilt, mas poderia esperar só mais um minuto?
- É que simplesmente jogaram aquelas luzes em cima de mim e eu achei que deveria fazer alguma coisa! – disse ela rapidamente, não ouvindo o que a bruxa dizia – Desculpe se acabei passando dos limites fazendo um showzinho, mas era tudo brincadeira, não? Sobre essa coisa do casamento e-
- Não é brincadeira. – lhe explicou a senhora Doumajyd com um imenso sorriso – Há algum tempo converso com seus pais e isso já foi precisamente decidido.
- ...Sério? – a garota perguntou chocada e no mesmo instante o seu cabelo passou de roxo brilhante para um azul pálido.
- Não brinque, velha! – Doumajyd não conseguiu ficar calado diante da atitude calculista da mãe – Só faz as coisas sem pensar nos outros! Não suporto isso!
- Também não suporto quem faz as coisas pensando só em si mesmo. – ela retrucou devolvendo a acusação.
Se irritando com a provocação da mãe, Doumajyd simplesmente deu meia volta e pegou a mão de Mary, ordenando:
- Vamos!
- Espera! Temos que resolver isso! – Summer Vanderbilt o segurou antes que ele pudesse sair.
- Espera! – disse também Mary tentando se soltar.
- VAMOS LOGO! – rugiu o dragão e a puxou para fora do hotel, sumindo de vista logo em seguida.

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