Próximas Escalas: México/Guate



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CAPÍTULO III


Apesar do cansaço das últimas horas de nervosismo e agitação, Gabby não conseguia dormir. Angustiada, rolava na cama perguntando-se por que R.J. demorava tanto. Onde ele teria ido? Fazer o quê? Encontrar-se com quem? Perguntas que não teriam respostas nem quando ele voltasse, suspirava, nervosa. Ciumento da própria intimidade, R.J. não confiava em ninguém e jamais revelaria a ela os detalhes do resgate de Marina. De certo, a considerava uma maluquinha qualquer, ainda meio adolescente, incapaz de guardar um segredo sério...
Mordeu o lábio com raiva a esse pensamento, e a lembrança do beijo de Remo aqueceu-a de repente. Não, ele não beijaria com tanto ardor uma mocinha sem juízo, ponderou. Era esperto demais para correr o risco de ter atrás dele uma apaixonada lacrimosa e insistente, implorando casamento. Ou, talvez, preferisse essa conseqüência a perder o radioamador de que tanto precisava...
Remexeu-se na cama, furiosa. Então, era isso! Remo quisera apenas envolvê-la com aqueles beijos, aquela conversa de atração irresistível. Se a conquistasse, ela não abandonaria por medo do perigo. Mas estava muito enganado, decidiu revoltada. Ela não se envolveria com homem algum em troca de favores. Trataria aquele caso com a mesma eficiência com que trabalhava no escritório. Quando Marina estivesse salva, tinha certeza de que R.J. lhe pediria para esquecer aqueles ataques de paixão...
Mesmo irritada, Gabby só conseguiu dormir quando ele voltou, alta madrugada. Ouviu-lhe os passos na saleta, depois o barulho na porta do outro quarto abrir e fechar-se, em seguida o silencio. Então, aconchegou-se melhor às cobertas e caiu num sono profundo.
Acordou assustada, com raios de sol penetrando através de uma fresta das pesadas cortinas azul. Pulou da cama e se alegrou-se ao consultar o relógio de pulso sobre o criado-mudo. Dormira apenas quatro horas, mas sentira-se descansada e refeita. Tomou um banho rápido e vestiu-se, em seguida pediu pelo interfone um desjejum leve.
Estranhou a ausência de R.J. na suíte. A porta do quarto dele estava entreaberta e as cobertas da cama davam sinais de terem abrigado um corpo até pouco tempo antes. Gabby tomou café na saleta e mal dispensara o empregado com a bandeja quando Remo chegou. Trazia duas passagens para o México e pediu para Gabby se apressar, pois o avião partiria dali a algumas horas.
Sem perder tempo com perguntas, ela fez as malas e acompanhou-o ao aeroporto. Mal conversaram durante o trajeto e o embarque e, mesmo horas após o inicio da viagem, Remo continuava taciturno e mudo. Gabby fingia ler um livro com grande interesse, embora não captasse direito o sentido das palavras impressas. Se puxasse conversa correria o rico de se tornar inconveniente.
-- Estou fazendo você correr um bocado -- ele comentou de repente.
-- Não tem problema. Você faz isso a dois anos e eu nunca reclamei... Só me diga uma coisa: vamos ficar na cidade do México?
-- Acho que não. Haverá uma pessoa nos esperando no aeroporto de lá. Precisamos combinar com ela alguns detalhes e não sei quanto tempo isso levará...--Tomando-lhe a mão, ele acrescentou com gentileza: -- Sinto muito envolver você em toda essa confusão. Espero que não esteja muito assustada.
-- Imagine! Resgates são meu esporte favorito! Pratico todos os dias...
R.J. deu-lhe um sorriso sedutor. Engraçado como ele mudara o modo de tratá-la nas últimas horas, Gabby pensou sarcástica. Sempre fora atencioso e cortês com ela no escritório e em viagens de rotina, mas nunca esbanjara tanto charme, nem a fitara de forma tão insinuante, muito menos segurara-lhe as mãos com tamanha sensualidade. De certo, a irmã dele devia mesmo valer qualquer sacrifício!
Ela retribuiu o sorriso e tentou puxar a mão.
-- Nunca vou poder lhe pagar por estar me ajudando num momento tão difícil meu anjo...
Ao invés de soltar-lhe a mão, Remo pressionou-a um pouco mais, aumentando o leve erotismo do toque. Irritada consigo mesma por sentir tanto prazer, Gabby simulou um espanto exagerado.
-- Mas eu nem sabia que podia recusar a oportunidade!...
-- Gabby, não seja infantil!
-- O senhor é quem deveria parar com brincadeiras, Sr. Lupin. Não gosto que me segurem a mão quando tenho coisa mais interessantes para fazer com elas.
-- Se me contar do que se trata, talvez eu também possa me interessar...
-- Ótimo adoro que leiam para mim! É um excelente relaxante, sabia?
Com um sorriso inocente, Gabby retirou sua mão das de Remo, pegou o livro e colocou-o no colo dele, deliciando-se com sua expressão decepcionada. Recostou-se na poltrona e aguardou.
-- Você não esta facilitando muito a situação, Gabby. Tememos de parecer apaixonados de verdade, entende? Você nunca conviveu com o tipo de homens que vai encontrar daqui em diante...
-- Que eu saiba, estamos no meio de gente muito civilizada. Não há razão para iniciarmos nossa pequena farsa desde já.
-- Mas é bom você acostumar a me ter por perto o tempo inteiro. Para todos os efeitos, seremos namorados. Portanto, não conseguiremos ficar longe um do outro nem um minuto sequer. Por isso, não se choque se tivermos de repetir cenas como a de ontem, no Fórum...
-- Ah, sim, fizemos um belo ensaio em Roma! Pode deixar, aprendi direitinho a lição.
R.J. sorriu, malicioso, observando-lhe os lábios com atenção.
-- Você também me ensinou muita coisa. E não me olhe com essa expressão incrédula, estou sendo muito sincero.
-- Já sei: Papai Noel, Cegonha e coelho de Páscoa existem de verdade!
--Por que não me leva a sério, Gabby? Acha tão impossível assim eu e você termos um... envolvimento?
Impossível não era, muito ao contrário, ela pensou desanimada. Em especial se Remo insistisse em cercá-la de olhares e sorrisos descaradamente insinuantes, como agora. Descobriu em si mesma uma atriz digna de um Oscar ao sorrir para ele com tranqüila indiferença.
-- Para ser franca, acho muito difícil-- afirmou com tamanha segurança que quase convenceu a si própria.
– Nunca havia pensado em você como homem, entende?
-- Pensava em mim como o quê, então? Um dos arquivos do escritório?
-- Sempre vi em você o meu chefe, um ser impessoal, sem sexo.
-- Ah, assim eu fico lisonjeado! - Gabby riu.
-- Ora, Remo, não se ofenda! Aposto que você também sempre me encarou como um computador de saias!
-- Ah, não, está muito enganada! Desde os primeiros dias, você enchia o escritório de sol quando entrava pela porta todas as manhãs. Eu ficava pensando num jeito de lhe dizer isso sem parecer um conquistador de quinta categoria.
-- Pois devia ter me dito, sim! Se eu soubesse o quanto economizava em energia elétrica, teria pedido um belo aumento de salário! Imagine, um sol particular deve custar uma fortuna!
R.J. observou-a por um momento, com a testa franzida. Talvez tivesse se excedido na brincadeira, ela pensou, já arrependida. E se ele estivesse falando a verdade? Não era justo tripudiar daquela forma sobre os sentimentos alheios, mesmo que fosse apenas desejo físico.
-- Não me trate assim -- ele pediu, num murmúrio. --Quero lhe dizer tanta coisa há tanto tempo...
-- Remo...
Mas ele já se aproximava, roubando-lhe a vontade de reagir contra o fascínio inegável existente entre os dois...Nesse momento, a voz impessoal do alto falante avisou-os para apertar os cintos, dissipando a aura de mágica sensualidade. Relutante, R.J. afastou-se sem esconder a frustração.
-- Da outra vez, grito mais alto do que os auto falantes do mundo -- prometeu, irritado.
Gabby não respondeu. Já lhe bastava a própria confusão de sentimentos, raiva, alivio, frustração e...desejo! Inútil mentir para si mesma; Remo a atraía, e muito. Mas o que estava acontecendo entre eles? Perguntava-se chocada. Dois dias antes, mantinham um relacionamento de camaradagem e cooperação mútua como convinha a toda secretária com seu chefe. Agora, se perdiam em juras veladas, olhares quentes, sonhos proibidos... E, para piorar, estava cada vez mais difícil não alimentar esperanças. Até quando conseguiria resistir ao cerco sensual de R.J.?
-- Não se defenda tanto de mim meu anjo -- ele pediu, como se ele adivinhasse os pensamentos.-- Não quero magoá-la de nenhuma forma, acredite em mim.
-- Fico pensando por que você não descobriu antes esse interesse por mim.
-- Eu entendo que você esteja perplexa com tudo isso. Pensa que eu também não estou? Eu não esperava que beijá-la fosse uma experiência tão especial!

Experiência! Aquela palavra a fazia sentir-se um ratinho de laboratório.

-- Não sou um tubo de ensaio para ser testada! -- afirmou, zangada. -- E aquele beijo não teve nada de especial, levando em conta as circunstâncias. Nós dois apenas nos deixamos levar por emoções do momento.
--Mas o fato de termos esse tipo de emoção significa alguma coisa, não é?
-- Significa, sim: que somos humanos. Estávamos fragilizados e apreensivos, procurando apoio um no outro e, talvez, tenhamos exagerado um pouco, só isso. Não há razão para se fazer estardalhaço em torno desse assunto. Acho que temos coisas mais importantes com que nos preocupar.
-- É verdade... E é até bom que você seja fria desse jeito. Vai precisar muito desse seu racionalismo nos próximos dias.
R.J. ajeitou o cinto de segurança, amuado como uma criança. Na certa, preferiria que ela se perdesse em sonhos sentimentais por causa de um simples beijo, Gabby pensou com ironia. Seria mais fácil manobrar uma mocinha romântica e ingênua. Mas ele teria que se contentar com sua frieza e eficiência profissional.

O avião iniciou as manobras de aterrissagem dali a poucos segundos. R.J. continuava num mutismo teimoso, e Gabby reabriu o livro para se distrair. Porém uma angustia crescente a dominava, roubando-lhe a concentração. Devia ser a perspectiva do desconhecido, a vida de Marina em perigo a qualquer pequena falha, justificava a si mesma. Então, por que a presença, a proximidade de Remo a ameaçava mais do que o próprio resgate?
De certo por que ela era uma mocinha romântica e ingênua, concluiu, desolada. Mas Remo não precisava saber disso. Evitaria ao máximo que ela percebesse o quanto a perturbava com aqueles olhares, sorrisos e toques sutis, insinuantes. Seria uma tarefa dura, pois dali em diante precisariam fingir um envolvimento. Mas depois do resgate de Marina, voltariam para Chicago e para o antigo relacionamento patrão-empregada... Pelo menos ela se esforçaria muito para isso.

Só conversaram o mínimo necessário durante o resto da aterrissagem e no desembarque. R.J. se mostrava preocupado enquanto caminhavam para o saguão do aeroporto. O amigo dele devia estar atrasado e uns poucos minutos de espera se transformavam numa eternidade para a apreensão de ambos.
Gabby soltou um suspiro de alivio quando viu-o sorrir para um homem alto, moreno, de cabelos escuros. Vestia um terno claro e botas de couro, um contraste exótico e, mesmo assim, muito elegante. Álias, ele inteiro era muito atraente e, embora não possuísse nenhuma semelhança física com Remo, Gabby os achou um pouco parecidos. Talvez fosse o jeito jovial, um certo ar de mistério perigosamente charmoso.
-- Zabini, como estás? -- R.J. cumprimentou o recém chegado com um caloroso aperto de mão, falando em espanhol.
-- Não tão bem quanto você, Archer. A sua forma está de fazer inveja... Aliás, não só a forma.-- O homem sorriu, dando uma piscadela maliciosa para Gabby.-- Archer era o apelido dele a anos atrás, durante nossa... Convivência. Você é Gabriele White, não?
-- Sim, é um prazer conhecê-lo señor Zabini.
-- Blaise Zabini, a sus ordens... Ela é um fenômeno, Archer.
R.J. sorriu e puxo-a para perto dele.
-- Eu também acho... Dutch ligou para você?
O sorriso de Zabini desapareceu e a expressão dele tornou-se dura, impenetrável.
-- Sim. Drago, Samson e Apollo já estão aqui, prontos para agir.
-- E o equipamento?
-- Dutch enviou tudo a Apollo. Uma UZI e uma AK-47 nova.

R.J. fez um gesto de aprovação com a cabeça.

-- Vamos precisar também de uns RPG -- afirmou, depois de refletir por alguns instantes.
-- Já providenciamos dois, além de oito jogos C-4, projéteis para os RPG, equipamento de camuflagem e tudo mais. A fronteira é um ponto estratégico das guerrilhas agora, tipo campo neutro. Lá você consegue o que quiser com algum dinheiro e os contatos certos.
-- Dutch disse que Marchal conhece gente de confiança por aqueles lados. Como responsável pela segurança na sua fazenda, acho que não teremos problemas. Foi uma providência muito inteligente.
-- Questão de sobrevivência, meu amigo. A fazenda vizinha foi destruída não fez um mês e o dono... -- Diego interrompeu-se, olhando para Gabby. -- Desculpe, señorita. Essa conversa em geral não agrada nada as mulheres.

Ela deu de ombros.

-- Mulheres também se envolvem em guerrilhas. Além do mais, vou precisar a manejar alguma dessas armas, pelo menos por medida de precaução. É bom já ir me acostumando com os nomes. E, se quiserem, podem falar balas, em vez de projéteis. É muito mais curto e eu não me importo nem um pouco...

Laremos voltou-se para R.J. sem disfarçar o espanto diante do tom de Gabby. Ele soltou uma gargalhada, aconchegando-a a si com carinho.

-- Você não imagina como acertou em qualificá-la de fenômeno, Zabini! Às vezes, surpreende até a mim... Não foi por acaso que á trouxe para cá.
-- De forma nenhuma seria por acaso.
O sorriso de R.J. quase desapareceu ao notar como outro homem fitava Gabby de maneira insinuante. Apressou-se em retornar aos preparativos do resgate.
-- Conseguiu o avião? -- quis saber com certa secura.
-- Sim, mas teremos que passar pela alfândega.
-- Não trouxe nada comprometedor comigo. Se bem que, com você por perto, duvido que me barrassem. Só mesmo se eu estivesse com uma UZI pendurada no pescoço! - Zabini riu.

-- Sim, mas não confia demais em meus conhecidos da alfândega. Nem eu confio neles cegamente. E agora, acho melhor irmos embora.

Enquanto os seguia, Gabby lembrou-se de repente de onde já ouvira falar naquela arma.

-- Remo, posso lhe perguntar uma coisa?? -- indagou aproximando-se bem dele.
-- Claro, meu anjo.
-- UZI não é aquela submetralhadora automática fabricada em Israel???

Os dois olharam-se com tamanho espanto que ela riu.

-- Disfarcem! O que as pessoas vão pensar de mim com vocês me olhando desse jeito? E então, Remo, é ou não é?
-- É, isso mesmo. Mas por que quer saber?
-- Por nada, ora! Só curiosidade.

R.J. apertou-a contra si e beijou-a na boca como se obedecesse a um impulso irresistível.

--Gabby, você me deixa tonto... em todos os sentidos -- sussurrou-lhe ao ouvido. -- É uma surpresa a cada instante. Depois me conte onde você ouviu tanto sobre armas.
-- Conto nada! Também tenho meus segredos.
Remo soltou uma gargalhada, deliciado com o arzinho maroto no rosto dela. Alguns instantes mais tarde, os três entravam no avião de Zabini, um confortável bimotor. Zabini sentou-se diante dos dois, enquanto um rapaz baixo e moreno lhes servia café.
-- Contei a certas pessoas que você e sua namorada viriam me visitar - Zabini disse com malicia quando o avião já decolava. -- Um recadinho despretensioso, que só os interessados vão entender... Ao mesmo tempo, isso lhe poupa o constrangimento de passar pela fronteira ilegalmente. Alguns amigos meus em altos postos do governo poderão nos ajudar em qualquer emergência. Engraçado, há algumas semanas os seqüestradores de sua irmã tentaram me levar. Mas Marchal estava por perto e armado.
-- Marchal não perde uma!
-- Ainda bem, não é?? As coisas mudaram muito, meu amigo. Antigamente, isso quase nunca acontecia, lembra-se??
--Quantos homens compõem o grupo que seqüestrou Marina, Zabini? Falo de gente de peso, não de amadores.
─ Ao todo, uns vinte, mas doze são veteranos... Entre os quais exatamente quem você está pensando. Os contatos dele na Itália descobriram um meio rápido de matar dois coelhos numa cajadada só: levantar um bom dinheiro e... Lembrar os velhos tempos. Agora entendo porque eles tomariam essa fazenda um mês atrás!
─ Pobre Robert! Ele está desesperado para levantar o dinheiro, em despistar as autoridades...

Zabini fitou-o, preocupado.

─ Então, ele não sabe... De nada, não?
─ Tomei todo o cuidado, meu velho!
─ Mas você ainda sente falta, hein?

R.J. suspirou, lançando um olhar indeciso para Gabby.

─ Às vezes, mas não muita. Tenho outros interesses agora. Além disso, estou ficando velho e cansado demais para essas coisas. Sou advogado e atuo na área criminal. Isso ajuda a matar as saudades porque faço questão de não ficar apenas sentado atrás de uma mesa. Às vezes, enfrento cada situação que você nem imagina!
─ Como não! Conheço o seu estilo! Eu também me tornei um cidadão pacato, e por razões muito semelhantes às suas. De vez em quando me pergunto como seria se continuássemos juntos... Éramos amigos de verdade, Archer, não me esqueço disso.
─ E uma equipe de primeira! Espero que ainda sejamos, vamos precisar muito agir como antigamente.
─ Não se preocupe, meu velho, isso é como andar de bicicleta, a gente nunca esquece... E o que essa moça bonita vai ficar sabendo enquanto agimos?
─ Além de moça e bonita, ela é uma excelente radioamadora. Vai cuidar do rádio para nós.
─ Pensei que ia pegar uma UZI, também. Pelo tanto que sabe do assunto, não seria má idéia.
─ Nem pense nisso! Ela fica com você na fazenda, quero-a longe de qualquer perigo.

Laremos meneou a cabeça, com uma expressão de malicia..

─ Não sei se o perigo maior vai está fora ou dentro da fazenda... ─ brincou. ─ Se eu fosse você, não a confiaria nem a um santo!
─ Perdão, cavalheiros, estão falando de mim ou de uma jóia?

Os dois se calaram, espantados. Até então, estivera tão alheia na leitura de seu livro que quase os fizera esquecer de sua presença. Agora, erguia o queixo, com graciosa arrogância.

-- E não é a mesma coisa, señorita? ─ Zabini perguntou, galante.

─ Sinto muito, senõr, mas não é, não. Jóias podem ser confiadas a alguém, porque correm o risco de serem roubadas, manipuladas e até destruídas por outras pessoas. Afinal, elas não têm braços, nem pernas, nem mente e, portanto, não podem ser defender sozinhas. Graças a Deus, não sou jóia e aprendo num instante a usar uma UZI se for ameaçada por alguém... ─ E, com um sorriso cálido, acrescentou: ─ Mesmo se fosse por um santo.

Zabini baixou a cabeça, desconcertado.

─ Sinto muito pela brincadeira, señorita, é claro que está coberta de razão. Peço perdão pela grosseria de deixá-la de fora da conversa todo esse tempo. Mas a señorita estava tão distraída na leitura...
─ Ora, não se incomode ─ ela interrompeu-o com o sorriso mais inocente do mundo. ─ Não me interesso muito por assuntos masculinos... a não ser, é claro, que eu seja um deles.

Retomou a leitura, enquanto Zabini fitava R.J., admirado.

─ Esta é a mulher certa para você, Archer ─ acabou dizendo.
─ Você não imagina como demorei para descobrir isso! Mas, voltando ao resgate, você não providenciou nenhuma bomba, não é?

Zabini indicou Gabby com um gesto, lançando a R.J. um olhar interrogativo.

─ Não se preocupe, señor ─ ela tranqüilizou-os sem nem mesmo erguer a cabeça. ─ Já disse que não me interesso pro assuntos masculinos.
─ Então para que você queria conhecer o mercenário? ─ R.J. quis saber, intrigado.
─ Nada, ora! Só curiosidade.
─ Você também se interessa por essas... atividades? ─ Zabini indagou, mal disfarçando o assombro.
─ Nada de muito especial, señor. Só queria saber como vive uma pessoa que sesta sempre com a vida por um fio. Mas, pensando bem, todos nós estamos. Como Remo me disse uma vez, qualquer cidadão pacato pode morrer de repente, atropelado na rua, não é mesmo? Acho os mercenários privilegiados nesse sentido.
─ E poderia me explicar por quê, señorita?
─ Pelo menos, eles escolhem o modo como querem morrer... ─ E, voltando-se para R.J., ela perguntou: ─ Quanto tempo ficaremos na Guatemala?
─ Se tudo der certo, acho que uns três dias. Precisaremos de algum tempo para reconhecer o terreno e preparar um plano de ação.
─ Enquanto estiver na fazenda, quero que se sinta em sua casa, señorita.
─ Impossível, señor. Na minha casa, ninguém me trata por señorita.
Zabini soltou uma gargalhada, deliciado com a observação.
─ Está bem, Gabby. Que maravilha ter alguém tão bonito e bem-humorado por perto numa situação dessas! Quem sabe se vocês dois ficam mais alguns dias depois que todo esse pesadelo terminar. Eu a levaria para conhecer algumas ruínas Maias. O que acha, Archer?
─ Eu adoraria! ─ Gabby adiantou-se, entusiasmada.
─ Ela é apaixonada por antiguidades ─ R.J. explicou.
─ Claro, caso contrario jamais estaria com você! - Zabini deu de ombros, cínico.
─ Muito obrigado pelo elogio! Se com trinta e seis anos já estou tão acabado, o que será de mim aos cinqüenta!
─ Não fique tão arrasado! ─ Gabby consolou-o, rindo. ─ Quando chegar aos cinqüenta, sentira saudades de como está acabado agora. E, agora, podem conversar à vontade. Essas histórias de bombas e seqüestradores não me atraem em nada. Prefiro a História Antiga...
Ajeitou os óculos de leitura e passou o resto da viagem entretida em seu romance, enquanto R.J. e Zabini discutiam estratégias militares. Na verdade, gostaria de ser distrair de verdade com o livro, mas não conseguia se concentrar. Descobria aos poucos um novo homem em Remo, cuja vida se assemelhava a um enorme quebra-cabeça.

Intrigada, Gabby tinha diante de si diversas peças, só não sabia ainda como encaixá-las. E quem era Remo, na verdade? Que lugar ocupavam os estranhos amigos na vida dele? Que passado era aquele, do qual se guardava tanto segredo? Quem eram os seqüestradores de Marina? Pelo que entendera, ela fora apenas uma isca para atrair Remo... mas por quê?
Essas perguntas dançavam-lhe sem resposta na mente. E, tinha certeza, continuariam assim se dependesse daquele enigma se realmente quisesse conhecê-lo um pouco melhor... e ajudá-lo realmente.


~*~


Oie Gente!

Como prometido ontem tah ai o cap!

E olha quem apreceu? O BLAISE!!! *\\o//*

Comentem bastante e façam uma criança feliz! ;D

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