Retorno ao lar.
*autora entra de mansinho e na ponta dos pés*
- Lumus!
*autora sai de fininho e na ponta dos pés*
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Estava compenetrada escrevendo anotações em um pergaminho, intercalando essa ação com a leitura de um livro de transfiguração. Um silêncio aconchegante rodeava o ambiente, o que tornava o clima perfeito para a sessão de intensiva revisão que ela estava fazendo. O único som audível era o roçar da pena no papel ou as páginas do livro quando eram esporadicamente viradas.
Franziu o cenho ao ler certa citação do livro. Releu o parágrafo, mas ainda assim pareceu não entender bem o que ele queria dizer. Coçou o nariz com a pena que tinha nas mãos e acabou espirrando involuntariamente. Olhou com uma careta para a pena, sacudiu a cabeça e olhou para o lado, deparando-se com a figura de um rapaz, que estava muito quieto, estirado na cama. Só então ela lembrou-se da presença dele, pois o jovem, que passara grande parte do tempo resmungando por ter de estar ali, estava tão calado que ela acabou por esquecer que não estava sozinha.
- Rony, eu não entendi bem qual o movimento exato que se deve fazer com a varinha em um feitiço... Rony? – repetiu Gina ao notar que o irmão não lhe deu a menor atenção; aliás, pareceu nem tê-la escutado – Alô! – exclamou um pouco mais alto abanando a mão em frente ao rosto dele.
- Ahn? Ah, que foi... – respondeu meio aéreo colocando de lado o pergaminho que estava lendo e fitando a irmã.
- Que foi? Estou te chamando e você parecia sequer estar me escutando. O que foi que te deu?
- Nada! – respondeu secamente enquanto dobrava o pergaminho e o guardava no bolso da calça.
Gina agora pôde reconhecer o papel. Lançou ao irmão um olhar que mesclava o carinho e a compreensão. Sentou-se na cama ao lado dele.
- Eu sei que você sente falta dela, mas não precisa ficar irritado desse jeito. Você acaba descontando sua raiva em pessoas que não tem nada a ver com isso.
- Do que você está falando? – perguntou Rony um pouco exaltado encarando Gina nos olhos, mas ao vê-la erguer as sobrancelhas em descrença, desviou o olhar.
- Ora Rony, não se faça de burro e nem ouse achar que eu sou idiota. Você passou a manhã toda reclamando por ter de ficar aqui me ajudando com os estudos e de repente ficou mudo. Daí te pego relendo pela milésima vez a carta que a Mione te enviou de manhã, sem contar essa sua cara de salame azedo e esse mau humor irritante com que você anda desde que a Mione foi embora. – Gina disse tudo de uma vez; parou, tomou um pouco de ar e tornou a falar, só que um pouco mais calma – Você deve entendê-la Rony. Ela merece passar um tempo com os pais. Além do mais, logo você irá vê-la novamente.
Rony baixou a guarda, deitou de peito para cima e passou a mirar o teto do quarto da irmã.
- Você não entende Gina! Só diz isso por que tem o Harry por perto. Não tem de passar todo esse tempo longe dele.
Gina pensou em dar uma resposta mal criada a ele, mas optou por explicar, ou melhor, relembrar a sua situação para o irmão cabeça dura.
- Agora sim. – disse.
Rony olhou pra ela confuso.
- Quê? – perguntou.
- Agora sim! Realmente, agora eu o tenho por perto. – Gina dizia olhando para janela, parecendo levemente incomodada e bastante sem-jeito por estar conversando sobre isso com o irmão - Mas não esqueça que isso, tanto quanto seu namoro com a Hermione é bem recente. Eu passei meses longe do Harry sem sequer saber se tornaria a revê-lo, e, caso ele voltasse são e salvo, não tinha como saber se ainda teria algo com ele. Acredite que o que eu passei não foi nada fácil.
Rony olhou de forma estranha para a irmã, como se não a reconhecesse, aliás, como se a estivesse vendo pela primeira vez. Ela não parecia ter apenas dezesseis anos. Sentiu-se envergonhado por agir feito um idiota, e principalmente por ouvir sermão de sua irmã mais nova, e ainda mais por ser obrigado a admitir que ela estivesse certa em absolutamente tudo que disse.
- Me desculpa Gina. Acontece que eu realmente estou sentindo falta da Mione. – disse um pouco corado, fazendo a irmã sorrir admirada com o enorme esforço que ele deve ter feito para admitir isso – E também estou preocupado com o Harry sozinho no ministério para tentar inocentar aqueles abutres nojentos.
Gina desfez o sorriso na mesma hora ao lembrar-se do namorado. Ela realmente desejava de todo coração estar junto dele no momento, mas já que estava com Rony, era melhor prestar um pouco de auxílio a ele.
- Ah Ron, o Harry vai se sair bem como sempre. Você sabe disso. – ela mesma tentava se convencer de suas palavras, mas afinal, o que poderia dar errado? – A única coisa na qual temos que lamentar é o fato de que, provavelmente, a família Malfoy vai se safar mais uma vez.
- Mas ainda há esperança, não há? Quem sabe o ministério ache que seja justo uma boa condenação àqueles miseráveis. – comentou Rony já parecendo mais animado.
- Hum, duvido muito Ron! Não com um depoimento do Harry a favor deles. Se uma simples citação em uma entrevista já teve um peso enorme em auxílio deles, imagine um depoimento... acho melhor nos conformarmos que, provavelmente, teremos de rever a doninha albina do Malfoy em Hogwarts novamente daqui a algumas semanas. – disse a garota conformada.
Rony deu um suspiro pesado e olhou para os diversos pergaminhos ao redor dele, espalhados sobre a cama.
- Acho melhor voltarmos a estudar. Qual a parte que você não entendeu aí? – disse ele apontando para o livro de transfiguração que estava aberto no chão.
- Ah, sim. Deixe-me ver... – Gina apanhou o livro, o folheou até a página que queria e sentou ao lado do irmão com o livro aberto nas pernas apontando para um ponto específico da página – Olha aqui... Esse parágrafo diz que pra realizar esse feitiço, devemos dar um floreio com a varinha no sentido oposto ao que o objeto...
Rony fingia escutar o que a irmã dizia, mas sua atenção se voltou à figura dela. Foi com um grande susto que ele enfim pôde se dar conta da bela mulher em que ela estava se transformando, não só fisicamente, mas moralmente também. A personalidade dela era algo invejável, tão forte, decidida e cheia de determinação que às vezes era difícil crer que ela tivesse tão pouca idade. Deu-se conta de que não fazia o menor sentido ter ganas de protegê-la como se ela fosse um frágil objeto de porcelana, pois ela tinha total capacidade de se cuidar, e ainda de cuidar dos outros. Sorriu. Nunca havia se dado conta do quanto a amava. Teve vontade de abraçá-la, mas não conseguiu, não soube por que, mas achou melhor não fazê-lo. Teve um sobressalto quando notou aqueles enormes olhos castanhos tão perto de seu rosto.
- Viajando de novo maninho? – perguntou Gina com um ar sapeca.
- Talvez um pouco... – respondeu Rony tentando esconder o sorriso – Agora me de isso aqui! - e tomou o livro das mãos dela, passando a ler o parágrafo que a irmã tinha lido.
Gina sorriu internamente e passou a acompanhar a leitura do irmão, fingindo não ter entendido o motivo do sorriso dele.
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Assim que aparatou próximo a entrada para visitantes do ministério, Harry achou que tinha ido parar no lugar errado, pois sentiu um peso nos ombros e só o que via a sua frente era um emaranhado de fios marrons. Uma vozinha gritava seu nome em seu ouvido. De início levou um belo susto, mas assim que reconheceu aquela voz, devolveu o abraço que recebia.
- Mione, o que você está fazendo aqui? Eu quase aparatei em cima de você. – assim que se afastou da amiga, Harry percebeu que os pais dela também estavam ali, e pareciam um pouco impressionados, talvez pelo fato de não estarem muito acostumados a verem dois bruxos aparecerem de repente do nada, bem em frente a eles.
O Sr. Weasley apressou-se a cumprimentar os Granger cordialmente. Hermione, aproveitando que a atenção deles se desviou para o bruxo, se voltou ao amigo novamente.
- Ah, Harry, eu não pude deixar de vir! Eu mal consegui dormir essa noite de tão nervosa com essa audiência. Você está bem?
- Estou Mione. Um pouco ansioso talvez, mas bem!
- E o Rony e a Gina? Eu apostei que os encontraria aqui com você. – Harry não deixou de perceber o leve desapontamento da amiga.
- A Gina não pôde vir, pois ainda tinha muita matéria pra estudar, e o Rony acabou ficando pra ajudá-la. Bom, pra falar a verdade, ele foi obrigado a ficar. – explicou Harry.
- Aposto como ele não deve ter ficado nada satisfeito com isso. – comentou Hermione risonha, imaginando a cara que o namorado deve ter feito.
- Nem um pouco. – disse sorrindo.
- Harry Potter! Você cresceu bastante rapaz! – comentou o Sr. Granger aproximando-se do rapaz e lhe apertando a mão de maneira cortês.
- É muito bom revê-lo meu jovem. – a Sra. Granger sorriu bondosamente.
- Igualmente Sra. Granger. – respondeu o jovem educadamente.
- Na verdade gostaria aproveitar a ocasião e lhe dar os parabéns. Se tudo que a nossa filha nos disse for verdade, você é um verdadeiro herói. – disse o Sr. Granger.
- Ah, obrigado! – respondeu Harry bastante embaraçado.
- E olha que eu não disse nem a metade. – Hermione sussurrou no ouvido do amigo.
Harry já ia tentar dizer que não teria conseguido nada sem a ajuda da amiga, mas foi cortado pelo pai da mesma.
- A nossa Mimi nos contou sobre a sua audiência. Viemos até aqui, pois ela não parava quieta nem um segundo em casa. Ficava andando de um lado para outro e acho que já não tinha mais unhas para roer, não é, querida? – o homem olhou para a filha com carinho.
- Não é bem assim, papai! – Hermione tentou replicar.
- É sim! – reforçou a mãe da moça – Nós viemos por que sabíamos que essa era a única forma de acalmá-la um pouco.
- Eu imagino que sim. – disse o Sr. Weasley consultando seu velho relógio de bolso – Mas nós precisamos ir, Harry. A audiência deve começar em poucos minutos.
- É verdade! Percy aparatou um pouco antes de vocês e disse que você não demoraria a chegar, pois a audiência seria ainda pela manhã. – disse Hermione olhando para o amigo.
- Bom, então é melhor andarmos logo. Não quero ser o responsável pelo atraso de vocês. Boa sorte meu jovem. – O Sr. Granger tornou a apertar a mão de
Harry.
Já a Sra. Granger surpreendeu o moreno. O abraçou carinhosamente, lhe depositando um beijo no rosto. Harry sentiu-se como uma criança sendo deixado pela mãe na escola em seu primeiro dia de aula.
- Boa sorte, querido. – murmurou, o soltando em seguida com um sorriso no rosto que ele considerou uma réplica do sorriso da amiga.
- Eu não vou desejar boa sorte. Eu sei que vai dar tudo certo! – disse Hermione com um olhar confiante.
Os pais de Hermione se afastaram um pouco e passaram a se despedir do Sr. Weasley, que começou a sugerir um almoço entre as famílias.
- Obrigado por vir Hermione. Você não cansa de me surpreender, não é? – Harry achou aquelas palavras vagas para demonstrar o quanto a presença da amiga ali estava sendo importante para ele.
Hermione sorriu e o abraçou novamente. Não disse mais nada, pois não achou necessário. Assim que o soltou, andou até junto dos pais e, após despedir-se do Sr. Weasley, caminhou em direção a um carro que estava estacionado não
muito distante deles.
Assim que o carro dobrou a esquina, Harry sentiu um leve embrulho no estômago. Desejou que Hermione não tivesse ido embora.
- Vamos filho. – ouviu a voz do Sr. Weasley e sentiu as mãos dele em seu ombro, lhe passando força.
Harry não olhou para o bruxo ao seu lado, apenas acompanhou-o até a entrada daquele prédio que lhe trazia lembranças nada agradáveis.
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Desde o momento que entrara naquele lugar só o que ele sentia era vontade de sair dali. Apesar de todas as mudanças ocorridas nos últimos tempos, Harry não sabia dizer se certas coisas, um dia, poderiam mudar para ele. Na verdade, agora, ele tinha sérias dúvidas disso. O ministério praticamente parou com sua presença ali e, conforme andava, as pessoas abriam caminho para que ele passasse e os malditos burburinhos o seguiam para onde quer que fosse.
A gota d’água foi ver que nem mesmo sua varinha foi testada e confiscada na entrada, como era de costume com todos os visitantes. Sentiu uma raiva tremenda disso. Teve uma vontade louca de exigir que parassem de cochichar, que parassem de lhe reverenciar como se ele fosse Deus e que pegassem sua varinha como fizeram há algum tempo atrás e faziam com todos os outros visitantes. Foi um tremendo alívio chegar até os elevadores e entrar em um completamente vazio juntamente com Arthur Weasley.
- Não fique assim, Harry. Um dia isso vai passar. É só uma questão de tempo. – disse o Sr. Weasley, que estava atento ao desconforto do jovem.
Harry não respondeu, até por que era bem mais seguro manter a boca fechada, tanto por não saber o que a raiva o obrigaria a dizer como pelo receio de vomitar ali mesmo. Apenas quando chegaram ao andar em que seria a audiência e começaram a caminhar em direção a um corredor desagradavelmente familiar que os levaria até a sala que faria seu depoimento foi que Harry se deu conta de onde estavam e isso não ajudou em absolutamente nada.
Mesmo tendo, por vários minutos, tentado de todas as formas se manter com uma postura segura e um ar natural, era difícil não se sentir nervoso enquanto caminhava em direção àquela sala que lhe trazia recordações nada agradáveis. O pior era ter a certeza de que, mais uma vez, teria de entrar lá para resolver mais um assunto difícil.
- Harry... - o jovem não teve bons presságios ao ouvir o tom angustiado com que o Sr. Weasley chamou seu nome, mas não tardou a descobrir o por que dessa atitude.
Draco Malfoy estava ao lado dos pais logo no final do corredor. A postura arrogante, a pompa na vestimenta e o nariz empinado continuavam presentes, mas algo estava diferente. Os três olhavam de uma maneira estranha para ele, o que causou uma sensação extremamente desagradável em Harry. Mas ele ficou satisfeito em constatar que o seu nervosismo havia passado. De repente lembrou-se o motivo de estar ali e sentiu-se seguro, afinal, dessa vez não era seu destino que estava em jogo, e sim o de outras pessoas, e esse destino dependia exclusivamente dele.
- Pode deixar Sr. Weasley, eu posso continuar sozinho daqui! - Harry disse com convicção e parecendo seguro de si, sem tirar os olhos do trio, retribuindo com a mesma intensidade os olhares que recebia.
- Boa sorte, filho. – o Sr. Weasley deu uma última olhada na família parada logo à frente, deu um tapinha carinhoso nas costas de Harry e retirou-se um pouco relutante do lado dele.
Harry não tirava os olhos do trio, mas a pessoa que ele mais estava interessado em estudar era a que parecia mais assustada ali, por mais que tentasse não demonstrar. Ele, por um momento fugaz, achou ter visto nos olhos de Narcisa um brilho apagado, quase desesperado, como se estivesse suplicando por algo. Mas logo passou, e isso o deixou desconfortável. Talvez por isso tenha, enfim, desviado os olhos dali. Era estranho, quase insuportável encará-la dessa forma depois de tudo que havia acontecido.
- Olá Harry!
Aquela voz extremamente grave e aconchegante o fez relaxar um pouco mais. Conseguiu até soltar um pouco mais o ar dos pulmões. Virou-se e encontrou o Ministro da magia logo atrás dele.
- Kinsgley?! – por mais que a presença do bom amigo o tranqüilizasse bastante, não pôde deixar de surpreender-se com a presença dele ali. – Imaginava que você tivesse coisas muito mais importantes a resolver agora que é ministro.
O comentário de Harry o fez sorrir.
- Você acha mesmo que essa audiência não é o acontecimento mais importante que tenho pra resolver hoje? Acredite Harry, não se fala em outra coisa nos últimos dias por aqui que não seja o depoimento que você prestaria no caso dos Malfoy. Eu serei o juiz desse caso assim como fui dos outros, afinal, não gostaria que muitas injustiças mais fossem cometidas. Tive muito trabalho com essa audiência, a começar pela proibição da presença da imprensa bruxa por aqui. Apenas permiti que a Srta. Williams, do Profeta Diário, cobrisse o “evento”, pois acho que ela já provou ser de confiança, não acha?
Harry confirmou com a cabeça e mais do que nunca sentiu um arroubo de afeição pelo bruxo à sua frente. Ele realmente tinha amigos de verdade.
- Obrigado Kingsley. – agradeceu.
- Não se preocupe! Só o que peço é que desminta todas as calúnias que os meios de comunicação bruxos irão levantar contra mim. Depois dessa, acho que perdi a minha credibilidade com eles. – comentou descontraído, não parecendo nem remotamente preocupado com isso – Agora vamos, a audiência irá começar em instantes.
Harry tornou a olhar para o local que há pouco estavam os Malfoy e assustou-se por não encontrá-los mais ali.
- Eles já foram levados para dentro da sala. Irão depor antes de você. – Kingsley respondeu a pergunta muda de Harry - Aguarde próximo a porta até que o chamem.
O jovem confirmou e Kingsley entrou na sala, deixando-o sozinho novamente com seus pensamentos.
Alguns minutos se passaram até que um bruxo idoso o chamou, mais rápido do que ele esperava. Harry levantou decidido e entrou na sala.
Aquela sala circular já era um local que Harry considerava bastante familiar. Ali, já havia visto comensais serem condenados e, inclusive, ele próprio já havia sido julgado, só que felizmente inocentado, justamente, diga-se de passagem. Então não se impressionou por encontrar todos os lugares completamente ocupados por bruxos do ministério, Kingsley sentado mais à frente em uma tribuna, com Percy logo ao lado segurando um bloco de pergaminho e uma pena, parecendo pronto para escrever inclusive os espirros do ministro. Olhando mais ao redor, Harry reconheceu a figura simpática de Rachel Williams que sorria para ele.
Todas as atenções estavam voltadas para ele, e o silêncio era tão predominante que nem mesmo ruídos de respiração eram ouvidos. Mas Harry já tinha o controle de si mesmo e não se deixou envolver pelo ambiente. Olhou novamente para Percy, que lhe deu um breve aceno de cabeça e posteriormente para Kingsley, que fez sinal para que ele se aproximasse e sentasse em uma cadeira confortável bem próxima a ele. Somente quando se sentou foi que Harry visualizou a família Malfoy, até por que, estava sentado bem em frente a eles. Mas o que viu não o agradou, e olhou rapidamente para o ministro com uma expressão de incredulidade, como se não acreditasse que ele houvesse permitido aquilo.
Os três Malfoy estavam sentados no centro do grande círculo humano, Draco no centro, entre Lúcio e Narcisa. As cadeiras tinham correntes, e foi esse o motivo do desagrado de Harry. O trio estava fortemente acorrentado nas cadeiras. Narcisa tentava como podia segurar a mão do filho, que de todos, era o único que permanecia de cabeça baixa, talvez por vergonha de, mesmo sendo ainda tão jovem, já ter de ser julgado por crimes tão abomináveis.
Foi a voz do próprio Harry que quebrou o gélido silêncio.
- Por que eles estão acorrentados? – ele se dirigiu especificamente ao ministro; sua voz ecoou fantasmagórica pelas paredes do amplo aposento.
A pergunta foi o suficiente para alterar completamente o antigo quadro, e o silêncio foi rapidamente substituído por cochichos e exclamações de surpresa. Draco levantou a cabeça e olhou para Harry com os olhos estreitados, mas o moreno nem se deu conta disso, apenas aguardava uma resposta de Kingsley.
- Silêncio! – a voz ressonante do ministro calou a todos de imediato. Só então ele se dirigiu a Harry – Nós os acorrentamos pelo mesmo motivo de termos acorrentados todos os outros comensais da morte que foram julgados aqui.
Harry achou a atitude de Kingsley estranha e bastante contraditória, mas resolveu não discutir isso agora.
- Se o objetivo do ministério era dar a todos os comensais da morte um tratamento igualitário, os Malfoy deveriam ter aguardado julgamento em Azkaban como todos os outros. – disse Harry de forma bastante audível e fria.
O silêncio voltou a reinar soberano, e um eco acompanhou o fim da frase.
- Nós não os prendemos por consideração a você, Sr. Potter. Depois da sua entrevista, nos demos conta que, de certa forma, eles colaboraram com você, então resolvemos poupá-los de Azkaban. – justificou educadamente uma bruxa miúda localizada na segunda fileira à direita de Harry.
Harry se virou de frente para ela, o que a fez mexer-se um pouco desconfortável em sua cadeira por ter ganhado completa atenção do rapaz.
- Se vocês realmente têm alguma consideração por mim, por favor, retirem essas correntes. Não vejo motivo de prendê-los dessa forma. Não acredito que eles tentem algo aqui, muito menos sem as varinhas. Vocês acreditam? – perguntou Harry.
Silêncio.
Kingsley deu um discreto sorriso antes de apontar a varinha para as correntes e libertar os prisioneiros, que passaram a esfregar os pulsos avermelhados.
- Acho que agora podemos iniciar seu depoimento, certo Sr. Potter? – questionou Kingsley parecendo realmente satisfeito com algo.
Harry sacudiu afirmativamente a cabeça enquanto olhava para os Malfoy. Lúcio olhou para ele com uma expressão estranha, parecia estar travando um grande conflito interno, mas Harry, por incrível que pareça, o compreendeu. Imaginava o quanto deveria estar sendo insuportável para Lúcio ver sua família ali, tão vulnerável, com a liberdade nas mãos dele, a quem sempre odiou tanto. Mas ao mesmo tempo percebeu que o homem sentia que tinha, de certa forma, uma dívida com ele. Harry sentiu uma estranha sensação de pena.
A voz de Shacklebolt o arrancou de seus pensamentos.
- Como testemunha de defesa no caso dos Malfoy, darei a palavra a Harry James Potter, 17 anos, residente na...
Enquanto ouvia vagamente sua apresentação, Harry não conseguiu evitar lembrar-se de tudo que passou por culpa daquela família. E um arrepio lhe passou pelo corpo quando se lembrou da rivalidade entre eles e a família Weasley. Lembrou das humilhações que as pessoas a quem tanto amava tiveram de passar; lembrou-se de Gina, que poderia estar morta por culpa do maldito diário que Lúcio havia posto, propositalmente, em seu domínio; lembrou que nesse mesmo ano Lúcio usou sua obscura influência no conselho para tirar Dumbledore da direção de Hogwarts; lembrou das atrocidades na qual ele e a esposa contribuíram para que Voldemort concretizasse; Draco chamando Hermione de sangue ruim...
Harry cerrou os punhos, flashes passavam sem permissão em sua mente, o obrigando a recordar até mesmo detalhes das coisas que já haviam acontecido por culpa dos Malfoy: Hagrid em Azkaban; Bicuço executado; Kátia sendo levada inerte para a escola nos braços de Hagrid; Monstro mentindo sobre Sirius por ordem de Narcisa e Belatriz; Rony envenenado...
Por um momento, Harry esqueceu-se do motivo que realmente o levou ali, para tentar safar aqueles três de um destino cruel que eles certamente mereciam. Mas então, mais flashes pipocaram em sua mente: Draco desarmando Dumbledore, mas não conseguindo o matar; o medo e a indecisão nos olhos acinzentados do sempre tão orgulhoso herdeiro Malfoy; Harry também lembrou que sentiu que Draco não conseguiria matar o diretor, apenas fez tudo àquilo por não ter outra opção, para tentar defender sua família. Mas Harry recusou-se a justificá-lo. Não, isso não era desculpa, pois Kátia e Rony quase morreram por isso. Mas Draco também não o entregou há alguns meses quando havia sido capturado por Lobo Greyback e levado até a mansão Malfoy, pois tinha certeza de que o loiro o havia reconhecido.
Harry estava confuso. Queria sentir raiva deles, mas não conseguia reuni-la o suficiente a ponto de mudar seu depoimento.
“Draco está vivo?”
Essa pergunta surgiu de forma tão intensa na memória de Harry, que ele olhou rapidamente para Narcisa, tentando descobrir se ela a havia feito neste momento. A loira olhava impassível para o ministro, que ainda discursava sobre a ilustre testemunha de defesa.
“Ele está morto!”
A voz de Narcisa tornou a sussurrar nas lembranças de Harry, e dessa vez ele se deu conta novamente do por que estava ali. Sentiu, inclusive, um pouco de simpatia pela família ao recordar dos três abraçados, logo após a guerra, parecendo deslocados entre a comemoração e pesar dos sobreviventes.
Harry então sentiu pena do destino deles. Mesmo que eles fossem inocentados, teriam de se adaptar em meio a uma sociedade livre, mas muito machucada e ferida e que provavelmente os repugnava. Teriam de conviver com um sobrenome manchado e, possivelmente, permanentemente danificado. Teve ainda mais dó de Draco, que tinha a sua idade e teria de buscar construir sua vida com o fardo de carregar o sobrenome Malfoy e ainda levar para sempre a marca negra tatuada a fogo na pele de seu antebraço, o que serviria como uma lembrança eterna de seus erros e das escolhas erradas de sua família. Apesar disso, enfim Harry sentiu-se seguro do que estaria preste a fazer. Percebeu que o melhor castigo para eles seria suportar as conseqüências de seus atos em liberdade, assim, a própria vida se encarregaria de puni-los devidamente. Sabia que isso era o certo.
- Está tudo bem, Sr. Potter? – o ministro perguntou.
Harry rapidamente desviou os olhos de Narcisa, voltando-os à Kingsley, que tinha o rosto franzido, parecendo preocupado.
- Tudo bem ministro. – garantiu um pouco desconcertado por seu inoportuno momento de reflexão.
- Vou refazer a pergunta então. Você afirmou em uma entrevista concedida ao Profeta Diário que recebeu uma ajuda fundamental da ré Narcisa Malfoy, estou certo?
Os três Malfoy olharam para Harry tentando aparentar certo descaso, mas não conseguiram com muito sucesso, pois a expectativa brilhava nas íris azuis dos três.
Mesmo sabendo o que iria dizer, Harry fez alguns segundos de silêncio, sentindo quase que fisicamente a tensão que se instalou ali. Admirou-se que, mesmo estando entre a cruz e a espada, os réus pudessem manter a postura tão confiante e arrogante, mas eles eram os Malfoy acima de tudo. Porém, o moreno curtiu um pouco a gostosa sensação de ver os olhares levemente pincelados com insegurança e receio.
- Sim. – disse por fim.
- E você poderia nos dizer que ajuda foi essa? – perguntou Kingsley.
- Como eu já havia dito na entrevista, Narcisa me ajudou em um momento que minhas chances eram praticamente inexistentes, visto que eu estava cercado por vários comensais da morte e pelo próprio Voldemort. Estávamos na floresta proibida e Voldemort tinha acabado de me atacar, o que o fez achar que eu havia morrido. Ele então pediu que Narcisa verificasse. Assim que ela se aproximou de mim e notou que eu estava vivo, apenas fingindo, perguntou-me cuidadosamente se Draco estava vivo no castelo, no que eu confirmei. Ela então mentiu, confirmando a minha morte para Voldemort.
Todos pareciam hipnotizados com o que ele dizia, parecendo beberem os detalhes. Prestavam uma atenção religiosa as palavras de Harry. Percy escrevia compulsivamente em um pergaminho, tão absorto em cada palavra que chegava a ser indecente a empolgação com que registrava um simples depoimento em um pedaço de papel. Rachel Williams parecia mais interessada em ouvir tudo atentamente, enquanto sua pena de repetição rápida riscava rapidamente um pergaminho logo ao seu lado.
- Por que Você-sabe-quem achou que você havia morrido? Lançou-lhe outra maldição da morte? – perguntou excitado um bruxo magro e negro, localizado logo acima de onde Kingsley estava.
- Isso não vem ao caso Syller! Estamos aqui para coletar informações acerca do caso dos Malfoy e sugiro que nos detenhamos a isso apenas. – cortou o Ministro, a autoridade exalando de todos os seus poros. Ninguém ousou contradizê-lo, embora fosse evidente a curiosidade de todos por mais detalhes sobre a tão inesclarecida batalha final. O ministro em seguida se voltou a Harry – O que aconteceu após a ré ter confirmado sua morte?
- Voldemort pediu que Hagrid, que era prisioneiro, levasse meu corpo até o castelo. Depois vocês já sabem o que aconteceu.
- Certamente. – garantiu o Ministro – Sr. Potter, qual você acha que foi a real intenção da ré em ajudá-lo em um momento tão crucial?
Draco e Lúcio olharam para Harry com interesse, curiosos por saberem qual seria a versão que ele inventaria sobre a atitude de Narcisa.
Harry olhou para Narcisa atentamente, procurando buscar alguma confirmação às suas suspeitas sobre os motivos que a levaram a fazer aquilo, mas o rosto da loira estava completamente inexpressivo e seus olhos inexploráveis, como se um muro de aço protegesse sua alma e seus segredos mais profundos, não deixando transparecer nada além do belo azul que o tingia. Mesmo assim, Harry achou seguro expor suas suspeitas sobre isso, afinal, ela não era tão absurda assim, mesmo se tratando de Narcisa Black Malfoy.
“Os filhos fazem verdadeiros milagres conosco!”. A lembrança do comentário feito pela senhora Weasley há alguns dias o deu ainda mais segurança do que ia dizer.
- Eu não sei ao certo o que a levou a fazer isso, mas garanto que não foi querendo me ajudar. No momento eu notei que só o que realmente importava para ela era saber se o filho estava vivo e buscar uma forma de encontrá-lo. Creio que a única maneira que ela encontrou de fazê-lo foi essa, confirmando a minha morte, assim a atenção de Voldemort se voltaria para o castelo. Com isso, ela acabou me ajudando, mesmo que involuntariamente.
Narcisa deixou que uma ruga se formasse em sua testa, demonstrando sua surpresa.
- Você está dizendo então que ela não pretendia ajudá-lo? Só o fez quase que acidentalmente e buscando benefício próprio? – indagou o bruxo negro que Harry já sabia se chamar Syller.
- Sim, mas ela o fez. Ela poderia ter dito que eu estava vivo e Voldemort poderia simplesmente me matar em um piscar de olhos. – retorquiu o moreno calmamente, sabendo que as coisas não seriam bem assim, mas queria que esse julgamento acabasse logo – Se fosse de outra forma, nós poderíamos estar todos mortos. Ela fez isso por amor ao filho, inconsciente das conseqüências que isso poderia trazer para ela. Minha mãe fez algo parecido por mim e sinceramente, um ato como esse prova que todas as pessoas possuem algo pela qual vale a pena lutar, pela qual vale a pena morrer. Acho que devemos dar-lhe o crédito por isso.
Lúcio olhava fixamente para a esposa, mas esta, assim como Draco, apenas olhava para Harry querendo acreditar que ele realmente estivesse fazendo aquilo.
Após algum breve momento de silêncio, Kingsley voltou a se manifestar.
- Muito bem Sr. Potter, seu depoimento coincidiu com o da ré Narcisa Malfoy, e acho que se for de acordo a todos do conselho, não há mais perguntas pertinentes a se fazer sobre isso.
Como ninguém da extensa platéia se manifestou, Harry foi educadamente convidado pelo ministro a se retirar do recinto. Antes de sair, Harry deu uma última olhada de relance para a família Malfoy, e poderia jurar que viu Draco lhe dar uma breve reverência com a cabeça. Sacudiu a cabeça tentando por os miolos em ordem, e saiu apressado pelo corredor, ansioso por sair daquele lugar e aparatar nas proximidades d’A Toca. Depois, Percy ou o Sr. Weasley poderiam lhe informar qual foi o desenrolar daquele julgamento. Agora, só o que ele queria era saborear o delicioso almoço que a Sra. Weasley provavelmente estava preparando e procurar conforto nos braços de Gina.
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Uma bela manhã de quarta-feira se estendia além dos jardins d’A Toca. A grama alta, mal cuidada e extremamente verde servia de diversão para os gnomos que se embrenhavam em seu interior tentando abrigar-se do agressivo sol que brilhava impiedoso e majestoso no céu azul.
Harry estava encostado no parapeito da janela, observando mais um início de dia da primeira semana do mês de Agosto, devaneando sobre os dias que tinham se seguido após o tão ultimamente comentado julgamento da família Malfoy.
Já tinham vários dias em que havia sido realizado o julgamento. Os réus haviam sido condenados, mas cumpririam pena em liberdade. Eles teriam de doar uma alta quantia em dinheiro para uma obra social, que visava educar crianças bruxas abandonadas, além de realizar alguns trabalhos voluntários. Mas como Harry previra, a vida dos Malfoy não estava sendo nada fácil, tendo de lidar com o “desprezo e a hostilidade da sociedade”, como noticiou o Profeta Diário, coisa que Harry duvidava que os incomodasse. O que parecia realmente os estar afetando eram os negócios da família, que estavam sofrendo as duras conseqüências do resultado daquele julgamento.
Gina havia feito seus exames e passado em todos, recebendo, inclusive, uma carta escrita pessoalmente por Minerva MacGonagall a parabenizando pelo seu excepcional desempenho do teste prático de transfiguração.
Tanto Harry quanto Rony tiveram de ir até o ministério para prestar exames de aparatação e retirar sua autorização. Por mais que, para os dois, aparatar fosse tão fácil quanto beber água, eles resolveram não objetar a ordem do Sr. Weasley, tanto por esse ser o correto a se fazer, como para não se indisporem com Kingsley, que estava se empenhando de corpo e alma a trazer de volta alguma reputação ao ministério da magia da Inglaterra.
Hermione havia passado o último fim de semana com eles n’A Toca para a comemoração do décimo oitavo aniversário de Harry que, apesar de ter sido uma reunião íntima e simples, ele considerou o melhor de toda sua curta e agitada vida. Além da amiga, Harry contou com a presença de Neville, Luna, Dino e Simas em sua festa, o que a tornou ainda mais divertida, pois em grande parte dela, ficaram relembrando as boas e velhas reuniões da AD, assim como algumas azarações que aprenderam com elas. Esse, inclusive, foi o motivo de Rony ter passado alguns minutos petrificado, sendo obrigado a aturar as gozações de todos os presentes, e ser o assunto preferido de Jorge em todas as refeições nos dias que se seguiram.
FLASHBACK
Os parabéns já tinham sido cantados, um discurso já havia sido feito, o bolo já estava cortado e a música já nem era mais ouvida ali, pois o aniversariante e seus amigos estavam reunidos no centro da sala, dando risadas e tendo uma conversa divertida e agradável.
- E o Simas então... é o maior pé frio da face da terra. – afirmou Dino Thomas enquanto aceitava o milésimo pastelzinho que Luna lhe oferecia.
- Eu? Por que? – perguntou Simas na defensiva, sentado logo ao lado de Rony, que não parava de paparicar Hermione.
- Porque foi só você freqüentar uma única reunião da AD para que a sapa bufonídea nos descobrisse. – esclareceu Dino com a boca cheia do salgado.
- Mas que falta de tato Dino! – exclamou Luna calmamente, sentando ao lado de Neville e estendendo o pratinho de salgados a ele, que se serviu de um.
- Obrigada Luna! – Simas agradeceu o apoio da loira.
- Ah, não. Eu também acho que foi muita falta de sorte sermos descobertos justo em sua primeira reunião com a AD. – explicou Luna com sua singular tranqüilidade - Eu estava me referindo ao Dino estar falando com a boca cheia. Meu pai sempre disse que falar de boca cheia é uma forma de demonstrar que a comida está ruim.
- É mesmo? Então não sei qual o distúrbio do Rony. – disse Gina que estava no sofá, sentada sobre as pernas de Harry – Ele vive falando de boca cheia, mas não pára de comer!
Neville se entalou com seu pastel quando viu que Rony fez menção de retrucar, porém o ruivo se manteve calado justamente por estar com a boca atolada de torta.
- Ah, mas que droga! – disse Luna com a cabeça inclinada, olhando curiosa para o prato vazio em sua mão. Ela parecia ser a única a não ter notado a mancada de Rony, pois, além do próprio Rony, apenas ela não ria – Acabaram os salgados de novo e eu não comi nenhum. – ela refletiu um pouco observando a louça vazia - Vou ter de voltar na cozinha e pegar mais!
- Eu faço isso pra você, Luna! – Rony se ofereceu em uma tentativa de fugir das risadas dos amigos.
Hermione, que segurava a risada como podia, deixou-se rir assim que o namorado se afastou.
- Que tal se treinássemos alguns dos feitiços que aprendemos durante as nossas reuniões? – sugeriu – Assim poderíamos relembrar alguns também.
- Ah, que idéia maravilhosa! – o ar sonhador com que Luna apoiou sua idéia fez Hermione sorrir.
- Todos topam? – perguntou Gina se pondo de pé com empolgação, vendo em seguida a aprovação de todos.
- Acho melhor fazermos isso lá fora se não quisermos destruir a casa. – disse Harry, no que Hermione foi a primeira a concordar.
- Alguém falou em destruir a casa? – quis saber Jorge se aproximando do grupo, o velho sorriso que sugeria travessura estampado em seu rosto.
- Vamos relembrar alguns feitiços que Harry nos ensinou na AD. – explicou Luna sorridente.
- E quem teve essa idéia brilhante? Ah, não respondam! Idéias brilhantes sempre foi privilégio da nossa Mione, estou certo? – Jorge olhou divertido para a cunhada, que corou levemente, mas sorria com modéstia. – Tô dentro!
- Onde vamos fazer isso? – perguntou Neville enquanto se punha de pé e tirava a varinha do bolso da calça.
- Vamos até o jardim! Lá deve ser mais seguro! – disse Gina já caminhando para lá puxando Harry pelas mãos.
- É, vamos! Se fizermos isso aqui dentro destruiremos de vez a minha já tão torta casinha. – falou Jorge dando um suspiro.
Assim que chegaram aos jardins, formaram duplas e imediatamente começaram a voar feitiços de todas as cores para todos os lados. Todos ali duelavam muito bem, mas alguns feitiços ainda não saiam muito bons; alguns “combatentes” eram demasiados lentos se comparados aos seus “adversários” e algumas miras ainda precisavam ser lapidadas. Mas no geral, todos estavam se saindo bem.
Harry, que fazia par com Gina, no começo pegou leve com ela, mas ao ver a habilidade e a pontaria da garota, tratou de dar o melhor de si se não quisesse ser azarado. A ruiva deu uma piscadela divertida para o namorado assim que ele se defendeu de uma bela azaração (que parecia ser a tão conhecida azaração para rebater bicho-papão) dela. Ele sorriu orgulhoso da namorada, que lhe parecia ainda mais bela se movimentando daquela forma enquanto atacava e se defendia.
Neville e Simas estavam no mesmo nível, porém quem tinha de tomar cuidado com eles eram os amigos que estavam próximos, pois tanto a pontaria de Neville quanto a habilidade de Simas com alguns feitiços ainda não estavam tão
apuradas.
Hermione duelava com Jorge, pois Rony ainda não tinha retornado da cozinha com os salgados. Quem visse de longe, poderia jurar que ambos estavam realmente combatendo. O ruivo lançava diversas azarações na garota, que se defendia com primor de absolutamente todas. Mas ela não deixava por menos, e sua excelente pontaria e destreza, aliado ao fato dela não pronunciar nenhum dos feitiços que lançava, estava dando certo trabalho ao cunhado, mas este parecia estar dando conta do recado e, com passos esquisitos e engraçados, se esquivava dos jatos que vinham em sua direção. Apesar da aparente ferocidade no duelo, os dois combatentes pareciam estar se divertindo mais que qualquer outra dupla ali. Jorge ria e cantarolava enquanto pulava pra lá e pra cá fugindo dos raios que saiam da ponta da varinha de Hermione. Já a garota, fazia força para não cair na gargalhada dos passos e poses ridículos que o cunhado dava para se defender dela.
Dino era bom, mas Luna era muito melhor. Essa surpresa ainda era o fator que mais estava atrapalhando Dino. O olhar concentrado de Luna e os floreios graciosos que ela fazia com a varinha combinados à sua pontaria certeira assustaram tanto o jovem que ele se viu arrependido de ter preferido duelar com ela que com Simas. A facilidade com que ela dominava aquele duelo dava a entender que ela estava se divertindo bastante. Dino deu graças a Harry por tê-lo ensinado a usar o feitiço escudo, senão já teria sido atingido por um belo raio bem no meio da testa. O que mais o surpreendeu foi que, assim que prestou mais atenção na amiga, vendo a leveza de seus movimentos, seus cabelos loiros dançando no vento enquanto ela se movimentava e seus olhos azuis estreitados devido sua concentração, percebeu o quanto ela era bonita.
- Você é muito bonita, Luna! – disse sem pensar.
Luna sorriu, e quem visse perceberia a bela mulher que ela estava se transformando.
- Obrigada Dino! Meu namorado sempre me diz isso! – e lançou um feitiço tão rápido no amigo que ele mal teve tempo de se esquivar, e o raio passou zunindo em sua orelha. Sorriu aliviado por ter se livrado dessa.
Luna levou as mãos à boca assustada olhando para um ponto atrás de Dino. Ele se virou curioso, querendo saber o que tinha assustado a amiga.
Rony estava furioso parado com um prato vazio nas mãos. Milhares de salgados espalhados no chão ao seu redor. O feitiço de Luna havia acertado o prato que o ruivo tinha nas mãos. Ele começou a juntar todos os salgados do chão enquanto resmungava palavrões que, assim que Hermione ouviu, virou-se indignada para lhe repreender.
Só o que a morena viu foi um raio, que havia sido lançado por Jorge, passar quase lhe estapeando o rosto, não a acertando por pouco. Mas com um gemido de lamentação ela viu onde o feitiço foi parar. Enquanto corria para socorrer o atingido, explosões de gargalhadas entravam em seus ouvidos. Ela mesma fazia um esforço sobrenatural para segurar o riso.
Rony havia sido atingido pelo feitiço do irmão e encontrava-se em uma situação nada animadora, para não dizer ridícula e comprometedora. Completamente paralisado, estava com os joelhos levemente flexionados, o tronco inclinado pra frente e os braços estendidos em direção ao chão, fazendo com que seu traseiro “apontasse para o céu”, como Jorge não cansou de dizer posteriormente. Uma mão ainda segurava o prato e a outra continha um pastel amassado. Apenas os olhos dele se mexiam, e quem conhecesse aquele olhar, ordenaria, pelo bem geral da nação, que desfizessem aquele feitiço imediatamente.
Hermione alcançou Rony antes dos demais, todos, com exceção dela e de Luna, passando mal de tanto rir. Gina e Jorge estavam à beira das lágrimas. Hermione apontou a varinha em direção ao namorado e já ia lançar o contra-feitiço quando a sentiu voar de sua mão. Olhou para um lado e para outro buscando o autor daquilo, mas nem mesmo teve trabalho de descobrir.
- Jorge! Por que você fez isso? Por que me desarmou? – disse furiosa, segurando nos quadris e encarando o cunhado.
- Você não estava pensando em destruir essa escultura primorosa, estava? – perguntou em meio às risadas catando a varinha dela do chão.
- Me devolva minha varinha agora! – ordenou com os olhos faiscando.
Jorge pensou seriamente em devolvê-la ao sentir o perigo irradiado da ira de Hermione, mas ao olhar para o irmão novamente, achou que valia o risco.
- Eu devolvo se você me prometer que não irá lançar o contra-feitiço do...
- Nem pensar! – bradou a garota gesticulando com as mãos – Eu não deixaria o Rony nessa... nessa... nesse estado!
- Então nada feito!
- Mas o que é que está acont... Oh, céus, Rony! – a Sra. Weasley parou onde estava e tapou a boca com as mãos, não se soube por estar horrorizada ou para esconder as risadas.
- Descobriu o que aconteceu Molly? – o Sr. Weasley parou logo atrás da esposa
e analisou o quadro. Seu rosto chegou a se contorcer levemente, mas com esforço conseguiu manter o equilíbrio e rapidamente dominou a situação. – Finite! – disse apontando a varinha para Rony, que rapidamente recuperou os movimentos e se voltou a Jorge parecendo fora de si – Fique quietinho aí, Ronald Weasley! – Rony obedeceu relutante.
- Mas esse idiota...
- Olha lá como fala com seu irmão, Ronald! – repreendeu a Sra. Weasley, recompondo-se.
- É isso mesmo! Sou seu irmão mais velho e você me deve respeito por...
- Cala essa boca Jorge! – gritou Rony atirando o prato em direção ao irmão.
- Rony! – exclamou Hermione assustada, segurando o braço do namorado.
- Accio! – disse rapidamente a Sra. Weasley, fazendo com que o prato voasse para sua mão antes de alcançar Jorge – Mas que palhaçada é essa, Rony?
A essa altura ninguém mais ria. Mas ainda assim a situação não deixou de ser engraçada, mas a cara contorcida em fúria de Rony não permitia que mais ninguém ousasse rir ali.
- Jorge, já pra casa! Muito me admira que você seja o mais velho de todos aqui!
– o Sr. Weasley parecia bem mais calmo que a esposa.
- Me poupe papai! Assim parece que eu sou uma criancinha mimada. – Jorge quis passar a impressão de que estava reclamando, mas parecia de muito bom humor para isso.
- Eu tenho sérias dúvidas se um dia você vai deixar de ser uma, meu filho. – o Sr. Weasley balançou a cabeça conformado.
- Obedeça seu pai agora! – sob o olhar irritado da mãe, Jorge apenas deu de ombros, entregou a varinha de Hermione e começou a andar em direção à casa; mas antes de entrar, gritou da porta:
- Espero que tenha tirado uma foto do céu Roniquinho! Está uma noite linda!
Rony apontou a varinha em direção à porta.
- Expelliarmus! – bradou Hermione, fazendo a varinha de Rony voar para longe – RONALD BILLIUS WEASLEY! VOCE PODERIA NOS FAZER O FAVOR DE DEIXAR DE AGIR COMO UM HIPOGRIFO DESEMBESTADO E PARAR DE IDIOTICES?
Rony olhou irritado para ela, mas ao ver que ela não estava brincando engoliu em seco e permaneceu calado. Nem mesmo a Sra. Weasley pensou em nada mais eficaz para falar.
- Agora vem comigo! – foi uma ordem que Rony prontamente obedeceu. Pegou na mão da morena e a seguiu em direção à porta da cozinha.
Ao verem o casal entrar na casa, o Sr. E a Sra. Weasley se aproximaram do restante do grupo, ansiosos por saberem o que havia acontecido.
Muitas risadas ainda foram ouvidas naquela noite. Até mesmo Rony, que pareceu de muito bom humor depois que retornou do interior da casa com Hermione, deu boas gargalhadas da situação que protagonizou, principalmente quando Jorge se oferecia para fazer uma imitação hilária da pose constrangedora do irmão.
FIM DO FLASHBACK
Harry ainda ria com essa lembrança quando sentiu braços macios o envolverem. Pousou suas mãos sobre os braços que o enlaçavam, retribuindo o carinho.
- Posso saber a que se devem essas risadas? – perguntou Gina encostando sua bochecha nas costas dele.
- Eu estava me lembrando do dia do meu aniversário. – respondeu.
Gina sorriu.
- Até hoje sinto pena do Rony. Ele ainda sofre muito por causa desse episódio interessante. Jorge não perde uma oportunidade de aborrecê-lo com...
- Gi, olha aquilo! – Harry a interrompeu e apontou para o céu.
Gina se postou ao lado dele e observou três pontos negros se aproximando rapidamente da casa. O coração da ruiva começou a saltitar em seu peito.
- Harry, só pode ser...
- É! – o moreno confirmou com um enorme sorriso.
Os dois se afastaram da janela para permitir que as corujas entrassem e pousassem sobre a mesa da cozinha. Correram para pegar os envelopes que elas traziam atados às patas. Assim que terminaram, se entreolharam e correram escada acima, nem mesmo vendo o momento que as corujas levantaram vôo para irem embora.
- Hei, seria muito bom se vocês batessem na porta antes de entrarem! – Rony reclamou ao ver o amigo e a irmã entrarem sem cerimônias no quarto, mas ao ver a cara dos dois, interessou-se em saber o motivo de tamanha agitação – O que houve?
Harry ofegava devido à correria, então apenas esticou um dos envelopes para o amigo, que o olhou desconfiado.
- Foi a Hermione quem escreveu? Aconteceu alguma coisa? – e o tomou nervoso das mãos de Harry. Assim que observou o envelope, arregalou os olhos. Só então percebeu que o amigo e a irmã tinham um igual ao seu nas mãos. Sorriu.
- É isso mesmo! – confirmou Gina, sem nem mesmo aguardar a pergunta do irmão.
Os três sentaram-se lado a lado na cama e começaram a abrir seus envelopes.
- Nem acredito que nós vamos voltar mesmo! – exclamou Rony, passando os olhos sobre a lista de materiais que iria precisar para cursar seu sétimo ano em Hogwarts.
- Nem eu! – concordou Harry, olhando fixamente para o brasão de Hogwarts gravado no envelope.
Gina baixou o pergaminho e olhou para a parede, pensativa.
- Hermione também já deve ter recebido a dela. – concluiu a ruiva – Ela deve estar tão feliz.
- Gostaria que ela estivesse aqui conosco. – disse Rony melancólico, ainda esquadrinhando o papel.
- Eu também! – confessou Harry com sinceridade, pensando em como a amiga deve ter ficado empolgada ao receber a carta de Hogwarts.
Gina, que estava sentada entre o irmão e o namorado, segurou na mão de cada um.
- Nós vamos voltar! – disse com um sorriso radiante.
Os dois apenas sorriram.
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- Já foi. Espero que ela não demore a responder. – disse Rony, que tinha acabado de despachar uma coruja para Hermione, marcando um dia que pudessem se encontrar no beco diagonal e comprarem seus materiais.
- Aposto como ela responde ainda hoje! – garantiu Harry, que estava sentado no chão ao lado de Gina, ambos saboreando um delicioso suco de abóbora que a ruiva havia preparado pra eles.
A porta se abriu com estrondo, fazendo com que Gina derramasse metade de seu suco. Jorge entrou no quarto um pouco hesitante trazendo um jornal nas mãos.
- Você ta maluco Jorge? Quase me matou de susto! Derramei suco na minha roupa! – disse Gina enquanto limpava a roupa com a varinha.
- Desculpa Gina!
Gina ergueu uma sobrancelha, pois o irmão estava muito sério e até havia pedido desculpas ao invés de tirar sarro.
- Ninguém mais bate na porta antes de entrar não? – Rony reclamou aborrecido.
- Cala a boca Rony! – exclamou Jorge.
A forma séria com que Jorge falou com Rony, sem ao menos olhá-lo, fez com que o irmão realmente se calasse.
- O que foi Jorge? – perguntou Rony intrigado – Que bicho te mordeu?
Rony assustou-se dessa vez, pois o irmão nem ao menor lhe respondeu.
- Você já soube o que saiu nos jornais Harry? - Jorge se aproximou parecendo extremamente ansioso.
A seriedade com que ele disse aquilo assustou Harry. Só poderia realmente ser um assunto delicado.
- É sobre o julgamento dos Malfoy? Por que se for, já sabemos de tud... - Gina foi bruscamente interrompida pelo irmão.
- Não tem nada a ver com o julgamento Gina. O que tinha pra sair sobre esse julgamento já saiu. O negócio agora é outro. - a ruiva franziu o cenho e Jorge abanou a cabeça impaciente - Tomem, - disse abrindo o jornal em frente a eles; Rony se esticou para ler também - vejam com seus próprios olhos.
Assim que leram a notícia, cada um reagiu de uma forma diferente. Harry cuspiu todo o suco que tinha na boca, encharcando o jornal; Gina levou as mãos à boca horrorizada; Rony disse um sonoro palavrão e olhou de imediato para o amigo, que parecia incapaz de dizer alguma coisa.
- Acho que meu olho interior funcionou dessa vez. O que é realmente estranho, pois sempre foi péssimo em adivinhação. – comentou Jorge, mas nem mesmo ele teve coragem de fazer brincadeiras com respeito a algo tão sério.
Gina olhou pesarosa para o namorado.
- Aquela desgraçada, asquerosa, pervertida! Como ela pôde? – Rony estava com os dentes cerrados de indignação.
Jorge se jogou em cima da cama.
- Eu sinto muito Harry, eu realmente só falei isso aquele dia brincando, mas eu também duvidava que Rita Skeeter realmente tivesse o topete de fazer uma coisa assim. Não com você vivo, pelo menos!
- Harry. – Gina segurou nas mãos dele.
Harry apenas continuava olhando para a manchete principal que estampava o Profeta Diário matinal. Boa parte do jornal estava molhada com o suco que ele havia despejado acidentalmente ali, mas ainda era bem nítida a foto da repórter loira asquerosa, segurando nas mãos um livro grosso. Bem acima da foto, com letras garrafais a notícia: “Rita Skeeter enfim lança a biografia completa de Harry Potter!”. Correndo melhor os olhos sobre a foto, Harry prestou mais atenção à capa do livro que a mocréia tinha nas mãos. Não havia foto dele, apenas uma varinha, que se cruzava com um raio. Em cima da figura a frase: “A história real e detalhada de Harry Potter, o menino que venceu!”
Rir. Rir muito. Foi apenas isso que Harry conseguiu fazer durante alguns bons minutos após ver todo aquele absurdo. Gargalhou com vontade, até chegar às lágrimas e os músculos de seu abdômen reclamarem de dor. Quando começava a se acalmar uma nova onda arrebatadora o engolfava e o fazia voltar a rir descontroladamente.
Rony olhava para Gina com uma careta, parecendo preocupado com o estado mental do amigo. Chegou a achar que o impacto da notícia havia feito ele perder o juízo.
Jorge estava dividido entre a vontade de rir e de dar uma paulada na cabeça de Harry, afinal, qual era a graça naquela desgraça toda? Nem mesmo ele conseguiu tirar proveito daquela situação para fazer piadas.
Gina, de certa forma, entendia a reação do namorado. Ele, assim como ela, deve ter achado tudo aquilo tão ridículo que a melhor reação seria dar umas boas gargalhadas. Mas estava começando a ficar preocupada, pois ele não dizia nada, apenas ria. Ela não sabia o que fazer.
Quando o acesso descontrolado de risos passou, Harry enxugou os olhos com a barra da camiseta, pegou o jornal do chão, ficou de pé e simplesmente partiu o jornal no meio, depois em quatro partes, depois em oito e jogou-o no lixeiro do quarto.
- Ridículo! – murmurou e saiu do quarto sem dizer mais nada.
Os três irmãos ruivos, de olhos arregalados, perguntavam-se em silêncio o que havia dado naquele maluco.
Gina deu de ombros e saiu atrás do namorado. O encontrou sentado no velho e puído sofá da sala de estar.
- Harry, você está bem? – perguntou se aproximando com cuidado.
Harry sorriu para ela.
- Pode vir Gi! Eu estou bem.
A ruiva relaxou os ombros e sentou ao lado dele.
- O que foi aquilo?
- Uma sessão de descarrego. – Gina franziu o cenho e Harry prosseguiu – Eu só acho hilárias as coisas que acontecem na minha vida. Sabe, eu acho que vou comprar esse livro. Quero lê-lo!
- O que? – Gina parecia assustada – Você está brincando, não está?
- Não. Mas acho que não vou comprar não. Vou ler o da Hermione, pois tenho certeza que ela fará questão de ter um.
- Harry, por favor, me diz que você não está ficando biruta...
Harry riu com vontade. Depois se virou de frente para ela e segurou suas mãos entre as dele, parecendo mais sério.
- Gi, relaxa! Eu só não quero me preocupar com isso! Se a Rita Skeeter já publicou esse livro, o estrago já está feito. Então, é melhor aproveitarmos e darmos boas risadas com as possíveis asneiras que ela deve ter escrito sobre mim. É sério, se eu ficar me preocupando será pior. Já tive aborrecimentos demais pra uma vida inteira.
Gina olhou fundo nos olhos dele e o abraçou bem mais tranqüila. Viu verdade naquele olhar e sentiu sinceridade naquelas palavras. Ficou feliz por ver que ele estava buscando formas de lidar com aquela situação de uma maneira que não o desgastasse mais, e achou que ele estava coberto de razão.
- Se ela escreveu algo sobre a Chang, eu esgano a Skeeter!
Harry riu.
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Para a alegria dos jovens d’A Toca, o mês de Agosto passou mais veloz que o habitual. Não que eles não estivessem curtindo as merecidas férias, mas a ansiedade que chegou junto com as cartas de Hogwarts estava fazendo com que eles realmente contassem os dias para o dia do regresso à escola de magia e bruxaria de Hogwarts para cumprirem o que seria seu último ano de estudos em magia, e assim, poderem seguir uma profissão.
O dia 01 de setembro amanheceu escuro, com nuvens pesadas impedindo que os raios de sol dessem o ar da sua graça. Mas nem mesmo a chuva torrencial que desabava no teto do táxi, que rumava a caminho da estação de King’s Cross, anuviou o ânimo dos quatro jovens que conversavam animadamente ali.
O motorista do táxi, vez ou outra franzia a testa ao ouvi-los conversar sobre coisas que ele nunca tinha ouvido falar. Ele acelerou mais que o necessário, um pouco ansioso por se livrar daqueles jovens estranhos que não paravam de conversar animados sobre um tal de “quadribol”, coisa que ele nunca tinha ouvido falar. Ele, por um momento, jurou ter ouvido o rapaz ruivo dizer para a moça morena, que parecia ser a única a não curtir muito o assunto, que “ela voava tão bem quanto ele em uma vassoura”. Nesse momento ele decidiu que após deixá-los na estação, iria para sua casa descansar um pouco, pois estava trabalhando demais.
Já não chovia quando o carro estacionou, mas um temporal ainda ameaçava cair. Harry e Rony foram descarregar a bagagem do porta-malas enquanto Hermione e Gina se encarregaram de pagar a viagem ao taxista, que nem deu bom dia a elas e saiu apressado dali. As duas deram de ombros e foram buscar suas coisas. Os dois rapazes já estavam colocando seus malões nos carrinhos.
Hermione viu Rony colocar a gaiola de Pichitinhho no topo de seu malão e se escorar ali, aguardando os outros. Ela soltou um bufo e revirou os olhos, antes de se virar para seu pesado malão e tentar colocá-lo em um carrinho, e quase perde um dedo do pé quando este escorregou de sua mão.
- Rony, será que você poderia ser um pouco mais cavalheiro e me ajudar a colocar esse malão em um carrinho? – Hermione olhava, com certa inveja Harry colocar o malão de Gina em um carrinho, enquanto ofegava tentando dar conta do seu.
- Hermione, você é ou não é uma bruxa? – Rony disse como se ela fosse uma boba de não se lembrar disso.
Hermione largou o malão no chão, limpou com a costa da mão o suor em sua testa e pôs as mãos na cintura, os olhos brilhando ameaçadores.
Harry e Gina se olharam, mas evitaram por precaução liberar um sorriso. Sabiam que ali, com aquele cenário, mas uma discussão de Rony e Hermione se iniciaria. E não deu outra.
- Oh, mas como eu sou burra, não é mesmo Ronald? Como eu poderia me esquecer que tenho uma varinha guardada bem aqui dentro da minha jaqueta? – disse a morena pausadamente e com um sarcasmo que não era comum a ela – Sabe, mas se eu realmente tivesse de arriscar usá-la aqui na frente de todos esses trouxas, não seria para levitar meu malão, e sim para por uma bela verruga na ponta empinada desse seu narigão!
- Eu não lembrava que estávamos cercados de trouxas Hermione! – Rony estava ruborizado.
- Mas é claro que não! O fato deles estarem desfilando aqui, bem na sua frente, não te ajuda a ver que...
- Tá legal Mione... eu desisto! – Rony rolou os olhos, pegou o malão de Hermione e colocou em um carrinho, depois tomou a cesta de Bichento das mãos de Gina e pôs sobre a mala. – Satisfeita agora?
- Hum, acho que sim! – respondeu ela com presunção – Acho melhor irmos andando se quisermos pegar o trem! – e disparou na frente de nariz empinado.
Rony esperou que ela se distanciasse um pouco antes de se virar para o amigo e a irmã com um sorriso.
- Eu precisava fazer isso! Agora sim, podemos embarcar!
- O que? – Gina parecia divertida e confusa ao mesmo tempo – precisava por que?
- Nada, só acho que Hermione fica mais bonita irritada! – disse Rony vagamente.
Mas Harry sabia a que o amigo estava se referindo. Sorriu enviesado, feliz por constatar que certas coisas nunca iriam mudar. Graças a Mérlin!
Assim que entrou na estação, uma maré de lembranças tomou sua mente com a força de um furacão. Olhou ao redor, analisando-a com cuidado pela primeira vez. Era curioso e estranho ao mesmo tempo constatar que aquele lugar, onde milhares de trouxas circulam todos os dias, fosse o portal que separasse e unia os dois mundos completamente distintos a qual pertencia. Apenas uma parede distinguia os dois mundos, e ao atravessá-la, ingressaria em uma vida que o preencheu, que justificava sua existência. Mas quando retornasse dessa vida, era exatamente para ali que ele voltaria. Harry nunca havia se sentido tão bem por pertencer a esses dois mundos tão distintos.
- Está pronto?
Somente quando Gina o chamou foi que se deu conta de que já estava bem em frente à parede entre as plataformas 9 e 10. Rony e Hermione pareciam já tê-la atravessado.
- Podemos ir juntos? – Harry perguntou.
Gina o encarou. Havia muito mais ali do que um simples convite para atravessar uma parede e ela compreendeu isso muito bem.
- É claro! – respondeu.
Os dois empurraram seus carrinhos e se colocaram lado a lado. Olharam para os lados verificando se algum trouxa estava de olho, e apenas após se certificarem que poderiam seguir em frente tranqüilos é que se permitiram sorrir um para outro, antes de correrem e serem engolidos pela parede de tijolos.
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Agradável. Foi assim a viagem até a estação de Hogsmeade. Rony havia conseguido uma cabine no trem, e, além de Harry, Hermione e Gina, apenas Luna e Dino compartilharam da companhia do ruivo durante todo o trajeto da Maria fumaça até a estação do povoado bruxo. A movimentação nos corredores, mas especificamente em frente àquela cabine não pareceu perturbar o animado grupo. Eles pareciam já saber que uma coisa assim poderia acontecer. Mas não puderam evitar que alguns entrassem ali para parabenizá-los, ou apenas para cumprimentá-los.
Uma crescente chuva de risadinhas e cochichos de algumas garotas foi o que mais pareceu incomodar os jovens. Ou as jovens, para ser mais justo, principalmente quando as risadinhas e cochichos daquelas “garotas assanhadas”, como intitulou Gina, eram seguidas de olhares cobiçosos em direção à Harry e Rony.
No geral, tudo estava perfeito, e a chegada em Hogsmeade só fez aumentar a euforia de Harry, principalmente quando ouviu a rouca voz de Hagrid ecoar.
- Alunos do primeiro ano! Venham comigo! Olá garotos! Ó céus, como é bom ver vocês. – Hagrid parecia emocionado quando abraçou dois deles de cada vez, os fazendo gemer e desejar que nenhuma de suas costelas se partisse.
- Olá Hagrid! – cumprimentou Hermione com um belo sorriso.
- Como vão as coisas? – quis saber Gina animada.
- Graças à vocês estão bem! – respondeu o meio-gigante alegremente – Mas conversamos depois, agora preciso trabalhar! – disse estufando o peito.
- Nós vamos visitá-lo! – Harry garantiu. Seu sorriso quase maior que o do grande amigo, e isso não era pouca coisa.
- Esperarei por vocês então! Até mais crianças!
- Crianças? – disse Rony com uma careta assim que Hagrid se afastou.
- Vamos! Chegou uma carruagem! – Hermione puxou Rony.
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Uma sensação de estar voltando para casa após uma longa viagem dominava Harry, mesclando-se a uma maré de outras sensações agradáveis. Por os pés ali novamente e poder ter aquela visão esplendorosa que o grandioso castelo compunha superou com facilidade o bem-estar que havia sentido ao chegar na plataforma de King's Cross.
-Vamos? – perguntou uma voz doce e agradavelmente conhecida.
Ele sorriu para Gina, olhou para os amigos, que pareciam tão emocionados quanto ele e com um sorriso de compreensão dos dois, resolveu seguir em frente, ignorando os milhares de olhos que os seguiam enquanto caminhavam em direção ao salão principal. Era realmente muito bom voltar para casa.
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N.A: Ok, OK! Podem me matar! * autora abre os braços e fecha os olhos*
tic tac
tic tac
*autora abre um olhou só *
Ué, por que não me mataram? Ah, eu sei que é só por que querem ver onde essa fic vai dar, né?
Bom galera, primeiramente quero agradecer ao carinho que voces tem demonstrado pela fic nos comentários maravilhosos que têm deixado aqui. Só falto morrer de orgulho e emoção quando os leio. São maravilhosos! Obrigada!
Agora quero pedir desculpas. Eu realmente não respondi aos comentários por que são muitooooos (graças à Merlin! Não estou reclamando!) mesmo, e se fosse responder a todos, não conseguiria postar a fic tão cedo, principalmente agora, que estou com o tempo meio apertado. Vou fazer o possível para respode-los no próximo.
Agora aguardarei mais uma enchurrada de comentários maravilhosos para poder me estimular a escrever o próximo capítulo, que eu não vou esconder, já está começando a ser escrito.
E aí, o que acharam do capítulo? Me digam tudo, não me escondam nada, ok?
Beijão para todos!
FUI!
CRACK!
Comentários (1)
q lindoooooooo *-*
2011-07-28