Bruxinha Inteligente
- Parte I -
“Você ganhou de novo!”, disse, mal humorada, para Rony que tinha derrubado meu rei com seu bispo. Levantei-me da mesa da cozinha; meu irmão podia não me vencer quando se tratava de voar ou proezas mágicas, mas quando se tratava de xadrez bruxo, Rony era o cara.
“Mais uma?”, perguntou sorrindo, obviamente orgulhoso de si mesmo.
“Não gosto de perder para você”, rosnei.
“Você faz isso parecer uma coisa ruim”, Rony respondeu, “Vamos lá, Gina. Preciso praticar minha dança da vitória mais uma vez!”
Fiz uma careta para ele e mudei de assunto, “Quando Harry e Hermione vão chegar?”
Sabia que mencionar seus dois melhores amigos chamaria sua atenção, “Hermione vai chegar um dia antes de Harry”, ele disse, alegre, “E Papai vai pegar Harry um dia antes de partirmos para a Copa Mundial de Quadriboll”.
Meus olhos brilharam. Por razões desconhecidas até mesmo para mim, estava ansiosa pela vinda de Harry. O beijo de Colin me deu um novo tipo de coragem; se um garoto como ele conseguiu tirar os olhos de Harry tempo o suficiente para notar uma garota simples como eu, então por que não Harry? Além disso, eu conseguia falar abertamente na frente dele agora.
“Como você acha que a partida vai ser?”, perguntei.
Rony pulou. “A Bulgária tem o Krum. Não consigo ver como eles poderiam perder”.
“Mas Carlinhos tem um argumento”, contrariei-o, “Krum é só um jogador, o time da Irlanda inteiro é brilhante!”
Antes que Rony e eu pudéssemos continuar nossa conversa, Mamãe entrou com uma gaiola e uma coruja de aparência excêntrica que Rony trouxera com ele, apesar de eu não acreditar na história de ‘tê-la encontrado’ que ele jogou para cima da gente; tinha o tamanho de um punho fechado e era a criatura mais adorável que eu já tinha visto em muito tempo.
“Achei essa gaiola de coruja lá no porão”, Mamãe começou, e reconheci a gaiola; ela pertencia a Carlinhos, se eu não estava errada, “Acho que sua coruja tem espaço o suficiente para exercitar as asas aí dentro”.
“Claro que tem”, Rony debochou, “Ele tem o tamanho de uma pomba!”
“Cala a boca, Rony! Ele é adorável!”, defendi a coruja; abri a porta da gaiola e a pequena criatura saiu voando pela cozinha, derrubando pratos e panelas, criando a maior bagunça.
“Não podemos continuar chamando-o de ‘sua coruja’, Rony”, Mamãe disse. Rony tinha falhado em escolher o nome da coruja, eu secretamente acreditava que ele meio que esperava que sua coruja se transformasse em um homem, assim como seu rato.
A coruja pousou na fruteira que mamãe havia colocado na mesa mais cedo, e começou a mordiscar as uvas. Dei um riso abafado, “Ele é realmente seu, Rony. Come como um porco”.
“Um maldito porco pombo”, murmurou.
Tentei abafar outro riso. Rony acabara de me lembrar de quando eu era mais nova e estava aprendendo a andar; sempre que passávamos por um grupo de pássaros, eu achava que eles eram pombas. Como muitas crianças, tive dificuldade para conseguir pronunciar algumas palavras e ‘pombo’, saído de minha boca, soava como ‘piche’.
Depois que consegui controlar meu sorriso, sussurrei, “Pichitinho”.
Rony me fitou confuso, e repeti o que havia dito, “Não, Gina, eu não vou chamá-lo...”
“Pichitinho! Venha aqui, garoto!”, chamei o pássaro; seus olhos grandes se fixaram em mim, processando o nome. E, então, piou em confirmação e aceitação. Arqueando as asas, ele voou em direção a minha mão estendida, “Ele gostou!”
“Eu não gostei”, Rony rosnou.
Mamãe, que estava ocupada arrumando a bagunça, concordou comigo, “Além do mais”, ela disse, “Uma vez que a coruja aceita o nome, é quase impossível mudá-lo”
“Hércules!”, Rony berrou, frustrado, “Apolo! Lancelot!”, nenhum dos nomes afetou a coruja. Carrancudo, ele murmurou, “Pinchentinho”, e a coruja voou animadamente em direção ao seu ombro e picou sua orelha, “Nunca poderei dar nome à minha coruja”.
“Acho que é um nome bonitinho”, eu disse, prática.
Mamãe chamou Pichitinho e colocou o recém-nomeado pássaro dentro de sua gaiola. Ela olhou para Rony e disse, “Prometi aos Lovegoods um pedaço de bolo da próxima vez que o fizesse. Leve esses para eles, sim?”, ela acenou com a varinha e um bolo lindamente decorado apareceu na mesa.
“Para a Di-Lua?”, Rony murmurou.
Bati nele, “O nome dela é Luna”, chiei, “E ela é uma garota muito legal. Ela só é...”
“Demente?”
“Diferente”, respondi, fuzilando-o com os olhos, “Ela me ajudou muito ano passado”
“Por que é que você não vai, se está tão apaixonada por ela?”
“RONY!”, Mamãe berrou e Rony não disse mais nada sobre não ir. Ele agarrou o bolo e correu para fora do cômodo, resmungando.
Senti um pequeno tremor na casa, e um pouco de poeira caiu em meu cabelo.
“Fred! Jorge!”, Mamãe berrou, e ouvi um ‘foi mal’ do andar de cima, “O que é que aqueles meninos estão fazendo lá em cima todo esse tempo?”
Tirei a sujeira dos meus cabelos e decidi visitar os gêmeos. “Não sei. Vou ver”, deixei Pichitinho, que bateu as asas, furioso. Subindo os degraus e chegando à porta deles, bati.
“Quem é?”, Fred berrou.
“Sua mãe!”, berrei, na melhor imitação de Molly Weasley, “Abra a porta nesse instante!”
A porta se destrancou e entrei. O quarto estava cheio de fumaça, e o rostos dos gêmeos estavam cinzentos, “Olá, garotos. O feitiço deu errado?”
Jorge sorriu, limpando a sujeira de sua sobrancelha, “O feitiço deu certo, isso sim”.
“Parece com uma catástrofe!”, disse, “O que vocês estão fazendo aqui?”
Fred rapidamente colocou-se de pé e fechou a porta, “Você têm sido gentil o suficiente para guardar nossos segredos...”
“E vocês vão recompensar minha gentileza?”, perguntei.
Jorge se levantou. “Você se mostrou digna”, ele caminhou em direção ao armário e abriu as portas; ele remexeu em alguns papéis e agarrou um, “Isso...”, Jorge não conseguia esconder sua animação, enquanto me entregava o papel, “... é o que estivemos fazendo”
Peguei o papel, “Gemialidades Weasley?”, li; analisei o papel. Era um formulário para o criação de uma empresa, “Isso significa...?”
“Estamos abertos para o comércio!”, Fred cantarolou. Ele me explicou que eles estiveram trabalhando em produtos havia quase um ano, aperfeiçoando sua marca de doces e varinhas falsas. Eles haviam informado aos alunos perto do fim do último ano letivo e todos haviam sido muito favoráveis à idéia. Eles estavam trabalhando por meio do correio-coruja.
“Impressionante”, eu disse. Não tinha percebido que toda aquela bagunça valeria a pena.
Jorge me saudou com um aceno de cabeça e riu por entre os dentes, “Assim que juntarmos dinheiro o suficiente, vamos criar coisas mais pesadas e ter nosso próprio catálogo”
“Não deixe Mamãe ouvir isso”, aconselhei; ela sempre tinha sonhado que eu e meus irmãos encontraríamos trabalhos bem remunerados no Ministério.
“Não nos atreveríamos a espalhar as boas novas tão cedo”, Fred afirmou.
Devolvi o papel a ele. Apontando para a fumaça que começava a diminuir, perguntei, “Para que era tudo isso, então?”
“Isso, querida irmã...”, Jorge ergueu suas mãos; entre seus dedos e o dedão, estava um pequeno doce azul, “... é uma pequena conseqüência do sucesso”.
“É um caramelo”, respondi, incerta, enquanto ele o colocava em minha mão.
“Não só um caramelo”, Fred disse, “Esse é o produto final...”
“Ou, pelo menos, assim esperamos...”, Jorge intrometeu-se.
“... de uma linha de doces que garantirão que você perderá seu fôlego de tanto rir”, Fred terminou.
Rolei o doce em minhas mãos, “Como vocês o chamam?”
“Língua-Inchada Caramelo”, Fred disse, “Nós temos tentado de tudo em nós mesmos, mas precisamos ter certeza de que funciona nos outros da mesma forma”
“Então, temos que encontrar um candidato pronto”, Jorge pisca seus olhos em minha direção, “Disposta?”
Balancei minha cabeça rapidamente; estava cheia de objetos estranhos. Não que eu acreditasse que o doce iria me possuir, mas cheguei à conclusão de que eu deveria me precaver mais, “Só nos seus sonhos”, afirmei.
“Não o faríamos de qualquer forma”, Fred disse, “Não seria muito inteligente testá-lo bem debaixo do nariz da nossa mãe. O que precisamos é de um idiota confiante...”
“Draco Malfoy, por exemplo”, Jorge sugeriu.
“Ou Marcos Flint”, Fred retrucou.
Enquanto eles continuavam a listar nomes, minha mente encontrou o candidato perfeito; ele era um majestoso estúpido orgulhoso que tratava o Harry como se ele fosse um vírus. “Duda Dursley”, disse para mim mesma. Nunca tinha conhecido o porco, mas Rony havia me contado várias histórias; Duda era a escolha perfeita.
“Que tal Duda Dursley?”, propus.
“O priminho malvado de Harry?”, Fred inquiriu.
“Pelo o que ouvi, ‘inho’ não se encaixa na situação”, Jorge sorriu.
Fred tomou o doce de volta, “Nós vamos com Papai buscar Harry...”
“... não podemos dá-lo a ele, obviamente...”
“... mas não temos culpa do que ele pode comer, se acidentalmente deixá-lo por aí”
Fred e Jorge ficaram de tagarelando e sorri; sabia que Harry se divertiria com a desventura dos Dursleys e os gêmeos não perderiam a oportunidade de fazer algo tão cruel.
Encantei-me com quantas magias e habilidades foram necessárias para criar aquele doce; é necessária uma habilidade e paciência que eu nem mesmo sabia que eles possuíam. Quando eles finalmente abriram sua loja, dois anos mais tarde, Mamãe disse que, se ao menos eles colocassem seu talento em algo útil, eles conseguiriam algo muito melhor do que uma loja de truques; mas eu os apoiei. Talvez fosse por isso que eles confiavam em mim o suficiente para contarem-me seus segredos, e também talvez seja por isso que eles ouviam e consideravam minhas sugestões. Claro, hoje Mamãe se orgulha das Gemialidades e jurará que sempre se sentiu de tal forma em relação à loja, mas é mentira.
No dia seguinte, Mamãe teve a necessidade de limpar e os gêmeos estava desgnomizando o jardim; eles nunca puderam prever.
Eu estava sentada na mesa da cozinha, comendo um lanche, quando Mamãe desceu correndo escada abaixo e jogou uma pilha de papéis na mesa; quase engasguei com meu chocolate quando percebi que eram os formulários.
“Você sabia sobre isso, Gina?”, Mamãe perguntou, e considerei mentir. Para minha sorte, os gêmeos me salvaram.
“Você acha que contaríamos à nossa querida irmãzinha?”, Fred perguntou. Ele e Jorge estavam parados na entrada da cozinha.
Jorge ainda segurava um gnomo em sua mão; o pequenino se debatia em sua mão, “Ninguém mais sabe”.
“Gemialidades Weasley”, Mamãe leu o topo do formulário, “Kits de desmaio... Febre Instantânea... Ateador de fogo... Vocês se importam em me contar o que pensam que estão fazendo com estes formulários?”
“Nós estivemos ocupados...”, Fred disse, “Inventando...”
“Inventando?”, Mamãe perguntou, histérica, “Então vocês tiveram tempo para brincar de inventores, mas não tiveram para levar seus N.O.M.s a sério?”
“Nós os levamos a sério”, Jorge respondeu.
“Mas professora McGonagall não sabia quantos N.O.M.s eram necessários para abrir uma loja de truques”, Fred adicionou, e tentei impedir uma gargalhada, “Então tivemos que adivinhar”.
“Uma loja de truques?”, Mamãe gritou, “Pensei que tivéssemos concordado que vocês trabalhariam no Ministério com seu pai!”
“Tecnicamente, nunca concordamos”, Fred lembrou-a.
“Simplesmente dissemos que pensaríamos no assunto”, Jorge adicionou.
“E pensamos...”
“E decidimos que preferimos fazer as pessoas rirem...”
Mamãe tinha um olhar assassino. Ela pegou a varinha e os gêmeos fitaram-na com os olhos arregalados; o gnomo que Jorge estava segurando caiu no chão, chutou-o na perna, e saiu disparado porta afora. Protegi-me atrás do encosto da cadeira, para não ser atacada por um feitiço ricocheteado.
“Mãe, pense nisso...”, Fred sussurrou.
Mamãe apontou sua varinha para a pilha de formulários, “Incêndio!”, berrou, os papéis pegaram fogo e os gêmeos observaram, horrorizados; ela esperou até que a última chama tivesse se extinguido, e olhou para eles, “Vocês não farão isso”, e saiu do cômodo.
Fiquei sentada, atordoada, olhando para as cinzas, que antes foram papéis, sobre a mesa. Olhei para os gêmeos e tentei expressar meu pesar pelos seus sonhos destruídos, mas eles estavam sorrindo. Sorrindo de verdade.
“Meio que nos dá uma nova determinação”, Fred disse, respondendo à pergunta óbvia em meus olhos.
“Como se tivéssemos que provar que ela está errada”, Jorge afirmou.
“Obrigada por não terem me entregado”, disse a eles.
“Sabemos que você faria o mesmo por nós”, Fred disse. Ele e Jorge não disseram mais nada, enquanto encaminhavam-se para as escadas.
- Parte II -
As coisas ficaram tensas na casa por alguns dias. Papai, que estava secretamente impressionado com a habilidade dos gêmeos, foi forçado a agir como se estivesse bravo; estava sempre ameaçando contar à nossa mãe sobre o que quer que eles estivessem fazendo.
Quando Hermione chegou, a tensão na casa tinha diminuído consideravelmente. Ajudei-a a subir a mala para meu quarto e sentamos para conversar.
“Como têm sido o seu verão?”, perguntei.
“Muito quieto”, Hermione admitiu; explicou como era difícil viver no mundo trouxa sem poder praticar ou ver qualquer magia que fosse, “Se eu for expulsa, algum dia, não sei como conseguirei voltar a viver lá...”
“Você ser expulsa?”, revirei os olhos, “Com suas notas, eles deviam implorar que você fique”
Hermione sorriu, “Então não teria ninguém para tomar conta de Harry e Rony”
“Você acha que eu os deixaria se meter em confusão sozinhos?”
“Duvido”
“Precisaria pensar duas vezes em relação ao meu querido irmão”, sorri, “Mas Harry...”, calei-me. De uma forma ou de outra, a nossa conversa sempre acabavam no mesmo menino. Consegui me impedir antes de aprofundar o assunto.
“Eu sei”, Hermione disse, “Esteve em contanto com alguém no verão?”
Por ‘alguém’, ela não queria dizer Luna, Delia ou Neville; ela queria dizer Colin. “Hermione”, comecei, “Eu te disse que não gosto do Colin”
Hermione deu de ombros, “Você disse que gostou do beijo”
“Eu disse que não foi ruim”, corrigi-a, “Além do mais, acho que a sorte da Sarimanok me impediu de odiá-lo”
“Eu só acho que seria adorável”, Hermione respondeu.
“Você quer que eu desista do Harry, então?”, perguntei. Talvez ela tivesse conversado com Harry neste verão e ele tenha expressado seu extremo desgosto em relação a mim, e como ele não era capaz de se ver gostando de mim.
“Claro que não”, Hermione justificou, “Só acho que você devia sair por aí. Não te machucaria saber o que mais tem no mundo”
“Talvez você deva seguir seu próprio conselho”, murmurei um pouco alto demais. Fiquei tensa, esperando que a Hermione rabugenta se erguesse da cama e começasse a clamar que eu estava evidentemente enganada e que Rony não era a única coisa em sua mente, além de ler ‘Hogwarts, Uma História’ pela sétima vez seguida.
Mas ela não o fez. Acho que vi suas bochechas corarem um pouco, mexendo com suas mãos. Finalmente, ela disse, “Você está certa. Eu deveria seguir meus próprios conselhos”
Minha boca se escancarou, “Você gosta do Rony?”, nunca achei que estaria viva para ver Hermione admitindo isso para mim.
“Não sei o que sinto”, Hermione disse, na defensiva, “Quero dizer, eu achava que não gostava, mas aí você mencionou no final do ano letivo, e eu comecei a pensar nas coisas. Pensei em como eu me preocupava que Rony não soubesse que eu era uma garota e pensei em quanto nós brigamos, e em quanto senti a falta dele quando não estávamos nos falando. Então, pensei que também sentia falta do Harry, então, eu não podia gostar do Rony, se sinto falta do Harry, mas não gosto do Harry, e não me preocupo tanto assim com o Harry...”
Massageando minhas têmporas enquanto ela continuava a falar, “Pára!”, ordenei, e ela abruptamente parou de falar, ciente do quanto dissera, “Acho que não entendi uma palavra do que você disse”
Ela respirou fundo, “Em outras palavras, ainda estou tentando descobrir como me sinto. Acho que esse ano vou aprofundar mais minhas pesquisas em relação ao problema”
“Pesquisar o problema?”, repeti, “Você faz isso parecer lição de casa”
Hermione deu de ombros, “É assim que resolvo as coisas”
Ri quando ela sorriu, “Você está colocando muitos pensamentos negativos em relação a isso”
“Nem todos podemos ter tanta certeza dos nossos sentimentos como a grande Gina Weasley”
“Eu sou ótima, não sou?”, dei-lhe um olhar astuto e ela revirou os olhos.
“Hermione e Rony”, pensei; e gostei de como soou. E se havia alguém que eu quisesse como cunhada, esse alguém era ela. Ela era inteligente, organizada e lógica, o completo oposto do meu irmão. Meu irmão era inteligente, mas ele tinha que ser pressionado para descobri-lo. Organizado e lógico? Definitivamente não. Esse é o porque dele precisar da Hermione. É uma pena que eles precisaram de quase quatro anos para descobrir exatamente o que sentiam.
Harry chegou no dia seguinte. Hermione e eu descemos as escadas para encontrar Papai tentando cobrir a piada de mau gosto dos gêmeos. Meus olhos e os de Harry se encontraram, e vi que ele estava sorrindo. Ele deve ter adorado a idéia de que seu primo idiota tinha agora uma língua de cem quilos. Senti minha bochecha corar levemente, enquanto admirava seu sorriso. Estava um pouco orgulhosa por saber que fora a minha idéia que colocara um sorriso em seu rosto.
Minha admiração foi rapidamente interrompida quando Hermione nos levou em direção ao andar superior e deixou os gêmeos e meus pais discutindo. Harry nos perguntou sobre os serviços dos gêmeos, Pichitinho e Percy; Rony e eu o informamos de tudo o que tinha perdido. Fiquei orgulhosa de mim mesma, pois esse foi o máximo que já havia falado na frente dele.
Estávamos sentados no quarto de Rony, começou o próprio começou a dizer, “E você soube algo do...?”, antes de Hermione lançar-lhe um olhar significativo. Ele desviou os olhos dos nossos.
Fitei Rony, curiosa, esperando que ele terminasse o que tinha começado a dizer. Eu, obviamente, sabia que ele quase falara de Sirius. Todos sabiam que ele tinha milagrosamente escapado da torre, mas ninguém sabia como; tenho a impressão de que o Trio Maravilha e um certo hipogrifo tenham ajudado-no, mas ainda não tinha certeza absoluta. Ainda não tinha conversado com Hermione sobre isso.
“Acho que eles pararam de discutir”, Hermione disse, e estava claro que estava tentando mudar de assunto, “Vamos subir e ajudar sua mãe com o jantar?”
- Parte III -
Seguindo-os escada abaixo, eu estava exultante; nunca antes me sentira como parte do grupo. Rony e os outros estavam tão acostumados à minha presença que até pensaram que podiam falar abertamente comigo por perto, eles tinham que se forçar a lembrar que havia coisas que eles não queriam que eu soubesse ou fizesse parte. Talvez eles pensassem que eu era muito nova e inexperiente, o que é estúpido.
Quando Hermione e eu caminhamos em direção aos jardins, lancei-lhe um olhar e sorri.
“Você sabe sobre Sirius, então?”, Hermione perguntou.
“Não tudo”, respondi, rapidamente interei-a sobre como ajudei o professor Lupin no ano letivo anterior e como ele divagara os eventos daquela noite, “Claro, todos nós sabemos que Sirius escapou. Alguma idéia de como isso aconteceu, Hermione?”, ela se recusou a responder, “Tenho minhas suspeitas. Vi, em um relance, um certo hipogrifo voando de uma torre com três cavalheiros desconhecidos. Talvez você saiba a identidade deles?”
Hermione balançou a cabeça.
“Gina, eu não posso...”
Impedi-a de falar, “Tudo bem. O Ministério não está muito inclinado a perdoar quem auxiliou o fugitivo. Quanto menos se souber, melhor”
“Se você contasse a Harry o que sabe, talvez...”
“Harry me contará as coisas se quiser”, respondi.
Hermione assentiu, seus olhos castanhos mirando-me com admiração, “Você é mais parecida com ele do que acha”.
Estava para responder, mas ouvi a voz do meu irmão mais velho rindo no jardim.
“Prepare-se para duelar, covarde!”, Gui berrou, animado, dando um grito de guerra divertido.
“Covarde, você diz?”, Carlinhos berrou, “Quem de nós passa todo o tempo cuidando de dragões, irmão?”, moveu as mãos como um chicote.
“O que estão fazendo?”, Hermione questionou, sua voz cheia de medo. Ela ficou próxima ao extremo do jardim e se negou a aproximar-se comigo.
Revirei os olhos, “Sendo Gui e Carlinhos”, aqueles dois nunca perdiam a oportunidade de competirem para ver quem era o melhor. Mamãe me contou uma história de quando eles eram mais novos, sempre lutando por um espaço no colo dela. Apesar da competitividade, são muito amigos.
Gui sacou a varinha, “Ao menos você pode impedir um dragão. Já tentou negociar com um duende?”, apontou a varinha em direção a uma das mesas que começou a flutuar, “Escolha sua arma, Carlinhos!”
Carlinhos apontou sua varinha para uma outra mesa que ocupava o gramado e ela também começou a flutuar. “Não me chame de Carlinhos, Guilherme!”, debochou.
As duas mesas colidiram, fazendo um horrível barulho ensurdecedor. Gargalhei; era bom ter toda a família unida.
Fred e Jorge estavam botando pilha, “Um galeão no Gui!”, Fred sussurrou para Jorge.
“Carlinhos já venceu essa”, Jorge respondeu, “Tô dentro”
Não tinha percebido que Harry e Rony tinham se juntado a nós até Percy interromper a diversão. Quando tudo estava de volta ao normal e as mesas arrumadas, nos portamos naquele jantar como uma família.
Ouvimos Percy divagar sobre o senhor Crouch e, então, ele mencionou aquele ‘projeto ultra-secreto’ no qual o Ministério está trabalhando novamente. Ata aquele momento, nenhum de nós se dispôs a tentar descobrir com Percy sobre o que se tratava. Incomodava-me que tantas pessoas em nossa casa soubessem sobre o que aconteceria e eu estava desinformada. Agora que Gui e Carlinhos estavam em casa, poderia perguntar a eles; talvez me contassem...
Depois do jantar, esperei até Carlinhos ficar sozinho. Ele estava lá fora, no nosso campo de Quadriboll, deslizando graciosamente no ar com sua vassoura. Enquanto o observava, era fácil saber porque ele havia se tornado capitão do time da Grifinória, guiando-o para tantas vitórias e ganhando tantos campeonatos.
Sorri para ele, enquanto ele pousava na minha frente, “A fim de uma voltinha, Gina?”, apontou para onde uma de nossas vassouras estava depositada, no chão, “Imaginei que você viria me procurar essa noite”
Sorri, “Não posso resistir voar com meu irmão favorito”
“Aposto que você diz isso para todos nós”
“Digo”, admiti, “E todos vocês acreditam”
Ele entregou sua varinha a mim, “Tente o feitiço convocatório”, sugeriu.
Nós só aprenderíamos feitiços convocatórios no quarto ano e estava prestes a falar para Carlinhos que nunca nem havia tentado fazê-lo, mas ele sorriu. Ele sabia disso, mas tinha mais confiança em mim do que eu mesma. Apontei a varinha e berrei com força, “Accio vassoura!”
Não consegui exatamente convocar a vassoura. Foi mais como se eu tivesse pedido gentilmente que ela se aproximasse e ela estivesse relutante em sair do seu lugar; ela meio que se arrastou na minha direção. Franzi o cenho e devolvi a varinha a Carlinhos.
“Nada mau para a primeira vez”, Carlinhos disse.
Peguei a vassoura e montei-a. Agarrada à ponta da vassoura, senti meu corpo subindo. Manobrei-a e voei em três círculos em volta do meu irmão. A sensação do vento frio contra a minha pele era maravilhosa e eu poderia ficar fazendo aquilo a noite inteira. Parei na frente de Carlinhos e ele me fitou com admiração.
“Você lembra de como costumava arrombar os baús para pegar as vassouras?”, Carlinhos perguntou.
Assenti. Acho que a primeira vez que o fiz, tinha seis anos de idade, “Você lembra de como você e Gui, depois de um tempo, resolveram deixá-lo destrancado para mim?”
Charlie concordou com um aceno, “Uma corrida ida e volta?”
“Já!”, gritei, antes de responder.
Ouvi a palavra ‘trapaceira’ enquanto voava com rapidez em direção ao outro extremo, o vento parecia me chicotear, meus cabelos flutuavam às minhas costas. Podia sentir Carlinhos encurtando a distância, embora não pudesse vê-lo. Quando dei a volta, Carlinhos já tinha me alcançado. Fogueteamos a volta pescoço a pescoço; ele me passava, e então eu o passava e assim sucessivamente. Perto do final, eu sabia que tinha perdido, e ele deu um giro de 360º para comemorar.
“Nunca conseguirei vencê-lo”, eu disse, “Nem mesmo trapaceando”
“Você está se tornando uma ótima voadora”, congratulou-me, “Você devia entrar para o time. Talvez possa seguir meus passos e virar apanhadora?”
“A Grifinória já tem o melhor apanhador do colégio”, observei casualmente, mas a idéia de entrar para o time colocou alguns pensamentos felizes em minha cabeça. Um, eu sempre amei jogar e, dois, ficar no mesmo time que Harry... já disse o suficiente.
“Ouvi dizer que nosso convidado é um ótimo apanhador”, Carlinhos disse.
Não consegui evitar assentir entusiasticamente, “Não sei se ótimo é a palavra certa”, retruquei, “Se não fosse por danos e outras...”, lembrei-me do motivo pelo qual Quadriboll havia sido cancelado no segundo ano de Harry, “outra coisa, Grifinória teria ganhado três anos seguidos”, por Deus, quando eu começava a cantaras glórias de Harry, mal conseguia me conter, “Mas teremos outra chance esse ano. E iremos ganhar, contanto que Harry se mantenha em forma”
Carlinhos me fitou fascinado, tentando descobrir o que dizer em seguida. Sorriu de forma sabe-tudo, “Você pensa muito dele, não é, Gina?”
Tentando encobrir o óbvio, eu disse, “Não pensam todos?”
Decidindo não insistir no assunto, ele deu de ombros, “Não acho que a Grifinória vá ganhar qualquer campeonato esse ano”
“Quê?”, perguntei. Ele não estava brincando, estava sério - o que me perturbava muito, “Por que diz isso?”
“Desculpa, Gina. Eu deveria ter dito que nenhuma das casas vai ganhar campeonato algum”, Carlinhos respondeu, “Quadriboll será cancelado por... hum... outras atividades”
- Parte IV -
“Outras atividades?”, perguntei, em pensamentos. O que poderia estar acontecendo para eles cancelarem o Quadriboll? Dumbledore sabia como os estudantes amavam jogar, assistir e torcer pelas suas casas. Me perguntei... “Isso tem alguma coisa a ver com a coisa sobre a qual Percy esteve insinuando?”
“Talvez”, Carlinhos declarou.
Estava ficando expert em extrair informação dos meus irmãos, eu sabia exatamente como descobrir o que queria. Com Percy, você age como se não estivesse nem aí; com os gêmeos, você faz uma aproximação direta e eles o deixarão saber, se acharem que é você é confiável; com Rony, você o distrai com comida; com Gui, e mais especificamente Carlinhos, você tem que ignorar a informação que quer e gastar algum tempo com eles, lentamente guiando a conversa na direção que parecia apropriada. Mas não pense que fingi estar me divertindo com a companhia de Carlinhos, qualquer tempo que se passe com ele é divertido.
“Bem?”, disse, esperando para que ele fosse mais específico.
“Ficaria surpreso se você não tivesse descoberto ainda”, Carlinhos retrucou, observando-me com curiosidade, “Você não sabe, sabe? Gina Weasley, isso deve estar te levando à insanidade”
“Está”, admiti, descendo em direção ao solo e desmontando da vassoura, “Não paparico o Percy, quando posso evitar. Ele já é cheio de si o suficiente”.
Carlinhos riu entre os dentes, “Isso ele é”, ele flutuou com a vassoura em direção ao solo e, cuidadosamente, pisou no chão, “Eu realmente não devia te contar isso...”, lancei-lhe um olhar que eu sabia que derretia o coração dele, assim como eu fiz todos esses anos, “... mas se você prometer...”
“Eu prometo”
“... mais ninguém pode saber. Se a pessoa errada souber que eu te disse...”
“Não vai acontecer”
Carlinhos respirou fundo, e eu soube que conseguira, ele sabia que podia confiar em mim. Descobri anos atrás que Carlinhos estava noivo de uma garota, na Romênia, e não contei a ninguém sobe isso. Na verdade, Carlinhos procurou pelos meus conselhos quando tudo acabou. Ninguém sabia porque ele não encontrava uma parceira, achando que ele simplesmente tinha aproveitado toda a sua vida como um solteirão, mostrei-me digna de confiança naquela época, e ele confiaria em mim, novamente, sobre aquilo.
“O Torneio Tri-Bruxo”, ele disse, finalmente, seus olhos brilhando com animação. Ele começou a explicar sobre Durmstrang e Beauxbatons, três escolhidos, três provas que testavam força, sagacidade e habilidade mágica. Ele falou que fazia décadas que não havia um, e foram necessárias negociações e acordos para convencer todas as partes envolvidas a participar.
Carlinhos terminou de contar e o sol já tinha se posto muito tempo atrás. Alguns vagalumes iluminaram o ar à nossa volta, Carlinhos sorriu, “Sabe, quando você veio para cá, eu sabia que você queria saber. E prometi que não te contaria”
“Ainda assim, caiu na minha, e contou tudo”
“Nunca pude resistir ao charme da Gina”, Carlinhos sorriu.
Ele eu caminhamos em direção a casa, provocando-nos e divertidamente tirávamos sarro um do outro. Perto da casa, Carlinhos me pendurou nos ombros e não parei de gargalhar até que estivéssemos são e salvos na cozinha. Ele me disse para ir dormir, porque o dia seguinte começaria cedo para mim. Passei meus braços em volta do seu pescoço e dei-lhe um beijo na bochecha e corri escada acima.
A Copa Mundial de Quadriboll... Milhares de bruxos do mundo inteiro se reuniam para este evento. Milhares de bruxos indo ficar em um lugar que pertence aos trouxas, tentando agir como um trouxa e, na maior parte do tempo, falhando miseravelmente.
Aquela foi a primeira vez que fomos a um jogo de Quadriboll em família. Tendo a situação financeira que tínhamos, Papai nunca conseguia renda o suficiente para levar-nos a uma. Eu sei que Harry teria me levado num piscar de olhos quando estávamos namorando se tantas outras coisas não tivessem ocupando sua mente. Eu não pisaria em um campo de Quadriboll profissional até começar a procurar por um time para jogar por. Estava honestamente agradecida pelo fato de Ludo Bagman possuir uma dívida com Papai.
Uma vez que todas as tendas estavam armadas, Rony e Harry entraram na tenda que Hermione e eu estávamos ocupando. Harry olhou em volta, enquanto entrava, maravilhado. Era fofo como ele continuava se impressionando com a magia à sua volta.
“É um pouco menor que a de vocês”, disse aos garotos. Antes deles entrarem, eu estava lendo à minha cópia de ‘Quadriboll Através dos Séculos’, tentando descobrir todas as formas pela qual um jogador pode ser expulso, que são muitas. Coloquei o livro no chão, e disse, “Mas somos só nos duas, enquanto vocês são oito”
“Vocês precisavam trazer tudo isso?”, Rony perguntou, vendo todo o equipamento que Hermione e eu havíamos pendurado em um cabide, “Só vamos ficar aqui uma noite”
Hermione deu de ombros e me lançou um sorriso recatado, “Ninguém pode estar preparado demais. Quem sabe o que pode acontecer?”
“Pelo menos, não cheira como gato”, Harry observou.
“Tenho certeza que posso falar com o senhor Weasley para configurar uma cama aqui, se você detesta tanto o cheiro de gatos”, Hermione disse, casualmente, e capturei seus olhos por tempo o suficiente para saber o que ela estava fazendo. Fiquei levemente corada ao pensar que Harry poderia ficar no mesmo quarto que eu.
“Não dormiremos muito, Harry, não depois do jogo dessa noite”, Rony disse, agitado e arruinando a minha visão de Harry e eu conversando acordados a noite toda, até o começo da manhã.
Harry concordou, seus olhos verdes brilhando com o pensamento de um jogo profissional de Quadriboll há apenas algumas horas de distância. “Hermione, o senhor Weasley quer que nós três peguemos água para o acampamento”
“Números”, pensei. Mais uma vez, fui deixada de lado mesmo para a menor das aventuras. Juntando um pouco de coragem, ofereci-me para ir junto.
“Papai quer que você ajude com a lenha para o fogo”, Rony disse, com uma careta enojada, “Ainda não sei porque não podemos usar mágica. Ninguém vai perceber”
“Rony”, Hermione começou, “milhares de bruxos não podem usar magia com tantos trouxas por perto. Temos que nos misturar”
Segui os três para fora da tenda. Senti uma pontada de irritação em relação ao meu pai, embora eu saiba que ele não tinha noção do quanto eu queria me envolver com os três. O verão, quando Harry e Hermione visitavam, era minha chance de ouro de me incluir no grupo de tal forma que, sem mim, eles se sentissem perdidos.
- Parte V -
Observando-os se afastar, chutei um balde de metal que saiu rolando e bateu na tenda ao lado da nossa. Ouvi um berro lá de dentro e a tenda se abriu. Reconheci o rapaz por Zacarias Smith, um artilheiro da Lufa-lufa que entrara no time no ano anterior. Ele era do meu ano e, apesar do fato de estar na Lufa-lufa, acho que o Chapéu Seletor cometeu um erro, ele era um garoto nocivo que se sentiria bem mais em casa na Sonserina.
“Gina Weasley?”, berrou, sua careta de raiva tornou-se uma de diversão, “Achei que fosse alguma criança insuportável”
“Olá, Zacarias”, eu disse.
“Estou surpreso em te ver aqui”, Zacarias disse.
Não sabia se ele estava sendo grosso em relação a minha família pouco influente ou alguma outra coisa. Se ele fosse Draco Malfoy ou Julius Harper, eu saberia dizer de cara, “O que você quer dizer com isso?”
Zacarias deu de ombros, “Você nunca me pareceu uma garota que gosta de Quadriboll. Eu te vejo mais como...”, deu uma pausa e sorriu, “...uma garota que gosta de brincar de bonecas”
Ele estava tentando flertar comigo? Aquele sorriso parecia dizer que ele estava me provocando de maneira amigável. Se estava, estava fazendo um trabalho bem pouco louvável. Tudo o que ele dizia, parecia ser grosseiro. Estava começando a perceber que ele tinha o talento de rápida e eficientemente enxergar dentro de mim. Perturbada, disse, “Vôo desde que tenho seis anos”
“E têm mentido a tanto tempo, também?”
“Mentido?”, ecoei as palavras com desgosto, odeio ser chamada de mentirosa quando não sou; me aborreço muito com isso. Sem pensar, minha mão agarrou minha varinha, mas não puxei-a, “Por que eu mentiria para você?”
Ele continuava sorrindo, como se tivesse conseguido capturar meu interesse, “Tentando causar uma boa impressão, talvez”
“Zacarias, eu poderia voar vinte vezes à sua volta antes de você sequer perceber que eu estava lá!”, berrei, meus olhos flamejaram em sua direção, desafiando-o a dizer que eu estava errada, e senti a raiva fumegando dentro de mim. Segurei minha varinha com ainda mais força, mas não tirei-a do bolso.
Chamas repentinamente acenderam uma pilha de madeira depositadas ao lado de Zacarias. Ele ignorou-a, “Ah, é?”, escarneceu, “Ainda assim, eu estou no time de Quadriboll da minha casa e você, não”
Ele tinha um argumento. Eu até teria tentado no ano anterior, se não tivesse tão preocupada em colocar minha vida nos eixos novamente. E eu até tentaria naquele ano, se o Quadriboll não fosse cancelado. Zacarias não tinha que saber desse detalhe, “Acredite em mim, Zacarias, você nunca me verá no time...”
Ele assentiu, “Como eu pens...”
“... porque eu vou passar como um foguete por você”, virei-me para ir embora, com meu cabelo acompanhando meu movimento. Ouvi Zacarias me perguntar se eu queria dar uma volta pelo acampamento. Então, ele estava mesmo flertando comigo. Parando, finalmente percebi Fred e Jorge observando-nos.
“Nossa irmã não quer nada com você”, berrou Fred.
“Sugerimos que entre de novo em sua tenda”, Jorge disse.
“E, se não concordar, você não terá que lhe dar só comigo e o Jorge aqui”, Fred gesticulou para a tenda, “Você sabia que Gina tem seis irmãos mais velhos, um pai, e um certo Menino-Que-Sobreviveu aqui com ela, esta noite?”, sorri, sabendo que três dos meus irmãos nem haviam chegado.
Zacarias recuou, “Hey”, ele disse, “Nenhum dano foi feito”, lançou-me um sorriso e entrou na tenda. Eu poderia ter vomitado.
“Eu estava muito bem sozinha, mas obrigada pelo apoio, de qualquer forma”, agradeci aos gêmeos.
“Aquele era o Smith?”, Jorge perguntou.
“Sim”, respondi, “Pensou que por me insultando, eu acabaria gostando dele. Que idiota. Talvez possamos jogar um docinho na tenda dele”
Fred e Jorge pareceram orgulhosos de mim, eles perceberam que eu herdara seu amor por desordem. Eu era uma boa mistura da minha família: peguei de Carlinhos a habilidade de voar; dos gêmeos, o amor por brincadeiras de mau gosto; de Mamãe, o temperamento e de Papai a habilidade de controlá-lo... pelo menos, a maior parte do tempo.
Fred apontou para o monte de madeira que pegou fogo durante a discussão, “Foi uma mágica impressionante que você fez aqui”
“Sem varinha e não-verbal”, Jorge listou.
“Eu fiz isso?”
Ás vezes, eu me impressionava comigo mesma. Bruxos menores de idade são conhecidos por descontrolar sua magia quando estão abalados, mas esse descontrole se torna menos eminente a medida que aprendemos a usar a varinha e controlar nossos poderes, apesar de continuar a acontecer. Harry transformou sua tia no ano anterior e eu acabara de atar fogo a uma pilha de lenha. Não me lembrei de qualquer história em que crianças colocaram fogo em alguma coisa, talvez tenha a ver com a minha personalidade chamejante, que Harry acabaria por amar em mim.
Caminhei com os gêmeos para buscar lenha; andamos por um mar de tendas, conversando sobre o jogo por vir e quem os gêmeos já haviam encontrado. Passamos por uma família rabugenta e reconheci Harper; Vaisley não deveria estar muito longe. Passamos por uma tenda estranha, que era a dos Lovegoods, tentei chamar a atenção de Luna, mas ela estava ocupada demais empilhando umas folhas. Vi Cho Chang andando com alguns amigos da Corvinal e senti um tipo de apertão interno.
Quando voltamos para o acampamento, com os braços cheios de madeira, o Trio Maravilha ainda não tinha voltado. Papai parecia maravilhado e, depois de consultar um livro de bolso sobre acampamentos trouxas, pilhou a madeira da menira apropriada.
“Onde estão os fósforos?”, Papai perguntou a Jorge.
“Fósforos?”, Fred murmurou para mim, “Tudo o que ele tem que fazer é te irritar”
Oferecemos ajudas, mas Papai recusou, fascinado pelo pequeno palito que, repentinamente, criava fogo. Eu estava contente que ele o estivesse fazendo, pois era divertido assisti-lo. Quando o Trio chegou, momentos mais tarde, eles também se divertiram com as tentativas vãs de meu pai.
Encontrei-me uma vez mais admirando o sorriso de Harry, e percebi que ele estava todo molhado na parte da frente e me perguntei o porquê.
Nós almoçamos e Papai começou a mostrar as pessoas que trabalhavam no Ministério para Harry e Hermione. O resto de nós já conhecia o pessoal do Ministério e não poderia se importar menos. Joguei com Rony uma partida de xadrez bruxo e quase o venci. Quando terminamos, Carlinhos, Gui e Percy chegaram e, pouco depois disso, encontramos com Ludo Bagman e Barto Crouch. Crouch, para o encanto dos gêmeos, nem mesmo sabia o nome de Percy e Bagman apostou com eles sobre o jogo.
Depois de adquirir nossos souvenirs, encontramos nosso caminho em direção aos assentos; eu estava impressionada... Quando Ludo Bagman deve um favor a alguém, ele realmente o paga. Podíamos ver tudo, se eles ao menos pudessem manter os Malfoys fora dali, teria sido perfeito.
Depois da apresentação dos mascotes, a partida começou. Tinha bolas rápidas e tudo era intenso, era óbvio que Carlinhos estava certo. Irlanda tinha o melhor time, mas a estrela do jogo, definitivamente, era Vítor Krum; ele era maravilhoso. Olhei para Harry que estudava atentamente através de seus binóculos; ele estava cheio de reverência e eu quase podia vê-lo adicionando mentalmente os movimentos de Krum ao seu repertório para poder praticar mais tarde.
Olhei para Hermione que, por um segundo, tinha um ar abobado. Ela me viu observando-a e, rapidamente, se recompôs. Aquilo não era dela; ela não ligava tanto para Quadriboll – mal sabia as posições! Quando torcíamos pela Grifinória, ela estava folheando um livro por alto.
Os gêmeos estavam certos, no final. Krum capturou o pomo, mas seu time perdeu por dez pontos. “Foi algo admirável”, decidi. Irlanda era muito boa e Krum se negou a perder por uma diferença muito grande.
Quando a partida terminou, descobri o que o ar abobado de Hermione significava, “Ele foi mesmo muito valente, não foi?”, perguntou, enquanto se inclinava para ver mais um relance de Krum. Não pude evitar sorrir, Hermione estava com uma quedinha por um astro, “Ele parece um vendaval”, eu estava ansiosa para pegar Hermione sozinha e confirmar minhas suspeitas.
- Parte VI -
Dormi muito cedo quando estávamos na tendas dos meninos, celebrando. Harry e eu conversamos sobre alguns momentos excitantes da partida e, pouco depois, eu estava dormindo. Papai me acordou para ir para minha tenda, já que eu tinha derrubado chocolate quente por todo o chão. Hermione me seguiu.
Bocejando enquanto entrávamos na tenda, eu dei um giro em torno de mim mesma, e cai na cama. Hermione fez o mesmo. Depois de alguns momentos, sentei-me e joguei um travesseiro nela, “Aquele Krum é um ótimo jogador, não acha?”
Hermione, que ignorou o travesseiro, sentou-se imediatamente com os olhos brilhando, “Ele torna Quadriboll animado e tem só dezoito anos. É só três anos mais velho que eu.”
“Você tem 14”
“Quase 15”
Revirei os olhos, “Hermione, se eu não te conhecesse, diria que está caidinha pelo Krum”, observei seu rosto atentamente.
“Bem... não...”, divagou, “Ele é valente... e é lindo... mas ele é... não...”
Como pensei. Hermione tinha uma queda por um jogador de Quadriboll profissional. Tinha certeza de que ela não era a única. Além do mais, meu sonho de tê-la como cunhada não havia sido danificado. Não era como se ela fosse conhecer Vítor Krum, certo? Pouco sabia eu que Krum já estava no esquema para vir com Durmstrung tentar o Torneio Tri-Bruxo.
Eu estava na Câmara Secreta. Eu não tinha onze anos, tinha treze, a idade que eu tinha antes de entrar para o meu terceiro ano. Eu usava uma roupa pretacom cobras descendo pelo meus braços.
“Gina”,a cobra sussurrou, “Você se lembra de abrir a Câmara?”
“Não foi minha culpa!”, berrei de volta para a cobra, “Foi Tom. Eu não fiz nada disso!”
“Mentirasssss”, a cobra retrucou, “Tom apenas apoiou o que você já queria fazer. Você quis machucá-los. Você quis matar os sangue-ruins!”
“NÃO!”
“Volte de novo este ano. Há mais de nós aguardando por você!”
Olhei para uma piscina de água vermelha e vi meu reflexo. Meu cabelo estava completamente raspado, meus olhos irradiavam uma forte luz amarelada. Joguei minha cabeça para trás e gargalhei, olhando para o crânio que segurava na minha mão direita. Minha língua projetou-se para fora e para dentro novamente, mostrando que tinha o mesmo formato da língua da cobra que zombara de mim.
“Gina!”
Olhei pela Câmera com meus olhos amarelos, procurando pela voz que não tinha corpo. Talvez fosse Harry Potter, pensei para meu eu maléfico, talvez eu conseguisse matá-lo de uma vez por todas.
“GINA!”, e eu estava sendo sacudida violentamente.
Abri meus olhos e Papai estava inclinado sobre mim. Foi um sonho, pesadelo, onde eu queria matar Harry; eu era uma cobra, empurrei Papai para longe de mim e agarrei um espelho ao lado da cama. Olhei para meu reflexo... normal... cabelos ruivos intactos, olhos ainda castanhos, língua comum... e sem crânio na minha mão direita.
“Gina! Levante! Temos que ir!”, Papai disse.
O efeito do pesadelo cessou, corri desorientada junto com Fred, Jorge, Rony, Harry e Hermione. Olhei para trás e os vi... Os Comensais da Morte com suas roupas e máscaras... e acima deles, uma família de trouxas foi arremessada pelos lados enquanto seus agressores gargalhavam cruelmente. Papai e meus irmãos mais velhos voltaram para detê-los.
O pânico estava impregnado na atmosfera. Pessoas berravam, horrorizadas, tendas estavam em chamas, vi um garoto chorando, sozinho. Seguimos o fluxo enquanto corriam para o meio da floresta. Em algum lugar, entre o dossel de árvores, perdemos o Trio Maravilha.
“Fred! Pare! Temos que voltar!”, berrei.
“O quê? Por quê?”
“Rony, Harry e Hermione... onde estão?”
“Você sabe que eles podem tomar conta de si mesmos”, Fred berrou, “Minha prioridade é manter você a salvo”, nunca ouvi Fred tão valente antes.
“Então venha comigo”, rosnei, enquanto tentava desvencilhar minha mão das dele.
“Gina, pare!”, Jorge disse, alto.
Ouvimos uma gargalhada aguda acima de nós. Olhando em direção ao céu, vi Harper e Vaisley sentados em um grosso tronco da árvore da qual estávamos embaixo, eles estavam espreitando os Comensais da Morte com seus binóculos. Harper bateu no ombro de Vaisley e disse para que ele assistisse algo em câmera-lenta.
Sentia a raiva fervendo dentro de mim. Carrancuda, berrei com eles, “O que diabos vocês pensam que estão fazendo?”
Harper e Vaisley olharam para mim, extremamente admirados com tudo o que acontecia; pularam na nossa frente.
Fred colocou-se entre eles e eu, “Não encostem nela”, ele disse, enérgico.
Harper bateu nas costas de Fred, alegremente, “Acho que não tem que se preocupar conosco, Weasley”, apontou em direção ao campo, onde trouxas estavam flutuando, “Eles é que são o seu problema”
“Não acho que dois bruxos menores de idade são sequer comparáveis a eles”, Vaisley zombou.
Meu nojo e desprezo por esses dois estava sempre presente, mas o fato deles rirem daquilo me deixou furiosa e, pela segunda vez naquele dia, agarrei minha varinha, cheia de raiva.
Fred e Jorge se aproximaram deles, os olhos brilhavam, furiosos, “Você acha isso divertido? Torturar pessoas inocentes?”, Jorge sussurrou irritado.
“A única celebração pós-vitória que vale a pena”, Harper observou.
“E se não tomarem cuidado, duvido que eles vão perder a oportunidade se divertir com alguns traidores perdidos”, Vaisley adicionou, “Principalmente a sua irmãzinha”
Meus irmãos sacaram as varinhas. Antes que pudessem alcançá-los, empurrei-os da minha frente, apontei minha própria varinha para os dois e berrei, “Estupefaça!”. Um raio de luz vermelha, eles elevaram-se no ar e foram jogados com força contra a árvore da qual tinham descido. Esbarrando contra o tronco, eles aterrissaram em um monte de lenha, “Tamanho não é tudo”, rosnei.
- Parte VII -
Fred e Jorge olharam pasmados para mim, e depois para os dois corpos inconscientes. Assoviando, eles me deram tapinhas nos ombros.
“Onde você aprendeu essa?”, Fred perguntou.
Trêmula, limpei o suor da minha testa, “Vi Carlinhos usar isso, uma vez, em um duende grandalhão e manhoso”, sorri.
“Quanto tempo faz que você usa?”, Jorge questionou.
“Foi a primeira vez”, respondi. Mais uma vez, me surpreendi. Eu nunca tinha usado aquele feitiço impressionante, mas naquele momento, não importava. Muitos bruxos são capazes de usar mágica avançada em momentos de grande agitação, que não conseguiriam executar normalmente. Contanto que a determinação e a intenção estivessem lá, o feitiço pode ser executado.
Repentinamente, me lembrei do que estava nos preocupando, “Eles ainda estão por aí”, eu disse para Fred e Jorge.
“Papai nos pediu para manter você a salvo”, Jorge sibilou, “Disse para que nos escondêssemos a qualquer custo. Disse, também, que se nos separarmos, devemos ficar nos esconderijos até que tudo se acalme”
Toda a raiva de Harper e Vaisley passou; eu não queria mais discutir com meus irmãos. Pedi para que eles fossem na frente e os segui. Quando começamos a andar, olhei por sobre meu ombro em direção aos sonserinos e soube que eles fariam o possível para se vingar da próxima vez que nos víssemos. Prometi a eles, silenciosamente, que estaria pronta.
Serpenteando pelas árvores, percebi que Fred e Jorge estavam tão preocupados por terem perdido Rony e os outros quanto eu, mas não queria me assustar. Enquanto andávamos, continuei procurando pelo Trio em vão. A floresta repentinamente se encheu com uma luz esverdeada e ouvimos milhares de pessoas berrando horrorizadas.
Quando tudo voltou ao normal, ergui meus olhos e vi a coisa mais estranha e aterrorizante; contra a escuridão do céu, um crânio verde observava a todos e, enrolada dentro do crânio, havia uma cobra da mesma cor.
Fred e Jorge soltaram palavrões, agarraram minha mão, e me empurraram para trás de um arbusto. Eu nunca tinha visto aquele brilho em seus olhos. Agarrei as suas vestes, e perguntei, “O que isso significa? Por quê...?”
Fred balançou a cabeça, “Não é vista há doze anos...”
“Treze”, Jorge corrigiu e Fred concordou.
“O que é?”, chiei.
“A marca dele”, eles disseram em uníssono.
“Marca de quem?”, ofeguei ao perceber de quem eles falavam, “Você-Sabe-Quem...? Marca dele...? Ele voltou?”, engoli em seco. Essa idéia parecia absurda, Voldemort não poderia ter voltado, ele foi vencido e enfraquecido; Harry tomara conta disso, “É só... uma luz brilhante... Por que estão tão assustados?”
“Você não tem idade o suficiente para se lembrar”, Fred disse, docemente, “Jorge e eu tínhamos três anos a última vez que ela foi conjurada, mas éramos dois quando a vimos pela primeira vez... esta recordação é a primeira recordação lúcida que possuímos...”
“...Mamãe estava nos levando para conhecer seus irmãos Gideon e Fabiano...”, Jorge continuou.
“Eles eram gêmeos também; lutaram contra Você-Sabe-Quem, eram figuras divertidas, grandes piadistas... Nós herdamos deles o deleite por piadas de mau gosto... ganhamos nossa primeira varinha falsa deles que se transformou em uma galinha de borracha dançante... nós rimos por dias”, Fred adicionou.
“Vimos a quilômetros de distância”, Jorge se encolheu com a memória, “Vi primeiro e achei que fosse um jogo. Disse para Mamãe que olhasse as luzes bonitas e ela começou a chorar...”
“Ela ficava repetindo ‘por favor, não os meus irmãos... não Gideon e Fabiano...’”
“Mas a medida que nos aproximávamos, era inegável que estava sobre a casa deles...”
Lágrimas desciam pelas minhas bochechas, abracei meus irmãos, passando um braço em volta de cada pescoço. Entendia agora o que a marca significava; queria dizer que alguém havia sido assassinado. Deve ser aterrorizante voltar para casa e encontrar algo assim, imaginei por um segundo que estava chegando na Toca para encontrar o crânio me encarando e descobrindo que alguém havia sido assassinado lá dentro.
Meus olhos se ergueram em direção a marca e me perguntei quem teria sido assassinado naquela noite. Foi o Harry? Será que os Comensais da Morte haviam finalmente conseguido se vingar? Foi o Rony? Foi a Hermione? Foi o filho de alguém que aconteceu de estar no lugar errado, na hora errada?
Não dissemos mais nada durante o resto do tempo que ficamos escondidos, não eram necessárias palavras naquele tipo de situação. Fred e Jorge me mantiveram próximas e rezamos para que todos estivessem a salvo. Foi naquele momento que descobri que Fred e Jorge não serviam apenas para divertir a família; eles eram valentes, leais e cheios de emoções.
As coisas finalmente se acalmaram e voltamos para a tenda. Quando o Trio chegou, descobrimos que eles estiveram bem no meio de toda aquela confusão. Claro que eles estavam! Acho difícil acreditar como ninguém entendia o destino deles até o a derrota de Voldemort. Eu o descobri em meu quinto ano.
Ninguém foi assassinado, analisei o rosto de Fred e Jorge e eles estavam tão aliviados quanto eu. Papai e os outros serviçais do Ministério chegaram à conclusão que fora uma brincadeira de mau gosto ou uma forma de assustar os Comensais da Morte que temiam a punição de Voldemort.
- Parte VIII -
Claro que quando chegamos na Toca, Mamãe fez uma festa, aliviada, para todos nós. Acho que todos os nossos ponteiros apontaram ao mesmo tempo para ‘risco de vida’ no relógio da cozinha; era algo útil, mas nem sempre confiável, duvido que qualquer um de nós tenha realmente estado em perigo de vida.
Passamos o resto da semana esperando pelas notícias do Ministério. Percy e papai nos mantinham à par das últimas informações, aparentemente, tudo estava a maior bagunça. Rita Skeeter, do Profeta Diário, não ajudou em nada na situação; nenhuma de suas histórias sequer mencionava a valentia e a ação imediata dos oficiais do Ministério.
No último dia das férias, Hermione havia embarcado em uma causa social. Enquanto tomava conta de que tivéssemos guardado tudo, ela não calava a boca.
“E dispensar Winky daquele jeito... não acredito que Crouch fez tal coisa!”
Revirei meus olhos, “Achei que quisesse vê-los livres”
Hermione abriu sua mala do colégio e se certificou de ter guardado todas as coisas, “Quero que eles sejam pagos pelos seus serviços”
Organizei todos meus livros didáticos em uma pilha e os enfiei em minha mala, “Talvez Rony esteja certo. Talvez eles gostem de ser escravos”
“Só porque passaram por uma lavagem cerebral!”, Hermione disse, cheia de cólera. Ela pegou uma pilha de pergaminhos e um tinteiro e os colocou dentro de sua mala, “Quando chegarmos a Hogwarts, acho que nós devemos fazer algo a respeito”
“Nós?”, repeti. Realmente não queria me envolver com isso, eu não estava dentro da mente de um elfo-doméstico e não sabia como eles funcionavam. Não tive tempo para me preocupar com tais coisas. Olhei para a cara de Hermione e soube que ela estava prestes a se chatear com o fato de eu não me mostrar interessada na sua política “liberte os elfos dométicos”.
Felizmente, Mamãe nos interrompeu. Depositou nossos uniformes limpos e bem passados sobre nossas camas, “Aqui está, Gina. Aqui está, Hermione”
“Obrigada, senhora Weasley”, Hermione disse, tristonha.
“Ainda preocupada com os elfo domésticos, querida?”, Mamãe perguntou-lhe, enquanto dobrava o restante das roupas, “Tais coisas não deveriam ocupar sua mente. É uma causa nobre, sem dúvida, mas você devia estar preocupada com garotos e lição de casa... e garotos...”
“... tipo um certo apanhador búlgaro?”, murmurei para Hermione e ela me lançou um olhar aborrecido e envergonhado. Abafei uma risada. Ansiosa por mudar o assunto para que Mamãe não tivesse que ouvir os ideais nobres de Hermione, vi de relance um tecido engomado entre a pilha de roupas, “Mãe, você sabe como eu não gosto de usar vestidos”
Mamãe me fitou, confusa, e apontei o tecido para ela, “Isso não é um vestido, Gina”, ela observou, “São vestes à rigor e são para o Rony...”
“Rony?”, Hermione e eu berramos.
“Bem, sim. Tive que comprá-los de segunda mão, obviamente”, Mamãe disse, sem conseguir esconder o divertimento em sua voz, “Eles estavam na sua lista de material”, ela disse a Hermione.
“Por que vamos nos vestir bem?”, Hermione perguntou.
“Imagino que...”, se interrompeu antes de entregar detalhes do Torneio, “... bem, normalmente vocês se vestem bem por um motivo... um baile...”
“Um baile?”, repeti, animada.
“Sinto muito, mas eles não estavam na sua lista”, Mamãe disse, claramente tão desapontada quanto eu, “Mas tenho certeza de que, se um certo...”, ela sorriu, astuta, e olhou para cima, na direção do quarto dos meninos, “... bruxo mais velho convidá-la, você poderá ir”, ela cantarolou para si mesma, enquanto caminhava em direção à porta, “Licença, garotas, tenho que levar as coisas para os garotos”
Quando olhei para Hermione, ela parecia um pouco preocupada. Pressenti que ela estava esperando que Rony percebesse a tempo do Baile que suas anatomias não eram exatamente a mesma. Para afastar a mente de tais pensamentos, agarrei sua mão e a guiei porta afora.
“O que está fazendo, Gina?”
“Mamãe vai dar as vestes ao Rony e eu não quero perder a reação dele por nada nesse mundo”, mas parei no meio da escada, “A não ser que você seja contra escutar por trás das portas”
Não conseguia imaginar Hermione ouvindo escondida, tentando decifrar as vozes e adquirir a informação que queria, mas isso era só bisbilhotar por diversão, “Bem”, Hermione respondeu, “Não é nossa culpa se ouvimos melhor quando acham que não estamos ouvindo”
Gargalhando em triunfo, guiei-a escada acima, na ponta dos pés.
Quando chegou a hora do Expresso de Hogwarts partir, sai correndo, dessa vez sem o Trio, para encontrar um amigo com quem não tinha falado desde o começo do verão. Tenho certeza que o Trio não sentiu minha falta, eles já deviam estar planejando caçar todos os Comensais que atacaram a Copa ou algo do tipo.
“Olá, Gina!”, chamou uma voz familiar. Neville parou no corredor, antes do trem começar a partir, acenou na minha direção e sorriu.
“Bom dia, Neville”, saudei-o, ele parecia feliz por estar voltando para Hogwarts. Por mais que aquele garoto amasse a avó, ela podia ser meio difícil de lhe dar, “Como foi o seu verão?”
Neville não pareceu muito animado, “Sossegado”, disse, tristonho, “Vovó me comprou isso”, ele tirou algo de vidro do seu bolso. Era um bisbilhoscópio. “Ela disse que com todos os eventos nos últimos três anos em Hogwarts, eu poderia precisar de um”, fez uma carteta, “Mas Rony disse que eles nunca funcionam”, ele estendeu-o para mim, “Você quer?”
Peguei e o bisbilhoscópio e dei de ombros, “Acho que eu poderia ficar com ele”, respondi, guardando-o no meu bolso.
“E o seu verão, Gina?”
Pensei nos últimos dois meses: minha melhor amiga tinha ficado conosco, meu interesse amoroso dormiu embaixo do mesmo teto, dei nome à uma coruja, Fred e Jorge me confiaram seus segredos profissionais, a Copa Mundial de Quadriboll. Apesar de ter tido um verão interessante, decidi ser modesta, “O mesmo”
Neville não concordou, “Você esteve na Copa Mundial. Não pode ter sido tão sossegado”
“Se eu soubesse como ia terminar, teria lhe doado alegremente o meu ingresso”, respondi. Olhando mais a frente, no corredor, vi Delia acenando para mim; acenei de volta.
“Vou procurar por Harry”, Neville disse. Deu-me um tapinha no ombro ao passar por mim e começou a caminhar entre os vagões.
Ouvi um gritinho agudo e o barulho de passos. Quando me virei em direção ao som, alguém tinha esbarrado em mim, quase amassando meu corpo. Era Delia. Ela passou os braços em minha volta e me apertou. Conversando, ela me guiou para um vagão, guardou minhas malas, e sentou de frente para mim.
“Senti sua falta!”, Delia disse. Eu gostava dela, mas ela era exagerada e eu só conseguia agüentá-la em doses pequenas. Como ela era trouxa, estava sempre conversando sobre celebridades trouxas, programas de televisão trouxas, etc... Ela pode ser uma grifinória, mas sua idéia de valentia é pintar as unhas do pé de cor diferente das da mão.
“Senti sua falta também”, não era mentira. Eu senti falta dela, sim! Mas agora que eu parei de sentir saudades dela, estava pronta para começar a senti-las novamente. Pequenas doses, lembram?
“Olhe para você!”, Delia me observou, olhou na altura do meu tórax e corei. Delia sempre percebe esse tipo de coisa, “Você está maravilhosa!”
Eu não disse nada, mas a verdade era que eu tinha notado a mudança no meu corpo com o passar do verão. Meu rosto, por exemplo, estava começando a perder o formato infantil; minhas sardas não tomavam mais conta das minhas bochechas, mas desaparecendo para dar um leve toque na minha pele macia; meu cabelo sempre foi bonito, mas ultimamente estava se assentando perfeitamente sobre meus ombros. Sem mencionar que eu estava (hehem) adquirindo alguns atributos femininos. Eu nunca diria isso naquela época, mas eu estava muito bonita.
Uma pena que Harry precisou de mais dois anos para perceber.
“Aposto como seu verão foi incrível”, Delia disse, “Estou correta em dizer que Rony deu abrigo a Harry Potter?”
Nunca era apenas Harry, era sempre Harry Potter com ela. E mencionei que ela é louca por garotos? Obcecada pelo sexo oposto. Ela sempre queria falar sobre garotos: Harry Potter, Dino Thomas... até mesmo Draco Malfoy... ‘Gina, ele pode ser um total babaca, mas você tem que admitir que ele é lindo’.
“Harry dormiu em casa na noite anterior à Copa de Quadriboll”, respondi. Estava começando um relato detalhado da partida Irlanda contra Bulgária, mas Delia me interrompeu.
“Você conversou com ele?”
Pisquei algumas vezes, e observei-a, impassível, “Claro que falei com ele. Ele é o melhor amigo do meu irmão”, não estava interessada em falar sobre Harry então voltei a falar sobre a partida.
“O que ele disse?”
“O que quem...?”, perguntei, sem entender. Como eu disse, pequenas doses. Peguei as mãos de Delia e segurei-as firmemente, “Delia, você sabe que eu te amo, mas corta essa, não há nada sobre o que conversar: ele é só um amigo”, soltei sua mão.
“Tenho inveja de você, dividindo o teto com uma pessoa famosa”
Balancei minha cabeça, “Para ser sincera, é meio...”, eu queria dizer ‘maravilhoso’ que era o que eu realmente achava. Maravilhoso que Harry conversou comigo normalmente e respondi da mesma forma, maravilhoso que conversamos sobre Quadriboll... mas não queria falar sobre isso, muito menos com Delia, que me faria falar cada pequeno detalhe da minha conversa com Harry Potter. Terminei minha curta pausa com um, “... estúpido”
Dália gargalhou, “Que seja”
“O que você fez no verão?”, perguntei, tentando mudar rapidamente de assunto. Felizmente, ela teve um bom verão e não parou de falar sobre seus namorados, e sua viagem aos Estados Unidos, e escaladas, e moda... Consegui manter a conversa com resposta curtas e sorri, incerta se conseguiria manter o lance das pequenas doses, agora que seríamos companheiras de quarto.
Ela não parou de falar desde Estação de Hogsmeade até o Salão Principal, só se calou quando a seleção começou. A primeira garota foi sorteada para a Corvinal, e notei que Harry olhava em direção à mesa da casa. Seguindo seu olhar, encontrei o centro de sua atenção: Cho Chang. Por um rápido segundo, quis caminhar em direção à mesa da Corvinal... para poder estrangular a tão-linda quintanista.
Depois do jantar, Dumbledore nos congratulou, apresentou-nos o nosso professor de Defesa Contra as Artes das Trevas e explicou sobre o Torneio Tri-Bruxo.
E o novo ano letivo tinha oficialmente começado.
N/A: Odeio inventar personagens para as séries de Harry Potter, mas a senhorita Rowling não me deu opção. Ela nunca disse com quem Gina dividia o quarto, com quem Gina andava, etc... Delia Regal não é uma personagem impressionante, mas espero que a aceitem tão bem quanto aceitaram essa história.
N/T: O que mais gostei de traduzir neste capítulo foi a relação da Gina com os irmãos dela! É tão incrível!
E o Carlinhos? Ele foi tão... irmão mais velho!
Eu realmente adorei esse capítulo!
Talvez não um dos meus favoritos, mas já começa a mostrar uma Gina um pouco mais madura do que a dos capítulos anteriores, que já consegue se expressar um pouco melhor na frente do Harry.
O que acharam?
E a Hermione já sentiu uma ‘atração’ pelo Krum! XD Eu ri da ironia do “não é como se eles fossem se encontrar”! hauiahuihauih
Agora, os comentários:
Paulinha Potter - Magina, pode usar a idéia na sua fic, sim! Haiuhaiuah Gostou do novo capítulo? Espero que sim!
Larissa Manhães - Verdade! O próximo capítulo postarei na sexta, mas é MUITO MELHOR que esse! :D
Lola Potter - Aqui está o próximo capítulo! Espero que tenha gostado! O Capítulo 6 é melhor que esse, mas o meu favorito ainda é o 4! XD
Luciana Martins - Aqui está o novo capítulo e eu adoro como o Justin deu um jeito de deixar a Gina fazer coisas legais pelo Harry o tempo todo! XD Amo isso!
Beijos gigantescos!!
Gii
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