A fugitiva



Hermione fingiu que estava dormindo. Harry ainda permaneceu um bom tempo na cama, observando-a atentamente, e depois saiu do quarto.
Hermione se levantou, foi à porta e à janela, revirou as gavetas e o armário no quarto de roupas, procurou alguma coisa no banheiro e, sem encontrar nada que pudesse usar para fugir, sentou-se na cama, completamente arrasada. Enterrou o rosto na palma da mão, já à beira do desespero e quando o ergueu, levou um susto ao ver a cara feia do elfo doméstico.
- Dobby! – falou ela, o coração acelerado de susto – Você quase me mata! De onde você surgiu?!
- Feitiços de bruxos para trancar portas não se aplicar a Dobby! – disse o elfo, agarrando-se na colcha para subir na cama.
- Cama de Mo-ne Potter ser macia! – disse a criatura, começando a pular, alegremente. As orelhas pontudas de Dobby subiam e desciam com o impacto.
Hermione ficou triste pelo modo como Dobby a chamara. Hermione Potter! Estava casada com Harry Potter. Meu Deus... o que eu fiz?
Seus olhos marejaram novamente. Não podia perder a cabeça. Precisava pensar... precisava achar uma saída.
- Não fique triste, menina. Dobby saber que Harry Potter não fazer mal à própria mulher.
- Ah... Dobby... como pode ser tão fiel a ele, sabendo o que ele faz? Acaso não viu o que aconteceu na noite passada? Firenze, o centauro, estava sendo torturado!
- Dobby saber de tudo o que acontecer na mansão Potter! Mas Dobby saber que é preciso! Harry Potter é sábio.
- Não, Dobby... Harry Potter é mau! O que você acha que vai acontecer com os mestiços quando Harry for o rei? Ahn...?
- Dobby saber que Harry Potter vai ser um bom rei! – disse Dobby, parando de pular para descer da cama, parecendo aborrecido. – Mo-ne Potter não devia ser tão ingrata!
- Ingrata? O que Harry fez por mim?
- Harry Potter ficou louco quando Firenze machucou Mo-ne. Saber que a ferida é mágica. Sabe que só Firenze consegue livrar Mo-ne da Maldição. Se não fosse Harry Potter, Mo-ne já estar morta.
- Foi isso o que ele disse pra você? – perguntou Hermione, ironicamente. – Ele está te enganando Dobby... como fez a mim. Eu acreditei. Eu me casei com ele, e agora... dei a ele, todas as armas de que precisava para vencer as eleições. E você, Dobby... você só é um servo inferior para ele.
- Mo-ne está mentindo! – disse o elfo, cruzando os braços.
Se ela pudesse convencê-lo. Quem sabe Dobby a ajudasse a fugir?
- Dobby... você deve ter conhecido Firenze enquanto estávamos em Hogwarts. Você sabe que Firenze é bom, é sábio, Dumbledore confiava nele. Lembra-se de Dumbledore? Ele lhe deu um emprego, Dobby. Se Dumbledore confiava em Firenze, então...
- Dumbledore deu emprego a Dobby, mas Harry deu a liberdade!
- Dobby... aquele menino que nós dois conhecemos já não existe mais!
Dobby parecia perturbado. Fez menção em sair do quarto, mas Hermione o segurou.
- Pelo amor de Deus, Dobby, ajude-me! Você sabe que eu não quero mal a Harry. Eu o amo... eu o amo, apesar de tudo. Só o que eu quero é evitar uma calamidade. Uma calamidade que vai ocorrer se Harry ganhar as eleições. Vai ser um novo holocausto, Dobby! E criaturas como eu e você serão os primeiros a serem sacrificados. Você quer que isso aconteça?


Harry havia acabado de decorar a mesinha com pão, suco, torradas e frutas. Colocou uma rosa e alinhou a última xícara para que tudo ficasse perfeito. Sabia que era perigoso, por enquanto, deixar que Hermione saísse do quarto, então levaria o café para ela, na cama. Talvez ela ficasse um pouco menos tristinha. Dava-lhe dó ver Hermione daquele jeito. Mas como fazê-la compreender as coisas que ocorriam? Achou que mesmo ele, se não soubesse de toda a história, estaria repugnado com seu próprio comportamento. Não importa! A única coisa que importa é vencer as eleições, então ela verá! Ela saberá!
Ele segurou a mesinha nos braços e começou a caminhar, subindo as escadas para ir ao seu quarto. Teve que desviar quando uma alguém saiu de um quarto, de repente. Era Rony, com uma cara de poucos amigos.
- O que aconteceu? – Harry perguntou.
- Nada! Bem... A festa na noite passada foi boa. Espero que não se importe. Cho está no meu quarto.
Harry sorriu ao ver o desalinho do amigo.
- É ... sei... a festa foi boa, né? Claro que não! Mas mande-a embora antes do meio-dia. Quero que Hermione almoce conosco lá embaixo, e não quero que ela se perturbe com a presença de Cho, sabendo do caso que tive com ela.
- Sim, Harry! – disse Rony, entrando, novamente no quarto.
Harry sorriu, e ainda sorrindo, abriu a porta do seu quarto. No mesmo instante, deixou a mesinha cair, a xícara se espatifando no chão.
- Que porcaria está acontecendo aqui? – perguntou ele, quando viu que não havia sinal de Hermione.



Hermione correu apavorada para fora da lareira na velha casa dos Weasley. Dobby apareceu segundos depois atrás dela. Eles conseguiram sair um pouco antes de Harry entrar no quarto. Se não fosse por Rony ter abordado Harry no corredor, achou que não conseguiria fugir. Mas teria que ser rápida. Sabia que as lareiras estavam sendo controladas e não demoraria para os capangas de Harry descobrirem que ela se transportara para a Toca.
- Vem, vamos Dobby! – disse Hermione, estendendo a mão para o elfo.
- Dobby não ir. Dobby sabe que só vai atrapalhar. E Dobby precisa ajudar Harry Potter.
- Mas, Dobby!
- Dobby vai precisar passar a mão a ferro pelo que fez. E Dobby ainda não estar convencido de que está fazendo o que é certo. Mas, prender pessoas não é certo. Agora vai, Mo-ne...
Hermione não esperou duas vezes, saiu da velha casa e correu o máximo que podia. Quando encontrou a próxima casa, arrombou a porta, para surpresa dos donos que queriam saber quem era ela.
- Sou uma bruxa, como vocês. Fiquem calmos... só preciso usar sua lareira....


A mansão Potter foi virada de pernas pro ar. Harry espumava e gritava, mas ninguém sabia dar uma explicação do que havia acontecido.
- Eu a deixei cinco minutos sozinha e Hermione simplesmente desaparece? – ele gritava. – Onde estão todos? Eu quero que alguém me diga algo. E comecem uma busca imediatamente. Procurem na Igreja onde ela se abrigou da vez passada e interditem os aeroportos, chaves de portais e todas as lareiras que existem...
- Senhor Potter! – disse um dos aurores, descendo as escadas correndo. – Num dos quartos de hóspedes, eu encontrei vestígios de Pó de Flu... acho que ela fugiu pela lareira.
- Descubra para onde ela foi, IMEDIATAMENTE!
- O que está acontecendo? – Rony descia as escadas de mãos dadas com Cho.
- Hermione fugiu!
- De novo? Mas para onde ela iria? Ela sabe que não há como fugir de você...
Harry sentiu um aperto no coração. Na noite passada, Firenze havia falado algo para Hermione que ninguém conseguiu escutar. Harry imaginou que a última palavra fora DRÁCULA!
- Não, Hermione não faria isso. – disse ele, os pensamentos saíam em voz alta.
- Faria o que? – perguntou Rony, sem entender nada.
- Meu Deus... não! – disse Harry, levando a mão aos cabelos negros.
- O que foi, Harry?


Hermione olhou para o enorme relógio na estação de trem. Ainda faltavam oito minutos para que o trem com destino à Romênia partisse. Oito minutos eram uma eternidade. Ela estava parada na porta do lado de dentro do vagão, torcendo para que tudo desse certo. Conseguiu ser rápida. Pegou apenas algum dinheiro em Gringotes e, quase que literalmente, voou para a estação de King Cross, de táxi, é claro. Rezou para que houvesse um trem para Romênia naquele dia e vibrou quando descobriu que um partiria dali a meia hora. Meia hora era pouco tempo; seria o suficiente. Mas, agora, já não estava mais tão certa. Os minutos pareciam se arrastar. O tempo todo ela olhava para a plataforma. Às vezes imaginava os aurores correndo para aprisioná-la. Não podia deixar que isso acontecesse. Mantinha a varinha firme nas mãos, por dentro do bolso do sobretudo. Se isso acontecesse, ela lutaria, mas... não aconteceria. Ela não poderia ser tão azarada. A sorte precisava lhe sorrir, meu Deus... era muito sofrimento para uma só pessoa.
As pessoas no trem olhavam para ela. Por que ela não se sentava? Por que não procurava uma cabine. Não... Hermione estava ali, esperando... esperando...

Viu um homem correndo. Assustou-se, mas era apenas um sujeito comum tentando pegar o trem.
Enfim, a última sirene soou. O trem deu um solavanco. Respirando aliviada, Hermione estava prestes a se virar para procurar um assento, mas não conseguiu. Petrificou. Outro homem caminhava rapidamente em direção do trem. Como ele havia descoberto, meu Deus? Harry Potter parecia assustador naquele sobretudo negro, a capa esvoaçando atrás de si.
- Hermione! – disse ele, quase perto dela. Ela estava apavorada. Não sabia o que fazer. Então quebrou todas as regras que podia ter quebrado. Levantou a varinha, mesmo testemunhada por trouxas, e a brandiu.
Todas as portas do trem se fecharam imediatamente.
Harry parou e levantou a mão. Hermione percebeu que ele tentava abrir a porta, mas ela sustentou o feitiço com a varinha erguida. Eles olhavam fixos um para outro através do vidro da porta.
- Desista! Drácula vai te machucar se for procurá-lo. Desista, Hermione. Não faça o que eu penso que quer fazer – disse ele, a porta começou a tremer diante dela. Meu Deus, mais um pouco...
O trem começou a se mover, lentamente, fazendo Harry acompanhar o passo, sempre ficando a frente dela na porta, então, levantou a outra mão e um grande solavanco parou o trem.
Como ele conseguiu fazer aquilo? Parar o trem, sem usar varinhas, apenas com a força da mente. Que tipo de poder Harry havia alcançado? Parecia-lhe que somente o lado das trevas era capaz de fazer tal ato.
- Já lhe disse, Hermione, venha para mim! Ainda há tempo!
Novamente a porta começou a tremer. Seria questão de tempo até que ele a abrisse. Se foi capaz de parar um trem inteiro, abrir as portas seria fácil como tirar o pirulito de uma criança. Era o fim, não havia o que fazer, ou havia?
Hermione sabia o que tinha de fazer. Se não o fizesse, seria uma escrava de Harry para a vida inteira, e pior, condenaria o mundo a vivenciar o terror da opressão e da tirania.
Então levantou a varinha e gritou:
- Crucios!
Harry foi atirado para trás com o impacto, mas levantou-se rapidamente. O trem solavancou e começou a andar. Hermione ficou olhando da janela. Harry tinha um corte na testa, o sangue escorria pelo rosto. Os olhares dos dois se cruzaram. Havia um brilho intenso e amedrontador nos olhos de Harry. Mas estava livre. Conseguira escapar.... agora... bastava fazer o que precisava fazer. Procurar Drácula e barganhar uma aliança para o bem do mundo.

Estava exausta. E preocupada. Harry controlava as chaves de portal. Ele poderia esperar por ela na Romênia. Mas seria arriscado. A Romênia era território de Drácula, e se Harry quisesse vencer as eleições que já estavam muito perto, faltando apenas um mês, teria que usar de outra estratégia. Não, ele não iria atrás dela. Sabia que sacrificaria tudo se fosse. Ela teria tempo. Então, sentou-se no primeiro banco que encontrou e ali adormeceu.



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