Na noite de núpcias

Na noite de núpcias



Capítulo 7 – Na noite de núpcias

As semanas voaram desde que Harry anunciou publicamente seu noivado com Hermione. Gina ficou arrasada no dia, mas Hermione fugiu um pouco da festa de noivado para consolar a amiga no quarto. Gina não quis recebê-la, mas por fim, deixou que se aproximasse.
- Gina, eu sinto muito, sinto muito mesmo... você sabe que eu não fiz nada para estragar o seu noivado, eu até fugi. Se vim para cá foi porque Harry insistiu, mas não posso negar que sempre o amei, Gina, por favor...
- Você poderia ter recusado! – disse Gina, enxugando as lágrimas.
- Sim, eu poderia... – disse Hermione, abaixando a cabeça. – Mas não seria sincera comigo mesma. Eu o amo, e você sempre soube disso em Hogwarts. Na verdade, você foi injusta pela primeira vez comigo quando ficou com Harry sabendo que eu o amava. Eu não disse nada, não é? Porque eu sabia que Harry gostava de você, mas agora ele gosta de mim. E eu acho que pode dar certo. Nós podemos ficar juntos para sempre,mas você sempre será nossa amiga. Harry quer que você e Rony sejam nossos padrinhos e...
- Ah, Hermione... sua idiota! Você não vê que ele está te usando? Se ele convidou a Rony e a mim para sermos padrinhos é porque não quer se desligar totalmente de meu pai. Ele aumentou 10% das intenções de voto desde que anunciou o noivado de vocês.
- Gina, por favor! – disse Hermione, sentindo-se mal pelo que a amiga lhe dissera. – Eu acredito nele, agora. Ele não me obrigou a voltar, acredito que ele realmente me ame. Ele tem boas intenções apesar de, às vezes, agir... estranhamente...
- Se você quiser se enganar... fique a vontade!
Hermione ficou pensativa. As palavras de Gina a magoavam profundamente e colocavam dúvidas que julgara resolvidas em sua cabeça. Mione costumava perdoar fácil as pessoas que faziam algo de ruim contra ela. Teria ela perdoado Harry? Ele a fez sofrer por demais. E, por mais que pensasse que tudo estava no passado, a verdade é que ainda não tinha resolvido tudo o que havia acontecido entre os dois.
Hermione saiu do quarto de Gina ainda mais abalada do que entrara, quando encontrou Harry no corredor.
- Eu estava procurando por você! – disse Harry, tocando seus lábios de leve – Rita Skeeter está aí e quer que façamos uma entrevista.
- Harry!? – disse Hermione, estacando no corredor, quando Harry puxava sua mão.
- O que foi? –perguntou, sorrindo.
- Harry... você... você não está me usando, não é? – Hermione perguntou, olhando Harry nos olhos.
- Claro que estou te usando, meu amor! – disse ele, com um sorriso alvo e calmo. – Mas meu amor por você é sincero e verdadeiro. Eu te amo, amo tudo o que você é. Então... porque não unir o útil ao agradável?
Hermione sorriu também, mas ainda ficou parada no lugar.
- Se não quiser fazer isso, meu bem, não há problema nenhum. Podemos adiar o casamento. Só quero que se sinta bem.
- Eu ficarei bem... ao seu lado! – disse Hermione, abraçando o noivo.


A data do casamento havia ficado marcada para dali a 20 dias, um mês antes das eleições mundiais. Harry teve que se desdobrar entre organizar sua campanha e o casamento. Hermione tinha que dar entrevistas quase todos os dias, e ficou muito feliz por ter ajudado Harry a crescer para 82% das intenções de voto, coisa singular em votações desse tipo.
Por fim, quando o dia do casamento chegou, a mansão Potter ficou amontoada de pessoas importantes de todos as nações do mundo.
De seu quarto, Hermione podia visualizar o lindo campo preparado harmoniosamente para a cerimônia. O altar foi preparado com um archote decorado com lindas flores silvestres de todas as cores e tamanhos.
Nele havia um homem que Hermione já conhecia. Geralmente, um bruxo licenciado poderia realizar um casamento bruxo, mas Hermione fez questão que o Padre Carter, o mesmo que a havia ajudado há quase 2 meses, celebrasse sua união com Harry Potter, o homem que amava e que dali a poucos minutos seria seu marido.
Teve que contar a verdade ao padre quando o convidou para celebrar o casamento, mas tinha a impressão de que o padre não acreditou nela.
- Ah, Hermione... eu tinha certeza de que você era uma artista! – falou o padre quando ela revelou que era uma bruxa – Isso é alguma peça de teatro?
- Padre, estou sendo sincera... eu SOU uma bruxa! E bruxaria não tem nada a ver com satanismo, caso pense dessa forma. Há muitos bruxos maus, é verdade, mas existem muitos bons. Meu noivo, por exemplo, logo será o rei do mundo bruxo, e tenho certeza de que lutará para o bem de todos...
Mas o padre só sorriu e disse que seria um prazer realizar o casamento, prometendo que o segredo de Hermione (e nessa parte o Padre sorriu mais uma vez) seria guardado por ele como se ela o tivesse contado em confissão.

A multidão de pessoas que invadia agora o campo e se sentava nos bancos brancos, preparados especialmente para a ocasião, a irritava um pouco, mas Hermione já havia decidido há muitos dias que era um mal necessário para a vitória de Harry, que, milagrosamente, já não era mais vista por ela como um problema. Ah... era tudo tão lindo... tão azul... tão vívido. Porque fora tão orgulhosa, passando por tantas dificuldades, ao invés de procurar Harry e resolver tudo isso de uma vez?
Contudo, uma vozinha interior... uma coisinha a toa que a perturbava de vez em quando lhe dizia: “você já se esqueceu de Colin Creevey?”
- Creevey está morto! Eu estou viva e quero ser feliz! – disse Hermione para si, enquanto ajeitava o enorme véu do vestido.
- Hermione, venha logo! – disse Gina, secamente, batendo na porta de seu quarto.
Estranhou a presença de Gina ali. Se fosse o inverso ela já teria partido há muito tempo. Mas não se irritava com a amiga, pelo contrário, ainda queria reatar a amizade que perdera, o que não faria se separando de Harry. Já estava cansada de se sacrificar pelo bem dos outros, agora ela pensaria em si mesma. Ela queria ser feliz e a felicidade estava nos braços de Harry.
Hermione desceu as escadas calmamente. Gina ia À frente para lhe mostrar o caminho. A ruiva usava um sensual vestido vermelho, que ornava com seu corpo e cabelos. Quando finalmente despontou nos jardins, a marcha nupcial começou a tocar...

- Hermione Jane Granger, aceita Harry James Potter como seu esposo, para amá-lo e respeitá-lo, nas horas tristes e alegres, até que a morte os separe?
Hermione estava pensativa quando Harry lhe sorriu animadamente. Uma voz parecia ecoar em sua mente. Uma voz que a lembrava Colin Creevey.
- Hermione? – sussurrou o padre.
- Amor? – disse Harry, parecendo um pouco nervoso com o silêncio de Hermione.
Hermione não podia acreditar. Estava diante de um altar ao lado do homem que amou por toda a vida. Já havia perdido as esperanças de um dia a vida voltar a lhe sorrir. Parecia que agora tudo havia mudado para melhor. Contudo... havia aquela voz...
- Meu amor, você está bem? Mione? - A voz de Harry a despertou novamente.
- Sim, eu aceito! – disse ela, quase mecanicamente. Teve, por um milésimo de segundo, uma sensação ruim lhe apertando o peito. – Eu aceito!

A festa durou toda a tarde, estendendo-se até a noite. Hermione estava quebrada, cansada, terrivelmente fatigada. Havia cumprimentado a todos na festa, o que levou bastante tempo; perdeu a conta depois do quatrocentos. E também havia dançado. Com Harry, primeiramente, que a conduziu perfeitamente, como um príncipe e uma princesa. Depois, passou a dançar com Arthur e todos os ministros da Magia do mundo inteiro ali presentes. E quando os ministros acabaram, ela começou a dançar com os secretários, e depois com os contribuintes da campanha. No fim, havia se perdido de Harry, que ainda parecia estar em campanha, parando para cumprimentar cada filho da mãe presente no casamento.
Cansada e aborrecida, embora sem demonstrar (o sorriso parecia cimentado em seu rosto), Hermione parou para folgar os sapatos que já lhe machucavam os pés. Sem perceber, alguém se sentou do seu lado e lhe segurou a mão.
- Ah, que susto, pe. Carter!
- Está feliz, minha filha? – perguntou o padre, olhando para o palco de danças que agora já estava quase vazio.
- Sim, padre, muito feliz – respondeu ela, tirando os sapatos para massagear os pés.
- Seu marido parece ser bem poderoso. O engraçado é que as pessoas na festa me confirmaram o que você disse, dizendo-me que ele está concorrendo para ser rei dos Bruxos. É alguma religião estranha, minha filha?
- Padre, já lhe disse: sou uma bruxa. A maioria na festa são bruxos, e Harry é o mais poderoso deles. É muito provável que ganhe as eleições e se transforme no rei do mundo bruxo.
- Bem... ainda não sei bem o que isto quer dizer, Hermione, mas... se ele será o rei... então você será a rainha, não?
- Ainda não tinha pensado nisso, padre. Imagino que sim. Imagino que meu status, depois que ele se eleger, seja o de rainha, mas não me importo com isso.
- Seu marido parece muito se importar...
- Ele lutou por isso a vida inteira... é perfeitamente normal que ele leve toda essa história a sério.
- Uhum...
- Por que padre? Por que está me dizendo isso? – perguntou Hermione, olhando para o padre.
- Eu gosto muito de você, Hermione. Se eu pudesse me casar, gostaria que você fosse minha filha. Só quero que você seja feliz.
- Eu vou ser... – disse Hermione, um pouco perturbada com o que o padre falava. Ele queria lhe dizer algo, isso ela percebia, mas não sabia o que era. – Padre? O senhor acha que...
Ele não falou nada. Ficou parado, olhando para o palco de danças.
- Ah... claro que eu vou ser feliz... Quando eu e Harry estudávamos juntos, eu sempre fiquei ao seu lado, e nós passamos por muitas aventuras. Harry já sofreu muito na vida, perdeu os pais muito cedo, viveu sob os domínios de tios cruéis, lutou muito contra... contra alguém que queria fazer o mal para todos do nosso mundo. Harry é o melhor homem do mundo. Se ele está se envolvendo com política é porque realmente quer fazer algo bom para todos.
- Sim, sim, Hermione.... não posso dizer nada de seu marido. Eu nem o conheço. É de você que estou falando...
- Como assim, padre? – perguntou, sem entender mais nada.
- Minha filha... a mim... me parece que você está infeliz...
- Padre, claro que estou feliz... eu me casei com o grande amor da minha vida!
O padre pareceu muito perturbado. Ficou alguns segundos em silêncio, mas quando viu Harry se aproximando, disparou:
- Uma coisa é ver e aceitar, outra é ver e fingir que não vê...
- Amor... – disse Harry, abaixando-se para beijá-la no rosto, enquanto Hermione ainda olhava para o padre com o cenho franzido. – O que foi?
- Nada, Harry... – Hermione respirou aliviada – Acabou? Por favor, diga que sim!
- Acabou, meu amor. – E, sem que ela pudesse prever, Harry ergueu-a nos braços. Hermione deu um gritinho em protesto, mas ele não a largou.
- Padre, o senhor nos perdoe, mas temos uma coisa muito importante para fazer.
- Deus os abençoe, meus filhos! – disse o padre, fazendo um sinal da cruz no ar.
Harry começou a caminhar para a casa.
- Sabe o que eu gostaria? – disse ele, enquanto ela se aninhava em seu colo. – Eu gostaria de não estar em campanha. Daí poderíamos ir até um país exótico, passar a lua de mel. Detesto ter que ficar aqui, sem poder aproveitar...
- Bem... prometa-me que vai me dar uma lua de mel quando você for o rei do mundo! – disse Hermione, acariciando o rosto daquele que agora era seu marido.
- Eu prometo, Hermione. – disse ele, subindo as escadas. – Eu já não agüentava mais essa festa, não porque estou cansado, meu amor, mas porque queria que esse momento chegasse logo.
Harry a guiou para o quarto dele com a casa toda na penumbra. Imaginava onde poderiam estar Gina, Rony e os outros, mas pouco se importava. Agora... o que queria era ficar com o único homem que importava em sua vida.
Quando a porta do quarto se abriu , Hermione ficou perplexa. O quarto de Harry era três vezes maior do que o dela. A cama parecia caber um time inteiro de futebol, e as janelas enormes davam para uma enorme sacada. As cortinas, transparentes, deixavam a luz do luar penetrar naquele quarto que agora também seria seu.
Harry cobriu os lábios dela com os seus, fazendo-a deslizar de seus braços.
- Meu amor... – disse ele, sussurrando em seus ouvidos, enquanto desamarrava o vestido em suas costas. – Eu esperei muito tempo por este momento.
Hermione estremeceu quando Harry passou os dedos pelas suas costas, agora nuas.
- Não precisa ficar nervosa, Hermione... você vai ver...
Mas Hermione estava nervosa. Não podia evitar. Nunca, em toda a sua vida, havia pertencido a ninguém.
Era uma idéia machista, pensou ela, sorrindo. “Pertencer”? Ela não queria pertencer a Harry. Pertencer lhe dava a impressão de escravidão, e ela não queria ser a sua escrava, mas a sua mulher. Queria compartilhar com Harry um momento único de sua vida, um momento de intimidade que serviria para uni-los ainda mais e confirmar o amor que sentiam. Era o que sempre imaginava quando visualisava este momento Por isso, reservou aquela noite a alguém que realmente lhe fizesse sentido. E não havia ninguém mais no mundo inteiro que pudesse lhe fazer mais sentido do que Harry Potter... seu marido.
MEU MARIDO, pensou ela, enquanto Harry a despia, lenta e sensualmente.
Ele beijou seus ombros nus e lhe tirou o vestido, deixando-a apenas com a lingerie branca, enquanto ela beijava-lhe o peito e se soltava cada vez mais para aquele momento.
- Eu amo você, Hermione! – disse Harry, erguendo-a de novo nos braços. Quando ele a colocou na cama, ela começou a tirar seu paletó. Espalmou as mãos no peito dele, enquanto ouvia o coração de ambos, como se batessem num só ritmo.
Harry acariciou os cabelos dela e suavemente se abaixou para cobrir os lábios de Hermione uma vez mais, como se fosse um desvio da natureza fazê-los separadamente, e enquanto sentia o amor pulsando em seu coração, Hermione nem percebeu que nuvens escuras tamparam a lua cobrindo o quarto com a escuridão.


AH.... !
Hermione acordou assustada no meio da noite. Os raios furiosos de uma tempestade clarearam o quarto por um instante. Agora estava mais escuro do que antes. O barulho da tempestade a assustou e ela se virou, procurando por Harry ao seu lado. Espalmou o colchão, mas ele não estava ali.
- Harry? – perguntou baixinho, imaginando se ele estaria no quarto.
Mas não houve resposta.
- Lumos! – proferiu ela, tirando a varinha de debaixo de seu travesseiro.
A luz na ponta da sua varinha iluminou o quarto, mas não havia qualquer sinal de Harry.
Com medo de sair procurando por ele numa casa em penumbras, Hermione apagou a luz e deitou-se para dormir, mas então...

AHHHH!

Um grito! Meu Deus, um grito!

Hermione se sentou novamente com a varinha em mãos. Era um grito de dor. Um grito forte. Meu Deus... o que poderia estar acontecendo?
Levantou-se, vestiu o penhoar e saiu do quarto, a varinha em riste à frente de seu rosto. O corredor foi imediatamente iluminado, mas ela não conseguia ver nada muito à frente. De qualquer forma, precisaria descer, pois o grito parecia vir de baixo.
Enquanto descia as escadas, escutou novamente o grito. Chegou a apagar a varinha e a se encolher em um dos degraus. Queria que seus olhos se acostumassem à escuridão, mas ainda não conseguia ver nada.
Reacendeu a varinha e continuou a descer. Tinha uma boa noção de onde vinha o som. Há alguns dias, descobriu uma porta perto da cozinha. Queria abrir para ver o que era, mas Harry disse que estava fechada com um feitiço poderoso.
Hermione estranhou, mas não quis fazer mais perguntas. Sabia que era um porão, mas não perguntou para que era usado.

AHHHHH!

O coração de Hermione acelerou ainda mais. Escutou aquele grito como se estivesse muito perto dela. Entrou no corredor para a cozinha, mas apagou a varinha de vez.
Para sua surpresa, uma luz iluminava-o. Foi então que percebeu a porta entreaberta, de onde saía uma luz bruxuleante.
Hermione abriu-a com cuidado para que não rangesse. Começou a descer lentamente os degraus de madeira. A luz que vinha dali parecia ser de lamparinas.
Chegou uma hora em que a parede se abriu numa visão aterradora. Ficou parada ali, tentando raciocinar, tentando compreender. Estava petrificada. O horror era tanto que ela não conseguia desviar os olhos.

AHHHHHH!

Era mesmo o grito. O grito de alguém que berra ao ser chibatado. E as chibatas levantavam-se no ar e desciam com mais e mais força, abrindo novas feridas e aprofundando as já existentes. O sangue escorria livre da carne, pelos pêlos, e alcançavam o chão, formando uma poça negra.
“Meu Deus”, pensou Hermione, e uma lágrima escapou de seus olhos aterrorizados.
Era uma câmara. Uma câmara enorme. No centro, o que já fora um belíssimo centauro, estava acorrentado no chão pelas quatro patas, e no alto pelos pulsos. Seu rosto estava tão abaixado que ela não podia ver quem era, mas sabia que só podia ser de Firenze. Um auror grandalhão manejava o chicote com requintes de crueldade enquanto outros três riam ao lado.
De frente para o centauro, e de costas para Hermione, estava Harry. Que parecia intocável. Arthur Weasley estava ao seu lado, mas virara o rosto cada vez que as chibatas açoitavam Firenze.
Gina estava um pouco atrás. Sentada numa cadeira, detinha-se em lixar as unhas como se aquela fosse uma cena entendiante.

“Meu Deus”, disse Hermione baixinho, mas tanto Harry, quanto Gina e Arthur se viravam para ela.

- O que está fazendo aqui? – Harry perguntou.
Ela olhou bem dentro dos seus olhos. Não havia uma única lágrima, um único e fraco indício de que ele estaria arrependido do que fazia. Pelo contrário, permanecia cético, firme e ameaçador como sempre, como sempre...
Sentiu uma dor forte no peito, deixando-a sem fôlego.
Ficou ali parada por alguns segundos, fechando os olhos como se tudo aquilo fosse desaparecer quando os abrisse de novo.
Mas tudo ainda estava lá no mesmo lugar.
Tomada por um sentimento de raiva, como nunca sentiu antes, Hermione lançou um raio de sua varinha, que libertou Firenze das quatro algemas, ao mesmo tempo em que ele tombou no chão.
- Hermione! – Harry quis se colocar no seu caminho, mas ela, juntando forças que não imaginava ter, deu-lhe um soco que o jogou longe.

Rapidamente, ela se ajoelhou ao lado de Firenze e lhe acariciou o rosto.
- Vai ficar tudo bem! – disse ela ao centauro, para acalmá-lo, mas o centauro levantou as mãos, agarrou-lhe o penhoar e a puxou para perto dele, o sangue manchando as vestes brancas.
- PP-PROCUR-RE DRÁC-CUL-LA! SESMONAS! SESMONAS! DIGA A ELE... DRÁ-CUL-LA... SESMONAS!
Firenze sussurrou aquilo em seus ouvidos e depois desmaiou.
- Afaste-se dele, ou serei obrigado a te azarar, Hermione! – gritou Arthur Weasley, apontando a varinha para ela. Gina correu para o lado do pai, Harry se levantava.
- Abaixe a varinha, Arthur... Firenze está desmaiado... – disse Harry, aproximando-se do Ministro para abaixar a varinha.
- O que diabos vocês estão fazendo aqui? – perguntou Hermione, sem controlar as lágrimas que escorriam pelo seu rosto. – Que atrocidade é essa que vocês estão cometendo? Quem vocês pensam que são para torturar uma criatura desse jeito?
- Eu não queria que visse isso, porque sabia que isso te chatearia, Hermione! – disse Harry, dando um passo em direção a Hermione. – Fique calma, Não é nada demais!
- Não é nada demais?! COMO NÃO É NADA DEMAIS?! UMA CRIATURA ESTÁ SOFRENDO... COMO VOCÊS PODEM FAZER ISSO? E SE FOSSE VOCÊS? LIBERTEM-NO AGORA! – disse ela, levantando-se para enfrentar Harry.
- Eu não posso fazer isso, Hermione! – disse Harry. – Você pode não acreditar, mas Firenze é muito perigoso.
- LIBERTEM-NO AGORA OU EU...
- Você não pode fazer nada, Hermione. – disse Harry, firmemente. – Se tentar tirá-lo daqui, eu terei que te atacar...
Hermione ficou pasma. As lágrimas já não paravam de cair de seus olhos.
- Você faria isso...? – perguntou Hermione, sentindo que as pernas dela tremiam. Arthur Weasley, atrás de Harry, levantou um pouco a varinha. Os outros aurores o imitaram.
Derrotada e sentindo uma tristeza profunda, Hermione passou por Harry e correu para cima.
Harry fez menção em segui-la, mas Arthur o segurou.
- Harry... isso é importante! – disse o ministro. – Precisamos tirar a informação de Firenze... o tempo está acabando...
- Depois!
- Mas Harry...
- DEPOIS!

Harry se livrou dos braços do Ministro e subiu as escadas rapidamente. Como ela não estava no quarto que os dois ocupavam há pouco, Harry voltou para o quarto dela.
Hermione arrumava uma pequena mala sob a luz azulada que a varinha dela produzia.
- Eu vou-me embora daqui! Vou embora desse pesadelo para nunca mais voltar!
- Não, Hermione. Você não vai. Não a um mês das eleições.
Aquilo feriu Hermione ainda mais. Como ela não percebeu todo aquele jogo de Harry? Ele a usara desde o início. Harry não havia mudado de idéia, não estava arrependido e não deixaria de usar violência para conseguir o que queria. Provavelmente faria um grande presídio de torturas naquele vale, ao invés do centro de apoio. Não se casou com ela por amor, não seria um bom líder. No fim, Hermione só ajudara o mundo a eleger um tirano, talvez o pior deles, talvez pior mesmo do que Voldemort, o lorde das Trevas...
- Você não vai me impedir... – disse Hermione, resoluta. Pensou em alcançar a varinha, mas antes que o fizesse, Harry agiu.
- Accio Varinha! – A varinha de Hermione voou para as mãos dele.
- Harry... me devolva... – disse Hermione, o coração palpitando, ela tinha medo do que aconteceria. Não sabia o quão ruim era Harry. Seria ele capaz de fazer algum mal a ela? – Harry... por favor... me devolva.
- Hermione... fique calma...
- NÃO VOU FICAR CALMA... ME DEVOLVE A PORCARIA DA VARINHA!
- Eu vou ser bem claro, querida. Bem claro... está bem... Você é minha prisioneira. Será minha prisioneira até que as eleições acabem e eu seja eleito. Ficará bem, só que ficará longe do público, direi a todos que você está doente. Talvez uma doença terminal... o público sempre tem pena dessas coisas. Depois... se ainda quiser... você poderá ir embora e será bem recompensada... terá seu emprego de volta em Hogwarts, ou poderá ficar, se ainda quiser ser minha rainha, mas agora, eu quero que deixe suas coisas aqui e vá dormir em nosso quarto.
Hermione estava enojada com aquilo tudo. Tentava pensar rápido, mas Harry estava no caminho para a sua liberdade. Não poderia fugir pela janela, provavelmente se machucaria na queda e seria ainda pior. Então fez a única coisa que poderia fazer: tentou fugir pelo lado de Harry.
- Não vou deixar você fugir, meu amor! – disse ele, segurando-a com força.
- Me larga, me deixa! – disse Hermione, debatendo-se.
- Calma, Hermione... fique calma...
Hermione lutou, esmurrou, bateu, mordeu. Fez tudo o que pôde, mas Harry não a largou de jeito nenhum. Cansada e abatida, ela finalmente deixou-se vencer, soluçando alto.
- Fique calma... – disse Harry, arrastando-a para fora do quarto.
Hermione ainda tentou resistir e fugir pelo corredor, mas ele não a largou. Segurou-a pela cintura e a abraçou.
- Desista, Hermione!
Hermione esmurrou o peito de Harry, mas de nada adiantou. Ele a arrastou lentamente para o quarto dele e só a soltou depois de entrar e fechar a porta atrás de si.
Ao ficar livre, Hermione correu para as janelas, mas elas não se abriam.
- Eu enfeiticei as janelas hoje de manhã. Eu não planejei isso, querida, preferia que você continuasse casada comigo, sem perceber que...
- Que você é um monstro?
- Fique calma, use a razão... vai ver que tenho razão... Firenze é...
- Firenze é um ser vivo, meu Deus! Um ser vivo, como eu e você!
- Você não sabe o que acontece no submundo da política. Às vezes, temos que tomar decisões difíceis para o bem comum.
Ela virou-se para ele, que detinha as duas varinhas em mãos. Sem ela, Hermione jamais poderia sair dali.
- É isso, não é? Eu sou uma prisioneira... desde o início acho que nunca deixei de ser...
Harry deu um passo em direção a ela, mas, com medo, Hermione se afastou.
- Hermione, não sabe o quanto eu sinto. – disse ele, com um estranho brilho no olhar. Mas ela não podia mas se enganar. Não podia acreditar na sinceridade do seu próprio marido. - Eu queria que essa noite fosse perfeita para você. Queria realmente que fosse especial.
Desesperada, Hermione deixou-se cair no chão do quarto e chorou, arrasada. Era sua noite de núpcias mesmo. A noite que devia ser marcada pela felicidade e singeleza, e agora estava chorando no chão frio de seu quarto enquanto seu marido, o carrasco, a vigiava.
Harry se aproximou, segurou-a pelos ombros e a colocou debaixo das cobertas.
- Acalme-se Hermione, é pro seu próprio bem. Você vai ficar presa aqui, mas é só temporariamente. Se quiser, posso dormir no seu quarto.
- E faz diferença onde você durma? Eu não sou mais do que um objeto para seu uso!
- Não diga isso, querida! – Harry quis fazer uma carícia na testa de Hermione, mas ela virou o rosto. Ele enxugou as lágrimas dela com o polegar e a cobriu com a colcha.
- Preciso ir, agora! Preciso tirar uma informação de Firenze. É por isso que eu o estou torturando. Eu não faço isso porque gosto, Hermione. Eu faço isso porque eu preciso para manter todos a salvo. Um dia você vai compreender e ainda vai me agradecer... não queria que acontecesse dessa forma, Mione... eu juro para você que não queria... durma, meu bem... vai se sentir melhor pela manhã.

Hermione tinha a impressão de nunca mais o sol brilharia para ela. A tempestade havia chegado e só havia choro e lágrimas. Não, pensou ela, enquanto observou Harry sair do quarto. Eu preciso fazer alguma coisa... eu preciso... procurar Drácula!

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