Saint Mungus - Parte 1
Capítulo 26: Saint Mungus - Parte 1
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Harry piscou várias vezes, sentindo a cabeça estranhamente vazia, embora parecesse pesar toneladas. Suas têmporas latejando de dor fora a primeira sensação física da qual tomou conhecimento, e, automaticamente, num instinto incontrolável, levou a mão até a cicatriz em sua testa. Justamente no momento em que se moveu, percebeu que sua cabeça dolorida poderia não ser o maior de seus problemas. Seus joelhos pareciam pregados no chão, e seus braços, muito mais pesados do que se lembrava, ardiam. Todos os seus músculos estavam rígidos.
A ausência de luz no lugar fazia suas pupilas dilatarem na tentativa de capturar alguma imagem, no entanto, a penumbra tornava-se gradualmente menos densa de acordo com que sua vista adaptava-se a escuridão.
Com esforço, passou novamente a mão na testa. Estava fria e úmida pelo suor. Aliás, parecia que seu corpo todo estava ensopado por um suor gélido e grudento. Seus ouvidos zuniam - como se tivessem soprado um apito dentro de sua cabeça - e algo viscoso escorria por seu pescoço. Desceu a mão da testa, aliviado ao constatar que sua dor de cabeça não tinha influência alguma da cicatriz, deixando-a escorregar por seu rosto empoeirado até o pescoço. Seus dedos ficaram melados, mas a escuridão não permitia que ele distinguisse o que era aquilo. Levou a mão até próximo do nariz, e sentiu o cheio forte de ferrugem. Tonto e ignorando a dor no corpo, se inclinou à frente tateando em busca de sua varinha.
- Lumus! – disse assim que a segurou, assustando-se com a ferroada que sentiu no simples ato de movimentar os músculos do rosto para pronunciar o feitiço.
O feixe de luz que surgiu na ponta da varinha iluminou o ambiente num raio curto de distância. Harry apertou os olhos devido à claridade repentina, mas, quando se acostumou com a luz, continuou sem conseguir discernir claramente nada ao seu redor. Esfregou os olhos, e só então se deu conta de que estava sem os óculos. Esticou a varinha para baixo, virando-a para um lado e outro enquanto tateava no chão. Mesmo com a visão embaçada, conseguiu notar o líquido avermelhado que sujava seus dedos. Harry aproximou a mão do rosto e confirmou suas suspeitas. Sangue. Seus ouvidos estavam sangrando, encharcando seu pescoço e ombros com o líquido viscoso.
Seu coração disparou, fazendo a adrenalina correr mais rapidamente por suas veias, pois, somente agora tomando consciência do perigo. Estava dolorido, num lugar escuro, aparentemente sozinho, e sangrando. Isso não poderia ser bom.
Tornou a tatear em volta com mais urgência, e finalmente tocou os aros finos da armação de seus óculos. Empurrou-os no rosto de qualquer jeito, o mais rápido que pôde e, automaticamente, iluminou seus braços com a fraca luz advinda da varinha. O choque de vê-lo todo cortado, arranhado e sangrando fez o alerta dentro de si piscar com mais urgência. Afastou rapidamente a varinha para o outro lado. A dor não era uma novidade para ele, e Harry sabia que poderia lidar com ela, mas a extensão de seus ferimentos era algo que achava melhor ignorar no momento.
“O que aconteceu?”, perguntou-se, mesmo sentindo medo de obter a resposta.
Por diversas vezes forçou a mente, mas só o que encontrava era um grande vácuo. Esticou a varinha mais à frente, iluminando o restante do local, e sentiu sua respiração acelerar mais e mais a cada novo pedaço de destruição que distinguia. Por um momento, imaginou que o tivessem levado para algum lugar desconhecido, um esconderijo quem sabe? Mas a realidade se expunha cruelmente a cada objeto seu que reconhecia jogado no chão ou quebrado. Não podia aceitar que estava ajoelhado no meio de sua sala de estar.
Harry fez força para se erguer. Quando baixou a cabeça para tomar impulso, viu uma reluzente fita de cetim embolada entre seus joelhos. Então tudo ficou confuso. Uma série de lembranças o engolfou com a força de um furacão, num nauseante disparar de imagens distorcidas e desconexas. Quando lutou para conseguir colocar algumas das imagens em foco, vozes de diversos timbres e entonações começaram a sussurrar, e algumas até a gritar, dentro de sua cabeça. Harry ficou paralisado, apertando sua varinha com força, esperando que tudo aquilo parasse antes que ele vomitasse.
Apertou a beirada da mesinha de centro e estava prestes a se jogar no chão quando tudo apagou. As imagens se foram e as vozes se calaram tão subitamente quanto surgiram. O silêncio predominou, deixando-o atordoado. Sua visão retomou foco e ele voltou a enxergar seu apartamento semi-arruinado.
Harry sacudiu a cabeça debilmente, negando-se a acreditar que aquilo estava, de fato, acontecendo. Era tudo demasiado estranho, incoerente e inexplicável para ser real. Só poderia estar sendo vítima de um sonho longo e misterioso.
“Então, por que dói tanto?”, Harry pensou, impulsionando-se novamente para ficar de pé.
Ao se erguer caminhou até o outro lado da sala, contornando a mesa de centro. Forçava sua mente a recordar o que acontecera, pois sentia intensamente que havia coisas imprescindíveis a lembrar, mas suas recordações estavam fora de seu controle. Aproximou-se de sua cozinha, onde metade da parede havia ruído como se tivesse sido vítima de uma explosão. Com um calafrio, Harry, surpreso, lembrou as histórias que Anwar Duailib contara sobre os conflitos religiosos entre trouxas de seu país, onde as pessoas eram despertadas no meio da madrugada com barulhos de tiros e bombas.
Mas Harry sabia que aquela destruição toda em sua casa não poderia ter sido planejada ou causada por trouxas.
O alerta se acendeu novamente em sua mente confusa e Harry sentiu uma necessidade urgente de encontrar alguém e contar tudo o mais rápido possível.
“Mas, tudo o que?”, perguntou-se frustrado, quase desesperado. Não saberia o que dizer a ninguém. Ainda assim, não importava. Seja como fosse, alguém tentara feri-lo, ou mesmo matá-lo. Alguém causara aquilo – e tinha certeza que era um bruxo -, e precisava descobrir quem fora. Ficar ali, todo machucado e sozinho, não lhe parecia nada seguro. Precisava buscar alguém e mostrar o estrago.
Harry refletiu, e o primeiro nome que lhe fluiu à cabeça fora o de Arthur Weasley. Após outra rápida reflexão, o nome lhe pareceu muito adequado. Sabia que, assim que chegasse à Toca, Molly teria um ataque ao ver seu estado, mas isso era irrelevante agora. Talvez fosse melhor que a própria Molly cuidasse de seus ferimentos, já que chegar ao Saint Mungus nesse estado seria dar motivos para especulação e falatório.
Determinado a não perder mais tempo, Harry se virou e começou a caminhar até a saída, pois não podia desaparatar dentro do apartamento.
Ao se aproximar da porta escorregou em algo e precisou se segurar na parede para não cair. Apontou a varinha acesa em direção ao chão e viu seus sapatos imersos em uma larga e rasa poça de sangue. Seu primeiro pensamento fora de como poderia ainda estar vivo tendo perdido tanto sangue. Mas, depois, notou que a sangueira estava do lado oposto ao que ele estivera.
Apontou a varinha mais à frente, seguindo o trajeto deixado pelo sangue, e, quando o feixe de luz encontrou o corpo jogado no chão, Harry sentiu um solavanco no estômago. Ofegou, pronunciando um audível palavrão, quando um pequeno fragmento de lembrança irrompeu em sua mente.
- Como pude esquecer você? - ele se martirizou, finalmente recordando que não havia chegado sozinho em casa esta noite.
Com os punhos cerrando-se de revolta e remorso, Harry ignorou os protestos de seu corpo ao se colocar de joelhos ao lado de Katheryn. Havia sangue para todos os lados que olhava ao redor dela, que tinha o rosto completamente oculto pela cortina espessa que eram seus cabelos negros. Seu peito subia e descia precariamente, numa velocidade demasiadamente lenta, o que o aliviou e preocupou em igual proporção. Harry afastou os cabelos dela, expondo seu rosto, que estava branco como cera.
- Katheryn? – chamou inutilmente.
Katheryn estava completamente desacordada, pálida demais para alguém que ainda respirava. Seu rosto estava sujo de poeira e cheio de cortes. Se não fosse pelo fato dela ainda respirar - mesmo que, aparentemente, com muito esforço – Harry poderia jurar que ela estava morta. Os ouvidos dela também sangravam, ensopando metade de seus cabelos; mas não tanto quanto suas mãos que estavam, literalmente, em carne viva.
Harry se atentou melhor às mãos dela, e alarmou-se. Finos filetes de uma fumaça acinzentada se desprendiam da ponta de seus dedos; a pele de seus pulsos borbulhava como se houvesse algo fervendo sob ela. A julgar pelo intenso cheiro de couro queimado, a estranha queimadura estava começando a consumir os antebraços de Katheryn. Uma queimadura sem chamas.
Por um instante Harry ficou paralisado, completamente atônito, pois nunca vira nada tão chocante, nem mesmo durante toda a batalha que enfrentara em Hogwarts há alguns anos. Recusou-se gastar mais tempo refletindo sobre o quanto Katheryn devia estar sofrendo.
- Diabos! Por que não me lembro? Por que não vi nada? – ele sacudiu a cabeça, angustiado – Droga Katheryn! O que aconteceu com você?
Respirando fundo, na tentativa de não ser dominado pelo pânico – e arrependendo-se no mesmo instante em que o intenso cheiro de sangue entrou por suas narinas -, Harry a tomou nos braços e chutou a porta com força. Quando alcançou o corredor, segurou firmemente sua varinha, sem ao menos se preocupar em trancar a porta ou em ser visto. Também procurou não pensar nas possíveis conseqüências que teria de suportar ao chegar ao seu destino, afinal, não havia outro lugar a ir. Salvar a vida dela era mais importante que qualquer outra coisa no momento.
Harry arfou sob o peso das próprias dores, mas fechou os olhos e girou o corpo, implorando que não fosse tarde demais.
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Rony mexia vigorosamente - com uma colher de pau - o creme espesso que estava dentro do vasilhame de porcelana. Segundo o livro, a massa deveria ser batida por quinze minutos ininterruptos até alcançar a consistência ideal. O problema era que seus braços já estavam doendo, e ainda faltavam quatro minutos para a massa ficar no ponto.
- Eu tenho certeza que já está bom!
- Rony, se você reclamar mais uma vez, juro que você irá jantar aquele bolo velho que está guardado há duas semanas no armário.
- Mas eu acho que já está bem hemogênea, Mione. – Rony insistiu, incerto.
Hermione virou de frente para ele, com as mãos nos quadris. Chegou bem perto e observou a massa. Depois olhou no relógio e estreitou os olhos.
- Parece que sim! – ela comentou, e Rony sorriu – Mas o livro diz quinze minutos, e ainda faltam quatro. E não se diz hemogênea, e sim homogênea.
Rony murchou, infeliz; depois fez carranca e passou a mexer a massa com mais violência do que era necessário.
Hermione deu um sorriso inclinado e chegou mais perto. Depois, afundou os dedos nos cabelos dele e se pôs na ponta dos pés, o suficiente para que seus lábios alcançassem o pescoço dele. Depositou um beijo ali.
- Está aborrecido por me ajudar na cozinha? – perguntou ainda encostada nele, acariciando lentamente seus cabelos vermelhos.
- Eu... Um pouco! – Rony respondeu, se esforçando para continuar aborrecido – Se usássemos magia, já estaríamos jantando.
Em resposta Hermione beijou seu dedo indicador e o pressionou nos lábios de Rony. Pareceu bastante satisfeita quando se afastou dele e voltou sua atenção para a fôrma que precisava untar.
Seu humor andava contagiante desde que Rony chegara de surpresa. Tê-lo tão perto, a ponto de poder tocá-lo ou sentir seu cheiro era um verdadeiro bálsamo. Ouvir seus resmungos, suas reclamações, ou simplesmente ver suas caretas de desgosto aquecia seu coração, e, somente assim, sentia-se completa. Nunca imaginou que pudesse amar tanto cada detalhe na personalidade de Rony, mesmo aquelas que costumava julgar irritantes.
Hermione deu uma olhadela de esguelha para o rosto carrancudo de Rony, tentando não sorrir. Pegou o pacote de trigo que estava sobre o balcão da pia, e deu mais uma lida no livro de receitas.
- Humm! Acho que perdi a prática em cozinhar sem magia. – ela murmurou baixinho enquanto passava o dedo na página e lia o próximo passo no livro de receitas.
Hermione pegou uma faquinha pontuda para abrir o pacote de trigo. Estava terminando de cortar a ponta do pacote quando um barulho de crepitação veio da direção da sala, assustando-a. Resmungou ao ver que havia se sujado de trigo.
Uma voz masculina chamou seu nome com urgência.
- Srta. Granger! Está em casa?
Hermione trocou um olhar curioso com Rony antes de correr para a sala, levando o saco de trigo nas mãos. Não se surpreendeu ao encontrar o rosto de seu instrutor no ministério flutuando nas chamas da lareira, afinal, havia reconhecido sua voz.
- David?
- Ah, me desculpe por aparecer assim de repente, Hermione. Não sabia que estava ocupada. – ele desculpou-se rapidamente assim que viu Rony surgir logo atrás dela – Mas venho trazendo um recado e não pude esperar.
- Um recado? – Hermione se aproximou mais; embora o rapaz sorrisse, ela vislumbrou certa rigidez em seu olhar grave – Aconteceu alguma coisa, Elliot?
O sangue de Hermione gelou quando, de repente, David Elliot deixou de sorrir.
- Parece que sim, senhorita Granger. Recebi um recado urgente do seu ministério, mais precisamente do próprio ministro.
- Kingsley? – Rony ficou ao lado de Hermione; ele também trazia a vasilha de creme nas mãos e continuava mexendo a massa.
- Sim, senhor Weasley! O ministro Shacklebolt queria falar pessoalmente com vocês, mas até interligarmos a lareira dele para cá perderíamos muito tempo, e ele parecia apressado demais para esperar.
- Então, David? – Hermione sacudiu a mão desocupada - Por Mérlin, diga o que houve!
O homem ainda hesitou antes de começar a relatar com detalhes tudo que Kingsley lhe dissera.
Hermione oscilou e largou o pacote no chão após ouvir a última informação de Elliot, fazendo o trigo se espalhar pelo carpete. Rony estava imóvel, parecendo congelado com a colher de pau em uma das mãos e o vasilhame com a massa na outra, incapaz de prosseguir com sua tarefa enfadonha.
- Como assim atacado? Atacado por quem? – Hermione correu e se ajoelhou em frente à lareira com as mãos, sujas de trigo, apertadas sobre o peito - Ele está machucado?
- Não sei lhe dizer! Como eu falei antes, Shacklebolt parecia apressado. Ele me revelou apenas isso e pediu que repassasse a vocês antes de levá-los até lá. O quanto antes. – Elliot emendou.
- Levar-nos até lá? – Hermione tremeu – Só pode ter sido grave. Tenho certeza que foi grave!
Rony se moveu, aproximando-se de Hermione, mas dirigindo a palavra à Elliot.
- Por favor, avise a Kingsley que logo estaremos lá. Nos dê apenas alguns minutos, Elliot.
- Tudo bem! Aguardo vocês aqui no ministério. A chave de portal será liberada em quinze minutos. Certo?
- É o suficiente. – Rony garantiu, largando no chão o vasilhame que tinha nas mãos.
Elliot despediu-se com um educado aceno de cabeça antes de seu rosto desaparecer da lareira.
Rony se virou para Hermione e a segurou pelos braços, colocando-a de pé. Os olhos dela estavam úmidos, e seu queixo tremia de preocupação. Rony segurou-lhe o rosto, buscando seus olhos.
- Hermione, tente ficar calma. Precisamos ir.
- O que aconteceu agora, Rony? – ela descansou as mãos frias e sujas de trigo sobre o peito dele.
- Eu não faço idéia! – Rony respondeu sinceramente, com a voz carregada de ansiedade.
- Voldemort? – ela perguntou em voz baixa, quase num sussurro amedrontado – Não pode ser Ele novamente! É impossível, não é?
- É claro que é impossível! Voldemort está morto! – Rony passou a mão nos cabelos dela - Nós fizemos questão de garantir isso!
Hermione balançou a cabeça, parcialmente convencida. Mas seus olhos ainda estavam turvos.
- Ele tem que estar bem, Rony! – ela repentinamente pareceu brava; sua voz ganhou aquele tom exaltado que ela costumava usar quando os repreendia por não fazerem as lições. Porém, seu rosto estava pálido e nervoso - Ele tem que estar inteiro e sorridente e saudável, exatamente do jeito que o vi da última vez!
- Eu tenho certeza que ele está. É do Harry que estamos falando, lembra? Aquele ali é quase imortal.
Rony conseguiu arrancar um sorriso trêmulo de Hermione, embora ela houvesse estremecido ao som da palavra ‘imortal’. Ela abraçou Rony rapidamente antes de sair em disparada para o quarto, pisando por cima do trigo espalhado e levantando uma escassa poeira branca.
- Pegue o pó-de-flu! – ela gritou lá de dentro – Está na cozinha. Eu pego os casacos.
Quando Hermione sumiu de suas vistas, Rony viu Bichento surgir detrás do sofá, encarando-o enquanto pulava sobre o móvel e se enroscava para deitar, sacudindo o rabo. Rony respirou fundo, tentando acalmar os próprios nervos. Não queria pensar no que seria capaz de fazer caso algo grave tivesse acontecido com Harry. Só o que sabia era que não se permitiria reviver aquele pesadelo novamente. Não estava disposto a ver o pânico e a incerteza novamente nos olhos de sua família, tampouco a perder mais alguém que amava.
- Você acha que um dia poderemos ter uma vida sossegada? – Rony perguntou, olhando para Bichento como se realmente esperasse que ele lhe respondesse. O gato apenas ronronou preguiçoso e deitou a cabeça peluda sobre as patas dianteiras, sem tirar os olhos de Rony, que suspirou – Só posso estar ficando maluco! Vou deixar comida pra você na cozinha, coisa peluda.
Bichento ergueu a cabeça e arreganhou os dentes.
Rony lhe deu as costas e correu até a cozinha, jurando a si mesmo que daria uma bronca daquelas em Harry.
“Não podemos deixar aquele tonto por um segundo que ele logo dá um jeito de colocar o traseiro em risco”, pensava consigo mesmo, tentando ofuscar a apreensão que sentia pelo que poderia encontrar em Londres.
Harry estava sentado em uma maca olhando fixamente para o chão. Na verdade, seus olhos estavam virados para o chão, mas ele não o enxergava. Ha horas vinha tentando, inutilmente, evitar as imagens sucessivas que vinham aportando em sua cabeça, uma após a outra, numa corrente intensa e veloz de figuras e vozes. As imagens simplesmente surgiam, sem que ele pudesse evitar, e desembocavam numa cascata de informações completamente incoerente. As vozes falavam todas ao mesmo tempo, impedindo-o de reconhecer alguma ou sequer entender uma frase, e entrelaçavam-se com as figuras que despontavam velozes, uma atrás da outra. Era como se estivesse sendo obrigado a assistir um filme bizarro em velocidade acelerada, sem que tivesse possibilidade de ver ou ouvir qualquer coisa que pudesse lhe indicar o que estava assistindo. Entretanto, em meio ao borrão de imagens desconexas, já conseguia reconhecer alguns detalhes do que acontecera na noite anterior, embora nada ainda fizesse muito sentido.
Sentia um incômodo na cabeça, uma dor muito diferente das que sentira antes em sua cicatriz - devido à influência de Voldemort e a pavorosa ligação que existia entre eles - mas nem por isso se tornava mais tolerável.
Fazia algum tempo que Harry não via necessidade de se utilizar da oclumência, e achou que, talvez, houvesse perdido a prática, pois não estava conseguindo dominar sua mente por nem um fio de segundo. Tentou veementemente, e por diversas vezes, manter a mente vazia de qualquer pensamento que surgisse, afinal, a impressão era que sua cabeça poderia estourar a qualquer momento. Mas sua sentença se mostrava resolutamente cruel, pois, por maior que fosse seu esforço em repeli-las, as imagens irrompiam uma após a outra, determinadas a não lhe concederem alívio algum. Sempre que buscava assumir o controle, tinha de se resignar em ver toda e qualquer tentativa lhe escorregar pelos dedos como água. Isso lhe deu a absoluta certeza de que, se algum legilimente entrasse por aquela porta, seria capaz de vasculhar qualquer lembrança sua tão profundamente até lhe alcançar a alma.
Sua mente estava sensível e vulnerável ao ponto de fazê-lo temer que elas pudessem lhe escapar espontaneamente, sem que pudesse fazer nada para impedir. Era como se apenas uma linha tênue e delgada o prendesse sua mente a ele, e que qualquer sutil abalo pudesse romper a frágil ligação, deixando-o desprovido de lembranças ou recordações, completamente oco e vazio.
Restava-lhe apenas conformar-se com sua momentânea – ele esperava que fosse assim – incapacidade, e assistir, impotente, cada imagem que irrompia em sua cabeça. Algumas lembranças eram conhecidas, algumas estavam a muito esquecidas e outras, ele podia garantir, não eram suas, visto que havia rostos desconhecidos, assim como lugares que - Harry tinha certeza - nunca havia visitado. Isso, mais do que qualquer outra coisa, não o estava ajudando em nada a descansar. Não pregara os olhos nem por um minuto, pois, além de tudo, a idéia de que existia alguém empenhado em lhe causar algum mal, novamente, era devastador.
Após horas conturbadas e minutos intermináveis, Harry achou melhor desistir de tentar entender alguma coisa, pois percebera que dedicar tanto tempo e esforço para concentrar-se em si mesmo poderia estar sendo seu maior erro. Tentar medir forças contra algo que estava fora de seu controle era uma atitude vã. A única forma que encontrara de obter algum desafogo fora retirando o foco de si e buscando concentrar-se no ambiente externo.
Conseguia bons resultados sempre que os curandeiros entravam no quarto para cuidar de seus ferimentos ou para lhe entregarem alguma poção. As dores no restante de seu corpo também eram eficazes distrações.
O quarto em que estava era espaçoso, embora só houvesse uma cama - justamente a que estava sentado – uma poltrona cheia de almofadas, uma cadeira simples de madeira e um criado-mudo. Embora devesse estar escuro do lado de fora, pois ainda era madrugada, o ambiente estava tão iluminado – por velas que ficavam dentro de grandes bolas flutuantes, exatamente iguais as que viu das outras vezes que estivera no hospital - que chegava a incomodar os olhos. A claridade, no entanto, permitira a Harry contemplar melhor a profundidade dos cortes em seus braços, alguns tão profundos que nem mesmo a boa dose de essência de ditamno administrada conseguiu fechá-los completamente. Incrível como sua dor se tornou mais intensa quando tomou ciência da gravidade de seus ferimentos. E foi guiado por essa recém-descoberta que Harry recusara o espelho que um curandeiro tinha lhe oferecido há alguns minutos, afinal, achava que seu rosto já estava ardendo e latejando o suficiente sem que ele o visse.
Suas calças jeans foram rasgadas até acima dos joelhos pelos curandeiros, e Harry poderia ver com clareza a lasca de pele que se soltara de seus joelhos se as lesões não estivessem encobertas por uma grossa camada de uma pasta amarelada, espessa e mal-cheirosa, mas que lhe causavam um alívio tremendo na região.
Mesmo ainda tendo dores, Harry já se sentia melhor do que quando chegara, e perdera as contas de quantas poções já haviam lhe empurrado goela abaixo. Sua frustração, contudo, não abrandava a cada minuto que precisava ficar ali sozinho com sua cabeça maluca e as pontadas de dor que lhe cumprimentavam de quando em quando, tornando-o consciente de cada parte machucada de seu corpo. Ficara extremamente irritado quando os curandeiros o impediram de sair dali, obrigando-o a permanecer naquela sala, segundo eles, para “repousar”. Descansar era praticamente impossível com a quantidade de imagens que sua cabeça liberava a cada minuto. Suas ‘distrações ‘ – como denominara os momentos de alívio ao conseguir uma folga no laço apertado que o amarrava em sua mente deturpada – não eram duradouras nem fortes o suficiente para barrarem a forte correnteza de pensamentos e mantê-lo resguardado mais do que alguns poucos minutos.
Harry tapou os ouvidos com as mãos, tentando silenciar as vozes que, ora ou outra, voltavam a lhe atormentar, mesmo sabendo que era uma atitude infantil e ineficaz. Não entendia o sentido ou o objetivo de tudo aquilo, e também já não fazia esforço algum para tentar compreender nada no momento, até porque, suspeitava que fosse inútil buscar algo que fizesse algum sentido em sua cabeça agora. Talvez, se tivesse alguma notícia de Katheryn, poderia se tranqüilizar um pouco mais. No entanto, ninguém parecia disposto a lhe repassar qualquer informação sobre o estado dela, o que ele julgava ser um péssimo sinal. Só o que lhe diziam era que “estavam fazendo todo o possível”.
- Por aqui! – uma voz, vinda do corredor, trouxe seus pensamentos de volta para o quarto.
A porta se abriu e, no momento em que Arthur e Molly Weasley entraram por ela, Harry sentiu metade de seus medos lhe abandonarem. Até mesmo as imagens em sua cabeça ficaram embaçadas e as vozes silenciaram um pouco mais. Atrás do casal vinham Percy, Gui e – para surpresa de Harry – Kingsley Shacklebolt.
A senhora Weasley entrou correndo, tomando a frente dos demais; todavia, quando chegou perto o suficiente para fitar melhor o rosto de Harry - com seus olhos cheios daquela preocupação maternal que Harry tanto agradecia – a bruxa parou, no meio da sala, levando as mãos à boca.
- Por Mérlin! Harry... – ela tornou a se aproximar, dessa vez lentamente.
Harry podia ver as lágrimas rasas nos olhos dela, castanhos e expressivos como os de Gina. A lembrança de Gina fez-lo desejar que ela também estivesse ali.
Molly estava com uma expressão desolada, muito semelhante à que ostentava em seu sexto ano em Hogwarts, quando Gui estava na enfermaria com o rosto deformado pelo ataque selvagem que sofrera de Fenrir “Lobo” Greyback. Harry procurou não entrar em pânico.
- Deus! O que aconteceu com vocês?
Harry captou bem a palavra ‘vocês’, concluindo que Molly deveria saber algo sobre Katheryn. Retribuiu o abraço que recebeu, procurando reprimir os gemidos de dor quando fora envolvido pelos braços da bruxa. O incômodo físico fora breve demais, pois logo que se viu protegido pelo calor de Molly, uma onda de alívio se estendeu sobre ele.
- Eu não faço idéia. – Harry disse com uma voz estranha e rouca.
- Harry, como se sente? – o ministro se aproximou da cama, ficando ao lado de Molly.
- Bem melhor agora. – disse com sinceridade, ainda curtindo a sensação boa de não estar mais sozinho.
- Você sabe que vai precisar relatar tudo com detalhes para as investigações, não sabe?
- Ele irá dizer tudo que puder, Kingsley. – Molly replicou protetoramente – Mas não agora. Veja como ele está abatido.
- Eu entendo sua preocupação, Molly. Mas algumas coisas não podem esperar. – Kingsley virou-se para Harry, não fazendo caso do olhar furioso de Molly – Desculpe-me, Harry. Mas você sabe que é crucial eliminarmos algumas possibilidades o quanto antes.
Harry assentiu, conformado. Já andara imaginando algumas coisas a qual precisaria enfrentar sem adiamentos.
- Se quer saber se eu tenho alguma idéia de quem fez isso, a resposta é não. – disse com a mesma voz rouca e cansada.
- Mas você pode garantir, com absoluta certeza?
Harry encarou Kingsley. Sabia exatamente onde ele queria chegar. Apesar de compreender que Kingsley estava fazendo o que seu dever como ministro lhe exigia, não pôde evitar a sensação de desagrado que lhe surgiu na boca do estômago. Era difícil colocar os pensamentos em ordem em meio a toda a confusão que se plantara em sua cabeça, contudo, a informação de que Kingsley precisava, Harry podia conceder.
- Só o que posso garantir é que minha cicatriz é apenas uma simples cicatriz desde o dia em que Voldemort morreu. – ele frisou a última palavra.
- Então não sentiu nada na cicatriz em momento algum?
Harry mordeu a própria língua. Mesmo com todos os obstáculos que estavam erguidos à sua frente, impedindo-o de manter uma linha de raciocínio coerente, alguns pensamentos estavam claros em sua cabeça. Tinha consciência, por exemplo, que, mesmo se Voldemort ainda existisse, não sentiria mais absolutamente nada em sua cicatriz, uma vez que a horcrux que outrora residiu em sua cabeça fora destruída e, com ela, a desprezível conexão que ligava sua mente à de Voldemort. Harry achou melhor se aproveitar da ignorância – sobre qualquer coisa relacionada a esse assunto - dos bruxos que ali estavam, para tranqüilizá-los.
- Nada! Nem cócegas. – disse, gemendo um pouco ao sentir uma fisgada de dor nos braços.
- Agora chega! – Molly decretou, abanando as mãos para que Kingsley se afastasse – O menino está cheio de ferimentos e precisa descansar. Quando ele se sentir melhor poderá responder todas as suas perguntas, mas deixe-o se recuperar em paz agora.
Inegavelmente, todos ali pareceram menos tensos após a declaração de Harry, inclusive Molly.
O Senhor Weasley acenou com a cabeça, num pedido para que Kingsley não insistisse nisso agora. O ministro acenou de volta em compreensão, respeitoso para com o estado de Harry e a preocupação de Molly, e aparentemente satisfeito com as poucas informações que havia obtido. Harry viu o rosto de Kingsley relaxar e adquirir o mesmo ar tranqüilo e seguro de quando ele era apenas um auror e membro da Ordem da Fênix.
Tentou sorrir em agradecimento, mas não conseguiu fazê-lo com sucesso. Sabia que devia contar o que acontecera, mas, agora, não sabia o que dizer. Sua intuição dizia que Katheryn, talvez, pudesse explicar qualquer coisa melhor do que ele. O pensamento levou-o a perguntar:
- Como ela está?
Ninguém sentiu necessidade de perguntar a quem ele estava se referindo.
Molly virou o rosto, procurando o olhar do marido. Depois tornou a fitar Harry, suspirando.
- Ela não está bem. – Molly começou lamentosa – Os curandeiros estão tentando estancar o sangramento nas mãos e a queimadura, mas nenhuma poção faz efeito.
- Eles dizem que, se o sangramento continuar, ela vai morrer antes mesmo da queimadura lhe tomar os braços. – Gui complementou, manifestando-se pela primeira vez.
Harry baixou a cabeça, e Molly acariciou os cabelos dele.
- Harry, não se sinta mal por isso. – ela tentou consolar - Você não tem culpa alguma.
- Eu a levei até em casa. – Harry falou com a voz baixa, ainda encarando o chão – Eu a convidei.
- Ainda assim, você não poderia adivinhar o que aconteceria. – o Senhor Weasley contrapôs.
- Ela salvou a minha vida! – Harry exclamou, erguendo os olhos para Arthur. – É sempre assim! Todo mundo que se aproxima de mim acaba se machucando!
Ninguém se pronunciou. Nada do que dissessem poderia melhorar o ânimo de Harry. De fato, a única coisa que poderia fazê-lo se sentir melhor era que Katheryn sobrevivesse, e essa era a uma esperança que não podiam dar a ele.
Molly pegou, de cima da mesinha, um pano – que estava ao lado da varinha de Harry - e uma tigela cheia de uma poção verde e se ocupou em passá-la sobre os ferimentos no rosto de Harry.
Harry contraiu o rosto sentindo um forte ardor nos locais umedecidos pela poção, mas ele percebeu que os movimentos o faziam sentir mais dor do que o próprio efeito da poção. Embora fosse uma tarefa complicada, procurou manter os músculos da face imóveis. Sentir dor parecia uma sina em sua vida. Deu um sorriso sarcástico.
- Ridículo! – ele murmurou, ainda sorrindo.
- O que é ridículo? – Molly perguntou, embebendo novamente o pedaço de tecido no líquido esverdeado e o levando até um machucado no pescoço de Harry.
- Como eu pude achar que poderia ter uma vida normal?
Molly fingiu não ter ficado abalada, mas quando ela se virou para tornar a encharcar o pano na poção, os homens presentes viram as lágrimas se formando em seus olhos.
- Agora chega de falar bobagens, querido. – ela disse com firmeza, embora sua voz tivesse soado branda – Talvez você só precise descansar mais um pouco.
- Eu não quero descansar! – Harry teimou – Não consigo. E ficar aqui sozinho não me ajuda em nada.
- Por favor, Harry! Tente relaxar. – Arthur colocou, cuidadosamente, a mão no ombro direito de Harry - Não fique pensando nisso. Essa amargura toda é que não vai te ajudar em nada. Vamos, filho.
- Procure se recuperar por enquanto, e deixe o resto conosco. – Kingsley falou com sua voz imponente.
Harry concordou automaticamente. Todos ali se importavam com ele, mas nenhum saberia entendê-lo. As pessoas certas para aquela conversa não estavam ali.
- E Merina? – perguntou, sentindo uma ferroada aguda na bochecha e endurecendo o pescoço para reprimir uma careta.
Molly chegou a paralisar por um momento, mas disfarçou e tornou a concentrar-se em sua tarefa. Percy tomou a palavra.
- Está no quarto andar. – disse lentamente - É lá que a Srta. Calmon está sendo tratada.
- Merina está aqui no Saint Mungus? – Harry perguntou surpreso.
- Sim! Ela era a parenta mais próxima da Srta. Calmon que estava na cidade. E como a moça é auror a serviço do nosso ministério, tivemos a obrigação de avisá-la sobre o ocorrido.
- E... Como ela está? – Harry indagou, não tendo muita certeza se queria tanto assim saber, pois era capaz de imaginar o estado em que Merina deveria se encontrar.
- Em frangalhos. – Molly disse sem interromper seu trabalho, a voz carregada de pesar – Chegou aqui um pouco depois de nós e... – sua voz falhou – Está muito preocupada.
- Ela pediu para que a desculpasse, Harry. – Gui interpôs – Pediu que lhe disséssemos que virá vê-lo, mas ainda precisava fazer algo muito difícil antes de vir até aqui.
- Eu entendo! Imagino que ela se referisse a avisar os pais da Katheryn.
- Merina causou um furor aqui no hospital quando soube do estado da sobrinha. – Gui continuou - Ela exigiu que lhe contassem detalhadamente todos os procedimentos a qual Katheryn estava sendo submetida, bem como as lesões que sofrera.
- O problema é que nenhum curandeiro consegue explicar a procedência dos feitiços que a deixaram daquele jeito. – Kingsley explanou – A queimadura continua se alastrando pelos braços dela e é imune a qualquer feitiço de cura.
- Nem mesmo as poções regeneradoras mais fortes estão surtindo efeito. – Percy informou.
- Quando Merina soube disso e foi impedida de ver a sobrinha, lembrou que a mãe e o pai da moça precisavam saber, e que, talvez, eles pudessem ajudar. – Gui finalizou, e Molly concordou com a cabeça antes de dizer:
- Miranda é uma curandeira competente, famosa por suas pesquisas. E o marido dela é um excelente herbologista.
- Mas, eles vão poder vir? – Harry pareceu repentinamente esperançoso – Digo, os curandeiros vão aceitar ajuda externa?
- Duvido muito que se oponham. Eles já estão quase sem esperanças, Harry. – Arthur revelou – O mais importante agora é salvar a vida da moça.
Harry gemeu quando Molly encostou o pano úmido em um corte em sua testa. Acabara de decidir concentrar-se em sua dor física – na tentativa de aliviar os efeitos de seu sofrimento psicológico - quando o curandeiro, o mesmo que aplicara a pasta fedorenta em seus joelhos, entrou no quarto com dois frascos nas mãos. Suas vestes verde-claro estavam manchadas de algo que parecia ser sangue, mas Harry achou melhor não tomar muita consciência disso.
- Está na hora da segunda dose da sua poção para repor o sangue, senhor Potter. – ele disse de maneira simpática, entregando a Harry o frasco com a poção.
Suspirando de frustração, Harry bebeu obediente todo o conteúdo do frasco, ignorando o gosto extremamente amargo que ficara em sua boca.
O curandeiro sorriu satisfeito.
- Muito bem! Agora tenho um presente. – ele disse, estendendo o outro frasco – Acredito que você esteja precisando.
Harry olhou o pequeno recipiente de vidro e reconheceu, com êxtase, o líquido azulado. Lançando um olhar de profundo agradecimento ao jovem curandeiro, Harry virou o conteúdo do frasco de uma vez, feliz ao sentir o líquido acre escorregando por sua garganta.
Devolveu o recipiente vazio ao rapaz que, juntamente com Molly, ajudou-o a deitar-se confortavelmente na cama.
- Espero que, quando acordar, possamos ter boas notícias para você. – a Senhora Weasley disse docemente, acariciando seus cabelos.
- Obrigado por terem vindo. – Harry disse encarando os demais. Molly lhe retribuiu com um sorriso bondoso.
Sem oferecer resistência a suas pálpebras pesadas, Harry fechou os olhos. Sentiu alguém lhe tirar os óculos do rosto, mas não teve curiosidade de saber quem foi. Apenas deixou seu corpo relaxar sob o efeito da poção, e entregou-se inteiramente a um delicioso sono sem sonhos.
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Rony estava a ponto de formar um buraco no chão da sala de Kingsley. Andava de um lado a outro, impaciente, enquanto aguardava a chegada do ministro; ora ou outra resmungava adjetivos nada lisonjeiros para Hélida Vaugh, chefe do setor de aurores e responsável por deixá-los ali, sem informação nenhuma.
Hermione estava sentada em uma cadeira de frente para a mesa do ministro, e já não tinha unhas nos dedos das mãos, pois sua ansiedade fez-la devorar todas. O fato de Rony não parar quieto apenas agravava mais sua situação, no entanto, não tinha forças nem disposição para pedi-lo que parasse. Tudo que queria era correr até onde Harry estava, e constatar que ele estava bem. Mas Kingsley havia deixado ordens de que, assim que Rony e ela chegassem, esperassem-no em sua sala, pois tinha assuntos urgentes a tratar com eles.
- Assuntos urgentes a tratar conosco. – Rony resmungou novamente – Estamos aqui a mais de uma hora. O que poderia ser mais importante do que encontrarmos o Harry? Suponho que algo deva ter acontecido a ele, senão, não nos trariam até aqui. Aquela macaca velha poderia ao menos ter nos dito se Harry está vivo.
- Não ouse nem pensar em insinuar uma coisa dessas, Rony! Não ouse! ‘Aquele ali é quase imortal’, lembra? – Hermione alertou-o com os olhos faiscando - Deve realmente ter sido algo muito sério, por isso o próprio Kingsley quer vir falar conosco pessoalmente. – constatou atemorizada – Tenho absoluta certeza que, se Harry estivesse muito mal... – ela não conseguiu reprimir um soluço – Ah, eu não agüento mais, esse suspense está acabando comigo! – ela escondeu o rosto nas mãos trêmulas.
Rony correu até ela, arrependido por estar agir tão rudemente num momento impróprio. Porém estava ficando difícil controlar-se diante da situação. Enquanto esteve no Canadá fora mais fácil esconder seus temores para não assustar Hermione ainda mais. Agora, no entanto, que estava tão perto, a, ainda misteriosa, realidade o aterrorizava.
- Eu não estou ajudando, não é? – ele disse envolvendo-a em seus braços. Hermione agarrou-se a ele com força – Me desculpe Mione!
- Não é culpa sua. – ela disse com a voz embargada – Nós só precisamos vê-lo.
Rony concordou com a cabeça e acariciou os cabelos dela, tentando acalmá-la. Nesse momento, Kingsley irrompeu pela porta, sobressaltando os dois que ficaram de pé na mesma hora.
- Que bom que chegaram. – Kingsley fitou Rony e depois Hermione - É bom vê-la novamente, Hermione, mas infelizmente eu não gostaria que fossem nessas circunstâncias. – ele disse com o rosto sério e impenetrável.
- Kingsley... – Hermione começou, dando um passo à frente, mas o ministro calou-a com um simples gesto de suas mãos largas.
- Eu entendo perfeitamente sua apreensão, Hermione. Preciso que saibam que Harry está bem e fora de perigo. – ele segurou a porta aberta - Irei responder todas as perguntas que puder, mas antes quero que venham comigo.
Kingsley falou tão cheio de autoridade que Rony e Hermione limitaram-se a assentir, seguindo-o para fora da sala, ambos quase não sentindo alívio algum, mesmo ao ouvirem que Harry estava fora de perigo.
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Gina amassava o pergaminho com força entre os dedos, praguejando alto. Seus olhos castanhos estavam vermelhos e suas sobrancelhas enrugadas de frustração e contrariedade.
- Gina, calma.
- Não me peça para ter calma, Susan! Tudo que eu não posso ter agora é calma!
- Eu entendo você, mas não adianta culpar Joanne por impedi-la de ir. Sabe que não pode sair agora.
- É um caso especial, Sue! Algo grave aconteceu! Não é justo que me tranquem aqui! Joanne está sendo insensível, pra não dizer maldosa!
- Você não está trancada, Nev’. Sabe que pode sair por aquela porta na hora que quiser. Apenas terá que agüentar as conseqüências disso depois.
- Viu só? – Gina sentou na grama fofa, ao lado de Sue, suspirando – Só porque não podemos ver as correntes, não significa que elas não existam. É injusto que eu sinta que preciso optar. Se eu ficar, é quase como se estivesse dando prioridade a tudo isso. – ela abriu os braços, sinalizando o campo de quadribol.
Sue puxou Gina, fazendo-a descansar a cabeça sobre suas pernas.
- Nev’, não seja tão exagerada e trate de se acalmar um pouco. Ficar nervosa desse jeito não vai lhe ajudar em nada. Não pense que eu não a compreendo, pois seria mentira. – Sue passou as mãos nos cabelos dela – Joanne disse que falou com seu pai, e ele disse que está tudo sob controle. Além do mais, você leu a carta da sua mãe, e ela garantiu que ele está bem. Amanhã teremos um jogo importante e você é uma das principais jogadoras do time. Após o jogo, tenho certeza que Joanne irá liberá-la.
- Ela terá que fazer isso! Se ela não fizer, eu juro que deixo o time!
- Ela fará! – Sue sorriu – Mas caso não faça, eu também deixarei o time. Aliás, se você quiser, faremos isso agora mesmo; pode contar comigo. Arrumamos nossas coisas e vamos imediatamente para o Saint Mungus se isso for acalmar seu coração.
Gina sorriu levemente, sentindo o vento frio da madrugada de verão açoitar-lhe gostosamente a pele, reconhecendo o esforço de Sue em tentar melhorar seu ânimo. Sua vontade era realmente largar tudo e correr até Harry. Mas, ao mesmo tempo, forçava-se a controlar seu temperamento por consideração às suas amigas de time. Não combinava com ela acatar esse tipo de ordem assim, tão facilmente. Mas sua treinadora fizera um bom trabalho com o time, transformando-os em uma família. Aquelas meninas eram quase como irmãs para ela, e somente por elas não jogou tudo pro alto e deixou o centro de treinamento no instante em que soube do atentado que Harry sofrera.
- Eu jamais faria nada que te prejudicasse, Sue. Sei que amanhã será seu primeiro jogo como titular e que é um dia muito importante pra você. Perdoe por eu não estar lhe apoiando como deveria. Acontece que... – Gina olhou para o pergaminho amassado em sua mão - O que eu mais queria era estar ao lado dele agora. Eu sei que Harry precisa de mim.
- Eu imagino que sim. – Sue não teve como discordar - Consigo entender que, mesmo que você permaneça aqui, sua concentração para o jogo evaporou. Eu também entenderia caso resolvesse ir. No lugar de Joanne, eu a deixaria ir, pois você só irá ficar mais tranqüila após vê-lo.
- Você sabe disso porque é minha amiga, Sue.
- Eu sei disso porque estou olhando para os seus olhos agora. – Sue sorriu levemente – E porque sou sua amiga também.
- Se algo grave aconteceu com ele...
- Sua mãe disse que ele está bem, não foi?
- Mas isso não é garantia de que não aconteceu nada grave. - Gina encolheu-se, abraçando as pernas, apertando ainda mais o pergaminho entre seus dedos – Eu... nunca tive tanta vontade de abandonar tudo, de sair correndo daqui, como agora.
Gina se encolheu como uma criança. Para Sue, vê-la dessa forma era uma novidade, pois ela sempre enfrentara todos seus problemas com muita bravura. Achou que descobrira o ponto fraco de Gina. Puxou delicadamente os cabelos vermelhos da amiga para trás, e vislumbrou seu olhar opaco e distante.
- Se quiser vamos agora, Nev’! – disse docemente, mas com convicção.
- Obrigada, Sue! – Gina respondeu, agradecida pela lealdade da amiga.
Gina se acomodou melhor na grama, deixando seus olhos virados para a outra extremidade do campo de quadribol, lembrando-se do acontecimento de algumas horas atrás. O time havia acabado de finalizar seu último treino antes da partida decisiva do dia seguinte, quando recebera a coruja de Percy trazendo um recado de sua mãe, dizendo que Harry havia sido vítima de um ataque misterioso e estava internado no Saint Mungus. Gina ainda sentia a sua boca seca pelo temor.
Não iria sair correndo até Harry às escondidas, pois tinha consciência que, uma vez que estivesse com ele, não o deixaria. Imaginá-lo deitado em uma cama de hospital, machucado, sob os cuidados de outras pessoas, era difícil. Ninguém cuidaria dele como ela. Ninguém poderia abraçá-lo como ela. Ninguém entenderia o medo que, Gina tinha certeza, ele estava sentindo como ela.
Fechou os olhos com força, recusando-se a permitir que seu tormento se convertesse em lágrimas. Tentou relaxar sob o toque consolador de Sue em seus cabelos, sentindo o cheiro da grama. Suspirou resignada, sabendo que precisavam se recolher para o dormitório e permitir que a amiga descansasse um pouco antes da partida. Gina sabia que não conseguiria dormir aquela noite e, pela primeira vez, odiou o fato de estar sobre um campo de quadribol.
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Rony esperou que Kingsley terminasse de lançar o feitiço de confusão no porteiro do prédio onde Harry morava antes de se manifestar.
- Vocês já estiveram aqui recolhendo provas?
- Alguns aurores sim, mas é a primeira vez que estou vindo.
- Harry está aqui? – Hermione perguntou esperançosa, ignorando o olhar curioso que uma das moradoras do prédio, que saía do elevador, lançou à Kingsley.
Hermione e Rony estavam vestidos como trouxas, entretanto, as vestes bruxas de Kingsley não muito discretas. Mas ele não pareceu preocupado com isso no momento.
Os três entraram no elevador. Kingsley apontou a varinha para as costas da mulher trouxa, que já alcançava o portão de saída, e uma luz rosa claro despontou da sua ponta. A mulher parou de andar quando o feitiço a alcançou, e seu corpo estremeceu uma vez antes dela retomar seus passos até a saída tranquilamente. Kingsley aguardou que a porta se fechasse antes de prosseguir com a conversa.
- Harry e Katheryn estão no Saint Mungus. – Kingsley informou sem delongas.
Hermione reprimiu sua preocupação com Harry, não demonstrando ter ficado muito surpresa em saber onde o amigo estava. Mas não pôde refrear certa curiosidade.
- Katheryn? – questionou confusa.
- Sim, ela estava com Harry no momento do... acidente. – Kingsley a encarou seriamente – Ao que tudo indica, ela salvou a vida dele.
- Mas, eles estão bem, não é?
Kingsley suspirou.
- Harry está bastante machucado, mas consciente e seu quadro é estável. Já a moça está em um estado muito delicado, pois se machucou gravemente e, aparentemente, está perdendo muito sangue por conta de uma lesão estranha que não responde a nenhum tratamento.
A porta do elevador se arrastou para o lado. Kingsley tomou a frente, e os outros dois saíram logo atrás. Hermione tinha uma das mãos nos lábios.
- Katheryn. – ela sussurrou com os olhos desfocados e distantes – Oh, meu Deus! Merina deve estar muito abalada.
- Você pode imaginar como o Harry deve estar se sentindo com tudo isso, não é? – Rony perguntou a ela sombriamente.
Hermione encarou-o, afirmando com a cabeça. Dentre todos os tormentos do amigo, o maior sempre fora que alguém acabasse se machucando por sua causa. Se tudo aquilo fosse verdade, Harry deveria estar se afundando em sentimento de culpa.
Kingsley empurrou a porta e deixou que Rony e Hermione passassem primeiro.
Quando entraram, viram alguns poucos aurores vasculhando o local, entre eles, Hélida Vaugh. Assim que os viu, a chefe dos aurores se dirigiu até eles, passando por cima de alguns escombros.
- O que diabos aconteceu aqui? – Rony indagou bruscamente, parado na porta com os olhos arregalados.
Hermione segurou o pulso dele com força, como se quisesse se sustentar. Aquela, definitivamente, não era a casa de Harry que Fleur, Molly e ela decoraram com tanto cuidado.
- Shacklebolt! – Hélida chamou quando se aproximou.
- Então, alguma novidade?
- Nada muito relevante ao que já tínhamos descoberto. – ela revelou frustrada - Não encontramos nenhuma evidência de fogo, apesar das queimaduras da vítima, mas deve ter havido uma explosão. – Hélida apontou a área mais danificada, onde havia metade de uma parede destruída.
- Como é possível que os trouxas não tenham percebido nada? – Hermione quis saber, procurando deixar as preocupações de lado para ser um pouco mais útil – Se de fato houve uma explosão, deve ter havido algum barulho, ou algum abalo ou tremor.
- Me parece que alguém conseguiu pensar em resguardar o local da interferência dos trouxas. – disse a chefe dos aurores – Encontramos vestígios de alguns feitiços de proteção quando chegamos aqui. Isso acabou protegendo o restante do prédio de alguns danos físicos também.
- Aposto que foi a Katheryn. – Rony comentou, passando os olhos em cada canto do apartamento. – É bem a cara dela se lembrar dessas coisas numa hora dessas.
- Encontramos isto aqui, ministro. – Hélida estendeu alguns sacos de plástico. Em um deles havia uma fita de cetim, aparentemente comum, e em outro uma varinha; a madeira da empunhadura estava manchada com sangue – Já averiguamos a varinha e parece não haver nada de anormal.
Kingsley observou os objetos antes de pegá-los e guardá-los dentro do grosso casaco.
- Vou levar até o hospital. Harry estava com a varinha dele quando fui vê-lo esta manhã, mas esta aqui pode ser da moça.
Hermione adentrou mais, tentando chegar até o corredor que levava aos quartos. Tropeçou em um pedaço de madeira, provavelmente das cadeiras da cozinha, mas seguiu em frente. Sentia a sola de seus sapatos esmagando os pedaços de vidro estilhaçados.
- Oh! Meu Deus! – ela gemeu, atraindo a atenção de todos para si.
Rony correu até emparelhar com ela. Nem precisou fazer perguntas.
A quantidade de sangue espalhado pelo chão era assustadora. Havia pegadas de sangue distribuídas por todo carpete e pelo piso de tacos. Um longo rastro vermelho na parede indicava que alguém, muito machucado, se segurara e se arrastara por ali antes de escorregar ao chão. As manchas na parede, bem como as pegadas, deixavam muito claras qual fora o trajeto da pessoa ferida.
Hermione enxugou o rosto ferozmente.
- Eu preciso ver o Harry! Agora!
Ela deu a volta, retornando até a porta de entrada, com Rony em seu encalço. Todos os aurores observavam os dois.
Kingsley os deteve na porta.
- Sei que não conseguirei mais segurar vocês e nem pretendo. Mas eu os trouxe aqui por um motivo. - Kingsley baixou um pouco a voz, o suficiente para que apenas Rony e Hermione o ouvissem - Antes de irem, preciso que me digam se algo aqui lhes chamou a atenção. Algum detalhe que nos ajude a entender o que aconteceu.
- Eu sei que algo muito grave aconteceu, e que alguém saiu muito ferido. Mas, fora isso, não tenho a mínima idéia do que pode ter acontecido. – Hermione revelou – Talvez, depois de conversarmos com Harry, possamos analisar tudo melhor.
- Eu agradeceria. – Kingsley pôs uma mão no ombro de cada um – Sei que Harry conversará com vocês. Então, por enquanto, vocês não têm nenhuma suspeita? – insistiu.
Rony ergueu a voz.
- Suspeitas? – ele deu um riso sarcástico - Pode acreditar: eu tenho as minhas!
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Harry não abriu os olhos. Fazê-lo seria voltar para a dura realidade. Queria continuar dormindo, pois o sono profundo lhe proporcionava o alívio físico e mental do qual tanto precisava. A poção fora tão eficaz que sua mente estava entorpecida, dando-lhe alguns minutos de um revigorante descanso.
Ouviu um barulho, indicando que alguém abrira a porta, mas permaneceu de olhos fechados, sem disposição para conversar com quem quer que tenha entrado e curtindo o fato de poder repousar dentro de si mesmo sem receio.
- Ele ainda não acordou? – ouviu uma voz feminina, provavelmente de alguma curandeira.
- Nem se mexeu. – dessa vez, a voz era masculina. Uma voz que Harry conhecia e que, definitivamente, não esperava ouvir.
- Bom, ele não vai demorar a acordar. – disse a curandeira – Se quiser esperar mais um pouco, fique à vontade. Só o faça tomar esta poção logo que acordar.
- Eu farei. Pode deixar.
Harry ouviu o barulho da porta se abrindo e depois fechando. Só então, arriscou abrir os olhos. A luz não estava tão forte – provavelmente alguém apagara várias das velas nas bolhas flutuantes, para que ele dormisse melhor – a ponto de lhe agredir os olhos, mas, ainda assim, Harry conseguiu enxergar pouca coisa com sua vista embaçada. Passou as mãos pelo travesseiro e, sob ele, encontrou seus óculos. A sala entrou em foco.
- Neville? – sua voz saiu mais rouca do que esperava.
Neville, que havia acabado de deixar um frasco de poção sobre a mesinha ao lado da cama, virou-se para Harry e se aproximou, dando um sorriso tímido, mas de genuína satisfação.
- Ei, Harry! Como você ‘tá?
- Já estive melhor! – Harry disse se esforçando para sentar. Neville o ajudou.
Harry olhou o relógio de pulso e constatou que o sol deveria estar a pino aquele horário da tarde.
– Faz tempo que chegou?
- Não muito.
- Como soube que eu estava aqui? – no momento em que Harry fez a pergunta, a resposta lhe ocorreu, fazendo-o gemer - Aposto que já está nas páginas do Profeta Diário.
Neville deu um sorriso de compreensão.
- Sim. Saiu na primeira página do profeta matinal de hoje. – Neville puxou a cadeira de madeira para perto da cama e se sentou, tirando um jornal enrolado dos bolsos do casaco e entregando a Harry
Harry abriu-o, conformado. Na primeira página havia uma antiga foto sua, aparentemente, do dia após a batalha que houve em Hogwarts, a julgar pelos machucados que tinha no rosto e a roupa que usava. Nunca havia visto aquela foto.
Harry não teve como negar que a foto - mesmo sendo antiga - somada a manchete sensacionalista, causava certo impacto. Gemeu novamente antes de começar a ler.
A manchete exibia, em grandes letras garrafais, a frase:
“Harry Potter sofre atentado misterioso.”
“Estaria o salvador do mundo mágico entre a vida e a morte?
Harry Potter, conhecido por todo o mundo mágico por seu ato heróico de derrotar Você-sabe-quem - o maior bruxo das trevas que já existiu - está internado neste momento no Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos.
Segundo fontes seguras, O Eleito, como era comumente chamado, chegou ao hospital na noite de ontem (sábado) completamente machucado, sangrando e com o rosto desfigurado.
“Se não fosse pela cicatriz em sua testa, eu nem conseguiria reconhecê-lo”, informou uma das pessoas que estavam no hospital no momento que ele chegou. A mesma fonte nos garantiu que Harry Potter não chegou sozinho, pois trazia nos braços uma moça desacordada. Não conseguimos identificar a jovem, mas, segundo informações, seu estado é grave.
O ministro da magia, Kingsley Shacklebolt, foi procurado por nossa equipe, mas recusou-se a fornecer informações, dizendo apenas que o ‘ministério e o corpo de aurores está empenhando em apurar os fatos o mais rápido possível’.
Especular. É só o que podemos fazer sobre o fato. Quem poderia estar tramando contra vida de Harry Potter? Estaria um novo bruxo das trevas escondido nas sombras? Haveria possibilidade de Você-sabe-quem ainda estar vivo? Resta-nos, mais uma vez, confiar nossa segurança ao nossos governantes. Resta-nos torcer para que eles estejam tomando as providências necessárias.
Esperamos apenas que, desta vez, não nos escondam a verdade.”
- Rachel Williams! – Harry exclamou quando leu o nome da repórter que publicara a matéria – Ela sempre escreve muito menos do que sabe. – completou aliviado, dobrando o jornal e o devolvendo a Neville.
- Não foi tão ruim, não é verdade?
- Por enquanto. – Harry disse sem se iludir – Ficaria mais tranqüilo se tivesse certeza que apenas ela publicará qualquer notícia sobre esse assunto.
Neville esticou os braços até alcançar um frasco de poção e o estendeu na direção de Harry.
- Eu prometi te fazer tomar assim que acordasse. – disse meio sem jeito.
- Obrigado. – Harry apanhou o frasco, destampou-o e o virou na boca, fazendo uma careta que fez Neville rir.
- Eu sinto muito por isso. – Neville disse rindo.
- Eu também. – Harry resmungou, tampando o frasco vazio e o deixando sobre a mesinha – Fico feliz que tenha vindo, Neville. – Harry declarou francamente.
- Eu esperava encontrar Rony, Hermione ou Gina aqui. Sei que não sou nenhum deles, mas também sou seu amigo. – Neville falou, sério – Fiquei preocupado.
Harry não encontrou palavras para dizer qualquer coisa. Sentiu remorso por não ter mais tanto contato com Neville desde que se formara em Hogwarts. Deu um cutucão amistoso no ombro do amigo.
- Na verdade, é coincidência eu estar aqui hoje. – Neville declarou, e como Harry pareceu confuso, ele prosseguiu – Eu estava viajando para fazer algumas pesquisas sobre as propriedades curativas de algumas plantas. Cheguei ontem aqui em Londres. Vim hoje cedo fazer uma visita aos meus pais e então ouvi comentários na enfermaria de que você estava aqui.
- Quer dizer que não soube pelo jornal?
Neville negou com um movimento da cabeça.
- Eu comprei o jornal ainda há pouco no salão de chá quando fui almoçar. Sabe, para ler enquanto esperava você acordar. Foi uma surpresa te ver na capa. – Neville deu um sorriso tímido – Fazia algum tempo que você não estampava a primeira página.
- E não sentia a mínima falta disso, acredite. – Harry disse desanimado.
- Harry... – Neville começou meio hesitante - Eu não entendo o que aconteceu e não vou pedir pra você me explicar nada, mas... – olhou para Harry pelo canto dos olhos – Você acha que tem alguma coisa a ver com ‘Ele’? Ou qualquer um ‘Deles’?
Harry compreendeu exatamente a quem Neville se referia e suspirou, questionando-se se todas as pessoas que viessem lhe ver fariam a mesma pergunta. Franziu a testa, pensativo. Não havia possibilidades de ser Voldemort, tinha praticamente certeza disso. Mas não havia parado pra pensar nos outros, naqueles que restaram após a derrota de Voldemort, o resquício da crueldade do Lord das Trevas no mundo bruxo do país. Agora, que sua mente estava temporariamente livre das imagens e vozes perturbadoras – por algum efeito milagroso da poção para dormir sem sonhar -, podia pensar melhor em alguns detalhes.
- Eu não sei. – Harry murmurou, e como viu certo terror percorrer as feições de Neville, explicou-se – Tenho certeza que não foi Voldemort. – garantiu e deu um sorriso enviesado – Dessa vez, nós conseguimos acabar de vez com ele. – Harry ignorou a expressão intrigada de Neville – E a maioria dos comensais da morte restantes está em Azkaban.
- A maioria, mas não todos. Alguns ainda estão foragidos. - Neville lembrou – E eu não sei deveríamos subestimar algum dos seguidores de Voldemort, Harry.
Harry não se surpreendeu por ouvir Neville pronunciar o nome de Voldemort, e concordava que não deveriam subestimar nenhum comensal da morte. Mas as informações que tinha estavam confusas demais em sua cabeça, e muita coisa continuava sem sentido.
- Eu sei disso, mas é tudo muito confuso ainda. – Harry coçou a testa, deslizando os dedos acidentalmente pela cicatriz, refletindo.
Alguns segundos de silêncio depois, Neville arrancou Harry de suas divagações.
- Harry, o que quis dizer com “nós conseguimos acabar de vez com ele”? Digo, eu posso estar errado, mas tive a impressão de que esse ‘nós’ incluiu a mim também.
Com um suspiro, Harry se sentou mais confortavelmente, de modo a poder olhar melhor para Neville.
- Eu acho que nunca cheguei a te dar uma explicação ou sequer te agradecer como deveria, Neville. Por isso você não tem muita noção do quão fundamental você foi.
Neville enrugou a testa e balbuciou:
-M-mas, agradecer o que?
- Agradecer o que você fez em Hogwarts.
- Ah, eu lutei como todo mundo.
- Você cortou a cabeça da cobra.
- Bom isso também! – Neville deu de ombros, como se não fosse grande coisa.
- E você sabe o quanto isso foi importante?
- Pelo jeito como você me pediu, deu pra saber que era importante. Mas eu nunca me perguntei por quê.
- E mesmo assim você se arriscou, mesmo sem saber pelo que.
- Qualquer um que te conhecesse saberia que você jamais pediria para arriscarem o próprio pescoço se não fosse estritamente necessário, Harry. – Neville cruzou os braços – Eu simplesmente sabia que não era qualquer coisa. Eu confiei em você.
Harry, acanhado, deu um sorriso de gratidão por tamanha lealdade. Continuou:
- Você estava certo! Era realmente fundamental que Nagini fosse destruída, Neville. Caso contrário, seria impossível destruir Voldemort. – deixou escapar um suspiro novamente; achava exasperante não conseguir explicar alguns fatos sem precisar entrar nos detalhes indesejáveis – É uma longa história que eu espero poder contar a você um dia. Você merece saber. Mas agora, só posso dizer é que eu nem imagino o que teria acontecido caso você não tivesse matado aquela cobra. Foi muito corajoso.
Neville enrubesceu levemente, mas se empertigou e manteve a voz firme.
- Não precisa agradecer por isso. Eu sabia pelo que eu estava lutando. – Neville enfiou as mãos nos bolsos, e Harry ouviu o barulho de papel sendo esmagado, provavelmente alguma das cascas de chicle de baba bola que sua mãe sempre lhe dava nos dias de visita - Decepar aquela cobra foi parte de uma vingança pessoal. Eu não fiz apenas porque você me pediu, fiz para vingar meus pais e também meus amigos que morreram naquele dia.
Harry deu um sorriso nostálgico e segurou firmemente no ombro do amigo.
- Uma curiosidade. – Harry disse, não achando que era bem uma curiosidade, e sim uma constatação – O que você fez com a espada de Gryffindor?
Neville tornou a dar de ombros.
- Fiz o que deveria ser feito. Devolvi à professora McGonagall. A espada pertence à Hogwarts.
Harry estava a ponto de parabenizar sua atitude quando a porta se abriu repentinamente, sem que ninguém batesse. Neville ficou de pé.
Hermione se precipitou para dentro, com Rony logo atrás. Os dois ainda pararam para olhar o quarto, notando a presença de Neville, antes de baterem os olhos em Harry.
Para Harry, vê-los ali fora como tomar uma poção revigorante. Aquela era uma visita que ele, definitivamente, não esperava naquele momento, visto que Rony e Hermione estavam no Canadá, ou pelo menos deveriam estar lá. Mas, assim que vislumbrou os rostos ansiosos de seus melhores amigos, teve certeza que tudo ficaria bem.
Hermione estava mais pálida do que da última vez que a vira, e seus cabelos um pouco mais compridos - passando-lhe alguns centímetros dos ombros -, mas, no restante, continuava a mesma. Harry visualizou claramente o alívio se estender pelo rosto tão conhecido quando os olhos dela o alcançaram. Quando as sobrancelhas dela se uniram, e seus lábios se apertarem em uma linha fina, Harry não conteve o sorriso involuntário de satisfação que se abriu em seu rosto por rever a amiga depois de tantos meses, mesmo que ela parecesse repentinamente furiosa.
Hermione caminhou em silêncio, mas com passou firmes até Harry. Seu olhar ficando mais duro a cada passo. Quando ela alcançou a beirada da cama, sentou-se ao lado dele e parou para olhá-lo brevemente antes de se aproximar cuidadosamente, passando seus braços delicados ao redor do pescoço dolorido e machucado de Harry, envolvendo-o num abraço terno. Harry retribuiu o abraço, incapaz de tirar o sorriso do rosto enquanto sentia o carinho da amiga e os olhar de Rony, que agora estava ao lado de Hermione.
Harry gemeu um pouco quando sentiu Hermione aumentar a pressão ao redor de seu pescoço, e seu sorriso se transformou em uma careta de dor.
- Está doendo? – ela perguntou sem soltá-lo, apertando-o um pouco mais.
- Um... pouco. – Harry respondeu com dificuldade.
- Ótimo!
Ela afrouxou o abraço e soltou-o, encarando-o logo em seguida. Seus olhos estavam úmidos e brilhantes, e a mesma expressão raivosa.
- Isso foi pra você aprender a nunca mais mentir pra mim! – ela disse com a voz aguda, apontando frenética e acusadoramente o dedo indicador na cara de Harry.
Harry recuou o tronco, ligeiramente assustado e confuso. Esperava uma recepção um tanto mais carinhosa da amiga, já que estava hospitalizado e não se viam há meses. Olhou para Rony em busca de auxílio ou explicações, mas ele apenas ergueu os ombros.
- O que eu fiz? – Harry perguntou desconfiado.
- Você tem idéia do estado em que fiquei quando soube que você tinha sido atacado? – Hermione bradou; o dedo, ainda esticado, quase tocando o nariz de Harry - Você tem idéia do que é ficar sabendo disso estando a milhares de quilômetros de distância?
- Eu...
- Sabe o que Rony e eu sentimos quando soubemos que havia sido tão grave a ponto de precisarmos vir até aqui? – Harry ficou vesgo quando observou o dedo que tremia nervosamente à sua frente, ameaçando arrancar-lhe um dos olhos - Tudo isso sem ao menos saber se você estava bem?
- Mas que culpa eu tive em... – Harry recomeçou, mas foi interrompido por um novo berro.
- Você consegue imaginar o pânico que eu senti quando cheguei no seu apartamento?
- Vocês estiveram no apartamento? – Harry perguntou surpreso, esquivando-se do dedo ameaçador.
Hermione ignorou-o mais uma vez.
- Toda aquela destruição, todo aquele sangue... – ela estremeceu, e finalmente baixou a mão, levando-a em punho até o peito. Ela tomou uma postura reflexiva, como se estivesse recordando um sonho muito ruim.
- Hermione... – Harry começou novamente, aproveitando a brecha – Você sabe muito bem que eu faço idéia do que você sentiu, não sabe?
Hermione piscou várias vezes, e algumas lágrimas rolaram por seu rosto.
- Eu estou bem, não vê? – ele abriu os braços e sorriu, mas Hermione não sorriu de volta.
- Você me prometeu. – ela sussurrou, sentida – Me disse que não aprontaria nada sem que eu estivesse por perto. Me fez acreditar que me esperaria voltar antes de procurar confusão.
Então Harry se lembrou da conversa que tiveram no dia em que Hermione viajara. Lembrou-se o que disseram um ao outro enquanto se despediam. O entendimento se propagou pelo corpo de Harry rapidamente, fazendo-o sentir um arroubo de afeição ainda maior pela amiga.
- Acho que havíamos esquecido de um detalhe. – ele disse segurando as mãos dela – Esquecemos que eu não procuro confusão, ela que sempre me encontra.
Hermione contorceu o rosto tentando não rir, mas não resistiu. Ela deu uma gargalhada engrolada, que se misturou com um soluço, antes de tornar a abraçar Harry.
- Não se atreva a fazer isso comigo de novo, entendeu Harry Potter?
Harry apenas passou a mão nas costas dela em resposta.
- Eu estava pensando em chegar aqui e socar sua cara. – disse Rony, finalmente se manifestando. Ele contornou a cama, sentando do outro lado de Harry. Deu um empurrão no peito do amigo com o punho fechado, e concluiu: – Mudei de idéia.
- E o que te fez mudar de idéia? – Hermione perguntou, olhando para ele curiosa enquanto enxugava o rosto.
- Veja só a cara dele. – Rony apontou para o rosto de Harry – Não tem espaço pra amassar mais nada aí.
- Ótimo! Me sinto bem melhor. Mas se, por acaso, eu vier a precisar sentir um pouquinho mais de dor, me lembrarei de você. Quem seria mais adequado do que meu melhor amigo para me fazer este favor? – Harry ironizou e estreitou os olhos, divertido - Posso saber por que você queria tanto assim quebrar a minha cara?
Rony ergueu o canto esquerdo dos lábios em um sorriso.
- Pensar em fazer isso me acalmava um pouco. Eu fiquei preocupado, cara. – disse fraternalmente.
Harry, tal como havia acontecido com Neville, encontrou-se sem as palavras adequadas para agradecer, ou melhor, não encontrou palavra alguma. Harry precisava arrumar alguma forma de expressar para os amigos o quanto a chegada deles afastara de si os medos e angústias que, há algumas horas, estavam por dominá-lo. No entanto, tinha sérias suspeitas de que eles sabiam exatamente disso.
Neville, que permanecera muito quieto, apenas observando a estranha troca de carinhos, foi quem quebrou o momentâneo silêncio.
- Todos nós ficamos. – disse, se aproximando dos outros três.
Rony e Hermione sorriram para ele. Harry fez uma careta, e desta vez não foi de dor.
- Tão ruim assim? – perguntou, apontando para rosto com um dos dedos.
- Ainda não se olhou no espelho? – Rony indagou admirado, e Harry negou – Fez bem, amigo. Fez bem. – disse, dando-lhe um tapinha no ombro.
- Rony! – Hermione censurou quando viu Harry adquirir um preocupante tom pálido. Neville levou as mãos à boca para segurar a risada.
- Eu só o estou deixando a par da situação, Mione. – Rony olhou para Harry e avisou: – Não vou mentir dizendo que você está ótimo, sendo que está péssimo. Espero que Gina não tenha visto você assim.
- Não o assuste, Rony! – Hermione o repreendeu novamente e analisou criticamente o rosto de Harry – Tenho certeza que o rosto dele irá ficar excelente. Lembra da cicatriz no seu braço após aquele quase estrunchamento que você sofreu? Hoje ela quase não aparece.
- Hum, certo! – Rony concordou, olhando para o braço involuntariamente - Agora, por falar em deixar ‘à par’, que tal nos contar o que aconteceu, Harry? Tenho certeza que não foi um feitiço estuporante que te deixou assim.
Harry sentiu os três pares de olhos cravados em seu rosto, aguardando que ele começasse a relatar uma história, no mínimo, interessante. Mas ele não sabia o que dizer ou por onde começar.
- Alguém te atacou? Houve um duelo?
Harry fitou Hermione, ninguém havia feito aquela pergunta ainda. Observou melhor seu rosto e percebeu que ela estava prestes a dizer mais alguma coisa. Então Harry sentiu a pergunta surgindo, se formando na cabeça dela. Viu claramente os olhos dela fixarem-se na cicatriz em sua testa e os lábios dela começarem a se mover para exteriorizar sua dúvida.
- Não! – disse bruscamente, resolvendo, por bem, responder a pergunta antes que ela fosse proferida.
Harry não sabia explicar por que, mas esse assunto o aborrecia profundamente. A dúvida de Hermione era, provavelmente, a mesma da grande maioria dos bruxos que já sabiam do atentado que ele sofrera. Fora a mesma dúvida de Kingsley, dos Weasley, e também de Neville.
Aproveitou-se da trégua que a poção lhe proporcionara com sua própria consciência, para refletir. Compreendia o receio que os demais deveriam estar sentindo, uma vez que, há tempos atrás, Voldemort já fora dado como morto e, no entanto, retornara pouco mais de uma década depois, tão forte e pavoroso quanto antes. Embora a idéia devesse parecer aterrorizante a qualquer um, não seria extraordinário para nenhum bruxo que o Lord das Trevas pudesse encontrar uma forma de retornar novamente. Não seria extraordinário para nenhum bruxo que não fosse Rony, Hermione, Gina ou ele próprio – e, provavelmente, seu ex-professor de poções, Horácio Slughorn -, pois eram os únicos bruxos vivos que sabiam exatamente os artifícios da qual Voldemort se utilizara para garantir sua imortalidade.
Sendo um dos poucos a ter partilhado da grande descoberta de Dumbledore sobre a existência das horcruxes de Voldemort, Harry achava perturbadora a idéia de que houvesse alguma outra forma do bruxo retornar à vida. Ele sabia que - uma vez destruída a única pedra filosofal da qual tomara conhecimento - a criação de uma horcrux era a única opção, e que, em sua ambição de pela vida eterna, Voldemort ultrapassara a barreira da ganância fragmentando a própria alma em sete partes - na verdade oito se for contabilizada a horcrux acidental, que, no caso, fez com que uma parte de sua alma ficasse guardada e protegida dentro de si - e selado-as em objetos de valor pessoal. Objetos que, com ajuda dos amigos, Harry destruiu um a um. Portanto, como estava profetizado, ele – pois somente ele deveria - enfrentou o último fragmento de alma, que residia dentro do corpo físico de Voldemort.
Então, por mais incrível e extraordinário que ainda possa parecer, ele vencera. Saíra vitorioso e derrotara Voldemort. Ele vira os olhos ofídicos perderem vida e testemunhou a queda de seu corpo inerte. Voldemort estava verdadeiramente morto e, dessa vez, não havia maneira dele retornar. Era um fato.
Agora, a dúvida de todos era a única certeza de Harry: Voldemort havia morrido e continuava irremediavelmente morto! Essa era a realidade, essencial e imprescindível. Precisava se certificar que seus amigos compartilhavam de sua convicção, garantir que Rony e Hermione sabiam que essa era uma certeza irrevogável. Somente excluindo a possibilidade de um possível retorno de Voldemort, teriam condições de investigar seriamente quem fora o verdadeiro responsável por atentar contra sua vida.
Hermione olhava para Harry, ainda tentando entender se o que ele dissera fora uma resposta para sua pergunta não proferida ou se ele estava falando de alguma outra coisa que ela não conseguia compreender.
- Eu sei o que você quer saber, Hermione. – Harry confessou – Eu sei. Todo mundo que vem me procurar quer saber a mesma coisa. Até mesmo os curandeiros já me fizeram essa pergunta.
Neville, aparentemente, compreendeu sobre o que Harry estava falando e pareceu embaraçado. Rony permaneceu calado, mas não demonstrava estar perdido na conversa.
- Eu acho que você já esperava por isso, certo? – Hermione questionou sem se abalar.
- De certa forma. – Harry declarou – Acho a atitude deles compreensiva. Mas... – Harry se recostou nas almofadas e fitou Hermione e depois Rony – Nós três deveríamos saber que essa não pode ser considerada, sequer, uma possibilidade remota.
Hermione confirmou vigorosamente, embora sua convicção parecesse bem mais acentuada agora, após as palavras de Harry.
- Eu sempre soube que era impossível. – Rony afirmou tranquilamente – Mas, apesar de sabermos que não há possibilidade de ter sido obra do próprio Voldemort, não quer dizer que não possa ter sido alguém relacionado a ele.
- Acho que Rony tem razão, Harry. – Neville se intrometeu timidamente; quando ganhou a atenção dos três amigos, corou furiosamente, mas continuou seu pensamento – Que outra explicação teria o fato de justamente você ter sido o alvo do ataque? Pareceu muito algum tipo de vingança e eu sinceramente não consigo ver ninguém, se não comensais da morte, querendo se vingar de você.
- Eu não sei a vida de quantas pessoas eu influenciei, Neville. – Harry disse repentinamente, mais por um impulso involuntário do que por vontade própria.
- Do que está falando, Harry? – Hermione perguntou.
- Eu... – Harry franziu o cenho – Eu não sei. – disse com sinceridade.
Rony e Hermione trocaram olhares significativos.
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N.A:
Bom, está claro que eu estou sob efeito de uma maldição imperius.
Esse cap era pra ser postado 100%, e está aqui 50% dele. Por um lado foi bom, pois não ficou tããão grande, e também por me permitir ter um pouco mais de tempo pra dar continuidade a ele, uma vez que ele é parte crucial da história e está me dando um trabalho gigântico (ahhh, que saudade dessa palavra).
Por falar em gigântico, é desse tamanho que quero os comentários...rsrs.
Gente, tô com um pouco de pressa por isso vou ficando por aqui. Qualquer coisa passo aqui depois, ok?
p.s: Me ajudem a encontrar o comensal que me jogou essa maldição imperdoável. Estou em perigo!
Love you, amados.
Beijokas da Lore
Crack.
Comentários (36)
Huuuuuuuuuuuuummmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm Não sei se merece coment gigântico, vou pensar no seu caso...
2011-07-26Nada disso, dona Letty! Sou uma flor de candura, um mimo de pessoa xD. Bem, todo o meu comentário maravilhoso esfregand na cara de vocês que eu sabia se perdeu quando aquele carioca safado abriu a boca dele, fazer o que né?! Nem sempre a vida é justa (nuss, quanto drama)! Lore, em relação ao capítulo eu vou apenas fazer um breve comentário agora, mais tarde quando eu chegar em casa eu posto um comentário digno. É o seguinte, essa treinadora de Gina é uma fdp, digo logo, nada a ver não deixar a coitadinha ir. Eu tava na esperança do capítulo não acabar antes dela chegar ao hospital e ver Harry, maldade isso, udhhduasdhaushuhasdhuhudasuhasdhu (consigo o capítulo e ainda reclamo). Vou parando por aqui, caso contrário não terei mais como manter meu comentário gigântico. Beijos e ficou perfeito, como sempre fica.
2011-07-26Maravilhoso!! Pensei que este capítulo me acalmaria e deixaria menos ansiosa, mas pelo contrário, só me fez ficar com mais vontade ainda de ler o resto!!Parabéns, continue, e tenha pena de nós, reles leitores e posta o próximo logo.Abração!!
2011-07-26Nossa eu simplismente adorei, a fic ta ficando cada vez mais incrivel. Ah relaxa que nós vamos encontrar o desgraçado do començal que fez isso com você. rs Estou anciosa para o proximo capitulo.
2011-07-26Foi a Lais e o Rick... esses dois sao do mau... ja falei Lore, cuidado com eles, principalmente com a pequena pois eh a mais perigosa de todos hauahuahuahuahauhBjk
2011-07-25uhuuul ! que show , incrivel , simplesmente incrivel ! Quando posta o próximo cap. ?? *---*Quero ver quando a Gina ver o estado do Harry ... hahaha . SUPER ansiosa pro proximo cap. !
2011-07-25