Capitulo 1



CAPITULO I

‘Primeiro dia: domingo’

Harry Potter se lamuriou e voltou a recostar a cabeça no travesseiro, sentindo o doce perfume de Dominique exalar do bilhete que mantinha entre os dedos. Acabara de ler aquele verdadeiro ultimato, e ainda estava em choque.

Incrédulo, sentia-se quase paralisado. Ficou observando o teto do quarto com olhar vago, enquanto a luz do sol invadia o ambiente.
A parca iluminação do local permitia-lhe ver apenas as silhuetas das roupas que deixara espalhadas pelo quarto, na noite anterior. Um pássaro cantava com animação em uma das árvores da vizinhança, exuberando um bom humor do qual Harry não compartilhava.

Isso porque, ao contrário dele, o pequenino cantor não havia encontrado um bilhete em sua cama ao amanhecer, ameaçando sua feliz vida de solteiro.

Sentiu um arrepio percorreu seu corpo, só de pensar no assunto.
"Casamento!", exclamou mentalmente. O que teria levado Dominique a querer arriscar-se a levar à ruína um relacionamento tão perfeito, evocando aquela fatídica palavra? E por que não havia percebido que o momento estava se aproximando?

—Deve estar cego, Potter — disse, em voz alta. — E, com certeza, alienado.

No entanto, Dominique Morrei era linda e sensual o suficiente para fazer qualquer homem ficar cego e alienado.

E, pelo visto, havia chegado sua vez de passar por tal situação.
Ela o enganara, sendo compreensiva com seus maus hábitos e chamando-os de "traços de personalidade".

Ele raramente chegava no horário combinado para buscá-la, mas ela reclamava? Não!

Sempre a levava para eventos esportivos, mesmo sabendo que não a agradavam. Alguma objeção era feita? Também não! Pelo menos, nada ostensivo.

Esquecera-se do aniversário de Dominique nos dois anos anteriores e, além disso, adiara até o último instante a compra do presente de Natal que daria ela. Tanto que a única roupa que encontrara, entre as que ela mesma havia pedido, só estava disponível em um número absurdamente grande.

Ao abrir o embrulho enfeitado e ver o número indicado na etiqueta, o sorriso dela se desvanecera um pouco.

Mas, ainda assim, continuara sendo um sorriso.

Naquele bilhete, porém, Dominique começara a mostrar sua verdadeira face. Casamento! Compromisso!

Mas que golpe baixo, aquele ultimato!

O perfume que exalava do papel em sua mão também ocupava o lado oposto da cama, no lugar onde ele esperava ter encontrado a forma curvilínea e sensual do corpo dela, naquela manhã.

Só que Dominique esperava ocupar aquele espaço pelo resto de suas vidas. E o pior era que aquele perfume lembrava-lhe a louca noite de amor que haviam desfrutado poucas horas antes.

Verbalizando mais uma vez seu desgosto, Harry saiu depressa da cama, ansioso por se afastar das lembranças da presença de Dominique.

—Com certeza ela é louca — declarou a seu próprio reflexo no espelho do banheiro, observando a barba por fazer e as olheiras, resultantes da noite maldormída, embora bem aproveitada. — Para querer despertar a meu lado todas as manhãs, só pode ser maluca!
Colocando as mãos nas laterais do lavatório, inclinou-se na direção de sua imagem.

—Certo, companheiro... Encare os fatos. Você a ama? É a isso que tudo se resume, não é?

Entretanto, nenhuma resposta lhe veio à mente. Era o que deveria ter acontecido, não era? Pelo menos sempre lhe parecera ser o que teria de acontecer.

—Sabe qual é seu problema? — indagou à imagem do espelho. — Você não pensa direito de manhã. Seu cérebro não funciona muito bem antes do meio-dia.

Mas nada mudou quando o sol chegou ao alto do céu. Nem um banho frio serviu para despertá-lo, a ponto de ver tudo com clareza. A enorme xícara, cheia de café forte, só serviu para deixá-lo ainda mais alerta para sua falta de capacidade de pensar no que fazer. Dois pedaços da pizza da noite anterior serviram-lhe como um tardio desjejum, pois foram devorados à hora do almoço.

Esperando que algum milagre acontecesse, Harry fitou longamente a carta de Dominique. Lembrou-se do momento em que a vira pela primeira vez, com os cabelos negros formando ondas sedosas ao longo de suas costas, chegando quase até a cintura. O corpo perfeito e sensual, coberto apenas por um pequeno biquini branco, chamava a atenção de todos, conforme ela caminhava à beira da piscina.

Naquele dia, soubera exatamente o que desejava. Se alguma pessoa lhe dissesse que ele estava prestes a entrar na fila do altar ao segui-la, seria interpretado como um péssimo piadista. Até onde sabia, não havia um homem sequer que não sonhasse em tê-la na cama.

Mas não era apenas com um corpo sensual e curvilíneo que ele teria de lidar dali em diante, mas também com a postura dura e inflexível por parte dela. Engoliu em seco.

Do lado de fora da janela, o pássaro encontrou vários de seus amigos, que cantavam juntos e voavam de galho em galho, nas árvores ao redor, festejando a beleza da tarde ensolarada que os aquecia.

Uma brisa suave dava alívio ao calor proporcionado pelo sol. Para alguns, aquele poderia ser considerado um dos mais belos dias, desde a criação. Mas, para ele, estava começando a parecer o pior dia de sua vida.


Hermione Granger levantou o olhar, sem sair do lugar onde estava. Sentada à mesa da cozinha, na casa de seus pais, ouviu uma voz máscula ecoar pelo ambiente, cumprimentando todos, através da tela de proteção da porta, que levava à varanda traseira da casa. Sem esperar pelo convite, Harry entrou e abraçou a mãe de Hermione, recebendo um beijo maternal em retorno.

Estava acostumado a sentir-se em casa na propriedade dos Granger, pois a frequentava desde os sete anos de idade. Contudo, já não havia traços do garoto que fora. Quem diria que aquele menino chegaria a ter um metro e oitenta e cinco de altura? A calça jeans enfatizava as pernas compridas e fortes, assim como a camiseta branca destacava os ombros largos e o porte atlético.

Parecia que Harry não havia se preocupado muito em pentear minuciosamente os cabelos pretos, que caíam-lhe à testa em ondas espessas, atribuindo-lhe um aspecto meio indomável. Ele também não havia se barbeado, mas aquela era uma visão comum para Hermione. Principalmente aos domingos, pois seu irmão mais velho também era acostumado a não se barbear durante os finais de semana.

Contudo, ao vê-lo retirar os óculos escuros, foi fácil deduzir que havia algo errado. Suas olheiras denunciavam uma noite maldormida, e também muita preocupação.

Mas mesmo assim aqueles olhos verdes mantinham o poder de fazê-la estremecer. Ainda mais quando acompanhados do sorriso descomprometido e avassalador que ele costumava dar.

—Que surpresa agradável! — exclamou a sra. Granger, abraçando-o. — Ainda bem que chegou a tempo de ajudar com as espigas de milho...

—O quê? Hoje não teremos picanha? — perguntou Harry. — Pensei que fosse a mistura tradicional nos finais de tarde de domingo.

A mãe de Hermione sorriu alegremente, antes de responder.

—Trate de sossegar e sente-se, meu jovem. Estou certa de que vai gostar da refeição.

—Mas, nesse meio tempo, terá de trabalhar para fazer jus à sua parte, assim como todos nós — interrompeu Hermione, entregando a ele uma das espigas de milho que estava descascando.

Harry a olhou com ar surpreso, fingindo indignação.

—Você faria um convidado trabalhar por sua refeição?

—Mamãe faz com que todos os esfomeados contribuam com mão-de-obra em troca de comida — resmungou Hermione, colocando uma espiga limpa de lado e pegando outra.

—Mas não se sinta mal por causa disso, Harry — informou a sra. Granger, sorrindo com simpatia ao dar um tapinha na lateral do rosto dele. — Você é um dos meus esfomeados favoritos! Agora sente-se e ajude Hermione. Desconfio que ela está embromando o fim da tarefa, para não receber outro serviço. Agora tenho de ir supervisionar meu próprio marido, que já está demorando muito para acender o forno à lenha. Vocês dois, tratem de levar o milho para mim depois que acabarem.

Assim que ficaram sozinhos na cozinha, Harry sentou-se na cadeira em frente a Hermione.

— Jamais pensei que ouviria algo assim sobre você...

Sem desviar o olhar da tarefa, Hermione franziu o cenho.

Conheciam-se desde que eram crianças, e aquele tipo de demonstração de afeto a incomodava. Sabia que deveria ser imune a ele, mas não era. Aos dezesseis anos, descobrira estar apaixonada, e nunca mais superara a paixão. Mas Harry não sabia. Nem sequer imaginava.

Frequentemente, ela chegava a duvidar de que Harry sequer lembrasse que ambos pertenciam a sexos opostos. Estava mais acostumado a tratá-la como uma velha amiga, colega e companheira de aventuras e molecagens.

Assim sendo, tais sentimentos haviam sido mantidos no mais absoluto segredo e guardados para um futuro incerto, caso ela encontrasse um homem mais sensível a seu charme feminino.

O fato de Harry havê-la ajudado a conseguir um emprego no departamento de publicidade da Corporação Bailey & Salazar, onde ele próprio trabalhava e estava prestes a se tornar vice-presidente, não havia ajudado em nada para que outros homens tentassem se aproximar. Na verdade, surtira o efeito contrário, afastando qualquer pretendente que pudesse estar interessado nela.

Mas, uma vez que era considerada apenas como uma espécie de irmã caçula, restava-lhe apenas o consolo de tratá-lo de uma forma igualmente fraternal.

—Pare de perturbar meu trabalho, Harry — resmungou, descascando furiosamente outra espiga de milho. — O que o traz à vizinhança?

—Você, é claro — respondeu ele, começando a ajudá-la na tarefa.

"Ai, ai... Fique calma, garota", pensou Hermione. Aquela afirmação não significava o que ela gostaria que fosse. Se havia um motivo para aquela visita, com certeza era algo relacionado a trabalho.

—Já lhe falei para se informar sobre o material da nova promoção — disse a ele. — Mas você me ouviu? Não. Qual é o problema agora? Está com medo de não conseguir se atualizar para a exposição?

—Eu? Com medo? Não... Não de algo tão insignificante quanto aquele novo creme dental.

Hermione pegou a espiga que ele havia acabado de colocar sobre a mesa e o fez pegá-la de volta.

—Mamãe gosta do milho bem limpinho. Trate de tirar todos os fiapos, ou vai acabar sem refeição.

—Tenho a impressão de que não estou sendo levado a sério — reclamou Harry, passando a limpar cuidadosamente a espiga.

— Aposto como nem sequer se lembra do nome do nosso novo produto.

A Bailey & Salazar era uma das maiores empresas do país na área de produtos para higiene pessoal. Fabricavam sabonetes, xampus, cremes dentais e outros itens do género.

Em vez de colocar apenas uma etiqueta de "Novo" ou "Ainda Melhor" na embalagem do creme dental mais famoso da empresa, haviam resolvido fazer uma reformulação maior e lançar um produto totalmente novo.

Nos dias que estavam por vir, Hermione e uma equipe de vendas iriam viajar para Las Vegas, a fim de apresentarem o novo produto da Bailey & Salazar em uma exposição anual. Harry, que era um dos pilares do departamento de vendas, seria o responsável pelo sucesso do lançamento, chefiando o grupo.

Diante de tal responsabilidade, qualquer pessoa teria o cuidado de estudar o produto e a campanha, em todos os detalhes. Mas não Harry. Conhecendo-o bem, como conhecia, Hermione sabia que não havia feito isso.

—Não me subestime — retorquiu ele, fazendo uma careta. — Sei muito bem o nome do tal creme dental. É Virgin Fresh.

—Não, não — refutou Hermione. — É Fresh All Day.

—Impossível! Esse era o nome de um antigo desodorante.

—Mesmo assim!

—Está brincando?!

Hermione parou de descascar a espiga e o encarou.

—Não estou, não.

—Então é sério? — indagou Harry, balançando a cabeça negativamente. — Pois é o nome mais estúpido que poderiam ter escolhido. Como deixou que isso acontecesse?

Soltando uma pequena risada sarcástica, Hermione voltou a limpar o milho.

Como poderia impedir os patrões de escolher? Era possível que ouvissem o gerente de vendas, que estava prestes a se tornar vice-presidente, mas ninguém daria ouvidos a uma simples artista gráfica do departamento de publicidade, mesmo que ela fosse a responsável pelo projeto.

—Então, o que quer saber sobre a campanha? — perguntou a Harry.

—Muito, suponho eu. Mas isso pode esperar. Quando telefonei para sua casa e não a encontrei, deduzi que um churrasco aqui, na casa de seus pais.

— Só porque tem sido assim ao longo de todos os domingos de verão, nos últimos vinte anos? Seu raciocínio dedutivo é mesmo impressionante, Harry.

Encarando-a com seriedade, ele se inclinou sobre a mesa, em direção a ela.

— Preciso de você, Hermione.

Sentindo a boca ficar seca, ela se recostou para observá-lo. Jamais o vira tão tenso e nunca o ouvira dizer que precisava dela de uma forma tão direta.

— Estou com um problema sério — continuou Harry.

O que mais poderia esperar dele? Uma declaração de amor?, pensou ela, com ironia.

—Eu sabia que, cedo ou tarde, isso aconteceria. O que descobriram sobre você? O que andou aprontando?

—Do que está falando? — indagou ele, confuso.

—Dos artifícios que deve estar usando para conseguir aquelas vendas monstruosas. Se descobriram algo ilegal...

—Não seja tola. No que diz respeito ao gerenciamento do meu departamento, só dependo do meu toque de Midas. A vice-presidência está garantida. Não é isso o que me preocupa. Dominique é meu problema no momento.

Hermione o encarou, sem expressão.

—Dominique. Aquela loira alta, sensual e volúvel que está sempre agarrada ao seu braço?

—Isso mesmo — confirmou ele, não se importando em desmentir a definição de que sua namorada era volúvel. — Ela quer se casar.

—É mesmo? Com quem? — perguntou Hermione, com ar inocente.

— Comigo, é lógico!

Com a voz cheia de sarcasmo, ela disse:

—Verdade? Isso sim é o que chamo de tragédia. E o que será que levou a coitadinha a ter uma ideia dessas?

—Essa é uma resposta que eu gostaria de ter.

—O que acha do fato de havê-la convidado para morar com você, no mês passado? — sugeriu Hermione, recostando-se na cadeira.

—Não pode ser por isso. Ela nem aceitou, está lembrada?

—É lógico que recusou — confirmou Hermione. — Por que não o faria? Você mesmo destruiu qualquer chance de sucesso, ao declarar que havia espaço para a lavadora e a secadora dela em sua área de serviço.

—Eu estava apenas me preocupando com os pertences de Dominique.

—Oh, claro. Isso sem mencionar a implícita preocupação com sua própria pilha de roupas sujas — acrescentou Hermione, começando a descascar outra espiga. — Então, qual é o problema? Ela é linda, tem equipamento próprio de lavanderia, e quer você. O que mais um homem poderia querer em uma esposa?

—Bem que eu gostaria de saber. Queria ter uma resposta para isso também.

—Hum... Bastante moderno da parte dela, pedi-lo em casamento. Como aconteceu? Ela se ajoelhou a seus pés? Mandou flores? Marcou um jantar romântico?

Largando a espiga que tinha nas mãos, Harry pegou um pedaço de papel do bolso e colocou-o sobre a mesa.

—Dominique deixou isso para mim.

—Pode guardá-lo. Não quero saber de suas cartinhas de amor — informou Hermione, deixando o pequeno bilhete no lugar onde estava, sem tocá-lo.

—Carta de amor? — indagou ele, indignado. — Isso aí nem mesmo se parece com um carta de amor! Na verdade, assemelha-se mais a uma ameaça de morte.

—É mesmo? — Intrigada, ela pegou o papel na ponta dos dedos. — E qual é o grande problema?

—Bem, para começar...

A porta da cozinha foi aberta com um movimento brusco, interrompendo-o.

— Escondendo-se aqui dentro, grandalhão? — perguntou Josh, o irmão mais velho de Hermione, dando um tapa no ombro de Harry. — Faz muito tempo que não nos vemos, velho amigo.

—Que eu me lembre, sempre foi difícil encontrá-lo quando havia algum trabalho a ser feito nas imediações — brincou ele, ao retribuir o tapa no ombro.

Hermione ficou de pé e começou a reunir os restos das cascas das espigas, tendo o cuidado de guardar o bilhete sorrateiramente no bolso. Era óbvio que Harry não gostaria que Josh soubesse daquilo.

—Não trouxe Sally com você hoje? — indagou Hermione, olhando para o irmão.

—Claro que ela veio. Está lá fora, conversando com papai e mamãe — explicou Josh, superficialmente, mostrando-se mais interessado em Harry do que na noiva. — E então, meu velho? Vamos desenferrujar nossas habilidades de jogadores de beisebol?

Hermione esperava ouvir uma recusa. A proposta de casamento de Dominique o colocara em cheque, precisavam de tempo para conversar e encontrar um meio de resolver esse problema.

Harry a procurara apenas em busca de orientação. Depois do problema haver sido solucionado, só lhe restaria a tarefa de sufocar de vez a esperança de que Harry viesse a se apaixonar por ela um dia.

Tendo isso em mente, foi uma surpresa vê-lo se levantar com rapidez, como se houvesse esquecido o motivo que o levara à casa dos Granger.

—O equipamento ainda está onde o guardávamos quando éramos adolescentes?

—Claro que sim — respondeu Josh, deixando a cozinha acompanhado pelo amigo.

Hermione ficou parada, observando a cozinha em silêncio.

No fundo, sabia que não devia haver se surpreendido tanto. A capacidade de Harry em protelar decisões era algo aparentemente imutável. Ela própria jamais adotaria aquele tipo de comportamento.

Com certeza, ele estaria pronto para conversar após a refeição. Se conseguisse elaborar as perguntas certas, era provável que pudesse ajudá-lo a se decidir naquela mesma noite. Mas teria de estar preparada para a decisão, qualquer que fosse ela.

E havia apenas um meio de começar a ingrata tarefa.
Recostando-se na cadeira e deixando as espigas de milho na bacia à sua frente, tratou de pegar a carta que guardara no bolso e abri-la. O perfume provocante de Dominique ainda estava exalando do papel. "Querido Harry..."

A porta da cozinha mal havia sido fechada atrás de Josh e de Harry, quando o ranger das dobradiças voltou a chamar a atenção de Hermione. Era sua futura cunhada que acabara de entrar na cozinha.

Sally Reiner tinha uma aparência delicada e frágil, com cabelos loiros, muito claros, e olhos azuis que demonstravam confiabilidade. Estava vestida de forma simples, com uma bermuda leve e uma camiseta justa, tendo os cabelos soltos sobre os ombros. Uma bolsa enorme pendurada ao ombro completava seu visual.

Parecia uma aparência simples, mas que tinha algo de clássico, pensou Hermione, questionando pela primeira vez o que aquela moça teria visto em seu irmão, a ponto de aceitar passar a vida ao lado dele.

Sally olhou para trás e ao redor de si, ao entrar na cozinha.

—O que Harry está fazendo aqui? — perguntou ela. — Ou melhor, onde a "medusa" está escondida?

—Dominique não está aqui — respondeu Hermione, voltando a dobrar e guardar o bilhete.

—Sei... Deve estar em outro lugar, aterrorizando pessoas indefesas, não é mesmo?

- Sem dúvida alguma. Mas, como tem passado, desde a última vez em que nos encontramos? Meu irmão continua com aquelas sugestões idiotas sobre locais exóticos para a lua-de-mel?

Sally riu ao ouvir aquilo, sentando-se na cadeira que Harry havia ocupado.

—Pois é. Acho que a ideia de pescar peixes voadores continua no topo da lista de aventuras que ele quer experimentar.

—Eu bem que avisei. Esse sempre foi o "ás na manga" do meu irmão. É uma forma de adiar mais o casamento, provocando-a com tais sugestões.

—Mas não vai funcionar desta vez — avisou Sally. — Ainda bem que tenho o livro para me aconselhar.

—O livro? Que livro?

Sally arregalou os olhos e observou tudo à sua volta, certificando-se de que estavam sozinhas, antes de dizer:

—Você não sabe sobre o livro? E este aqui — disse ela, retirando um pesado volume da bolsa. — Jure que não contará a ninguém que o estou usando.

Era um livro grosso, de capa brilhante e com letras vermelhas. Algo bastante chamativo, mesmo que de gosto duvidoso.

—Oh!

—Aliás, parece-me justo que eu lhe passe isto, agora que seremos praticamente irmãs.

—“Fisgue seu Homem”? Deve estar brincando... — desdenhou Hermione, ao ler o título do livro.

—Ora, funciona. Tudo o que tem a fazer é seguir cada passo e pronto! Logo estará ouvindo a marcha nupcial.

—Sim, claro — caçoou ela, devolvendo o livro a Sally, que o empurrou de volta para a futura cunhada.

—Fique com ele. Eu praticamente já decorei o livro todo. É graças aos conselhos e táticas de “Fisgue seu Homem” que ando tão ocupada, preenchendo convites de casamento. Você poderia fazer a mesma coisa.

Por um breve instante, o rosto charmoso de Harry preencheu a mente de Hermione. De fato, foi preciso um grande esforço para conseguir reagir.

—Obrigada, Sally. Mas não há ninguém que eu queira "fisgar" no momento.

—Deveria haver.

—Pare com isso e seja sensata, minha amiga.

—Mas estou sendo! O livro pode ajudá-la — afirmou Sally.

—Mesmo que os livros de auto-ajuda sejam a grande mania dos anos noventa, não estou tão desesperada assim — declarou Hermione.

—Está sim — insistiu Sally. — Sei que não tem um encontro há anos. E conheço muito bem o motivo.

—Sabe mesmo?

—Claro que sim. Você é muito boazinha.

—Muito boazinha?

—Pense nisso: qual a mulher que conhecemos que consegue manter todos os homens, disponíveis ou não, desfilando à sua volta e implorando por atenção?

—Ora...

—Está sendo boazinha de novo. Seja mais felina, Hermione. Estou falando de Dominique, claro!

Hermione pensou no dilema que estava atormentando Harry.

—Mas ela só está interessada em um homem. Sendo assim...

—Aí está você de novo, sendo inocente — interrompeu Sally.

—Pensei que eu fosse boazinha.

—Que diferença faz? Nós duas sabemos que ela não dá a mínima para Harry, e sim para o que ele pode proporcionar a ela. O problema é que os homens parecem adorar mulheres desse tipo. Só Deus sabe o motivo!

—Ainda assim... — começou Hermione.

—Você não vai defendê-la, vai? — protestou Sally, com impaciência.

—Bem...

—Muito boazinha e muito inocente. Não acha que já é tempo de fazer alguma coisa boa por si mesma, para variar?

—Mas eu sempre faço...

Sally deu um tapinha na capa do livro.

— Leia isto e tome uma atitude que a fará sentir-se maravilhosa, como... Ei! Aposto que tirar Harry de Dominique seria um bom exercício de poder feminino.

—Do que...?

—Pare de engasgar como um peixe fisgado, Hermione. Sei que pode conseguir o que quer. Harry seria muito mais feliz com você do que com aquela medusa malvada.

—Mas...

Sally se inclinou sobre a mesa e voltou a interromper a amiga.

— Particularmente, acho que ele é muito alto. Pelo menos para meu gosto. Mas você também é bastante alta, e praticar com ele será fácil, pois poderá pular muitas etapas do livro, já que o conhece há muito tempo. Mas tenha sempre em mente que você merece alguém muito melhor do que ele.

Hermione ficou de pé, indignada.

—Acho que de tanto fazer planos de casamento sua sanidade começou a ser afetada, Sally, senão você jamais pensaria em sugerir algo assim. Vamos mudar de assunto, sim? Quer um pouco de limonada?

—Quero sim — aceitou Sally. Sem mudar de assunto, prosseguiu: — Tenho pleno poder de minhas faculdades mentais. Estou agindo em autodefesa, só isso. Adoro você, querida, mas Harry é um dos melhores amigos de Josh, e se ele continuar namorando Dominique, terei de aturá-la pelos anos que estão por vir. Acho que deveria encarar isso como uma espécie de cruzada: salvar Harry de seus próprios... hormônios.

Sally fez uma pequena pausa, antes de continuar:

— E então? Vai ficar com o livro?

Hermione suspirou, enquanto pegava dois copos no armário e enchia-os de refresco. Se tivesse um meio de prever o que estava enfrentando naquela tarde, nem mesmo teria saído da cama pela manhã, e muito menos ido passar o dia na casa da família. Teria sido mais seguro ficar em casa, sozinha.

— Não vou seduzir Harry para afastá-lo de Dominique — insistiu, encarando Sally.

Por mais que a ideia fosse tentadora, era claramente impossível. Harry estava enfeitiçado por aquela mulher. Assim que superasse o choque da ideia de se casar, ele ficaria ávido para chegar ao altar.

—Ora, mas... — começou Sally, sendo interrompida por Hermione.

—Se eu aceitar este livro bobo, promete parar de me atormentar?

—Só se prometer que pelo menos vai lê-lo — insistiu a futura esposa de Josh, demonstrando uma insistente perseverança.

—Oh... Está bem...


A bola se encaixou na luva de Harry, fazendo um ruído abafado.

— Nada mal... Nada mal... — murmurou, observando Josh correr pela grama, tentando se aquecer.

Era preciso admitir que estava sem prática, embora seus reflexos continuassem bons. Exceto pelos jogos de softball, uma espécie de minibeisebol de salão, jogado com uma bola macia, que eram promovidos pela empresa, sua única participação em esportes era como espectador.

Estava vivendo um período de batalha profissional. Tinha de direcionar cada esforço para alcançar o sucesso na corporação. Com um sorriso franco, um aperto de mão firme e a habilidade de dizer as palavras certas e tomar as atitudes corretas nos momentos oportunos, havia passado à frente de todos. Depois de cinco anos, trabalhando com competência e esforço, estava prestes a conquistar uma vaga como vice-presidente na Bailey & Salazar.

Ao jogar a bola de volta para Josh, ficou pensando em Dominique. Não precisava daquele tipo de preocupação em sua vida. O momento para sofrer tal pressão não poderia ser pior. Não tinha como dar atenção a um assunto sério como casamento, estando dividido entre a promoção iminente, a campanha do novo creme dental e tudo mais.

Do seu ponto de vista, os fatores contra e a favor estavam empatados. Dominique era linda, o que costumava ser uma alavanca na escalada de um executivo, mas não se tratava de algo essencial. Havia alguns boatos sobre a diretoria dar preferência a ter homens casados na direção, por serem mais estáveis, mas Harry jamais se comportava como mandavam as regras. E sempre tinha sucesso.

O que deveria fazer, então? Aceitar Dominique sem oferecer resistência? Com certeza havia um código de honra entre os solteirões, que determinava uma luta árdua e ferrenha antes de sucumbir ao altar.

Não duvidava que, com o tempo, acabaria sendo pego pelo inevitável destino do casamento, mas não estava certo de que havia chegado a hora.

Hermione o ajudaria, disso ele tinha certeza. Era o que ela sempre fazia. Fora sua melhor amiga ao longo dos anos, e com certeza o seria ao longo de toda a vida.

No início, Dominique ficara com ciúme, pois não achara normal que um homem tivesse uma mulher como melhor amiga, mas assim que as duas se conheceram a desconfiança desaparecera. Hermione não era o tipo de mulher que incomodava as namoradas dos outros.

Não que ela fosse destituída de beleza, pelo contrário. Hermione era muito bonita e agradável. Harry gostava muito dos cachos formados pelos cabelos dela. Eram...

Engraçado. Em vez de se lembrar dela como adulta, todas as lembranças que lhe ocorriam vinham do período da adolescência.

Ao receber e agarrar o arremesso seguinte de Josh, ele se virou assim que devolveu a bola, podendo então olhar na direção da casa.

Hermione havia substituído o pai em frente à churrasqueira, e estava cuidando de assar os hambúrgueres. O sol do final da tarde iluminava-lhe os cabelos castanho-claros, proporcionando reflexos avermelhados que ele jamais observara nela antes. A brisa balançava os cachos mais curtos sobre sua testa e as orelhas, como se a estivessem acariciando. Ao notar a extensão daqueles lindos cabelos ao longo das costas dela, Harry se perguntou quando ela deixara de usar rabo-de-cavalo. Como era possível não haver notado tal mudança?

As roupas de Hermione eram sempre largas e discretas. Naquele momento, por exemplo, ela estava com uma camiseta enorme, que chegava quase a cobrir os joelhos de suas pernas esguias, sempre ocultas por folgadas calças jeans.

Mesmo em um almoço informal como aquele, Dominique estaria usando um short justo e curto, com algum tipo de top ou miniblusa, garantindo muita pele exposta ao sol, além da exibição de suas formas curvilíneas.

Por outro lado, Hermione era o tipo de garota com quem era possível ficar conversando discretamente. Pelo menos Harry achava isso, pois sua namorada era o tipo de mulher que fazia qualquer homem notá-la e desejá-la o tempo todo.

No entanto, Hermione tinha os olhos mais lindos que ele já vira na vida. Aquele castanho brilhante parecia vir de alguma jóia com luz própria. A tonalidade sugeria uma beleza infinita, como a cor de um vasto oceano de mistérios.

Mesmo quando estava sendo observado com ar de reprimenda, como acontecera minutos antes, na cozinha, ele sempre soubera admirar a beleza daquele olhar. Além disso, passado o momento do choque, Hermione sempre o acolhia com amizade e o amparava. E ele precisava muito dela no momento.

A bola passou zunindo por seu ouvido.

—Um pouco menos de atenção na comida e um pouco mais na bola, sim? — advertiu Josh.

—Você não diria isso se estivesse perto o suficiente para sentir o aroma daqueles hambúrgueres grelhados — respondeu Harry, sem tirar os olhos da região da churrasqueira. — Além do mais, ninguém presta mais atenção na bola do que eu, não é mesmo, Hermione?

—Você? Se isso é verdade, não há mais esperança para o beisebol — caçoou ela.

Ele correu em direção a ela. Tirando a luva de apanhador e arremessando-a para Josh, disse:

—Sua irmã me ama. Onde mais eu conseguiria uma amiga assim?

Sentindo o braço dele sobre seus ombros, Hermione revirou os olhos antes de responder:

— Tendo você como amigo, com certeza vou receber muitas indicações de canonização.

Harry riu e pegou a espátula de cabo longo que ela tinha nas mãos, e tratou de salvar dois hambúrgueres que estavam sendo engolfados pelas chamas que saíram repentinamente do carvão. Olhando-a com ar de divertimento, falou:

—Essa não... Esqueceu que gosto dos hambúrgueres apenas bem passados? Calcinados eles ficam um pouco amargos.

—Desse jeito não vai conseguir colocar nem um pedaço de carne em bom estado na mesa — reclamou Josh.


Dando um passo para o lado, ela encarou ambos e sorriu, oferecendo o avental.

— Fiquem à vontade.

Puxa, o sorriso de Hermione era mesmo lindo, pensou Harry. Estranho ele nunca haver notado isso antes. Aquele domingo parecia estar repleto de descobertas interessantes.

Ele cultivara uma fama excelente como connoisseur de mulheres, e mesmo assim havia ignorado a beleza de Hermione por tantos anos. Mas era assim que tudo funcionava com pessoas que se conheciam desde a infância: jamais se viam realmente, até que algo as fizesse despertar.

Hermione se afastou ainda mais da churrasqueira.

—Acho que consegui me sair bem desta vez, mas estou me arriscando ao deixar a comida com dois amadores como vocês. — O belo sorriso se ampliou. — Papai me disse que, se eu parecesse bastante incompetente, alguém se irritaria e viria me substituir. Ah, mamãe pediu que eu perguntasse o que vocês querem beber: limonada, chá gelado ou...?

—Cerveja — responderam eles, em uníssono.

Ao vê-la se afastar, Josh se deitou na espreguiçadeira.

— Amadores — repetiu ele, em tom de resmungo. — Imagine só. O dia em que um homem não conseguir fazer churrasco tão bem quanto uma mulher, mesmo que seja hambúrguer grelhado, o mundo estará perdido!

Harry estava observando o movimento feminino e sensual dos quadris de Hermione, movendo-se sob a camiseta, enquanto se perguntava como era possível que jamais houvesse notado aquela graça no andar de sua amiga.

—Pode ser, meu amigo. Mas sua irmã não é uma garota como as outras.

—Não deixe que ela ouça você chamá-la de garota. Hoje em dia, todas querem ser chamadas de "mulheres", como se fosse uma espécie diferente de raça.

—Bem... Na verdade, são totalmente diferentes — anuiu Harry. — Temos de admitir a diferença. Quer ver só? As garotas nós podemos entender. E as mulheres? Nunca. Mas há exceções, que só vêm a comprovar a regra geral: Hermione.

—Há! — desdenhou Josh.

—Pense bem. Por acaso tivemos alguma dificuldade em levá-la a fazer as coisas ao nosso modo?

—O que quer dizer com isso?

—Mandamos que capturasse e desse um banho em um sapo, e ela o fez, não foi?

—Mas minha irmã tinha apenas sete anos na época, e era uma pequena sarna que não parava de nos seguir.

—Nunca me incomodei com isso, ao contrário de você, Josh. Lembra-se daquele dia em que tínhamos a abertura do campeonato, e um de nossos jogadores estava com a perna quebrada?

—Sim... Acho que sim.

—Quem nos convenceu a fazer o melhor acordo da temporada?
Josh deu de ombros.

—Não faço ideia... Quem?

—Hermione — respondeu Harry.

—Como é? — indagou ele, sentando-se na espreguiça deira, com ar curioso.

—Não venha me dizer que se esqueceu. Ela se ofereceu para ficar na posição do jogador que faltava, e provou ser melhor do que o jogador oficial. Graças a isso é que fomos campeões.

— Foi por causa dela? Sempre pensei que fosse graças à minha corrida na rodada final...

— Pare de sonhar — caçoou Harry. — A corrida da última rodada foi minha, mas os pontos já estavam ganhos. Graças à Hermione.

De súbito, uma grande nuvem de fumaça o envolveu. Josh ficou de pé e tomou a espátula das mãos do amigo, falando:

—Você é uma ameaça aos nossos hambúrgueres, isso sim é uma verdade!

—Ora, ora. Que beleza... — disse Harry, deitando-se na espreguiçadeira. — Veja só quem é o trouxa que está cozinhando agora... E você ainda acha que eu é que sou bobo?

—Não sou eu quem está começando a ficar encantado com Hermione.

—Só estava lembrando os velhos tempos.

—Não foi bem o que pareceu, do meu ponto de vista. Aliás, você sempre teve uma "quedinha" pela minha irmã.

—Pare de dizer asneiras. Somos apenas bons amigos e...

—Certo, certo — interrompeu Josh. — Não estou querendo dizer que esteja apaixonado por ela. Não com mulheres como Dominique seguindo você por toda parte. Mas Hermione sempre participou de todas suas loucuras, não é mesmo? Lembra-se daquele salto de bicicleta sobre a ravina Robson?

Harry se lembrava muito bem. Ela quebrara o braço e ganhara uma grande cicatriz na testa, por causa do tombo. Teria ainda a marca daquela loucura juvenil? Quantos anos tinham naquela época?

—Eu avisei que ninguém poderia dar aquele salto — murmurou Harry.

—O que a fez saltar mais depressa ainda, como nós dois bem sabemos. Eu até podia ser o irmão mais velho dela, mas você era o ídolo de Hermione — afirmou Josh, voltando a prestar atenção à grelha. — Acho que isso é o que se pode chamar de churrasco em família, não?

—Foi por isso que vim — respondeu Harry, sorrindo.

—Que nada — desdenhou ele. — Sei que veio por causa de Hermione, e não adianta negar. Só não consigo imaginar por que veio vê-la.


Hermione observou a coloração do céu mudar de um cinza pálido para um tom mais escuro. Logo as estrelas começaram a surgir. Pareciam vaga-lumes piscando, preparando-se para acasalar. Sabia que aprendera algo sobre aquele brilho intenso na escola, mas não se lembrava mais dos detalhes.

A parte do acasalamento só viera à tona por haver passado a tarde toda perto de Harry. Estava cansada de fingir que o considerava apenas como um amigo, quando sonhava em ser muito mais do que isso para ele.

—Como seria a vida se fôssemos insetos? — indagou ela, ao ouvir a porta se abrir, atrás de si.

—Nada boa, eu garanto — respondeu Harry, sentando-se ao lado dela, no balanço da varanda.

Ele estava com o par de ténis que tinha desde a faculdade, e que já parecia velho demais para ser usado. Com certeza, jamais calçaria aquilo perto de Dominique, mas não tinha problemas em ficar à vontade perto de Hermione.

"Que sorte a minha", pensou ela, com tristeza.

—Por quê?

—Insetos têm um ciclo de vida muito curto — justificou Harry. — Além disso, todos os odeiam e vivem jogando inseticidas e pesticidas sobre eles. Já pensou quantas famílias de insetos devem ser desfeitas? Não é uma existência fácil.


Já passou muito tempo pensando sobre isso?


Nem um segundo, para ser sincero.

O sorriso dele parecia natural e tranquilo. Justamente o que o deixava ainda mais charmoso, tendo um efeito devastador sobre ela.

— Seu time está perdendo? — indagou Hermione, que havia assistido ao jogo anterior na televisão, junto com os homens, pois seu time estava jogando.


Não. Está na frente, mas o jogo está muito parado. Perdi a paciência.

—Isso significa que já está pronto para conversar?

—Na verdade, estou pronto para ir embora — respondeu ele, com ar de culpa. — Tenho uma reunião na empresa amanhã cedo, e vou fazer os relatórios quando chegar em casa.

Hermione tirou o bilhete de Dominique do bolso e o devolveu. Conseguira lê-lo mas, exceto pelo detalhe de haver julgado o texto muito pouco diplomático, não pensara muito sobre o assunto. Na verdade, era o livro de Sally que parecia não sair de sua mente.

—E então? O que decidiu sobre Dominique?

—Por enquanto, nada — respondeu Harry, sorrindo. — Mas por que tanta pressa sobre isso? Afinal, ainda tenho seis dias para responder ao ultimato.

—Mas...

—Não me pressione, querida — murmurou ele, sorrindo e fazendo uma carícia casual no rosto dela. — Falaremos sobre isso amanhã. Que tal almoçarmos juntos?

Ela franziu o cenho.

—Não sei. Ainda há muito a ser feito, se formos viajar mesmo na terça-feira, para o lançamento em Las Vegas.

—Já posso lhe adiantar que a data está confirmada. E posso até me oferecer para ajudar pessoalmente, caso não esteja tudo pronto amanhã. Mas só depois do almoço.

—Bem...

Hermione sabia o que acabaria acontecendo, mas não discutiu. Sempre o fazia quando ele estava sendo gentil e persuasivo.

—Então está combinado. Escolha o lugar onde quer ir almoçar. Tenho uma conta de despesas considerável à minha disposição, e quase não a tenho usado.

—Harry...

—Na verdade, podemos alegar que é um almoço profissional. Direi que é sobre o Virgin Fresh e...

—E vou ter de corrigi-lo, como sempre. É Fresh All Day!

—Droga... Ainda decoro esse nome — prometeu ele, levantando-se depressa e beijando-a no rosto, antes de descer a escada da varanda. — Até mais. E obrigado por ser uma amiga tão incrível. Não sei o que faria sem você.

Ao observá-lo partir, caminhando com passos largos, Hermione sentiu-se desolada.

Era o que sempre acontecia naquela situação. Não parecia justo que um sentimento tão intenso fosse descaradamente ignorado e nem correspondido por parte dele.

Por que tinha de sentir aquele "algo mais", justo por Harry? Quando aprenderia a controlar suas reações?



Obs:Prólogo e Capitulo 1 postados!!!Espero que tenham curtido!!!!Logo logo tem mais!!!!E em breve mais uma adaptação minha para vocês!!!Bjux e tenham um bom domingo!!!!!

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