≈. Black & Hartwell
A gota vermelha de sangue escorreu lentamente pela lâmina da faca reluzente.
Hermione soltou uma exclamação de dor e levou o dedo aos lábios, largando a faca com um estrépito em cima da tigela de vidro.
- Droga - murmurou Hermione, empurrando para o lado a tigela com vagens rosadas que estava cortando na aula de Herbologia. Ela ergueu os olhos e viu que Rony a observava com um ar divertido á sua frente.
- Mione, você costumava ser menos desastrada, o que houve com você? - perguntou ele, rindo. Hermione, ainda chupando o polegar, lançou-lhe um olhar de censura que demonstrava sempre que ele fazia ou dizia alguma coisa errada.
- É a sua influência, deixa a gente assim, meio doida - respondeu ela secamente, balancando a longa trança do cabelo castanho.
- Eu te influencio? Pelo menos não cortei o dedo.
Hermione resmungou alguma coisa, apertando o dedo com força.
- Deixa eu ver. O corte - acrescentou Rony, ao ver a expressão interrogativa dela.
Hermione estendeu a mão, lenta e cautelosamente. Rony se curvou por cima da mesa e examinou o corte no dedo dela. Hermione ficou observando-o em silêncio, vendo os cabelos ruivos dele caírem sobre a testa enquanto ele falava.
- Pequeno, mas bem fundo - explicou ele. Agitou a varinha e conjurou uma atadura. - É que quando você tem seis irmãos, tem que prender a cuidar dos cortes sozinho, os trouxas fazem mais ou menos assim - ergueu os olhos e viu que Hermione o observava com um sorriso. - Sabe de uma coisa? - continuou ele em tom normal de conversa. - Você é a única bruxa no mundo que é capaz de me deixar mais distraído do que sou só com o olhar. Por que é que você está rindo, Hermione? Tô dizendo que nunca conheci uma garota como você, que te amo e acho que posso dar um jeito de fazer seu corte parar de sangrar - ainda sem olhar para ela, Rony pegou a atadura e enrolou no polegar dela. Ouviu-se uma campainha longa, anunciando o fim da aula e os alunos começaram a esvaziar a estufa. - Eu acho também que seu beijo me deixou viciado, mas já faz tanto tempo desde aquela noite que eu esqueci, e queria muito que você me ajudasse a lembrar depois que a gente sair dessa droga de aula de Herbologia. Pronto - terminou, contemplando a atadura forte ne mão dela. - O que acha?
- Sobre o quê? - perguntou Hermione com uma risada, olhando para os lados. Estavam sozinhos. - Sobre meu beijo técnico viciante ou você querer se lembrar dele?
- Precisamente, os dois - respondeu Rony, se levantando e aproximando dela por cima da mesa. - Aqui e agora.
Hermione se levantou também, e eles se encararam. Sem aviso, ela subiu em cima da mesa e agarrou Rony pela blusa, levando-o a um beijo longo e sufocante. Quando ela achou que perderia o controle com a pressão dos lábios dele, eles se separaram.
- Uau - sussurrou Rony sem fôlego. - Acho que não esqueço mais.
- Não vai esquecer porque esse não é o último - retrucou Hermione, jogando a mochila nas costas e saindo da estufa como se nada tivesse acontecido.
Eles estavam deitados embaixo de uma pequena janela fechada com tábuas e pregos de ferro. Draco abriu os olhos e viu que Amanda dormia tranquilamente sobre seu peito, os cabelos loiros e lisos dela esparramados sobre o rosto. Os poucos raios de sol que entravam pela janela o fez pensar que já deveriam estar ali há muito tempo. Quando Amanda acordou, viu que os olhos de Draco a observavam com uma espécie de curiosidade. A mente dela foi invadida rapidamente pelas lembranças da última noite e ela sentiu uma repentina sensação de desespero aflorar; será que ele ainda lembrava que descobrira seu segredo, apesar do feitiço da memória? A mão dela se fechou involuntariamente em volta da esmeralda fria em seu bolso.
Acho que tivemos uma noite tranquila - murmurou ela sonolenta, se espreguiçando e parando para alisar a franja do cabelo curto. Se virou para Draco. - Que horas devem ser? Droga, acho que dormimos demais...
- Quero ficar aqui com você só mais o resto do dia, o que acha? - perguntou ele rindo e olhando os cantos do quarto pequeno, depois fixando nos olhos azuis faiscantes de Amanda. - Você parece bem melhor que ontem.
- Graças a você - respondeu ela, e com uma pontada de culpa, foi até a janela onde viu, por meio das tábuas, o campo de quadribol. - Se não fosse por você eu teria que dar adeus ao título de sra. Malfoy.
Havia um tom malicioso na voz dela que impressionou Draco, mas ele sabia que nada entre eles seria póssível por causa de Snape.
- É claro que temos que manter isso em segredo,eu eu quiser realemente ser a sra. Malfoy - continuou ela, sorrindo ao ajoelhar ao lado de Draco e o abraçou. - Não vai ser fácil, mas é melhor do que Snape saber disso.
Amanda o soltou e olhou no fundo dos olhos dele: não havia nenhum sinal de reconhecimento da noite anterior. Ela estava satisfeita. Havia lançado um feitiço da memória perfeito mesmo sabendo só a teoria. Então ele estava convencido de que tinham dormido a noite toda...
- Tudo bem então, se você diz que não se importa... - Draco concordou, um tanto contrariado, e acrescentou: - Vamos sair daqui, podem achar estranho se perceberem que sumimos ao mesmo tempo.
Amanda assentiu. Tirou a blusa de Draco que vestia e ficou em dúvida se deveria ou não agradecê-lo. Por fim, beijou-o no rosto e saiu discretamente pela porta enferrujada.
Draco esperou ela sair e cruzando as mãos sob o queixo, fitou fixamente a parede com tinta descascada, sem perceber. Amanda nunca fora uma boa preparadora de poções e agora tinha se revelado tão ruim em feitiços. Ele pegou no chão uma corrente fina de prata, arrebentada no fecho e balançou-a diante dos olhos.
Amanda roubara o diamante da sala de Slughorn. O que mais seria culpa dela? O ataque de Luna? A morte de Vallery? O que mais ela estaria escondendo dele?
Draco guardou a corrente no bolso e a seguiu, disposto a saber de tudo.
As gavetas foram abertas uma após a outra, rapidamente, até que Amanda encontrou a corrente de ouro que procurava. Depois pegou a esmeralda brilhante em seu bolso e a pendurou na corrente, prendendo-a em volta do pescoço.
Amanda foi até o armário de seu quarto, que tinha um grande espelho na frente, e tirou dali uma tesoura e um espelho menor e quebrado que cabia em sua mão.
- Sirius! - ela chamou, sentando-se de pernas cruzadas na cama. - Não vai aparecer? Ainda está com raiva de mim?
- Por que você não me deixa em paz? - retrucou Sirius em tom aborrecido, sem aparecer no espelho. - Se você não quer me ajudar a sair daqui...
- Já falamos sobre isso, não quero me arriscar mais! - explicou Amanda, começando a cortar desordenadamente os cabelos loiros. - Estive a ponto de morrer e agora tenho que aturar você fica fazendo chantagem comigo, é?
- Como assim a ponto de morrer? - a voz dele mudou subitamente para um tom menos agressivo. - Quando?
- Ontem á noite, mas não quero falar sobre isso agora, depois explico - ela fez uma careta para o espelho maior e virou as costas para Sirius. - Eu sempre conto tudo pra você, Sissí.
Amanda riu alto e cortou uma mecha grande do cabelo que caiu no chão espelhado lentamente, como uma pluma prateada.
- Por que você faz isso? - perguntou Sirius, aparecendo o máximo que podia no espelho quebrado. Seus olhos castanhos cintilavam.
- Pra não ficar parecida com a minha mãe, acho... ela tinha cabelo comprido - respondeu ela em tom de conversa. Amanda largou a tesoura em cima da mesinha com um estrépito e tirou lentamente a blusa que vestia, ainda se olhando no espelho. Riu baixinho ao ver que Sirius ficara calado e acrescentou: - Nunca gostei de tiozinhos, cara... não vá achar que eu estou querendo... hum, alguma... coisa de você, se bem que você é um tiozinho daqueles...
Amanda se virou e encarou os olhos de Sirius pelo espelho, passando a tesoura nos lábios de um jeito provocante.
- Pára com isso - protestou Sirius, mas sem tirar os olhos das curvas dela, que se acentuavam ainda mais sem a blusa.
- Você e o Harry são iguais, dois idiotas - resmungou Amanda se jogando na cama felpuda, o ar de riso desaparecendo momentaneamente do seu rosto. - E você é o mais malvado.
Sirius suspirou, conformado. Desde muitos meses atrás, quando ela o chamou insistentemente no espelho pela primeira vez, já estava acostumado ás súbitas mudanças de humor de Amanda, que geralmente aconteciam quando concersavam sobre Harry. Talvez fosse ciúme da parte dela, mas Sirius estava quase convencido que Amanda mentiu quando disse que havia achado o seu espelho jogado na sala comunal. De qualquer modo, ela não saberia como usá-lo, não explicou nem como sabia seu nome. Mesmo assim ela começou a contar tudo sobre sua vida conturbada e tudo o que acontecia em Hogwarts, desde como ela roubara uma esmeralda na sala do professor de Poções debaixo do nariz de todos ou do modo cruel que se vingara de Luna Lovegood, o que quase resultou na morte da garota.
- Sirius... - continuou Amanda, abraçando com força o travesseiro, como se fosse uma criança. - Eu gosto muito de você, mas tenho medo que se eu te ajudar... você vá embora e se esqueça de mim.
- Não vou esquecer, se você me ajudar - retrucou Sirius com seriedade.
- Então vome tem que me dar um tempo pra pensar, não vai demorar muito pra eu tomar uma decisão, não se preocupe... hum, digamos que vai haver uma aluna a menos no Expresso de Hogwarts no dia primeiro de setembro - Amanda coçou o nariz distraidamente no travesseiro, deixando-o de lado depois. Levantou os braços para pôr a blusa sobre o sutiã preto de renda que deixava pouco á imaginação. - Você nem imagina o quanto é estranho falar com você pelo espelho, me sinto tão narcisista... hum?
- Eu perguntei o que é isso - repetiu Sirius.
- Ah, é a esmeralda que eu te falei, ainda não tinha visto? - ela baixou o olhar e estudou a pedra reluzente presa na curva do sutiã. - Ou tá falando da estampa de ursinho aqui?
- A primeira opção - respondeu Sirius num tom divertido. - Foi isso que você roubou? Pra uma ladra, você tem bom gosto.
- Eu não a roubei, eu a peguei de volta - explicou Amanda um tanto aborrecida. Tinha dito para Draco a mesma coisa, tintim por tintim. - Ganhei de presente do meu pai quando eu fiz dez anos, mas desapareceu quando eu fiz desesseis, quando ele e minha mãe morreram. Recuperei faz pouco tempo, mas...
- Você não disse que se esqueceu de quem era seu pai? - interrompeu Sirius aturdido.
- Sim, esqueci. Nas minhas lembranças ele sempre aparece, mas não consigo me lembrar do rosto dele, nem do nome... - ela suspirou e continuou, revirando a esmeralda de tom verde escuro nas mãos. - Mas agora é essa pedra que me deixou preocupada... Quando eu estava doente, eu sentia muito frio, mas era um frio que vinha de dentro, acho que não dá pra explicar... então eu descobri que fiquei doente por causa da magia dessa esmeralda inútil! Quando Draco tirou a corrente do meu pescoço eu senti que algo de ruim tinha saído de mim, mais ou menos isso...
- É porque isso não é uma esmeralda comum como parece - falou Sirius, vendo o olhar assustado de Amanda. - Acho que você tem nas suas mãos um jeito de me tirar daqui.
- Com isso? - falou Amanda de um jeito desdenhoso, não acreditando muito. Ela virou a pedra e percebeu um detalhe que té então não tinha notado: uma rachadura fina como uma linha cortava horizontalmente a superfície brilhante da pedra. - Quer dizer, concordo que tem um tipo de magia estranha nisso aqui - ela tirou o pingente do pescoço e o bateu várias vezes no dossel da cama, como se quisesse que a magia se revelasse ali. - Mas isso parece que está quebrado... eu não me lembro desse risco aqui no meio e também não consigo entender por que eu fiquei doente por causa dessa esmeralda.
- Mandy, você me disse que ganhou essa jóia com dez anos... e perdeu aos desesseis - Sirius falava de um jeito sério, tão diferente de como ela estava acostumada, que ela tirou o espelho da mesinha e o colocou à sua frente. - Você tinha ficado sem usar isso no pescoço durante muito tempo, antes?
- Hum, agora que você falou... - o tom dela mudou para sussurro um vago, quase sonhador. - Tinha vezes que eu não tirava nem pra dormir, lá em casa, porque essa esmeralda me fazia lembrar do meu pai... não sei como isso foi parar nas mãos do professor Slughorn, mas eu sabia que essa esmeralda era minha... foi a única coisa que sobrou depois da morte dos meus pais. Na verdade eu peguei a esmeralda pra ver... se eu conseguia me lembrar do meu pai de novo... mas não adiantou, o feitiço da memória é muito forte. Mas o que isso tem a ver com o tempo que eu fiquei sem usá-la? Foi só um ano.
- Tudo - havia agora um inconfundível traço de satisfação nos olhos de Sirius. - Tudo faz sentido. Mandy, eu disse que essa não é uma esmeralda comum, entende? - Ela sacudiu a cabeça negativamente, inexpressiva. - Você só ficou doente porque ficou muito tempo sem usá-la, então ela não a reconheceu. Essa esmeralda só pode ser usada pelo seu dono...
- ... Senão ela mata se quem a possuir não for o verdadeiro dono... - ela completou com a voz sumida. Amanda arregalou os olhos e cobriu a boca com as mãos, assustada. - Não acredito... eu lembrei!
Amanda olhou para a janela lentamente, e a cada piscar de olhos ela começava a compreender. Uma gata branca e peluda pulou nas costas dela e depois saiu pela porta entreaberta, sacudindo o rabo de espanador. Sirius olhou para o bichano de um jeito acusador.
- Mandy, aquilo não é...
- Psiu! Eu sei...
Foi a vez de Sirius não entender. Amanda voltou a colocar o espelho em cima da mesinha e se sentou na beirada da cama, sentindo uma agitação crescente dentro de si. Lembranças rápidas e claras que faziam sentido voltavam à sua mente. Ela agora estava torcendo as mãos no colo, convulsivamente.
- Sirius, eu lembro de tudo que me pai falou... "não deixe a sua mãe ver isso... a Pedra das Almas... protege contra as Maldições Imperdoáveis... mas só se pode usá-la três vezes, senão ela perde a magia... não deixa ninguém tocar nisso..." Por Merlim, ele sabia de tudo!
- Seu pai te deu um presente que sabia que poderia te matar? - retrucou Sirius indignado. - Foi muita sorte sua.
- As Maldições Imperdoáveis, Sirius! Só funciona três vezes... o risco! - Amanda colocou a pedra contra a luz, o que fez seus olhos ficarem momentaneamente esverdeados enquanto ela a olhava mais atentamente. - Essa rachadura... eu estava com essa esmeralda no pescoço...
- ... Quando seus pais morreram - completou Sirius, acrescentando de um modo sombrio: - Mandy, você nunca sobreviveu a uma Maldição da Morte... essa rachadura na pedra indica que ela já foi usada uma vez... pra salvar sua vida.
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